Os fantasmas em minha vida.

Não é bem assim CAPÍTULO 02


Estavam deitados lado a lado em uma clareira, um olhava para o outro, sem constrangimento, já haviam superado essa barreira.

– Não acredito que estamos aqui. – fala Julie, entrelaçando seus dedos com os dele.

– Finalmente estamos juntos. – responde Nicolas, apertando brevemente a mão dela. – Achei que isso nunca ia acontecer.

– Nem me fale, nem conseguia conversar com você de tanta vergonha. – fala Julie, se aproximando dele.

– Que estranho. – fala Nicolas, também se aproximando. – Eu me sentia da mesma forma.

Julie já conseguia sentir a respiração dele contra seu rosto, seus lábios se aproximavam lentamente, fechou os olhos e sentiu o toque quente contra sua boca, fazendo com que seu coração acelerasse. Abriu os olhos e tomou um choque.

– Daniel? – perguntou Julie, notando o rapaz de cabelos encaracolados diante de si.

– Quem mais? – pergunta Daniel, puxando-a e dando-lhe um beijo.

– Daniel, você não estava aqui. – fala Julie, sentindo-se confusa, porém não conseguia se afastar dele.

– Eu sempre estive aqui Julie. – fala Daniel, abraçando a garota. – Bem aqui, do seu lado.

– Não, você não estava aqui Daniel. – fala Julie, tremendo. – Você tá morto.”

– Não, Daniel! Você tá morto! Você não existe mais! Você não está mais aqui!

– Julie, acorda. – fala Daniel, sentando-se na beirada da cama de Julie.

– Daniel! – Julie continuava falando seu nome, enquanto tremia e suava frio.

– Pelo amor de Deus. – resmunga Daniel, puxando a coberta da garota. – Acorda Julie!

Julie lentamente abre os olhos, percebendo que a voz não vinha de seus sonhos, mas do mundo real. Espreguiçou e sentou-se na cama, encarando o fantasma sentado no fim de sua cama.

– O que tá fazendo aqui? – pergunta Julie, bocejando.

– Bem, aparentemente, você fala dormindo. – fala Daniel, levantando-se da cama. – Falava tão alto que dava para ouvir da edícula.

Assim que assimilou o que ele havia dito, Julie sentiu suas bochechas queimarem. Olhou espantada para o fantasma e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas estava sem fala.

– É melhor você levantar, vai se atrasar pra escola. – fala Daniel, com um sorriso irônico. – A propósito, eu preferia o pijama de esquilinho. – fala o fantasma, atravessando a parede.

Furiosa, Julie pega o travesseiro e joga contra a mesma parede. Envergonhou-se, pois estava usando um moletom de bolinhas.

– Maldito. – resmunga Julie, saindo da cama.

Aquele dia seria longo.

–----

– E então, descobriu por que a Julie estava gritando? – pergunta Félix, assim que Daniel entra na edícula.

– Tava sonhando. – fala Daniel, se jogando no sofá vermelho. – Ela fala dormindo.

– E o que ela tava falando? – pergunta Martim, notando as feições confusas do amigo.

Daniel abaixou a cabeça, ainda tentava assimilar o que tinha acontecido no quarto de Julie. Passou a mão pelo cabelo e suspirou, cansado.

– O meu nome. – fala Daniel, levantando-se.

– E o que você fez? – pergunta Félix, olhando abobalhado para Daniel.

– Nada, não contei o que eu ouvi. – responde Daniel, andando em círculos.

– Como você pode ter perdido uma chance dessas?! – reclama Martim, segurando Daniel pelos ombros. – Você não estava apaixonado por ela?!

– O que você queria que eu fizesse? – pergunta Daniel, irritado. – Isso não quer dizer nada, ela só estava sonhando ou tendo um pesadelo, vai saber.

–--

– Me conta direito Julie, você sonhou com os dois? – pergunta Bia, encarando Julie, chocada.

– Isso mesmo. – responde Julie, desanimada. – Eu sonhei que estava com o Nicolas e, de repente, não era mais ele. Era o Daniel.

– Hum. – fala Bia, olhando para Julie desconfiada.

As meninas estavam sentadas no meio do corredor da escola, durante o intervalo. Observavam os meninos jogarem futebol no pátio, inclusive Nicolas, que acenou para elas, esboçando um sorriso brilhante.

– Como assim “Hum”? – pergunta Julie, sentindo-se inquieta.

– Acho que você está confusa sobre os seus sentimentos. – fala Bia, refletindo. – Afinal, quem você beijou no sonho? Nicolas ou Daniel?

– Bem, primeiro eu achei que era o Nicolas, mas não era mais ele, era o Daniel. – fala Julie, gesticulando. – Eu não sei mais o que pensar.

– Você não passou muito tempo com o Nicolas desde que vocês começaram a namorar, deve ser isso. Vocês precisam de um encontro. – fala Bia, levantando-se com um sorriso confiante.

– Um encontro?

–--

– Um encontro? – resmunga Daniel.

Os fantasmas estavam invisíveis, enquanto assistiam Julie conversar com Nicolas pela webcam. O jovem casal conversava sobre um possível local e uma data, quando poderiam se encontrar e passar um tempo juntos, sozinhos.

– A gente não devia estar bisbilhotando. – fala Félix, cruzando os braços.

– Fica quieto, eu quero ouvir isso. – fala Daniel, fazendo com que o amigo se calasse.

Julie não conseguia parar de sorrir, Nicolas do outro lado da tela também estava no mesmo estado.

– Eu não tinha reparado que nunca saímos em um encontro. – fala Nicolas, com um sorriso descontraído. – Será que ainda posso remediar isso?

– Não sei, acho que vou pensar nisso. – responde Julie, rindo.

– Que tal pensar até sábado? – pergunta Nicolas. – Tem um filme em cartaz que parece ser legal.

– Sábado? Que hora? – pergunta Julie.

– Que tal umas 19:30? Depois, podemos comer alguma coisa.

– Bem, acho que é uma boa ideia. – responde Julie.

– Não é uma boa ideia. – fala Daniel, ficando visível para Julie e baixando a tela do notebook.

– O que você tá fazendo? Estava bisbilhotando? – grita Julie, recuperando-se do susto.

Daniel fica momentaneamente desconcertado, mas logo recupera sua postura auto confiante.

– Isso não importa. – responde Daniel, erguendo o queixo. – O que interessa é que você estava marcando um encontro com o mané na mesma hora do nosso show.

– Não era na mesma hora. – fala Julie, levantando-se da cama. – O show só começa às 22h, daria tempo.

– E o ensaio prévio? E o teste de som? E se você se esquecer? – questiona Daniel, cruzando os braços, zangado.

– Podemos ensaiar de manhã, a Bia ajuda no teste de som e eu JAMAIS me esqueceria. – responde Julie, também cruzando os braços.

– Já chega pessoal. – fala Martim, ficando visível e metendo-se entre os dois. – Vamos fazer isso funcionar, juntos!

– É isso mesmo! – concorda Félix, também ficando visível. – A Julie pode ter o encontro dela e nós ajeitamos as coisas.

– Ela não vai nesse encontro. – fala Daniel, lançando um olhar carrancudo para a garota.

– Ainda bem que eu não preciso da sua autorização. – fala Julie, dando as costas para ele.

– Ótimo! – resmunga Daniel, saindo do quarto.

– Ótimo mesmo! – resmunga Julie de volta, sentando-se em sua cama.

Martim e Félix apenas assistiam aquela cena. Havia uma tensão muito grande ocorrendo entre Julie e Daniel, estavam discutindo acima do normal e não conseguiam ficar no mesmo ambiente por muito tempo. Porém, uma coisa não passava despercebida aos outros integrantes da banda: não conseguiam disfarçar seus olhares e o constrangimento quando eram pegos no flagra. Precisavam resolver seus assuntos inacabados.