Os Secretários

Raiva extrema e dança na chuva



Eu sei mas...

– Brianna...

– Não Caleb! Isso é ridículo! Nós somo amigos!

– Eu sei! Mas... Brianna por favor! Pela quinta vez! Me deixe falar! - Suspiro, ainda de braços cruzados e cara séria. - Posso?

Concordo com a cabeça e ele suspira.

– Eva falou comigo.

– Adisson também... - Ele me encara com raiva. - Desculpe!

– Ela disse que isso é mais comum do que parece. Eles acham que viram alguma coisa... Beijos antes daquela vez que foi de brincadeira e...

Olho para seus olhos azuis e sacudo seus ombros.

– Não! Achei que fossem eles! Achei que eles... Tenho que falar com a Candice.

Ele me olha confuso.

– O que? - Corro pelo corredor. - Brianna!

– Te vejo depois! - grito subindo as escadas e empurro a porta de Candice, ignorando a pessoa sentada na poltrona. - Não aconteceu nada entre eu e o Caleb!

– Brianna. Onde estão seus modos? - Ela aponta para a poltrona e vejo um homem velho e caquético. O homem me encara mal-humorado.

– Desculpe-me. - Estendo a mão. - Sou a secretária de Candice. Brianna.

O homem encara meus olhos, sem estender a mão.

– Sabe quem sou eu? - pergunta ele com a voz rouca. Nego com a cabeça. - Eu... - Ele se levanta com dificuldade e suspira. - Eu sou o criador de tudo que vê. - Ele respira com dificuldade. - Eu criei o sistema de secretários. - Ele suspira e seura uma mecha de meu cabelo. - Andy McBride. Eu sou sua salvação.

– Salvação? - Olho para Candice, que olha para seus pés em silêncio. Nunca a vi parecer tão fraca. Tão inferior. – Como assim?

Ele toca minha cicatriz e respira fundo.

– Sua salvação egoísta, mas foi uma surpresa para mim. Eu observei você e seus cachecóis por dezessete anos. E nunca pensei que levantaria a mão. Mesmo com a morte de sua mãe, achei que seria forte. Sabe Andy...

– Brianna. - corto. - Meu nome é Brianna.

– Andy. - Insiste ele, sempre com a respiração dificultosa. - Achei que fosse forte. Achei que não era como as outras.

Candice continua olhando para o chão.

– Achei que poderia ser melhor do que ela. - Ele inclina a cabeça e sussurra em meu ouvido. - Poderia tomar o lugar dela. Ainda pode.

Sorrio ainda insegura.

– Obrigada pela visita. Me sinto muito honrada em conhecê-lo.

Ele tira uma caixa azul de cima da poltrona e me entrega.

– Para Andy McBride. - diz ele e cambaleia até fora da sala.

Espero até que ele bata a porta.

– O que foi aquilo? Por que ele veio me ver? Por que ele disse aquilo? Por que ficou calada? - pergunto brava.

Ela pigarreia e se senta na cadeira, fazendo sinal para que eu sente também.

– Brianna. Ele tem o controle de tudo. Ele tem o controle de todas as câmeras. Ele sabe tudo sobre qualquer um que encontre na rua.

– Por isso ficou quieta? Porque ele sabe sobre você? Sobre sua história?

Ela concorda com a cabeça.

– É inevitável. Ele sabe. - diz ela com o olhar longe. - Mas por que veio aqui mesmo?

– Caleb é só mu amigo! - grito lembrando-me do motivo de vir para cá. - Não tem nada entre nós dois!

– Não sou eu que tenho controle das câmeras. - diz ela se referindo ao homem. - Ele disse que virá algumas vezes, para falar com você.

– Ham. - digo. - Ok. Eu já... Vou indo.

– Ok. Pode ser que eu precise falar com você depois.

– Para falar sobre planilhas ou para me apresentar algum parente? - falo irritada e me jogo contra a porta.

**

Ando pelo corredor e vejo todos os outros secretários. Até que encontro seus olhos.

Ele me encara por um tempo. Mike segura seu ombro e encara a mim e a Diana ao meu lado. Andamos pelo corredor até que começa a chover.

Alguns pingos aqui e ali. Mas logo começa a literalmente chover. Minhas pastas ficam todas molhadas, meu cabelo começa a desmoronar e todos parecem tão confusos quanto eu.

Até que uma música clássica começa a tocar. Os garotos se entreolham.

– Agora não.

– Por que?

– Ah não!

Olho para os lados e não vejo mais Diana. Vejo Mike... Dançando com ela. Ok. Isso é um pouco confuso.

Alguém segura meus braços e me guia pelo corredor.

Olho para cima e vejo os olhos azuis e os cabelos molhados de Caleb.

– Você não falo que...

– Esquece o que eu falei. Isso é um teste. Eu não vou perder nenhuma chance. - Sigo seus passos, prestando atenção em seu rosto, até que ele nos leva até o depósito onde estive com o robô. Por mais que tenha sido somente um teste, este lugar me dá arrepios. Ele fecha a porta e puxa um fio que faz um clique e liga a luz. Vejo que estamos muito próximos. Quando ele respira, posso até sentir seu abdômen encostar no meu. - Não quero me afastar de você. - Sussurra ele encostando a testa em minha testa. - Mas não quero que suma.

Engulo em seco.

– Este lugar me dá arrepios. - digo rindo.

– Por que?

– Ah. Eu não contei para você dos robôs? - pergunto. Ele nega com a cabeça. - Bem,

Conto o que aconteceu. Ele escuta atentamente, balançando a cabeça e sorrindo no final.

– O que foi? - pergunto vendo seus olhos ficarem frios.

– Eu nunca. Nunca te machucaria. - Ele coloca as mãos em meu rosto. - Nunca. Ouviu?

– É uma maneira de fazer eu falar alguma coisa sobre a antiga eu?

Ele nega com a cabeça.

– Castanhos. - diz ele. - Meus olhos eram... Castanhos.

Sorrio, mostrando a maior quantidade de dentes possível.

O abraço e sinto suas mãos quentes segurarem minhas costas.

– Você é um ótimo amigo. - sussurro.