Algumas meses se passaram cada agente do nível 4 recebeu uma responsabilidade, cada um recebeu a missão de cuidar de um filhote de cachorro, adestrar, alimentar e limpar. Após um ano, eles seriam avaliados.

Estava lendo os relatórios de cada agente, notei que a pasta que me deram falava apenas as suas habilidades, nenhum dado pessoal, creio que seja o meio da KGB de impedir que tenhamos algum apego emocional com os agentes.

Depois de avaliar cada ficha, separei os agentes que seriam qualificados pra trabalhar nos departamentos de inteligência, no tático e os qualificados para se tornarem agentes de campo. Entreguei o meu relatório ao meu supervisor e fui supervisionar os agentes durante as atividades do dia.

Após o jantar o diretor me chamou no escritório, quando cheguei, fui informada que os agentes do nível 4 iriam passar por uma avaliação, os que passassem iriam para o nível 5.

No dia seguinte, após ter enviado os relatórios, fui para a sala de treinamento, hoje seria a prática de tiro. Todos que estavam ali, foram muito bem treinados, nenhuma bala errada, todas acertando o alvo exatamente onde era ordenado. Após o final do treino retornei para o meu dormitório, estava ansiosa para tirar o uniforme e tomar um banho pra relaxar um pouco, quando estava abrindo a porta sinto alguém se aproximar, olho na direção da pessoa e era o Victor, entrei no dormitório e ele me acompanhou.

— Algum problema, agente West? - perguntei friamente

— Não estou aqui como agente, Tasha - ele falou após fechar a porta

— Se não é nada relacionado a agência, peço que se retire - falei olhando-o, ele respirou fundo e passou a mão pelo cabelo

— Mas que droga, Natasha - ele falou ficando agitado - Você não fala comigo desde aquele beijo.

— Falo apenas o necessário, agente - continuei falando séria

— Natasha, só por cinco minutos esquece que é uma agente e fala comigo - Victor pediu e suspirei, sei que ele não vai desistir.

— Seja rápido, Victor - falei cedendo ao pedido

— Sei que aqui não é o melhor lugar para ter sentimentos por alguém, mas não pude evitar - ele falou se aproximando - Te conheço desde que somos crianças, sempre tive muito carinho por você e se intensificou com o passar dos anos.

— Victor...- ele me interrompeu

— Por favor, me ouve, tá bem? - ele pediu e me calei - Quando fomos transferidos para treinar e vi como eram exigentes, temi mais por você do que por mim, lutei todos aqueles anos de treinamento para passar apenas pra ter certeza de que havia conseguido.

— Victor, sei que se preocupa comigo, mas aqui isso pode custar a sua vida - falei olhando-o

— Natasha, eu tô tentando dizer que eu te amo - ele falou e acabei recuando um passo

— Não repita mais isso - pedi firme

— Eu não posso mais negar o que sinto por você, Tasha - ele falou e neguei com a cabeça

— Mais uma razão para eu me afastar de você - falei olhando-o - Esse sentimento será seu ponto fraco, a sua sentença.

— Não posso mudar isso - ele falou e eu o olhei.

— Então não temos mais nada a falar - disse cruzando os braços

— É assim? - ele questionou - Confesso meus sentimentos e você não diz nada?

— Não tenho nada a dizer - falei simplesmente

— Você sente alguma coisa por mim - ele insistiu se aproximando - Não teria retribuído o beijo se não sentisse.

— Seus cinco minutos acabaram - falei fria novamente - Retire-se, agente West.

— Natasha... - ele tentou falar novamente

— Retire-se ou irei denunciar a seu comportamento - falei e ele recuou um pouco

Ele ficou em silêncio seguindo em direção a porta, me virei e passei a mão pelos meus cabelos. De repente fui puxada pelo braço com força suficiente para me virar, no instante seguinte senti os lábios do Victor sobre os meus, apesar do susto acabei retribuindo o beijo, ele me prendeu contra a parede aprofundando o beijo, parando apenas quando o ar se fez necessário, mas o Victor ainda me manteve entre a parede e ele

— Ainda vai dizer que não sente nada? - ele perguntou recuperando o fôlego

— Atração, não tem haver com sentimentos - respondi simplesmente

— Não, mas já é alguma coisa - ele falou voltando a me beijar com urgência

Senti quando ele começou a abrir o meu uniforme, mas não impedi. Em poucos minutos nossas roupas já estavam no chão, enquanto nós já estávamos na minha cama, foi totalmente diferente da noite da iniciação, ele era carinhoso, nos beijos, nos toques, sempre tendo cuidado ao me tocar, era atencioso, não buscava apenas o próprio prazer, mas me proporcionar o mesmo prazer. Quando ele entrou em mim foi cuidadoso, sem pressa, apenas para que pudéssemos desfrutar daquele momento. Não sei informar, quanto tempo se passou até que chegamos ao ápice do prazer. Ele saiu de dentro de mim e deitou ao meu lado, senti quando se moveu tentando me abraçar e me levantei da cama como se não tivesse notado o movimento dele e fui em direção ao guarda roupa.

— O que está fazendo? - ele perguntou confuso

— Irei tomar banho - falei pegando uma roupa

— Volta pra cama, Tasha - ele pediu, mesmo sem olha-lo sabia que ele me olhava.

Não posso permitir que ele crie mais esperanças por que fizemos sexo. Respirei fundo e continue a mexer no quase a roupa.

— Já encontrou o prazer que procurava, agente West. Pode ir embora - falei friamente enquanto fechava a porta do móvel.

— Como é? - ele perguntou incrédulo

— Não há mais nada a fazer aqui - disse olhando-o totalmente sem emoção

— Está insinuando que só fiz em busca de alívio? - ele perguntou sem acreditar na minha reação

— Irei tomar banho, quando eu sair, espero não encontrá-lo no meu quarto, agente West - falei virando as costas e fui em direção ao banheiro.

Quando tranquei a porta, soltei um suspiro pesado. Eu não deveria ter permitido que isso acontecesse, mas não posso negar que me sinto atraída por ele, mas sei que não é sentimental é apenas físico. Tenho que encontrar um jeito de partir o coração dele de uma vez, ou algo pior pode acontecer com ele.

Tomei um banho demorado, quando sai do banheiro, meu dormitório estava vazio, apenas as minhas peças no chão. As recolhi colocando no cesto de roupa suja. Após me vestir e ajeitar o cabelo, fui para a enfermaria. Falei com a enfermeira solicitando uma pílula do dia seguinte.

— Parece que alguém andou se divertindo - ouvi a voz do agente Federov, a função dele era auxiliar na enfermaria

— Nem imagina o quanto - falei olhando-o e me apoiei no balcão - Como anda o trabalho?

— Está bem calmo, na verdade - ele falou parando ao meu lado - Bem, você poderia pegar um pouco mais pesado nos treinos e mandar alguns agentes pra cá. Estou me sentindo solitário.

Acabei rindo do comentário que ele fez. Nos últimos meses notamos a mudança no comportamento dele, era um exemplo de agente, obedecia sem hesitar, tinha um desempenho nas atividades, se continuasse assim se graduaria novamente.

— E como está as costas? - perguntei me referindo as cicatrizes

— Preocupada comigo, agente Romanoff? - ele rebateu a pergunta é sorri ironicamente

— De maneira alguma, mas até segunda ordem sou responsável por você - falei olhando-o e ele sorriu

— Tudo bem, dessa vez vou fingir que acredito em você, Romanoff - ele falou e mostrou as costas - Os ferimentos fecharam, mas as cicatrizes que ficaram dificultam um pouco alguns movimentos mais bruscos.

As cicatrizes eram irregulares e ocupavam toda a extensão das suas costas.

— Se for voltar a campo, terá que fazer a cirurgia pra remover essas cicatrizes - falei enquanto ele abaixa a a camisa e se virava pra mim

— Depois do que eu fiz, tenho sérias dúvidas de que eu volte a campo - ele falou dando de ombros e a enfermeira voltou com o remédio me entregando

Tomei ali mesmo e desencontei do balcão.

— Obrigada - falei e a enfermeira assentiu - Até a próxima, agente Federov

— Até mais, agente Romanoff - ele falou simplesmente - Lembre-se do que segeri.

— Pensarei no seu caso - falei antes de passar pela porta.

Retornei para o meu dormitório, comecei a organiza-lo, até que fui chamada a sala do diretor. Peguei um uniforme limpo e fui para a sala do diretor, bati na porta e logo recebi a ordem para entrar.

— Com licença, diretor - falei me aproximando da mesa e beijei o anel dele

— Sente-se, agente Romanoff - ele falou e obedeci - Recebi os seus relatórios sobre os agentes, mandarei um agente avalia-los amanhã e quero que esteja presente.

— Sim senhor - falei simplesmente

— E recebi o relatório do seus supervisor - ele falou me olhando - Ele a classificou adequada para trabalhos de campo. O que acha?

— Servirei onde precisarem me mim, senhor - falei normalmente e ele assentiu

— Se a maioria dos agentes que supervisionou se graduar na avaliação de amanhã, você será avaliada para ser uma agente de campo - Ivan falou me olhando

— Sim senhor - disse com um pouco mais de firmeza

— Por hora é isso, pode retornar aos seus afazeres, agente Romanoff - ele falou e eu assenti

— Com licença, Senhor - falei me levantando

— Mandarei o comunicado dos agentes nível 4 para seu dormitório, terá que entregar ainda hoje - Ivan falou me olhando

— Será feito, senhor - foi tudo que disse antes de me retirar dá sala após receber o consentimento dele.

Quando entrei no meu dormitório, troquei meu uniforme por um vestido confortável e terminei de arrumar o quarto. Quando estava perto do horário do jantar, me arrumei e fui para o refeitório, observei todos os agentes que entraram. Victor estava com um expressão séria, mais do que o normal, mas diferente das outras noites, ele não me procurou com o olhar. Fiz a minha refeição e voltei pro dormitório.

No Dia Seguinte


Pela manhã entreguei o comunicado da avaliação individual. No horário marcado, todos estavam preparados, aguarfando serem chamados. Me encaminhei para a sala que ocorreria a avaliação, a ordem que eles viriam foi definida pelo diretor. Ele estava na sala ao lado, assistindo toda a avaliação pelo espelho falso, ele falaria conosco quando necessário pelo comunicador que estávamos usando. O meu supervisor faria a avaliação e eu seria apenas a sua auxiliar. No horário programado foram feitas as avaliações individuais, infelizmente tiveram alguns que não conseguiram passar.

— Bem-vinda, agente Limonov - meu supervisor falou quando ela entrou acompanhanda do cachorro.

— Obrigada, senhor - ela falou e fez um gesto para que o cachorro sentasse, que obedeceu

— Primeiro gostaria de avaliar como lida com as armas - meu supervisor falou olhando-a e coloquei a caixa na mesa próximo a ela - Monte a arma.

Ela pegou as peças e montou sem dificuldades, ela puxou o gatilho com a arma descarregada apenas para mostrar que estava tudo em ordem.

— Ótimo, a avaliação do veterinário mostra que o cachorro está em perfeito estado de saúde - meu supervisor falou levantando os olhos da ficha - Agora quero ver o progresso que fez com ele.

Ela começou a dar vários comandos e o cachorro obedeceu a todos, sem falhas.

— Perfeito, agora vamos ao último teste - meu supervisor falou e eu carreguei a arma que ela havia montado - Mate-o.

A agente parou, sua expressão mostrava o quanto aquelas palavras a haviam afetado, ela havia se apegado ao cachorro. Ela apenas se moveu quando eu coloquei a arma em suas mãos. Ela segurou mesmo com as mãos tremendo levemente.

— Não tenho o dia todo, agente. - meu supervisor falou frio

Ela engatilhou a arma, apontando pro cachorro, os olhos dela lacrimejaram e ela não conseguiu puxar o gatilho.

— Não consigo - ela murmurou abaixando a arma

— Tudo bem. Agente Romanoff, finalize o teste - meu supervisor falou me olhando e entendi a ordem dele

Peguei a arma das mãos dela e disparei duas vezes contra o cachorro.

— Não... - ela falou deixando as lágrimas rolarem

— Recomponha-se, agente - falei baixo para que ela ouvisse - Aqui não é lugar para isso.

— Quando for ordenado algo, simplesmente obedeça - meu supervisor falou olhando-a - Foi pra isso que foi treinada, é para isso que está aqui. Fui claro?

— Sim senhor - ela respondeu secando o rosto

— Agora retire-se - meu supervisor falou preenchendo algo na ficha - Acompanhe o agente Moskal.

A agente Limonov saiu tentando parecer firme.

— Prepare tudo para o próximo agente - meu supervisor falou e eu assenti

Desmontei a arma e a coloquei na caixa, peguei o cachorro morto e o coloquei em uma saci preto deixando no canto, tenho certeza de que não será o único. O decorrer da tarde, mais agentes foram testados, até que chegou a vez do Victor. Ele passou pelo mesmo processo de montar uma arma e de demonstração de progresso com o cachorro.

— Muito bom, agente West - meu supervisor disse olhando-o - Agora mate-o

Eu carreguei a arma e entreguei na mão dele. Victor olhou para o cachorro, apontou a arma, suspirou por um segundo, fechou os olhos brevemente como se estivesse reunindo coragem e quando abriu atirou no cachorro.

— Agente Romanoff, você que estava mais próxima, me diga - ouvi a voz do Ivan Petrovick no comunicador - Ele hesitou um pouco antes de puxar o gatilho ou foi impressão minha?

Sabia que eu estava sendo testada naquele momento. Passei parte da infância convivendo com ele, mas não posso falhar se quero alcançar meu objetivo.

— Ele hesitou - respondi sem pensar duas vezes

— O que disse, agente Romanoff? - meu supervisor questionou me olhando

— O agente West, cumpriu a ordem, mas hesitou um pouco antes de fazer - expliquei simplesmente me aproximando da mesa do supervisor

— Porque hesitou, agente West? - meu supervisor questionou olhando-o - É muito difícil puxar um gatilho?

— Não, senhor - Victor respondeu - Só não esperava essa ordem, senhor.

— Poderia reprova-lo por admitir não estar preparado para qualquer situação - meu supervisor falou olhando-o - Mas te darei uma nova chance.

— Obrigado, senhor - ele falou olhando-o o seu avaliador

— Atire na agente Romanoff - meu supervisor falou

Admito que fiquei um pouco surpresa, mas procurei não demonstrar. Apenas dei alguns passos a frente me aproximando do Victor. Ele estava imóvel, a arma em mãos, mas ele não apontava para mim, ficou assim por vários segundos.

— Já chega, não posso esperar o dia inteiro - meu supervisor falou e indicou que eu me aproximasse da mesa dele novamente - Você tem um pouco de dificuldade de cumprir as ordens?

— Não, senhor. Só que atira contra uma aliada não é tão fácil - ele respondeu simplesmente

— Não? - meu supervisor colocou a própria arma sobre a mesa e ainda olhando pro Victor disse - Agente Romanoff, atire no Agente West.

Sem hesitar, peguei a arma que estava sobre a mesa e fiz um disparo acertando apenas o músculo da coxa esquerda, ele gemeu de dor e caiu no chão com as mãos pressionando o local, na tentativa de parar o sangramento.

— Foi difícil disparar contra um aliado? - meu supervisor me questionou

— Não, senhor - respondo devolvendo a arma

— Espero que entenda, não importa o que pensa, apenas obedeça - meu supervisor afirmou olhando-o

— Sim, senhor - ele falou com um pouco de dificuldade devido a dor.

Os agentes que trabalham na área médica vieram para buscá-lo. E preparei tudo para o próximo agente.

— Seu tiro não foi letal, sem isso ou veia atingidos - meu supervisor comentou me olhando - Porque?

— As ordens não foram específicas em relação a lesão que eu deveria causar - falei simplesmente

— Porque optou por ferimento leve? - ele me questionou

— Não quero prejudicar a agência invalidando um agente - respondi olhando-o - Mesmo com erros de hoje, ele tem potencial.

Ele não questionou mais nada, apenas deu continuidade a avaliação com os agentes que sobraram.