Os Mistérios do Amor

Melhor eu me afastar


No dia seguinte, eu e Cam havíamos decidido que eu o auxiliaria com mais matérias na escola. Para que ele pudesse continuar no time de basquete e entrar em uma boa faculdade, precisaria aumentar as suas notas exponencialmente.

Já era o final da tarde quando decidimos dar uma pausa em toda a matemática que estávamos estudando. Fomos para cozinha e começamos a conversar sobre diversos assuntos triviais, como bandas, quando Cam me beijou. O beijo foi incrível, como sempre, mas mais lento dessa vez, era como se fizéssemos aquilo sempre.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Isso, nossos beijos, ficam cada vez mais constantes e estamos adquirindo o hábito de fingirmos que eles não aconteceram logo depois que acabam. Isso é um problema grave: estou ficando cada vez mais dependente deles, não tem como não ficar.

***

Mais tarde naquele dia, Emma dormiria em casa, estávamos terminando de lavar a louça do jantar. Ela estava quieta, quase não havia falado comigo naquele dia:

—Está tudo bem entre você e o Nick? - Perguntei a ela.- Você parece distante.

—Não sou eu quem está distante.- Respondeu ela brava.- Quase não te vejo mais. - Ela me encarou.

—Isso tem a ver com Cam, Emma? - Perguntei cansada.

—Obviamente que isso tem a ver com o meu irmão. - Ela passou a mão pelos cabelos e respirou fundo. - Desde que você começou a ajudar ele eu não te vejo mais, não estudamos mais juntas… O único tempo que tenho com você é durante o almoço da escola, e arrisco dizer que é apenas porque ele almoça com o time de basquete. - Eu não sabia o que dizer. Ela tinha razão em boa parte de sua fala.

—Eu estou ajudando Cam a estudar, Em. E ficar aqui com a gente enquanto eu fico ensinando a ele não daria certo. A falação toda só te atrapalharia. - Ela desviou o olhar e negou com a cabeça ainda brava.

—Você me perguntou? - Mas uma vez não sabia o que falar. Eu não havia perguntado porque Emma não podia saber que ele estava quase reprovando, mas, depois que ele havia recuperado a nota, eu não havia perguntado porque, na verdade, queria ficar sozinha com ele.

—Tem razão. - Abaixei a cabeça. - Deveria ter perguntado. - Ela me olhou novamente.- Se quiser, pode vir essa semana, você nunca precisou de convite pra minha casa.

—Vou pensar.- Respondeu ela ainda cabisbaixa.- Ter que passar ainda mais tempo com o meu irmão não parece uma boa ideia. Ele está todo ranzinza comigo ultimamente. Queria estudar só eu eu você, como nos velhos tempos.

—Cam tem uma prova na quinta de manhã e eu combinei de ajudá-lo.- Retruquei.- Mas quinta a tarde podemos estudar. - Ela me encarou. - Só nós duas.- Finalmente, ela sorriu e meu coração aliviou.

***

Quinta-feira a tarde lá estávamos eu e Emma, na sala da minha casa, as duas estudando em silêncio, como nos velhos tempos. Era reconfortante, e facilitava a concentração, mas ao mesmo tempo parecia que faltava algo, que a casa estava, mais uma vez, vazia.

Mais ou menos no meio da tarde, horário em que normalmente fazia uma pausa com Cam, senti meu estômago roncar. Emma estava completamente imersa em seu dever de casa e por isso nem cogitei que ela me acompanharia. Levantei e fui até a cozinha.

Antes que pudesse sequer abrir a geladeira, tomei um susto. Um par de olhos verdes e um sorriso cativante me encaravam pela janela da cozinha. A abri e pendurei meu corpo nesta, ficando com o tronco para fora:

—O que você está fazendo aqui, Cam? - Perguntei sorrindo e praticamente sussurrando. - Se a sua irmã te ver aqui quando prometi ficar a tarde com ela, Em vai arrancar a sua cabeça e depois a minha.

—Eu precisava te ver. -Ele fez um bico.- Senti sua falta no ensaio de hoje. Quando vai voltar a tocar com a gente? - Pensei por um instante.

— Te respondo logo. - Ele aumentou o bico.- Preciso me organizar para as provas, e além disso, tenho os ensaios da equipe de dança.

—Ajuda a pensar se eu te alimentar? - Perguntou levantando um saco branco com o logo da cafeteria do final da rua. - Achei que você estaria com fome pelo horário. - Arranquei o saco da mão dele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Talvez ajude. - Sorri pra ele. Cam puxou meu queixo com delicadeza e me deu um selinho.

—Melhor eu me afastar de você. - Disse ele assim que descolou nossos lábios.- Tem um pra Emma aí também, - disse apontando para o saco.- apesar dela estar exigindo coisas demais ultimamente.

—Obrigada, Cam.

—Sempre, gatinha.

Assim que ele se afastou em direção a sua casa e eu fechei a janela, finalmente abri o saco. Donuts. O cheiro estava incrível! Coloquei um em cada prato e levei até a mesa da sala, onde Emma continuava exatamente na mesma posição. Coloquei o prato dela ao lado do computador e me sentei de volta no lugar em que estava:

—De onde surgiu isso?- Perguntou ela. Merda. Se eu falasse que Cam havia passado, ela ficaria uma fera.

—Meu pai comprou hoje de manha.- Retruquei como se não fosse nada demais. Ela deu uma mordida e voltou a encarar a tela do computador.

***

Na segunda-feira, estávamos eu e Cam terminando a atividade de biologia na sala, quando a assistente da diretora pediu que ele a acompanhasse, levando a mochila consigo. Ele fez uma cara perdida, mas a seguiu, logo depois de dizer para mim se tudo bem que eu voltasse sozinha para casa. Eu assenti.

No final das aulas, procurei Emma por todo canto para explicar o que tinha acontecido com o irmão dela e falar que voltaríamos a pé, mas ela também não estava por ali. Perguntei a Nick se ele sabia de algo, e ele me disse que ela também foi chamada a diretoria com a mochila mais cedo. Nick também me ofereceu carona até em casa, mas eu neguei, era melhor andar sobre carvão em brasa descalça do que ter que entrar no mesmo carro que Nathan.

Comecei a caminhar em direção a minha casa, mas logo uma Porche vermelha parou ao meu lado e abaixou os vidros. Era Luke:

—Hey, peregrina.- Eu sorri em resposta.- Quer carona até em casa? Está no meio do caminho para mim.

Não sei se foi o desespero de chegar em casa e saber o que tinha acontecido com meus amigos ou o sorriso perfeito e simpático, mas aceitei na hora. Depois de poucos segundos em silêncio ele se pronunciou:

—O canalha do Woods te trocou? - Ele olhou para mim. Tentei conter a virada de olho, mas uma irritação muito sutil ainda passou por eles.

—Não tem o que trocar, Luke, somos só amigos. -Quase rugi em resposta.- E além disso, ele não é canalha.

—Você não sabe das coisas que sei, Vermond. - Retrucou ele com um sorriso sacana no rosto.

—Então me conte. - Disse irritada, me virando para ele no banco.- Por que se for algo do passado, não me interessa.

—Depende do que você considera passado. - Ele encostou o carro em frente a minha casa.- Mas se eu falar, sei que não vai acreditar em mim. - Ele pensou antes de dar de ombros.- Só pergunte a ele o que aconteceu na festa do time de basquete no último sábado.

—Obrigada pela carona.- Respondi apenas, saindo do carro.

Nem entrei em casa, corri direto para a casa dos Woods para saber o que tinha acontecido e para sondar Cam sobre essa tal festa, mas a segunda parte foi completamente esquecida quando a Tia Lucy abriu a porta para mim com os olhos vermelhos e a cara inchada. Ela me abraçou forte e desmanchou em lágrimas.

Por cima de seu ombro, pude ver Emma e Cam sentados no sofá, ambos também chorando e abraçados. Afastei Lucy com delicadeza, que me deu passagem para entrar na casa. Caminhei até os meus amigos e Emma pulou nos meus braços desesperada:

—O que aconteceu, amiga?

—Meu pai morreu, Sammy.