Os olhos violetas

Capítulo 33 - Nosso sonho


– Bem-Vinda a Grécia! – Gritou Sofia com muita felicidade quando saímos do aeroporto.

Cheguei neste país de manhã cedo apenas com a Sofia. Sair a noite do acampamento sem ninguém notar foi mais fácil do que eu pensava. Apesar de algumas pessoas que nos viram, e rápidinho esqueceram disso, não tinha ninguém na cabana para nos impedir ou perguntar a que lugar estávamos indo.

Conseguir falar grego e entender os gregos foi complicado no inicio. Ok, para mim, não só no início. Sofia teve que decorar todo o dicionário, apesar de não ser difícil para o andróide que tem dentro dela. Depois de ler tudo que conseguiu, nos hospedamos em um hotél que vimos na internet. Bem mais caro que o necessário, mas usei meu dom e ficou tudo tranquilo, apesar da Sofia não ficar satisfeita do jeito que estou ficando. Não sei como nunca percebi meu poder, poderia te-lo usado em tantos momentos...

Lembrei da carta da minha tia. Eco. Era a ninfa a qual eu deveria procurar. Apesar de ser apenas uma mitologia, a Eco era sim uma ninfa. Procurei na internet seu nome e encontrei algumas respostas para as questões em minha cabeça

Eco adorava, amava, idolatrava os bosques e os montes, onde muito se distraía. Acabava parecendo muito com o selvagem Sebastian. Era querida pela deusa Ártemis, a quem acompanhava em suas caçadas. Porém, a jovem ninfa tinha um enorme defeito, o qual acabou com sua linda vida, ela falava demais e sempre queria dar a última palavra em qualquer conversa ou discussão.

Eco era uma das ninfas das montanhas, e adorava sua própria voz. Sendo a Eco a única do grupo que não divertia-se com Zeus, tentou salvar suas amigas, conversando com Hera demoradamente, de forma a disviar a deusa de seu objetivo. Finalmente, a deusa conseguiu livrar-se dela e, chegando ao campo onde os amantes estavam, encontrou-o deserto. Percebendo que tinha sido enganada e manipulada, resolveu castigar quem a atrazou. Eco não teria mais o poder de iniciar uma conversa, nunca mais, apenas de ter a última palavra.

– Certo... – Diz Sofi ao meu lado na cama olhando para a tela do laptop. – Aqui diz a história da ninfa, e o que a fez o sentido da palavra “eco”. Mas nada sobre frutas.

– Não são frutas, no plural, é apenas uma. “Parole”.

– Parole significa “palavras” em Italiano. – Disse Sofi jogando um jogo no celular. – Por que viemos para a Grécia, então?

– Por que Eco é da mitologia grega. – Fiz careta. – E foi a minha tia quem disse que era para a Grécia que deviamos vir.

– Mas essa palavra aí não. Na verdade não diz nada sobre isso nas histórias da ninfa. E também não acredito mais na Rosários. Acredito que ter mentido para todos nós foi um tanto exagerado.

– Mas eu sei o lugar que pode ser o esconderijo da ninfa. – Digo me lembrando do desenho e procurando-o. – Sofi, é muito difícil eu me lembrar que você tem só quatorze anos quando você fala assim.

– Ninfas não existem, Suzanna. – Sofia estava quase dormindo na cama do hotel. É notável seu tédio e seu esforço para não dormir.

– Aqui. – Mostro o desenho para ela. – É este o lugar em que está a fruta.

– Suzanna, não pode ter sido você a fazer esses rabiscos... São um tanto grotesco e sem muitos detalher. Na verdade é tecnicamente apenas uma linha rabiscada. Esse desenho poderia estar de cabeça pra baixo também. Não diz onde é céu ou terra ai.

– Foi a minha tia quem desenhou – Olho pela janela. A Grécia é linda, mas está passando por um estado econômico péssimo. – Ela mandou uma carta, com o desenho junto.

Minha amiga olhou para o desenho e pegou meu laptop. Digitou algumas coisas e me mostrou a tela. Existiam o mesmo tipo de relevo em muitos lugares. No mundo inteiro. Inclusive aqui.

– Pelo menos existe aqui, certo?

– Sim, existe doze lugares aqui no mapa... Sendo oito na Europa – Disse Sofi me olhando – Vai demorar para achar a fruta...

– Poderiamos pesquisar melhor... Sei lá... – Digo e deito na cama. - Está cedo, estamos cansadas. Quando acordarmos a noite, vamos procurar pelas ruas e...

– Acha que se tiver algo será por aqui perto? Nunca é facil, Hestings... – Ouvi sua voz sumir aos poucos e os meus pensamentos mudarem de foco.

– Nunca é fácil, Hestings.

Pisco os olhos, já não estou no meu quarto do hotel.

Estou no acampamento de novo. No meio da floresta, de novo. Quatro olhos se encontram e o encontro é doce... Mas precisa de algo mais.

– Qual é o problema? – Pergunto.

– Que tal o fato de você não estar mais aqui?

– Sei lá, Logan... Por que o interesse? – Olho para seus olhos dourados. Os mesmos que me encontraram no palco. Os mesmos que ando evitando. Os mesmos olhos de antes.

– Porque te procurei depois da apresentação, mas você já não estava mais no acampamento. – Disse ele cruzando os braços.

– Como tem certeza? – Pergunto olhando-o de mais perto. Depois desviando e observando as árvores e o sol. – Posso estar só te ignorando. Faço muito disso.

– Perguntei aos seus amigos. – Log não parecia muito irritado, só um pouco magoado.

– A... Claro. – Digo. É tão bom vê-lo... É um sentimento que eu nunca senti antes... – Esqueci de dizer, viajei.

– E foi para que lugar agora, Hestings? Achava que você não iria atrás da sua morte. Eles dizeram que você foi atrás da sua mãe. E que ela está com o clã dos olhos de fogo.

– Bem... Ela não está mais lá. – Olho em volta procurando uma saída. – Afinal... Em que lugar estou agora?

– Na minha cabeça, acho. – Ele disse. – Você já fez isso, esqueceu? E Su... – Olho para o que tanto ignorei. – Pare de tentar negar, certo?

– Do que está falando?

– Espera, se isso é minha mente mesmo... – Logan disse fechando os olhos. E eu fechei junto. Ouvi um tilintar. Como quando um vento faz balançar uma corrente ou Quando abri estavamos na praia. – Sente? – Este chegou mais perto e tocou na minha mão como fez no palco.

– Do que está falando? – Perguntei algumas vezes em voz baixa e na ultima vez em voz alta.

– Isso... Me diga que isso é bom para você? – Ele chegou mais perto e encostou nossas testas. Senti sua respiração. - Porque por mim, é um sonho tornado realidade.

– Sério, Log. – Digo e ele sorri. – Não é o momento para isso. Não sei o que rola na cabeça de vocês garotos para se declararem sempre que a garota está com problemas... E talvez você não saiba, não estamos nos seus sonhos!

– Eu penso em você, menina – Ele enfim disse. – Dia e noite. Se isso é errado, eu não me importo se eu estou certo. Porque eu sei uma coisa é certa...

– Logan. – Tampo a boca dele com a minha mão antes que ele fale algo de errado ou estranho. Principalmente, por que o rumo da conversa estava indo para um lugar inexplorado pelo Log antes. – Pode ser um sonho, mas não me beije. Vai que não é, e isso dá merda?

– Eu não estou te machucando, Suzanna. – Ele capiturou meu rosto com as mãos. - E eu sinto que estamos juntos agora. – Logan consegue chegar mais para perto ainda. – Poderia ser para sempre... E sempre... E sempre. – Sua boca chega a milimetros da minha e sinto como se Logan movesse naturalmente, de um jeito que pessoalmente ele nunca fez.

– Certo, chega. – Digo nos separando. – Deve ser um sonho meu. Ou seu. – Dou um tapa na minha cabeça. – Você não é de falar essas coisas, nem de agir assim.

– Não sou mesmo. Nunca disse isso antes. – Confimou ele.

– E você matou o Kevin. – Digo sem pensar. Um fato, porém nada haver com a conversa.

– O que isso tem haver? – Seus olhos mostram mágoa. – Você não gostava dele de verdade...

– O que ISSO tem haver? – Mudo de assunto. – Afinal por que o matou? – Olho para o relógio. Sempre quis perguntar isso. – Você é um péssimo irmão mais velho, apesar de super protetor, você é um tanto extremista! – Murmuro um pouco alto demais.

– Pare de tentar mudar o foco! Sua idiota! – Logan chega mais perto e me puxa pela cintura. Sinto sua mão nas minhas costas

– Nossa, quanto amor. – Brinco.

– Eu quero ser o mar para a sua costa. Lhe trazer conforto, cada vez mais. Eu quero ser a única coisa que você precisa. Dar-lhe o oxigênio que você respira...

– Quer dizer que em uma batalha você morre e eu fico sem ar? – Tento fazer piada mas ele me aperta mais.

– Eu sempre voltaria para você. – Logan tinha os olhos mais escuros. Quase em um tom de preto. Não indentifiquei o que passava por ali.

– Isso é tão bom quanto eu penso que é? – Solto, sem querer.

– Porque agora eu estou assim para isso. E não há nada mais que eu queira pedir... Então, para estar com você, só para estar com você... Porque uma coisa é certa, Hestings, você não está sendo machucada por mim. Sempre irei te proteger. Principalmente agora que sei que vai entrar em uma batalha e...

– Para com essa inspiração, Log. Não mostresse como um garoto abobado! – Rio tirando suas mãos de minha cintura. – Não estou em uma batalha. Já lhe disse que minha mãe está livre... Porém, quase morta. E você está atrapalhando as únicas horas que tenho de sono, Log. Saiba que eu ficarei bem sem você.

– Como?! – Ele se assusta.

– Relaxa, vou salvá-la. – Rio da sua careta. – Sei que sou nova nessas coisas de “dons” e tal... Mas estou com “reforços” suficiente para o que eu tenho que fazer. Você não é algo necessário para essa luta, anjo. Você não é um herói nem nada.

– O que vai fazer? – Seu sorriso era frio e triste.

– Já contei coisas demais. E você não está me deixando dormir. – Sorrio. “Eu sinto que quando estamos junto. Poderia ser para sempre... E sempre... E sempre.”.

Abri os olhos. Cansada.

Parece que eu nem dormi. Conversar tanto com o Log só me fez achar que ele é louco. E que sua “namorada” vai tentar me matar em breve, de novo. Olho em volta, Sofia ainda está apagada.

O relógio de ponteiro na parede marcava seis e vinte. Já estava ficando tarde. Tenho que achar o mais rápido possível a fruta. Nada pode me atrasar. Dormir não atrasa, e sim fortalesce. Ouvi a voz do meu pai, na minha cabeça.

– Pirralha, acorda. Teremos que achar a Parole logo. Minha mãe pode estar piorando! – Cutuquei minha amiga até ela levantar.

Sofia me olhava com um olhar mortal, que me lembrou minha águia. Espero receber notícias logo. Pensei.