⌚ 08:21 p.m.

— Ela disse isso pra você?

— Disse. Mas eu não acredito muito nessa história de visões.

— Mas você sabe que ela meio que já acertou algumas coisas outras vezes, né? Dona Ami é meio que uma vidente — Lívia diz gargalhando.

— Não sei não. Isso é tudo muito estranho. Mas mudando de assunto, vamos logo jantar que eu tô com fome — você responde já se irritando.

— Tá bom. Mas me ajuda a pôr as coisas na mesa.

— Ok.

⌚ 10:01 p.m.

“Eu não sou de ficar por dentro dessas coisas. Tudo isso parece tão estranho, eu não sei explicar direito. Mas ao mesmo tempo me toca de um jeito que eu não sei explicar. Fico com medo de encontrar coisas que eu não deveria, de fazer coisas que não deveria e resultar em algo que eu sempre tive medo de conhecer. Talvez eu esteja imaginando demais. Pode ser tudo besteira da minha cabeça.”

Após escrever mais uma vez em seu diário, você o guarda dentro do cofre e digita sua senha. Em seguida dirige-se à janela observando a lua cheia que estava radiante, acompanhada das estrelas brilhando cada uma com suas cores numa perfeita harmonia celestial. Em poucos minutos vai para sua cama, deita-se e fica olhando para o teto até fechar seus olhos e dormir.

No outro dia...

⌚ 06:38 a.m.

“ — Bom dia, você aí de casa. Mais um dia se inicia e hoje é quarta-feira. Sim, já estamos na metade da semana. Então, você aí, me diz, o que pretende fazer hoje?” — diz o apresentador da TV.

— Eu pretendo beber uma bela de uma caneca de café — você responde consigo.

— S/N! Deu de responder à televisão agora? — Lívia pergunta.

— Eu sempre fiz isso, você que nunca viu — você diz, sorrindo.

— Minha Nossa, tão novx... — Lívia diz, fingindo preocupação.

— Haha. Mudando de assunto: vem cá, me fala, tá pronta pra ficar mais velhinha? Seu aniversário já é daqui quatro dias.

— Nem me fale. Tô tão ansiosa mas ao mesmo tempo não queria que esse dia chegasse. Não quero envelhecer.

— Ah, mas não se preocupe, não. Você ainda tá uma anciã bem bonita — você diz, gargalhando.

— Ei,ei,ei,ei,ei. Me respeite aí, garotinhx! O que deu em você hoje que tá me atacando assim gratuitamente? Tipo, não são nem seis e meia ainda — ela diz olhando para o seu relógio de pulso.

— Eu não sabia que agora tinha hora pra falar a verdade. E além do mais já são quase sete horas.

— Ai, você 'tá impossível hoje. O que que eu te fiz?

— Nada. Eu apenas acordei de ótimo humor. Estou apenas inspiradx — você fala, suspirando.

— Iiiih, não sei não. Isso aí 'tá parecendo comportamento de gente apaixonada. Já se interessou por alguém na escola, é?

— Pra falar a verdade, sim. Isso acontece toda vez que me olho no espelho.

— Uhum, sei — sua irmã diz, tomando um gole de seu café.

— Ei, meu café! Você sabe que não gosto quando faz isso.

— Me desculpa. Mas não é certo beber tanto café assim com frequência. Pode fazer mal.

— Eu sei. Você já disse isso.

Depois de se aprontarem por completo, ambxs saem de casa para fazer a mesma rotina de todos os dias: você para a escola enquanto que Lívia vai para o seu trabalho.

⌚ Depois de um tempo...

Em alguns minutos você chega ao seu destino, despede-se de sua irmã, sai do carro e, quando já estava para entrar na escola, avista Rebekah se aproximando acompanhada de Micaella, a garota do dia anterior quando a mesma foi lhe perguntar sobre Allison durante o intervalo.

— Oi, S/N, bom dia. Como está? — pergunta Rebekah.

— Bom dia. Eu tô bem. Alguma coisa me fez ficar com um humor mais apurado hoje. — você a responde forçando um sorriso.

— Sério? Algo de especial aconteceu pra isso?

— Não, nada.

— Nossa, isso é muito raro de acontecer comigo. Queria que isso acontecesse com mais frequência, porque lá em casa as pessoas sofrem um pouco pra aguentar meu mau humor diário — responde Micaella, amiga de Rebekah.

— É, amiga. Eu já disse pra você procurar alguma coisa pra fazer pra melhorar esse mau humor aí, porque desse jeito não dá não.

— Ah, mas não se preocupe. Não é sempre que isso acontece. Só às vezes que eu fico com vontade de esganar alguém só pelo fato dela passar na minha frente. Tirando isso eu sou ótima.

— Que sorte que eu não moro com você porque isso não ia dar nada certo — você diz, rindo.

— É melhor assim porque como eu sou é capaz de ficar com membros faltando — Micaella diz.

— Credo, que horror! — diz Rebekah.

⌚ Alguns minutos depois...

A escola não está tão cheia ainda e os alunos poucos começam a chegar. Muitos comentam sobre o festival que iria acontecer em duas semanas, então o burburinho de vez começa a tomar conta de todo o espaço.

Andando em algumas partes do local, você observa as pessoas já dando dicas de quais seriam seus números escolhidos para a apresentação. Em um determinado local há uma garota soltando o vozeirão gesticulando sua coreografia fazendo com que pessoas se aproximassem e assim, uma espécie de "pocket show" começa a se formar em plena escola.

Mais distante há um grupo do terceiro ano ensaiando uns passos bem legais de dança, enquanto que alguns outros montam uma mini passarela fazendo suas caminhadas treinando para o desfile.

Você observando aquilo começa a sentir um pouco nervosx, pois há tanta gente decidida sobre o que vai fazer, tanto que já estão se dedicando totalmente para aquilo. Porém, por outro lado você também não tem culpa já que ficou sabendo sobre esse festival no dia antecessor, sendo assim, foi pegx de surpresa em relação à isso.

⌚ 07:21 a.m.

Em um determinado momento os alunos interrompem o que estam fazendo, pois a voz de Meredith começa a ecoar dos alto-falantes presos nas paredes dos corredores da escola, dizendo:

— “Bom dia, alunos de Montreal. É bom saber que todos estão empolgados para o festival que se aproxima e nós, funcionários dessa instituição, estamos felizes em vê-los tão dedicados em relação às suas devidas apresentações. Venho por esse comunicado avisar que há algumas pessoas que ainda não puseram seus nomes em nenhuma das atividades disponíveis e isso é de muita importância, principalmente para vocês, pois as apresentações valerão muitos pontos em suas médias finais. Os que ainda não escolheram nenhuma delas terão até a sexta-feira para assim fazê-lo. Passado esse prazo, então os professores farão um sorteio e porão seus nomes nas respectivas atividades. Então se não se decidiram ainda é melhor tomarem alguma decisão. Por agora é somente este o aviso que temos para vos dar e assim desejamos um ótimo dia para vocês e bons estudos.”

Os alunos mais uma vez começam a fazer burburinho e falar entre si. Outros apenas ouvem o recado e logo voltam para suas atividades.

Micaella parece não estar tão contente em ouvir o que Meredith havia dito e fala:

— Nossa, como assim ainda tem alunos que não escolheram o que vão apresentar? No caso de S/N eu entendo porque a pessoa ficou sabendo ontem, mas e os outros?

— Ah, eles apenas não decidiram o que irão fazer. Pra alguns não parece ser uma simples escolha — você diz.

— Concordo. A pessoa tem que escolher o que for mais apropriado pra ela. Ela não tem que fazer uma decisão, tem que ser "A DECISÃO" — Rebekah comenta.

— Nossa, quanta indecisão! — Rebekah exclama.

— Bem que a gente poderia saber quem são essas pessoas e ajudarmos elas a decidirem o que elas podem fazer — Micaella sugere.

— Parece uma boa, mas será que eles vão querer nossa ajuda? — Rebekah indaga.

— Não saberemos se não tentarmos, não é? O que você acha, S/N?

— Não é por nada, mas acho que não quero fazer isso — você responde.

— Entendo, mas poderia saber o por quê? — Micaella questiona.

— Pra ser uma resposta mais específica, é que eu não gosto de ficar dando 'pitaco' nas escolhas de ninguém.

— Mas não é dar pitaco, é apenas ajudar alguém a se decidir.

— Mesmo assim. Eu acho que nesse caso a pessoa precisa se encontrar por si mesma e quando ela decidir o que fazer vai realizar o que tem que ser feito. Não parece difícil.

— Nisso eu também concordo — diz Rebekah.

— Então por que você ainda não decidiu o que vai fazer? — Micaella reclama — Enfim, se não quer ajudar eu entendo. Mas se mudar de ideia, me fala.

— Eu não vou mudar de ideia — você assegura.

Enquanto conversam, vão caminhando pelos corredores até chegarem na ala do primeiro ano. Você decide ir ao banheiro antes de entrar em sua sala, enquanto que Rebekah e Micaella vão em direção a sala 1F, pois, além de ser a sala em que Micaella, também é a mesma em que estuda o namorado de Rebekah, um cara chamado Tommy.

⌚ 07:30 a.m.

Em segundos o sinal toca avisando que a aula está para se iniciar. Saindo do banheiro você "aperta o passo" e segue apressadamente pelos corredores já vazios para a sala com objetivo de não levar bronca do professor por chegar atrasadx.

⌚ 09:30 a.m.

Depois de duas horas de aula que haviam passado, chega a hora do intervalo.

Dirigindo-se à fila do refeitório para pegar algo para comer, você olha atenciosamente para uma tabela pendurada na qual está escrita as ofertas de refeições do dia.

Após alguns segundos de indecisão, pelo terceiro dia consecutivo você prefere seguir novamente para debaixo da grande árvore do jardim. Sentando-se no gramado, você põe a bandeja cuidadosamente sobre seu colo, assim iniciando a refeição enquanto escuta suas músicas.

Após terminar, levanta-se e segue novamente para o refeitório para deixar a bandeja que acabara de usar. Voltando para onde estava anteriormente, uma garota sentada no banco lhe olha e no mesmo instante se levanta quando você se aproxima.

Então ela lhe para:

— Oi, er... Eu sei que não nos conhecemos, mas... será que você pode me ajudar e me fazer um favor?

— Um favor? Mas que favor seria esse? — você pergunta, estranhando a situação.

— É algo um pouco delicado de se pedir, até inusitado. Na verdade não sei nem como te pedir isso — a garota diz, coçando a cabeça.

— Não tem problema, pode me pedir. Farei o que for possível.

— Tá bem. Acho que você sabe bem como funciona essas coisas que acontecem com as meninas nessa idade. Nós já estudamos sobre isso. Mas é algo que eu tenho vergonha de fazer.

— Mas do que você 'tá falando exatamente? — você pergunta.

— Tá bom, chega de enrolação. O favor que eu quero te pedir é... — a garota diz dando uma pausa, tomando fôlego e finalmente diz: —... se você poderia pedir um... absorvente. Quero saber se você poderia pedir uma absorvente pra mim na enfermaria, é isso. Você... poderia fazer isso por mim?

— Absorvente? — você pergunta um pouco surpresx.

— É, mas fala baixo. Eu tenho vergonha — ela diz em voz baixa.

— Tá bom, desculpa — você fala olhando para os lados — É, realmente é uma coisa inusitada de pedir principalmente pra uma pessoa desconhecida.

— Mas se não puder não tem problema, eu vou entender — ela diz.

— Não, não. Eu posso fazer isso. Vou agora mesmo se quiser.

— Ah, nem sei como te agradecer — ela fala.

— Não é nada.

⌚ Minutos depois...

Após conseguir o absorvente na enfermaria, você vai ao encontro da garota que lhe espera pacientemente no mesmo banco que estava sentada. A sensação de estranheza na qual você sentia a respeito anteriormente não estava mais tão presente, o que lhe fez mais uma vez questionar o porquê da atitude da garota. Seja lá qual fosse a motivação dela, não importa. O que importa é que o que já foi feito e que já está a caminho.

— Aqui. Consegui o que me pediu — você fala entregando o pacotinho embrulhado discretamente para a garota.

— Sério?! Ai, muito obrigada mesmo — diz a garota levantando-se do banco em que te esperava — Me desculpa por pedir uma coisa dessa pra você que eu nem conheço. Eu costumo pedir pro meu amigo mas hoje ele tá ocupado com essa coisa de festival e tá dando atenção pra uma garota aí. Olha, me desculpa. Mas eu te agradeço muitíssimo.

— Não tem de quê. Mas posso te dizer uma coisa?

— O quê?

— Da próxima vez não fica com vergonha sobre isso, não. É totalmente normal.

— É, eu sei. Mas não sei por que é difícil pra mim — ela diz.

— Esquece isso e encare como tem que ser, é só isso que eu digo.

— Tá bom, você tem razão. Eu vou tentar. A propósito, meu nome é Lavínia — ela diz estendendo a mão — Nós somos da mesma sala, mas não fomos apresentadxs.

— Prazer, eu sou S/N — você diz, respondendo-a.

— Bom, agora se não for se importar eu preciso ir ao banheiro para... você sabe.

— Ah, certo. Entendi. Não tem problema.

— E obrigada mais uma vez — Lavínia diz e logo sai.

— Não tem de quê.

Lavínia retira-se de sua presença e vai em direção ao banheiro, restando você e mais alguns alunos em um lugar mais distante no jardim. Sendo assim, como não há mais motivos para ficar naquele espaço, decide ir tomar um pouco de água e ir para a sua sala de aula, pois a qualquer momento o sinal pode tocar.

Pondo-se a caminhar, algo lhe chama a atenção lhe fazendo parar no meio do trajeto alterado ao ouvir uma voz masculina que vindo dos alto-falantes que dizendo:

“S/N Montenegro por favor, peço que compareça à direção! S/N Montenegro compareça à direção imediatamente!”