Os Secretários

Candice virou bruxa ou alguém está rindo de você.


Jogo os papeis dentro da gaveta e jogo-me na cadeira, digitando o mais rápido possível para tentar esquecer o que acabei de saber.

Esta informação pode significar uma coisa: Olly foi sequestrado.

Digito cada vez mais rápido e presto menos atenção em o que estou realmente escrevendo e q=tenho a sensação de afundar meus dedos no teclado.

Tudo fica lento. Não consigo digitar tão rápido quanto posso. Ouço cada batida do teclado prateado como um tambor em minha cabeça. Paro e empurro a cadeira para trás, deixando o computador longe. Abraço minhas pernas e caio nos choros e soluços. Olly era especial para mim. Acho que até demais. E não sei como puderam sequestrá-lo. Mesmo sabendo que sequestros tem negociação, quem fará isso? Meu pai está a ponto de enlouquecer por causa da morte de minha mãe e agora não estou mais lá, Alex tem a mesma idade que eu e que Olly então não podemos fazer nada.

Mas o que este artigo estava fazendo na sala de Candice?

Junto-me ao computador e volto a digitar, e não paro tão cedo para chorar.

dia três, pagina 123.

Bocejos e mais bocejos me distraem. Ninguém veio me ver. Ninguém me trouxe comida ou café. Só o que tenho é um refil de água que já está pela metade.

Digito cada vez mais rápido e vejo que a tecla do A já está quebrada e solta do teclado, ás vezes grudando em meu dedo.

Balanço a cabeça várias vezes quando sinto minhas pupilas pesarem em meus olhos.

Não aguento mais digitar. Meus dedos estão doendo e sinto que irão sangrar á mais uma hora de trabalho. Afasto a cadeira da mesa e deixo a cabeça leve na direção de meu ombro. Sinto meus olhos relaxarem e uma sensação de prazer em estar fechando os olhos por mais tempo do que quando pisco.

dia quatro. Zero páginas.

Acordo desesperada. Dormi demais. Vejo uma bandeja com rodelas de pães torrados, um pote inteiro de geleia de framboesa, uma jarra de suco de laranja em cima da mesa.

Ao lado, o refil de água cheio. Uma máquina de café e mais de dez jarras douradas com rolhas prateadas.

Um papel em cima da bandeja.

Aconselho que tome o líquido das jarras douradas.

C. McCollins.

Esfrego o rosto e bocejo.

Como algumas rodelas de pães, mais de três copos de água, duas xícaras de café puro e a jarra inteira de suco. Me recuso a tomar o líquido das jarras. Aquilo é o mesmo líquido da primeira festa. O que nos mantém acordados, mas isso é um tipo de droga. Me recuso.

Continuo digitando o mais rápido que posso e tento não lembrar de Olly.

Tarde demais.

Balanço a cabeça e me recuso a chorar novamente.

Olly é um mentiroso. Bem, pelo menos era.

dia 5. 1399 páginas.

Suspiro ao chegar na página 1400, mesmo sabendo que não chequei nem na metade do trabalho e que só tenho mais dos das para terminar. Dormi por menos de uma hora e o refil de água foi abastecido, uma bandeja igual á outra, mas nova em cima da mesa e cada vez mais garrafas douradas que me recusei a abrir, mesmo com o mesmo bilhete todos os dias aconselhando que eu beba o líquido das garrafas douradas e a assinatura de Candice.

Esfrego o rosto e escrevo cada vez mais rápido, até que a tecla do A finalmente salta na direção do meu olho e bate em uma das garrafas douradas, fazendo uma rachadura pequena. Até que ela começa a aumentar até quebrar o vidro e vazar na direção de meus pés. O cheiro de álcool fica cada vez maior até se tornar insuportável.

- Ótimo. - murmuro fazendo uma careta para o cheiro.

Continuo digitando até que a tecla do O salta na direção de outra garrafa e faz a mesma rachadura, que se torna uma maior, quebrando o vidro e fazendo o líquido molhar meus pés descalços.

Suspiro e tento ignorar o cheiro praticamente insuportável penetrando no carpete.

Continuo digitando até que a letra L salta na direção de outra garrafa e a quebra também.

Bem, resumindo. Mesmo parecendo loucura. Em dez minutos sete letras saltaram, seis delas eram em sequência: O-L-I-V-E-R.

Sim, mesmo parecendo loucura, foi esta a sequência. Mas a primeira tecla foi um A. O que ainda não faz sentido para mim. Até que me lembro do que minha mãe disse para mim uma vez:

- A de Andy, B de Brianna, C de Calum...

Olho para a tela e vejo:

A de Andy.

Empurro bruscamente a cadeira para trás, soltando um grito de medo e bato com a cabeça na quina da gaveta prateada.

- Como... - olho para as letras flutuarem sobre a tela em letras amarelas. Eu preciso sair daqui. Agora.

Corro na direção da porta e soco-a, berrando na esperança de que alguém me ouça.

- Creio que não terminou seu trabalho, não pode sair agora. Tem que terminar. Lembrando-a que tem dois dias para terminá-lo.

Ou até eu enlouquecer de vez.

Volto á cadeira e digito três vezes mais rápido. Desta vez não para engolir o choro, mas sim, para saber o que o provocou.