Os novos herois do Olimpo

Epílogo - Carta de amor de...


Epílogo - Carta de amor de...

Os dias seguintes foram de comemoração e de lamber as feridas. Com o exílio de Apolo, Zeus determinou que seus filhos mais poderosos continuassem a guiar a carruagem de Apolo pelos céus para que os dias não atrasassem. Uma equipe de sete poderosos semideuses foi reunida com este fim e cada um deles era responsável por um dia na semana. Ficaram conhecidos como #TeamApolo. Graças a discrição do DVD de Aeolous o grande público desconhecia a punição e o exílio de Apolo. Achavam que ele e a irmã estavam de férias, depois de milênios de bons serviços aos deuses. Apenas os deuses maiores e os heróis do Olimpo sabiam de suas punições reais: ambos tiveram seus poderes divinos confiscados e foram mandados para o mundo humano a fim de fazerem jornadas de penitência para recuperarem seus status. Enquanto a punição de Artêmis era menos severa não era menos humilhante.

O santuário foi reconstruído em pouco mais de duas semanas. Jade mudou-se para o chalé de Astréia e vivia numa relação de pisar em ovos com Oliver. Ele ganhou uma nova mão mecânica de presenta da rainha Sweldma, vinda diretamente das forjas de Hefesto. Foi a deixa para que as brincadeiras sobre Guerra nas Estrelas e Luke Skywalker rolassem soltas.

Isso até o dia em que acordou sozinha no chalé. Oliver tinha partido. Deixara, entretanto, uma carta:

Olá Jade,

Estive pensando no tempo que passamos juntos. Esse tempo não pode mais estar entre nós dois. Espero que assim como eu, você encontre as forças para continuar a viver. Eu vou aceitar o convite da minha mãe e conhecer o seu reino. Quem sabe quando nos encontraremos de novo...

Eu ainda sinto o seu perfume nesta brisa morna de verão. Aquilo que hoje me mata também me faz sentir vivo: o amor dentro de mim. Não tenho tempo de pensar em todos os erros que cometi – que cometemos juntos. Existe apenas um deles que está me causando tanta dor. É o meu medo e estar com você. Medo que você também sente, eu sei.

Eu quero voar pelos céus, para ver até onde eu posso ir. Para que ninguém me toque. Para que o que eu sinta possa chegar a uma definição. Sonhos devem permanecer velados até que eu possa acordar e descobrir toda a verdade.

Mesmo agora tenho pensamentos. Quero ver você de novo. Os deuses acima dizem que eu reze para eles, que eu reze para as estrelas no céu infinito, para que me mostrem o caminho, para que eu nunca desista de ter fé. Não quero e ao mesmo tempo quero me perder no seu amor que acende todas as estrelas do meu céu.

As memórias do passado ainda doem como feridas abertas. Devo encarar a verdade pois mesmo com o que sinto, nosso amor pode ter se encerrado. Eu... eu não sei.

Se quiser me responder, basta escrever meu nome num envelope e colocar uma dracma em cima. A carta vai me encontrar, mesmo que eu não saiba onde estou.

Oliver.

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A resposta de Jade levou semanas. A carta que foi enviada pelo sistema de dracmas foi a seguinte:

Olá Oliver,

Demorei demais para escrever, eu sei. Mas esteva em choque. Demorou demais para reunir as forças para colocar essas palavras no papel. Mas antes de dizer oque eu realmente sinto acho que vale a pena você saber o que anda acontecendo no reino da terra.

Isabel mudou-se para a casa de Astréia. Ela está no seu antigo quarto, mas não o remodelou muito. Eu e ela somos párias neste santuário. Ela por ser filha de quem é. Por ser uma bruxa. Mesmo que heroína, uma bruxa. Assim como eu ela está presa entre dois mundos. Pelo que ela me explicou o meu sangue “bugou” parte de sua magia e ela se tornou uma valquíria. Você sabe... uma serva de Odin e Freya que viaja pelos campos de batalha trazendo as almas dos guerreiros valentes para o Valhala. Mas mesmo assim ela ainda é filha de Hécate e uma maga muito poderosa. De minha parte também sou duplamente uma pária: os filhos de Apolo me tratam com respeitoso desprezo. Não tenho mais lugar entre eles. E o fato de meu pai agora ser outro me distancia ainda mais daqui. Somos uma dupla de semideuses duplamente párias. Acho que nos completamos.

Mas Isabel tem uma larga vantagem sobre mim. Ela tem o Eric, que por acaso é o novo chefe do chalé de Hermes. Ele está mais bonito e charmoso do que nunca. Trabalha regularmente como chefe de um SESC lá em Brasília. Ele pensa em deixar o Santuário e constituir família. Ele quer se casar com Isabel e sei que ela também quer isso. Não se casam apenas por minha conta: nenhum dos dois quer me deixar desamparada.

Nathalia e Verônica estão sempre juntas. Se os filhos de Apolo me tratam com desprezo, animosidade é a forma como as caçadoras de Artêmis as tratam. As “irmãs traidoras” é como são chamadas. Mais de uma caçadora já veio até o santuário tomar as dores de Artêmis. Pena para elas que Nathalia é a nova líder do Santuário e reformulou os lanceiros. São uma das tropas de elite mais poderosas do mundo mortal. Nathalia mantém o Santuário no rumo certo, mesmo que seja um pouco inflexível as vezes. As discussões entre ela e Eric são épicas. Karina é a nova líder do Chalé de Ares.

Lucas casou-se com João Eugênio, acredita? Foi uma cerimônia linda. Os dois estão morando na Asa Norte, num apartamento cedido pelos pais mortais de João Eugênio. Ele trabalha como sommelier de um restaurante fino e Lucas passou no vestibular de Agronomia da UNB. Estão vivendo bem e já pensam em adotar uma criança.

Os restos mortais de Dezan foram levados para o chalé de Afrodite. Fizeram um pequeno santuário para ele nos fundos do chalé. Tudo muito bonito e arrumado. Quem construiu foi o professor Roberto. Aliás, quem diria que ele teria tanto talento para a escultura? Ah, uma fofoquinha aqui entre nós: acho que a Dra. Cassandra está grávida. Não tenho certeza. Mas espero que sim. Seria interessante ver como seria o filho dos dois. Era como se o Batman casasse com o Super Homem. Olha eu de novo com esses pensamentos. É o que dar ficar lendo fanfics de yaoy até mais tarde com a Amanda.

Aquela mercenária que sua mãe contratou, a Bárbara, ficou conosco por uns meses, mas depois se foi, juntamente com o seu tio Eduardo. Eles formaram um novo grupo mercenário chamado de Esquadrão classe A – seja lá o que isso quer dizer. Ouvi dizer que estão barbarizando os inimigos dos deuses no Japão (piada não intencional, juro).

A vida aqui segue pacata ou seguia. Ontem eu recebi uma carta de Dejanira, uma Skjaldmö (uma donzela escudeira) e ela quer que eu a auxilie numa busca que tem a ver com os deuses nórdicos. Eu acho que eu vou uma vez que não há mais nada que me prenda aqui. Ou será que tem? Pego o vôo das seis da tarde para Fortaleza hoje.

Não sei o que dói mais. A sua falta ou estar com você.

Adeus.

Jade.

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Brasília, mesmo dia, congresso nacional.

Um carro preto parou na frente do congresso nacional. Era um esportivo alemão legítimo. O motorista se apressou e dele desceu uma mulher de cabelos curtos e prateados. Ela estava vestida com um terno muito elegante, mas era claro que fazia parte de alguma agência governamental: a gravata feita em nó simples, comprada em liquidação e a bolsa de “baixo orçamento” que levava a tiracolo. Ela passou sem problemas pelos seguranças e atravessou o salão verde com a segurança de quem sabe onde está andando. Passou para o auditório dois, ignorando o aviso de que o auditório estava fechado. Ela parou e olhou vendo a imensidão das cadeiras vazias e do carpete recém-aspirado. Lá num canto, conversando à sombra de uma saída de ar condicionado estavam seus empregadores, ou ao menos, parte deles.

— Ah, senhorita Alves... – disse um rapaz gorducho de uniforme de escritório. Ele tinha os cabelos amarrados para trás no famoso coque samurai, mas que não fazia nada pela sua aparência a não ser ressaltar a testa suada e as espinhas no rosto, cercado por uma barba rala. Se ela não soubesse diria que foi de uma foto dele que fizeram aquele meme do “cara da TI”. – é um prazer que possa ter se juntado a nós.

Ao lado dele uma mulher alta, loira, muito bonita, sorriso perfeito esperava com uma pose de diva. Parecia um misto de todas as loiras que já tinha visto na TV: estava vestida com inegável elegância, mas mesmo assim com aquele ar de superioridade que atraía os flashes dos fotógrafos como merda atrai moscas. Ela cumprimentou a agente com um aceno discreto e elegante de cabeça e um meio sorriso de satisfação.

— Bom dia senhor... Madame... – disse a agente tentando repetir, sem muito sucesso o sorriso da mulher loira. – Temo que não tenha nada de bom para relatar, uma vez que a operação ascensão foi um fracasso total.

— Ah, eu não diria isso – disse a loira sorrindo. – temos muitos dados para que nosso rapaz da técnica possa analisar. Coisa que podemos usar. Adiantamos em décadas os nossos esforços. Não se preocupe. Sabemos que você não tem culpa dos atos impensados do mortal.

— O nome dele era Tomás, madame... e eu...

— Ele furou a sua friendzone, né? – disse o sujeito com coque samurai, esfregando as mãos – Acho que você vai gostar da sua próxima tarefa. – ele mostrou um ipad com fotos de uma instalação secreta, em algum lugar da Europa. Lá, num dos tubos estava o corpo de Tomás de Albuquerque, quase recuperado. Lágrimas brotaram nos olhos da agente.

— Quando eu parto? – perguntou ela, tentando ser o mais profissional possível.

— Hoje mesmo... você só precisa passar na sala do deputado e pegar as suas novas credenciais.

A mulher de cabelos brancos deu as costas e saiu. Em pouco tempo estava a caminho do aeroporto de Brasília. Na sua passagem para a França as palavras ALBUQUERQUE, Mariana Alves brilharam a seus olhos.

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Dias mais tarde, numa vicinal paralela a rodovia presidente Dutra, Jade caminhava calmamente. Se as informações obtidas com os elfos de Fortaleza estivessem corretas ela acharia por ali uma passagem que a levaria à Fortaleza secreta de Thor. Parece que o senhor dos trovões e mestre dos raios gostava muito do Rio de Janeiro. Ela o imaginava com corpo perfeito, loiro e bronzeado, com o inconfundível sotaque carioca. Era de certa forma uma visão do paraíso. Claro que sua viagem até lá não tinha sido sem percalços. Mas ela sabia que não havia nada naquele pedaço do Brasil que lhe oferecesse muito mais do que uma boa briga.

Foi quando houve o tremor. Em volta dela o asfaltou cedeu criando em volta dela uma ilha. Então a ilha também cedeu ao tremor, mas ao invés de afundar na terra, subiu aos céus. Em poucos segundos o seu elevador de trecho de estrada vicinal tinha atingido a altura das nuvens.

— Ouvi dizer que você vai numa missão em nome de seu pai, certo? – a voz de Oliver vinha do meio das nuvens.

— É... eu tenho que recuperar a Hraesvelgr, a espada de Baldur, que foi roubada por Loki. – respondeu a menina tentando manter seus sentimentos sob controle.

— Parece uma quest daquelas bem cabeludas. – disse Oliver saindo das nuvens e montando sua face. Sua barba tinha crescido, deixando-o com a cara de um jovem lenhador. Ele estava mais bonito do que nunca. – Pode ser que você precise de um “escudo” nesta viagem.

— E você seria este escudo? – disse Jade se aproximando dele.

— Se você quiser, sim. – disse o menino com uma segurança que até então jade não tinha ouvido de sua boca. – E se você não quiser, bem eu vou também.

Os dois se abraçaram e lentamente começaram a descer em direção a estrada. Quanto tocaram o solo foram saudados por Marmarindo, o cavalo de mármore que Oliver tinha ganho de presente de Hécate. Tinha acabado de montar quando ouvira o som de motos. Seriam as caçadoras de Artêmis em busca de retaliação? Não... era outra coisa.

— Eu sou Dilitíria, filha de Medusa e irmã de Arsenika. – disse uma motoqueira mal encarada, saltando de um triciclo todo decorado com serpentes. – E vim cobrar suas almas. Fidiandros, ataquem!

Jade puxou Oliver para si e deu-lhe um grande e longo beijo.

— Para dar sorte! – disse a menina sacando uma lâmina feita de metal uru.

— Já me sinto sortudo – disse Oliver sacando sua espada que assumiu a forma de um sabre de luz.

A aventura dos dois estava apenas começando...

Fim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.