Depois de três semanas, Sigerson promoveu uma festa para anunciar quem substituiria a Zoe no comando do seu império. Vários nomes importantes estavam na lista convidados e, entre eles, a atual representante do governo britânico Alex Holmes.

Todos estavam curiosos quanto a escolha de Sigerson, pois com a Zoe presa e a Irene sumida, não se conseguia imaginar um nome que o mais velho dos Holmes pudesse considerar para o cargo.

Alex vinha estranhando a falta de ameaças a família, juntamente com o silêncio de Sigerson em saber do paradeiro da Irene. Dúvidas inteiramente sanadas nesse dia.

Não apenas Alex, mas todos no salão ficaram boquiabertos ao verem Irene (ainda usando suas roupas de sempre: jaqueta, camiseta, calça jeans e botas) descendo as escadas ao lado do tio.

—Tive o privilégio de conseguir juntar em uma sala todos os meus amigos e sócios para anunciar que minha sobrinha irá presidir todos os meus negócios. Ela é o meu legado. Sem dúvidas me deixará orgulhoso!

Todos aplaudiram as palavras do Sigerson, chegando assim o momento da Irene ter a palavra.

—Valeu, tio. – Ele quase se revirou com a falta de formalidade da sobrinha. – Estamos aqui hoje para celebrar o novo. Um novo começo, novas alianças e, principalmente, a expansão de cada uma das empresas. Agora chega de papo e vamos beber.

Os convidados sorriram levantando, junto com a Irene, os copos em um brinde. Ela passou parte da noite entre pequenas conversas e recebendo pedidos para reuniões futuras.

—A agenda da Srta. Holmes está cheia até o próximo mês, porém verei como posso encaixa-lo.

—Por Deus, Gaspar. De onde você surge tão de repente? – Irene perguntou ao levar um pequeno susto com a presença do assistente.

—Estou sempre perto da senhorita.

—Isso é triste.

—É o meu trabalho.

—Ainda mais triste. – Ela ia tomar um gole de uísque, mas o rapaz tirou o copo da mão dela. – Ei, se fizer isso de novo vai ganhar um olho roxo.

—Não duvido, senhorita. Porém, essa será uma longa noite, então aconselho moderar no álcool.

—Vai se ferrar! – Ela pegou outro copo virando o conteúdo.

—Gaspar, você pode nos dá um minuto?

—Posso lhe conceder cinco minutos. Por aqui.

Ele as conduziu até uma sala vazia.

—Você não deveria estar aposentada? – Disse Alex cruzando os braços.

—Fiquei entediada.

—Estou falando sério, Irene. O que está fazendo?

—Tomando conta das coisas. Sigerson não irá incomodá-los.

—Você sabe o quão perigoso é isso? Se ele tomar a sua mente, você será uma ameaça pro mundo.

—Se isso acontecer, você pode apenas me matar.

—Como se fosse tão fácil.

—Cuidado, Alex. Vou pensar que se preocupa comigo.

—Você é minha prima. – Havia não apenas aflição na voz da Alex, mas também uma dose de arrependimento.

—E você é minha. Seja feliz com a Jasmine.

Não era essa a intenção da Alex. Ela nunca quis deixar a Irene a mercê do Sigerson. Mas a prima era teimosa e preferia agir sozinha ao invés de juntar forças com a família inteira. Antes de se retirar Irene viu um vestígio de culpa nos olhos da prima.

—Você pode parar de me seguir? – Irene disse ao assistente.

—Não posso. Goste ou não, esse é meu trabalho.

—Eu vou mijar. Você não está convidado. – Ele apenas se encostou no batente da porta. – Deus, como vou odiar o resto da minha vida! – Ela esbravejou entrando no banheiro.

Irene vinha fazendo um ótimo trabalho como empresária. Ela se esforçava verdadeiramente para manter tudo em ordem e fazer as empresas do tio progredirem, mantendo assim a sua parte do acordo em dia. Entretanto, essa não era a vida esperada pelo Sigerson.

—Em um mês, eu dobrei os lucros dos seu império, Sigerson. Por que eu deveria agir ou me vestir diferente? Apenas para satisfazer a sua vontade libidinosa? Cai na real!

—Você é minha representante, Irene. Sabe como é vergonhoso...

—Oh, cala a boca! Estou morando na sua casa e cuidando do seu patrimônio como era do seu desejo. Você sempre repete que não é o Mycroft, então se toca Sigernson, eu não sou a Zoe. Apenas se contenta com o que tem.

Ninguém na família Holmes era de se contentar com migalhas, sejam elas quais fossem. Sigerson não seria diferente, na verdade, ele sempre seria o pior nessa missão.

Após mais um mês vivendo naquela merda de vida, Irene se aprontava para mais uma festa maçante. Ao pegar sua jaqueta, Gaspar lhe avisou sobre Sigerson querer ter uma palavra com a sobrinha antes de irem para o evento.

—O que é agora, Sigerson? -Ao adentrar na biblioteca, Irene instintivamente se desviou de um golpe dado pelo tio. -Você está completamente louco?

—Você é minha propriedade, Irene, e irá aprender isso hoje, para nunca mais esquecer!

—Você parece um disco arranhado.

—Traga-o! – Ele disse ao Gaspar.

—Quem?

O seu olhar parecia cheio de facas afiadas, Gaspar entendeu que seu dever ali não seria fazer perguntas, apenas obedecer, mesmo não sabendo qual exatamente era a ordem.

Ele saiu em busca de seja lá quem fosse. Quando Irene viu a pessoa entrando, ela sentiu seu estômago revirando.

—John!

—Surpresa. -Sigerson comentou antes de dá um grande tapa na sobrinha, no qual, dessa vez, ela não se esquivou. – Boa garota.

Irene acabou dando alguns passos involuntários para trás chegando a encostar na parede. Sigerson foi até ela colocando uma mão em seu pescoço.

—Diga. A quem você pertence?

—Você. – Sua voz saiu fraca.

—Não consegui ouvi-la.

—Eu pertenço a você.

—Sim. É quase como uma linda sinfonia. – Os dedos deles percorriam pelo rosto da sobrinha e descansaram em seus lábio por alguns segundos antes dele lhe dá um rápido beijo.

John apenas continuava parado perto da porta como se nada daquilo o incomodasse, já Gaspar parecia confuso e um pouco nauseado.

—Você é nojento!

Sigerson deu outro tapa na sobrinha, em seguida a segurou pela parte de trás da cabeça entrelaçando bem seus dedos nos cabelos dela.

—E você... Eu me pergunto como posso amar alguém como você. Irene, você é apenas um pedaço de bosta. Você um lixo. Mas, o amor não se escolhe. Olhe pra ele. Pobre inspetor caiu na mesma armadilha.

—Deixe-o fora disso. Você já me tem, não é?

—Apenas tenho você agora, Irene, por ele estar aqui.

Sigerson proferiu um golpe com a bengala no estômago da Irene a fazendo cair no chão com falta de ar.

—Sr. Holmes, - Gaspar começou a falar tentando mantes a voz o mais firme possível -, precisamos ir ou vamos nos atrasar.

—Sim, sim, em um minuto.

Ele pegou Irene pelos cabelos jogando de bruços em cima da mesa indo vagarosamente até a lareira pegar um ferro ali próximo. Sigerson colocou o objeto, que tinha um S na ponta, no fogo.

—S-sigerson.... Não! – Irene falou com dificuldade.

—Eu não deveria estar aqui. – Gaspar comentou consigo mesmo.

John fechou os olhos e apenas pôde ouvir os gritos da Irene enquanto o tio a marcava. Ela foi ao chão mais uma vez.

—Vá para o seu quarto colocar o vestido que escolhi. Alguém irá ajuda-la com a maquiagem.

Quando ele saiu, Gaspar correu para ajudar Irene a colocar-se de pé. Eles iam em direção as escadas, John tentou pegar a mão da Irene ao passarem ao seu lado, mas ela o evitou apenas parando para lhe dizer uma única frase.

—Você deveria ter continuado morto.

—Irene... - Ela já havia se distanciado ignorando o chamado do inspetor. - Eu não tive escolha.

Disse ele para o vazio.