Eu nasci em uma família de Sudras. No sistema de castas indianos, este grupo compõe os servos e os camponeses. Apesar deste sistema de castas ser proibido hoje em dia, ele ainda é muito forte dentro do país.

Meus pais viviam no campo e eram pessoas trabalhadoras, mas muito pobres. Minha mãe morreu no meu parto, deixando, além de mim, três filhos homens. Muitas pessoas no vilarejo onde eu nasci me consideraram maldita, por ter matado minha mãe. Eram pessoas muito humildes e ignorantes. Meu pai também o era. Ele não queria ficar comigo. Tinha medo e raiva de mim.

Quando eu tinha 3 anos, meu pai resolveu me levar para a cidade, para me entregar a alguém, em troca de dinheiro. Foi então que conheci Phet.

Phet era um xamã, humilde e sábio. Ele soube o que meu pai pretendia fazer e pediu para me levar com ele. Meu pai não questionou a razão de seu interesse por mim, nem fez qualquer pergunta a Phet, apenas lhe pediu dinheiro. Então, Phet me levou consigo e passou a cuidar de mim. Ele me ensinou a ler, a cuidar das plantas e fazer remédios e porções com elas. Ele me ensinou a a ioga e praticava comigo diariamente. Phet sempre dizia que, com o tempo, eu me tornaria uma iogue poderosa. Ele me ensinou sobre a religião hindu e me contou várias histórias sobre os Deuses. Phet se dizia servo da Deusa Durga, mas eu descobriria mais tarde, que ele era muito mais que isto.

Ele passava muito tempo fora e me dizia que tinha trabalho a fazer. À medida em que eu ia crescendo, eu ficava mais curiosa sobre estes trabalhos. Eu lia muito e sempre tinha muitas perguntas a fazer. Eu queria acompanhar Phet em suas viagens, mas ele dizia que eu ainda não estava pronta.

Quando eu tinha dez anos, Phet começou a responder as minhas perguntas mais difíceis e a me contar a sua real história. Ele me disse que não pertencia a este tempo, mas que tinha o poder de deslocar-se e estar em muitas épocas e lugares diferentes. Ele me contou que seus pais eram deuses, e ele próprio era um Deus.

Phet me disse que me conhecera no passado, que minha alma era especial e que eu tinha uma missão. Ele me levou consigo algumas vezes e eu pude conhecer a história dos Deuses. Ele me mostrou o nascimento da Deusa Durga e todos os seus avatares, me dizendo que em breve, eu conheceria um deles pessoalmente. Ele também me mostrou como seu pai se tornou um Deus. Ele me mostrou seu próprio sacrifício, feito há tanto tempo, a fim de cumprir sua missão. Ele me mostrou quem eu fui, e me disse que eu precisaria me preparar, pois logo ficaria sozinha novamente, mas que em breve, nossas almas se reencontrariam.

Eu tinha 16 anos quando Phet me deixou. Ele disse que voltaria para o seu tempo e se prepararia para deixar aquele corpo. Ele me disse que renasceria em nossa época e que nós nos reencontraríamos. Phet também me disse que não voltaria mais àquele tempo, pois sua missão já havia terminado, mas que em sua próxima vida, escolheria um caminho mais leve.

Antes de partir, Phet me revelou sua verdadeira face. Ele era glorioso como um Deus. Eu me prostrei diante dele e lhe agradeci por tudo o que ele fez por mim, prometendo honrá-lo para sempre. Phet me disse para ir à cidade e procurar minha tia, que servia na casa de uma família importante de xátrias, pois ali, eu encontraria meu destino. Então ele se foi.

Naquele mesmo dia, eu saí da selva onde morara com Phet. Deixei todas as suas coisas ali e levei apenas algumas poucas roupas, um pouco de comida e algum dinheiro. Eu conhecia bem a selva e não temia nada. Caminhei por dois dias até chegar à estrada, então esperei um ônibus. Depois liguei para a minha tia. Phet havia me deixado o número dela.

Os patrões da minha tia me levaram até a sua casa, onde eu comecei a servir, junto com ela, que já trabalhava ali há anos. Poucas semanas depois, a filha de meus novos patrões, Nilima, foi visitá-los. Eu sabia quem ela era, mas também sabia que não era o momento de me revelar a ela. Dois anos depois de eu ter chegado àquela casa, eu soube que era o momento.

Nilima não costumava ir à cozinha. Naqueles dois anos, nas poucas vezes em que ela visitou a família, eu não me lembrava de tê-la visto entrar ali nenhuma vez. Mas naquele dia, ela entrou.

Já era noite e meu trabalho já estava terminado. Eu me sentei em uma cadeira e comecei a ler um livro. Então Nilima entrou, me pediu desculpas e disse que iria pegar algo para comer. Ela me sorriu, simpática.

— Olá. Você deve ser Radha — e estendeu a mão para mim — Eu sou Nilima.

— Eu sei quem é a senhora. É uma honra finalmente conhecê-la.

— Ah, é claro. — ela falou constrangida —Você esta trabalhando aqui há tanto tempo. Eu tenho vindo pouco à casa de meus pais e sempre tão rapidamente. Ainda não tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente. É tão estranho. Claro que meus pais falaram de mim, assim como sua tia.

— Nós não nos conhecemos antes porque não era o momento senhora. Este é o momento ideal. E na verdade, foi o homem que me criou quem me falou sobre senhora. E sobre todos os outros.

— O homem que te criou?

— Sim. A senhora não o conheceu pessoalmente, mas com certeza sabe quem ele é. O senhor Kadam o conheceu. Ele ajudou Dirhen, Kishan e Kelsey a se tornarem quem eles precisavam ser para derrotar o mal.

Nilima me olhou curiosa.

— Quem é o homem que te criou, Radha?

— Seu nome era Ganesh. Mas vocês o conheceram como Phet.