Os Mistérios do Amor

A noite de estreia


Eu não consigo acreditar que dois meses haviam passado tão rápido. Com os ensaios da peça e do grupo de dança, os estudos, Nate, Emma, e a apresentação do grupo de dança no rodeio da cidade, eu nem tinha visto o tempo passar. Cam havia cumprido a promessa e, de certa forma, viramos até amigos, conseguíamos até rir juntos de vez em quando. Eu esperava que isso não acabasse no domingo, dalí dois dias, quando a última apresentação aconteceria, mas preferia não pensar nisso faltando uma hora para a estreia. Tinha sido legal me conectar com ele. Quando não estava sendo um pé no saco comigo, ele era uma pessoa legal.

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Emma havia ajudado nos figurinos e estava comigo no camarim, uma das formas de se afastar de Jason, que nos últimos tempos a perseguia sem dar sossego. Ela estava arrumando alguns últimos detalhes no vestido:

—Nervosa? - Perguntou ela.

—Muito. - Era tudo o que eu conseguia responder.

—Tenho algo que pode te fazer rir: - Eu olhei para ela.- Nunca pensei que veria você e meu irmão se beijando, muito menos na frente da escola inteira.

Ai meu deus. Eu tinha me esquecido completamente, teria que beijar Cameron Woods. Eu beijaria Cameron Woods. De alguma forma aquilo só piorou tudo. É obvio que você vai me perguntar como eu poderia esquecer uma coisa dessas, mas a professora Russoff queria deixar isso como uma supresa para a estreia, pois achava que poderia ficar mais espontâneo. Nos ensaios, no lugar dos beijos de verdade, ele beijava a minha testa. Eu havia esquecido completamente. Engoli em seco, ignorando, sem a intenção de, todos os comentários seguintes de Emma.

Emma havia conseguido me deixar ainda mais nervosa para aquele momento, o que não parecia certo. Era apenas um beijo cênico com um cara que eu não suportava. O que podia dar de errado? Na verdade, tinha tudo para dar de errado, que era o que me amedrontava. Imagina se os dois acham tão ruim que ficam com vontade de vomitar? E se quebrássemos o nariz um do outro no meio da peça? Muita coisa podia ir por água abaixo, o que só me deixou mais tensa.

***

Enquanto os demais personagens faziam a primeira cena, Cameron parou do meu lado na coxia:

—Eu lembrei de uma coisa e queria te dizer para pensar que não seremos nós dois nos beijando, mas nossos personagens.

—Jura, Cameron? - Disse com ironia.- Relaxa, nada será levado para o pessoal.- Afrouxei ao ver sua expressão.

—Foi isso o que eu quis dizer.

—Só não esquece. - Respondi antes que ele saísse.- Você tem que fingir que está apaixonado por mim, por menos que a minha face te apeteça.

—Meu problema com você nunca teve a ver com a sua aparência.- Falou se afastando.- Você é bem bonita, aliás.- Ele disse essa última parte sussurrando meio rouco na minha orelha, soltando um sorriso logo depois. Sério, o que ele esperava com isso? Me fazer gamar? Fala serio, Cameron.

***

E lá estavam Romeu e Julieta no baile de máscaras, dançando, no meio do palco:

—Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações. - Disse Cameron dando a fala.

—Sem se mexer, o santo exalça o voto.- Retruquei.

—Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados.

Ele se aproximou e nossas bocas se tocaram. Se acalme, coração. Conseguia ouvir meus batimentos, mas se limitava a isso, pois eu não ouvia, via ou sentia nada além do toque dos lábios de Cameron nos meus. Não havia nada nem ninguém ali. Nos afastamos pela falta de ar e demorei alguns milésimos de segundo para identificar onde estava e qual era a minha fala:

—Que passaram, assim, para meus lábios. - Disse tocando em minha própria boca. Cam olhava em meus olhos. Percebi que também levou um breve momento para se recompor.

—Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.

—Beijais tal qual os sábios. - Eu não devia. Definitivamente não devia, mas ansiava por aquela sensação novamente, que foi exatamente igual ao beijo anterior.

Na verdade, foi melhor. Cam pediu passagem com a língua para o beijo e eu cedi. Sua língua em contato com a minha me fez estremecer levemente, mas a sensação não durou muito, pois a personagem da ama apareceu dando sua fala e prosseguimos com a peça.

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***

Ao final da peça, fomos ovacionados de pé e eu recebi um enorme buquê de rosas brancas do restante do elenco, o que me deixou emocionada. A professora Russoff chorava como uma criança e todos ficaram felizes com a performance. Saí do palco e recebi os parabéns de alguns pais e colegas, o que me deixou com vergonha e ao mesmo tempo muito feliz. Nate e Nick se aproximaram por fim:

—Hey. Minha vez de roubar o pecado destes lábios. - Disse Nate logo antes de me beijar, me entregando uma rosa vermelha.

Era muito errado eu comparar o beijo do meu namorado com o de Cameron? Era. Eu sabia. Para, Samantha. Vocês estavam na peça. Era tudo parte da peça. Apenas encenação. Tentei me convencer disso e que a sensação que tive não era real.