Os lados da aceitação

Capítulo 2 _ Amizade falsa PT1


Capítulo 2 _ Amizade falsa PT1

Eu comi a carne dos dois homens o mais rápido possível, deixar vestígios de um crime não é aceitável, muito menos um que envolve ghoul, serei caçada pelos pombos e o que eu menos quero é eles na minha cola.

— Cheguei…— Entro para dentro de casa, retirando já meus sapatos. Logo no final do corredor vejo uma luz passando pelas paredes de papel seda, uma sombra amigável me esperava. Conforme vou caminhando, o chá preenchia meus sentidos cada vez mais.

Esse cheiro horrível, parece que pegaram fezes de animais e esquentaram com tempero, é de querer se matar ao cheirar algo tão fedido. Puxo a porta de correr, e não para minha surpresa, minha vó tranquilamente tomava chá usando seu kimono de casa.

— Tem sangue na ponta da saia, Yui. Ung — escuto as goladas descerem pela sua garganta velha como se estivesse bebendo aquilo do lado do meu ouvido.

— Ah. Obrigada por avisar, aconteceu uns problemas…— puxo o pedacinho de pano que estava manchado com uma forte pigmentação de sangue, a encaro com certo ódio.

— Problemas...A caça fugiu do caçador Yui-chan?— ela dá um sorrisinho irônica, me provocando com meu descuido enorme.

— Não. Quer dizer, sim e não.— me sento ao seu lado, com um enorme sentimento de indecisão e conflito dentro de mim, batendo, piscando e gritando sem saber o que fazer, porém, eu não expressava tais sentimentos, apenas mantinha minha cara de tédio cotidiano.

— Se explique Yui-chan, será um problema fazer almoço para agentes novamente porque você não sabe se cuidar na rua.— ela friamente inclina o rosto o suficiente para me encarar por cima de seus óculos, deixando o copo quente de chá na mesa e esperando que eu contasse.

— Bem...— respiro, sinto que o ar escapava por buracos no meu pulmão.— Colegas de escola, uma delas estava ferida e eu senti o cheiro, depois de ver que o movimento na rua era quase nenhum, aceitei e fui atrás dela.

Seus olhos me julgavam, me via como uma criança problemática e sem qualquer senso de responsabilidade. Por que simplesmente não matamos ela? Por que precisamos dela. Isso não é desculpa, tem tantos lugares para ficarmos com ghouls, nos proteger, caçar sem medo, caçar sem- Cala a boca.

Balanço a cabeça confusa, a voz insaciável de uma ghoul faminta sussurrava ao pé do meu ouvido, me fazendo cogitar a ceder para meus instintos primitivos, de novo.

— Continue.— ela bate a mão na mesa para que eu saia do transe.

— Então, quando cheguei vi que não estava só, era ela e mais duas meninas com dois homens em um beco, assaltantes a julgar pela conversa nojenta deles. Eu me aproximei, e tentei ser amigável, pedi com educação e intimidação para que fossem emboras. Porém não foram, eu os matei e quando tentei ajudá-las.— a gosma escorre pelos fios do meu cabelo, caindo sobre minha bochecha, e depois mesa.

— Usaram armas anti-ghoul?— ela zomba de mim.

— Sim… urg.— puxo toda a gosma que escorria e movimento a mão longe para que saia dela.

— Que sorte que tinha um uniforme extra na bolsa...— mesmo zombando, ela ainda sorria gentilmente, aliviada. Quanta encheção de saco! Pensou eu.

— Ah sim tem razão, me desculpe por causar tantos problemas vó.— sendo sincera, agradeço.

— Não precisa agradecer querida. Agora, vá trocar de roupa e lavar seu cabelo.

— Sim vou agora mesmo, esse cheiro é horrível. — menciono o cheiro amargo, tal como o cheiro de um cadáver putrefato. Ahr, isso dá tanta dor de cabeça, vou gorfar.

— Que cheiro? Só estou sentindo cheiro de flores, é bem estranho, surgiu logo quando entraste aqui.

Flores Flores? Que, estranho.— arqueio as sobrancelhas, achando aquela situação no mínimo estranha, porém ignoro de imediato.

Passar dias, focada neste lugar infame dentro de mim mesma, vazio, porém claro, porém ruim, porém o único lugar que resta para me aprisionar. Duas pilulas, um pouco de água, aos poucos sinto que eu sou controlada. Está me escutando né?

Pare de se machucar tanto, você não é uma humana, deixe-me sair de nós, deixe-me ser quem somos. Que merda.

O remédio desse rasgando na minha garganta, aahr, levanto o punho para cima prestes para bater na pia de porcelana delicada, mas controlo a força e recuo. Olho para mim mesma no espelho, meu olho ghoul pulsava com o remédio.

Sentia que o meu corpo todo fervia e depois em instantes a sensação sumia.

— Para de falar, facilite nossa vida uma vez Yui…— fecho os olhos com força e de cabeça baixa, esperando não vomitar como algumas vezes anteriores.

Você fala isso...como...se...fosse...fáácil.

— Adeus, por enquanto.— Abro os olhos, confiante de que por alguns dias eu estaria regulando meu transtorno que interfere no controle.

Já faz muito tempo, com meus pais eu não tinha o problema, eu podia simplesmente ser as duas a hora que eu quiser, mas agora, nós não temos mais eles. E desde então está tão difícil de me controlar, meu transtorno de personalidade invade meu senso comum, interferindo na hora que ativo a kagune. Neste momento, existe apenas eu, e não ela, ou outra pessoa.

Olho para mim mesma no espelho novamente, meu olho lacrimeja porém não ardia e nem doía, passarei alguns dias sem depender das células RC, mas quando o efeito dos dois remédios passar, as células RC voltaram a ser produzidas e iram entrar em batalha com as humanas, e meu corpo ficará dependente do remédio ou de carne. Tudo pela vida humana falsa, eu encerro o dia com essa frase dita para nós.

No dia seguinte na escola_

Na escola as coisas estavam normais, aparentemente nada mudou mesmo depois do incidente de ontem. Aparentemente, não fui dedurada, por enquanto.

Sento-me na minha carteira no fundo e espero a aula começar, todos riam e conversavam como sempre e isso me deixa aliviada, até agora nenhum sinal de meu transtorno aparecer. Eu tomava dois remédios, uma que eu tomava para não ter crises ou qualquer consequência do Transtorno, e outro para controlar minhas células RC, uma vez que elas ficavam mais fortes e mais descontroladas com o Transtorno e depois que eu ingiro carne humana.

Graças a tudo isso, eu tinha que maneirar as caças, estocar comida, guardar comida no estômago para ela ser ingerida lentamente. Isso resultava na minha aparência obviamente, magra e fraca, porém o meu fraco continua sendo o mais forte do que os humanos.

O lanche enfim chega, eu sempre como na sala para que não haja suspeitas de mim, uma caixinha de suco de laranja que não tem nada dentro e uma maçã para disfarçar. Nas últimas mordidas da mordida sem gosto graças ao remédio, a carteira e eu é tomada por três sombras enormes. Olho para cima e me deparo com elas três novamente.

— Precisamos conversar com você, mas no pátio de baixo onde tem menos pessoas mas o suficiente para lidarmos com você. — as suas palavras saiam da sua boca como uma intensa nevasca, me intimidando completamente com suas mãos na cintura e olhar penetrante.

Logo atrás dela, duas garotas que mostravam-se indiferentes porém, sentias tremer.