— Atenção! Agora que estamos todos em casa, preciso que façam uma coisa.

As crianças haviam acabado de voltar da escola e estavam reunidos em volta da mesa na cozinha terminando de comer. Todos se entreolharam confusos e seguiram Will e Shelby até a sala de estar. A família se reuniu em volta do telefone fixo e ficaram em silêncio.

— É algum tipo de missão secreta? — Sam questionou. O silêncio era perturbador.

— Ok, crianças. Assim que o bipe soar, quero que cada um diga seu nome. — Will orientou passando por cada rosto — Prontos?

— Sim! — disseram em uníssono.

— Vamos em ordem decrescente, ok?

Bip!

— Oi, aqui é o Will.

— Shelby.

— Quinn.

— Brittany.

— Santana.

— Sam.

— Rachel.

— Blaine.

Bip!

— Muito bem, pessoal.

— Mas a mamãe não é mais velha que o papai? — Blaine perguntou confuso — Por que o papai disse o nome primeiro?

— Hmm, porque... Porque sim, querido. Agora vai brincar no seu quarto, vai. — Will empurrou o menino até as escadas — O resto de vocês, lição de casa!

— Foi apenas o primeiro dia, pai. — Sam disse obviamente.

— Não temos lição no primeiro dia. — Rachel adicionou.

— Então... Então vocês podem apenas estudar. Não há mal nenhum, e nunca ficarão atrasados.

— Yay! — Santana ironizou, rolando os olhos em seguida — Eu estou indo para o meu quarto. Não para estudar, é óbvio. Não me chamem até o jantar!

— E eu vou ensaiar. — Rachel se virou para subir as escadas — Agora que faço parte do clube do coral, preciso estar preparada.

— Nós vamos morrer. — Sam dramatizou se jogando no sofá e cobrindo o rosto com uma almofada.

— Eu vou entrar no skype com a Kendall. Se precisarem de mim, não me chamem. — Quinn seguiu logo após os irmãos.

— Ai, Deus! Eu deixei meu diário em cima da cama! — Brittany se desesperou para seu quarto — Lord Tubbington!

Will observou sua filha com as sobrancelhas franzidas. Às vezes ele tentava entendê-la, mas Brittany era um caso especial. Desde pequena ela era assim, meio... Na lua. Exames feitos nunca detectaram nada de errado, ela só era ela mesma, era o que os especialistas diziam. Os anos passaram e ela cresceu na bela menina de dezoito anos entrando em seu último ano no colegial, se formaria em um ano e... Bem, o que tivesse que vir, viria em seguida. Ela não demonstrava ainda nenhum interesse específico, mas era ótima com números. Quer dizer, ela era um gênio da matemática! Mesmo que não ligasse para isso.

Diferente de Quinn. A moça de vinte anos estava em seu segundo ano de jornalismo em Yale. Will estava muito orgulhoso de ter sua primogênita em uma Ivy League, assim como Shelby também era de seu menino mais velho. Dartmouth e Yale, sendo universidades de nome, eram motivos suficientes de fazer os pais de seus alunos vibrarem de orgulho.

Devido ao estado diferente, Noah estava atualmente vivendo em um dormitório no campus da universidade em New Hampshire. Massachussets era o estado que o separava de sua família que vivia em Connecticut, a algumas horas de carro de distância. Foi difícil para Shelby ver o seu bebê partir aos dezenove anos de idade, três anos atrás, mas agora ele estava no penúltimo ano antes de se formar e poderia finalmente voltar para sua família.

Santana e Rachel, além de Shelby obviamente, eram as que mais sentiam falta do rapaz moreno de olhos verdes. Noah sempre fora o herói de suas irmãs, ele era a figura masculina que elas tiveram quando seu pai falecera. LeRoy Berry era um advogado em Nova York que amava sua esposa e seus filhos com todo o amor do mundo. Ele os idolatrava. O câncer de esôfago havia sido descoberto quando Noah tinha oito, Santana três e Rachel era ainda um bebê. E, alguns meses depois, ele simplesmente não suportara. Faleceu deixando três filhos e Rachel nem chegou a conhecer seu pai.

Shelby amou seu marido. Muito. Ele era seu mundo, e com a morte, ela sentia que seu mundo havia caído. O que não a permitira de cair junto foram seus filhos, que tão pequenos na época precisavam de sua mãe mais do que tudo no momento de tanta tristeza. Ela suportou por eles. Ela se ergueu do buraco escuro por eles. E hoje, ela era orgulhosa das três pessoas maravilhosas que ela havia criado.

Will era divorciado da ex-mulher Terri desde 2001 e sua convivência com ela era na medida do possível pacífica por causa das crianças. Ela era amável com seus filhos, mas era um pouco ausente e isso podia ser um problema quando Will precisava viajar a trabalho. Sam, Quinn e Brittany viviam indo de casa em casa até que Will decidiu levá-los para morar com ele definitivamente quando conheceu Shelby, e eles adoravam sua madrasta, muitas vezes viam nela a figura materna que Terri falhara com eles.

Shelby conheceu Will no ano de 2003 em um encontro às escuras elaborado por amigos de ambos. Will estava em Nova York em uma missão militar enquanto seus filhos estavam em Ohio com a mãe. Eles se conheceram e a química simplesmente rolou. Já havia passado dois anos da morte de seu marido e Shelby se viu finalmente capaz de seguir em frente. LeRoy não iria querer que ela parasse de viver. Por ela e pelos seus filhos que iriam precisar de um pai. Não seria o biológico, mas Will amou tanto aquelas crianças que os acolheu como seus. Não era a toa que, hoje, doze anos juntos, Rachel chamava Will de pai.

— Nosso primeiro encontro... Foi às escuras. — Shelby disse com um sorriso encarando todos os rostos curiosos que prestavam atenção nela.

Eles já haviam tido o jantar e as crianças estavam entediadas até a hora de dormir, então Will teve a ideia de contar à eles como foi que ele e Shelby se conheceram. Os dois estavam sentados juntos no sofá e as crianças estavam espalhadas ao redor da sala.

— Lá não tinha luz? Como vocês enxergaram? — Brittany questionou inocentemente, sentada no chão aos pés de Quinn em outro sofá.

Todas as cabeças se voltaram para a menina loira e ela encolheu os ombros. Will balançou a cabeça e Shelby sorriu com carinho para ela.

— Não, querida. Isso é um termo que usamos quando um casal se encontra sem conhecer um ao outro, entendeu? — Brittany balançou a cabeça positivamente e acariciou o gato em seu colo.

— Deve ter sido tão romântico. — Rachel suspirou apertando o macaco de pelúcia que ela segurava, sentada com pernas de índio ao lado de Quinn no sofá.

— Deve ter sido brega. — Santana disse com a cabeça apoiada no cotovelo, deitada sobre o encosto do sofá.

— San... — Shelby deu um olhar à filha para que ela fosse mais gentil — Mas continuando... Seu pai usava o uniforme de almirante e estava em uma missão militar em Nova York.

— Ai, pai. — Quinn fez uma careta — Até em um encontro você não largou o uniforme?

Will ergueu as sobrancelhas e encarou Shelby. A mulher apenas acariciou sua bochecha e sorriu.

— Aquela noite foi espetacular. — foi a vez de Will de contar — Shelby estava linda. E eu me apaixonei instantaneamente.

Rachel sorriu imensamente com os olhos brilhando, assim como Quinn e Brittany enquanto Santana rolou os olhos. Sam estava ocupado dando uma folha para Yoshi comer e Blaine encarava seus pais curioso.

— E foi tudo perfeito? — Rachel perguntou.

— Perfeito? Ah, não. — Will disse com uma risada — Certa altura do nosso jantar, sua mãe teve que usar o banheiro. Quando ela voltou, pagou um dos maiores micos da vida dela... Ela caiu da cadeira.

— O quê?! — Quinn, Rachel e Brittany gritaram em uníssono.

A risada de Santana foi extremamente escandalosa que ela quase caiu atrás do sofá. Shelby encarou o marido estreitando os olhos e Will se encolheu.

— Ficou impressionada com as medalhas dele, mamãe? — Santana falou balançando as sobrancelhas, tentando conter a risada.

— Santana! — Shelby ralhou — Mas ele não fica de fora! Will conseguiu derrubar uma bandeja de bebidas sobre um garçom que passava bem na hora que ele se levantou.

As três meninas impressionadas mais Blaine se viraram para Will com expressões desacreditadas. Santana apenas sorria maldosamente.

— Ficou impressionado com os peitos da mamãe?

— Santana Maria! Me respeite, garota, eu sou sua mãe! — Santana continuou sustentando um sorriso maldoso sob o olhar mortal de sua mãe e Will balançava a cabeça, desacreditado. Quando Santana mudaria?

A resposta era óbvia.

Nunca.

— Continuem. — Rachel pediu ansiosa — Como terminou o jantar?

— O resto do jantar correu relativamente bem, se você ignorar a tensão no ar que ficou depois desses momentos constrangedores. — Shelby continuou contando e limpou a garganta — Eu cheguei em casa naquela noite e ainda procurei o nome dele no Google. O almirante da costa americana, uniformizado e boa pinta em uma foto.

— Como assim vocês não foram para casa juntos? — Santana interrompeu.

Shelby se levantou e marchou até a garota, que quase caiu ao se levantar de onde estava deitada e correu para longe das garras de sua mãe furiosa.

— Santana Maria Berry, isso é suficiente! — a mulher gritou encarando sua filha de pé a alguns passos dela — Sente-se naquele sofá e não dê mais um pio enquanto Will e eu terminamos de contar.

A garota assentiu e baixou a cabeça, a vontade de murmurar "piu" maior que tudo naquele momento. Ela passou por sua mãe sem encará-la e sorriu para o resto da família sem que Shelby percebesse. A mãe tirou as mãos do quadril e voltou a ocupar o lado de seu marido.

— Nos beijamos no segundo encontro, quando eu a levei para dançar. — Will quebrou o silêncio e todos voltaram a atenção para ele — Se tornou um hábito, saíamos para jantar e depois íamos dançar. Até que eu a pedi em casamento.

Quinn, Brittany e Rachel suspiraram ao mesmo tempo com expressões bobas e Santana sentou lá de braços cruzados. Ela tinha um comentário na ponta da língua, mas ela também tinha amor à própria vida.

— E eu disse "sim".

— E nos casamos algumas noites depois.

— É, disso eu lembro. — Quinn disse — Ficamos irados na época, pelo menos eu fiquei, tinha oito anos de idade. Você não contou a ninguém, pai. Até quando você foi transferido para Nova Jersey você mandou um e-mail quando estávamos com a mamãe. Mas sobre seu casamento, nada.

— Nós decidimos que queríamos contar para todos juntos. — Shelby explicou — Minha maior preocupação na época era a reação de Noah. Ele estava com dez anos e era um pouco super protetor comigo e com as irmãs pequenas, mas até que ele aceitou rápido o Will ser parte da nossa família. O mais engraçado foi Santana ao descobrir que ganharia mais três irmãos.

— Eu ainda não te perdoei por isso. — a morena retrucou e ganhou um tapa na cabeça dado por Quinn.

— Ela ficava perguntando quando eles iriam embora. — a mulher mais velha contou e riu junto com Will — E quando ela viu Sam pela primeira vez?

— O primeiro comentário dela foi sobre os lábios dele. — Will lembrou com diversão — Ela o chamou de "boca de truta".

— E ela só tinha cinco anos. — Shelby riu.

— Apelidos são um dom que eu tenho. Não é, Hobbit? — a menina se dirigiu à irmã mais nova e Rachel lhe deu língua.

— Rachel era um bebê de dois anos na época e ela amou Brittany imediatamente, que assim como ela, amava desenhos animados irritantes. — Shelby contou e deu um sorriso falso às duas meninas, que devolveram igualmente — Sam ficava perdido entre as meninas. Ele ainda era muito mais novo que Noah, só tinha quatro anos, e suas brincadeiras eram, de acordo com Noah, insuportáveis.

— Sam queria ser uma tartaruga ninja a todo custo. — Will disse e o garoto loiro sorriu — Ele chorou por horas quando Noah disse à ele que as tartarugas ninjas não existiam.

— Isso foi traumatizante. — o menino murmurou.

— E sobre mim? Alguma história? — Quinn disse com um toque de ciúmes em sua voz.

— Ah, Quinn era nossa pequena rainha do drama. Acho que sei onde Rachel aprendeu isso. — Shelby sorria para a menina loira, que retribuiu — Aos oito anos, Quinn achava que mandava em todos os irmãos. Ela coordenava as brincadeiras, os filmes que iriam assistir, o que iriam cantar. Santana a ignorava completamente, claro, assim como Sam e Noah. Brittany a seguia para todos os lados e Rachel apenas seguia Brittany. Vocês todos eram adoráveis.

— Nós temos alguns bons momentos registrados como família. — Will disse nostálgico — O primeiro dia de Sam, Rachel e Blaine na escola. O escândalo de Blaine quando perdeu o primeiro dente. O dia em que Santana não enfiou um giz de cera em nosso vídeo cassete e não estragou o coitado. — ele deu um olhar engraçado à menina que sorriu inocente.

— Quando Sam comeu massinha e Brittany chorou achando que ele iria morrer. — Shelby continuou — Quando encontramos Blaine enrolado em uma manta dentro do berço de bonecas das meninas.

— Disso eu lembro. — Santana disse — Foi eu quem o coloquei lá.

— Eu soube disso no momento em que eu perguntei por ele e você disse "eu não coloquei ele no berço de bonecas, mamãe". — Shelby fez uma voz fina.

— Nossa, Santana. — Blaine disse, ultrajado — Você me amava tanto assim?

— Eu odiava o seu choro. E você era chorão. Pior que a Hobbit.

— Ei! — a menina mais nova reclamou.

— Nós podemos ver essas filmagens? — Brittany perguntou animada.

Shelby olhou para o relógio antes de responder.

— Vai ficar para outro dia. Já está na hora de todos irem para a cama.

Houve um coro de gemidos desgostosos, mas todos se levantaram e beijaram seus pais antes de subirem para seus quartos. Shelby se acomodou nos braços de Will como eles permaneceram no sofá por mais algum tempo, aproveitando o momento a sós.