O sol ainda não saíra por inteiro naquela manhã. O céu parecia pincelado com traços de tinta vermelha e laranja, anunciando que o amanhecer não demoraria a chegar.

Na porta de casa, uma garota erguia os olhos para a bela paisagem. Levava nas costas uma mochila escura, que parecia carregada dos mais diversos itens.

Estava claro que ela estava de partida.

– Você não pode mesmo ficar? - perguntou um garoto, ainda dentro da residência.

– Sinto muito, Sam. Eu prometi ao Anjo - respondeu ela, com um sorriso triste, olhando para o irmão.

– A gente pode dar um jeito - sugeriu o outro garoto, procurando desesperadamente por uma solução. - A gente faz ele mudar de ideia... Ou propõe uma troca, sei lá...

– Dean - interrompeu ela. - Não se desespere. Não é nada permanente. Eu posso visitá-los, se quiser. Só não por enquanto.

– Mas... por quê, Kath?

A garota virou-lhes as costas e, novamente, ergueu os olhos para o céu.

As palavras do Anjo lhe vieram claras como água.

'Seus irmãos... eles têm um longo caminho pela frente. Seu destino já foi escrito há muito tempo, e o mundo depende disso. A sua morte já estava prevista há séculos, e eu não sei como isso pode influenciar em tudo. Eu a salvei, mas tenho que alertar: caso você não os deixe até a primeira madrugada da semana que vem, o mundo inteiro estará em perigo.'

Mesmo que os deixasse, seus irmãos teriam uma vida grandiosa pela frente.

E ela não fazia parte desse destino.

Ela fechou os olhos, sentindo o vento e o frescor daquela madrugada. Uma lágrima escorreu pelo canto de seus olhos, riscando-lhe a face.

Ela ergueu o pé para dar o primeiro passo na nova fase da sua vida, mas uma mão segurou seu ombro.

– Espere, Kath - Dean pediu. - Eu... encontrei algo que é seu.

Ela olhou para ele.

Em sua mão estendida, ela viu um pequeno rolo de barbante, enrolado em linhas de cinco tipos diferentes. Uma linha de costura. Uma meio grossa, para amarrar coisas. Uma larga e achatada como uma fita, de um tecido resistente como couro. Uma gorda e grossa, para amarrar coisas ainda mais fortes, e uma muito, muito fina, para cortar.

O seu rolo de barbantes.

Ela não conseguiu se segurar mais. Várias e várias lágrimas desceram por seus olhos, e ela começou a soluçar.

Sam adiantou-se um passo e abraçou-a com força, aninhando-a. Dean imitou-o, ambos os irmãos também sem conseguir conter os soluços.

Eles permaneceram assim por longos minutos, até que Katherine finalmente se afastou. Ela secou os olhos molhados com as mangas do casaco e sorriu para eles uma última vez.

Então, virou-se para o vasto mundo afora e começou a se afastar.

Depois de percorrer mais ou menos trezentos metros, já muito distante na rua e em uma subida que durara mais da metade do caminho, ela parou e virou-se para trás.

Ela viu apenas de relance os irmãos a encarando com pesar, e em seguida virando-se e entrando novamente em casa, o irmão mais velho guiando o mais novo com a mão em seu ombro.

Ela sorriu o sorriso mais triste de sua vida, e sussurrou seu último adeus em muito, muito tempo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.