Ela me olha com desgosto.

– É fácil aprender tudo isso. Quatro dias é suficiente e pode sobrar algumas horas para descanso. Vamos começar com o andar. Sabe andar de salto alto? – discordo com a cabeça. Quer dizer já andei algumas vezes, mas não sou nada perfeita para isso. - Ok. – ela vai até uma prateleira cheia de sapato de salto. Ela pega um cinza de camurça com o salto do tamanho da minha mão. Um pouco menor que isso, mas de qualquer modo é muito alto. - Coloque isso. – ela coloca os sapatos no chão.

– Quer que eu ande nisso? – pergunto apontando para os sapatos com minhas mãos.

– Eu sou só a funcionaria. Eu sigo regras, não as faço. Coloque os sapatos.

Reviro os olhos e coloco os sapatos. Me desequilibro um pouco, mas consigo ficar em pé.

Adisson me encara com a mão no queixo.

– Tire esse vestido. Não está combinando. – diz ela.

Não seria melhor trocar o sapato?

Mas não posso criticar Adisson. Sou só a garota que usa cachecóis á quase nove anos em todos os dias, mesmo morando em um dos lugares mais quentes do mundo.

Ela vai até o guarda-roupas e pega um vestido cinza com um zíper nas costas.

– Ali tem uma porta sem a tranca do gato. – Adisson com uma caneta vermelha aponta para a parede branca com uma maçaneta dourada. Concordo com a cabeça e vou até lá.

Giro a maçaneta que desta vez abre. Tiro os sapatos e olho em volta. Basicamente é uma caixa enorme, retangular e branca. Várias lâmpadas brancas envoltas em bolinhas transparentes penduradas por fios de náilon.

Pare de olhar para o teto e coloque logo o vestido. – ouço a voz de Adisson. Abro a porta e coloco a cabeça para fora a encarando. – Não tem nenhuma câmera. Isso sempre acontece. Coloque logo o vestido!

Fecho a porta e coloco o vestido cinza. Recoloco os sapatos, seguro o vestido vermelho em uma das mãos e giro a maçaneta saindo de lá.

– Bem melhor. – diz ela. – Não sei porque este vestido está aqui. – ela pega o vestido vermelho da minha mão e o coloca no cesto preto de metal. – Você está linda. Bem melhor do que aquela loirinha de cachecol que chegou aqui á seis horas. Ande até aquela parede. – ela aponta para o outro lado da sala onde as folhas da pintura de cerejeira terminam.

Vou dando passos lentos até lá sem cair. Pelo menos isso. Volto para seu lado.

– Você já andou de salto alguma vez? – ela pergunta.

– Uma vez, eu peguei os sapatos da minha mãe...

Ela me dá um tapa no braço.

– Você não tem mãe. Não porque ela morreu, você é 0057 até escolher um nome. Só isso. Provou dois vestidos, acordou somente uma vez, se olhou uma vez no espelho e andou a primeira vez de salto alto. Isso é só um lembrete do que eu disse antes. Tudo que você disser ou fizer, se acumula na sua lista da vida. – olho para ela com o canto dos olhos. - Você é 0057, uma secretária. Tem duas horas de vida.

– Brianna. – digo. Ela sorri. - Andei de salto a primeira vez á dois minutos e me sai bem.

Ela concorda com a cabeça.

– Ok. Muito bem. Este lembrete é para tudo que acontecer aqui. Mas para mim você pode falar sobre Andy. Se eu perguntar alguma coisa hoje, é para te conhecer melhor. Mas a partir de amanhã, só quero saber sobre a Brianna. – concordo com a cabeça. – Tomara que tenha gostado do salto, vai ficar com ele por um bom tempo. Então. Você já tirou o nome da lista de afazeres. O que mais, Brianna? – ela ri. – Nunca teve uma secretária com o nome Brianna. E olha que tive muitos secretários comigo.

– Era o nome da mãe do Olly. – digo me lembrando da regra. – Desculpe.

– Você pode falar hoje como eu disse. Achei que fosse o nome da sua mãe.

– Andy era o nome da minha mãe.

– Ah. – diz ela. – Ok. Próxima coisa. Como se falar com a Candice. Olha, ela pode parecer legal, mas Candice usará tudo que falar para usar contra você. Fale o mínimo possível para ela. Mas não fique quieta. Isso a irritará profundamente.

– Então eu falo que sou a nova secretária, que meu nome é Brianna, vim de Greeneland... – ela bate em meu braço novamente.

– Nunca diga de onde você veio. Podem reconhecer você. E qualquer erro será descontado na sua família e no “Olly”. Brianna, preste atenção.

Ela anda até a mesa de madeira e pega um botão rosa.

– Ok. – digo. – Então o que eu falo?

– Ela vai encher você com planilhas e dados. Você vai vir aqui todos os dias, eu ajudo você a organizar as coisas por alguns meses. Mas depois é por sua conta. – concordo com a cabeça. – Só diga o que ela quer ouvir, como... Ah. Pergunte alguma coisa sobre isso ou faça alguns comentários positivos e algumas perguntas que contrariem o trabalho. Mas não todas. Você vê quais estão certas e erradas ok?

– Ok. – digo. – Mas ela não irá ficar brava se eu falar que alguma coisa está errada?

– Ela quer ajuda, para isso que servem os secretários. Para ajudar os presidentes nos trabalhos. Ela vai gostar de você. Candice também não é um monstro de sete cabeças. É difícil no começo, mas depois você se acostuma e será fácil.

– Adisson. – começo. - O que acontece com os secretários para que os novos entrem.

– Ah Brianna. – ela larga o botão em cima da mesa. – Eles se cansam, se demitem, assumem novos cargos aqui, morrem. Mas nunca voltam para casa. Ninguém reconhece. Uma vez do governo, sempre do governo.

– Então eu poderia ser secretária dela até morrer? – pergunto.

– Não.

– Porque?

– Porque não Brianna. Chega de perguntas deste tipo. Você precisa melhorar o andar. Tem que passar segurança e conhecimento no que esta fazendo. Não pode parecer uma desengonçada andando de salto alto. Fique andando pela sala. Preciso falar com o Craig. Ele é o parlamentar alto da cerimônia.

Concordo com a cabeça me lembrando dele quando disse que Olly sabia das regras e que a primeira mão a se levantar era a escolhida. Uma parte de mim está morrendo de raiva com esta mentira de Olly. Mas outra está se perguntando porque ele mentiria sobre isso?