Alice, com seu senso prático aguçado, sinal evidente de sua inconfundível personalidade, não permitiu sequer que segundo se passasse depois da afirmação decisiva de Tiago.

Antes que o som das palavras do líder pudessem ressoar nas paredes da sala, já rodava a chave na fechadura do armário.

Lílian, acompanhando a argúcia da amiga, também com destreza excepcional, toma na palma da mão a pequena caixa, deposita-a sob a mesa e passa de leve a mão direita por sob sua minúscula tampa.

Os outros se reúnem as duas marotas ao redor da mesa e assistem, corações aos pulos, ao espetáculo mágico que era ver aquela caixa multiplicar umas dez vezes seu tamanho.

Sirius, com sua impulsividade, tão logo a caixa restabelecera seu tamanho, abriu a tampa e se deparou, inicialmente, com o escudo ornamental que os marotos haviam trazido da sala onde encontraram os espelhos.

_Ótimo – exclama com vigor – eu poderia usá-lo junto com a espada na batalha lá fora.

_Ora, garoto! – argumenta Alice – É um escudo ornamental, o metal de que é feito não agüenta sequer uma flecha de bambu, e também não é enfeitiçado, não te protegeria de maldições.

_Podemos enfeitiçá-lo agora? – propõe, um leve tom de empolgação na voz embargada, Frank, ao que Lupin responde um tanto decepcionado.

_Não haveria tempo hábil para isso. Enquanto ficássemos aqui tentando enfeitiçar esse escudo, quantos mais de nós iriam tombar diante dos comensais?

_Pessoal! Vocês ainda não pescaram o que Dumbledore quer que façamos? Reparem bem nos instrumentos que temos aqui. Reparem com atenção em todos eles.

Então Lupin começa a retirar cada um dos objetos de dentro da caixa. Retira primeiro da superfície o escudo e o deposita sobre o armário. Logo depois retira a espada de Griffindor.

_Definitivamente ela nos será útil.

_Com certeza, Aluado, - concorda Tiago, entregando a espada nas mãos de Sirius, que deixa escorrer uma lagrima, logo disfarçada, de emoção -mas não nos primeiros momentos em que sairmos dessa sala. Continue e retirar os objetos.

Então Lupin retira a Tiara de Ravenclaw. Seus olhos brilham e sua mente começa a acessar os planos ousados do Gênio Biruta, ao os mandar para a sala precisa.

_A tiara de Ravenclaw nos dará a clareza de mente e a sabedoria para elaborarmos uma boa estratégia. Mas quem deveria usá-la?

Então Frank e Tiago quase berram ao mesmo tempo.

_Alice, é claro.

_Lílian, com certeza.

Mas a própria Lílian desempata dizendo:

_Obrigado, Pontas, pela confiança, mas sem dúvida, Alice fará melhor uso dessa tiara. Sempre foi mais perspicaz do que eu, e como o que precisamos agora é de boas estratégias, ela as terá melhor do que eu.

_Ok, Foguinho, que a tiara fique com a Alice.

E tomando o objeto de inestimável valor, o acomoda sobre a cabeça da garota, mantendo um certo ar cerimonial. Tão logo Alice recebeu a tiara na fronte, o rosto dela se iluminou todo, e o poder da tiara começa a se revelar. E ela apenas diz, com uma autoridade nova na voz, adquirida pela sabedoria que a tiara já começara a destilar em seu cérebro:

_Não percam tempo. Continuem.

Lupin, sentindo toda a prudência que exalava das palavras da amiga, apenas segue a orientação que partiu dela. Retira da caixa o medalhão de Slitherin. Todos dão um passo atrás. Mas Alice fala com propriedade:

_Não se lembram mais das palavras dos fundadores?

_Sim, mas todos conhecem a lenda desse medalhão e de sua maldição. – Retruca tenso Sirius – Ele suga a alegria e a vitalidade de quem o toca, e quanto maior o tempo de contato com o medalhão, maior o estrago.

_Sirius, lembre-se do que ouviu diante daqueles espelhos. Salazar voltou para os amigos, e esse medalhão é a quintessência do original, lembra-se? Este, apesar de ser original, tanto quanto o que ele deixou há milênios sobre a terra, foi retirado do éter universal, mas não tem mais aquelas trevosas propriedades. Agora ele cria um escudo poderoso, que nenhuma varinha pode superar.

_É verdade, mas quem usará? – Questiona Tiago – Já tenho a espada, e na verdade, prefiro mesmo ficar com ela.

Mas quem responde, com a mesma prudência da portadora da tiara de Ravenclaw, é Tiago.

_O medalhão fica com Frank, ele precisará proteger nossa estrategista.

Todos concordaram, até mesmo a própria Alice, que apenas emendou a afirmação do líder, acrescentando que ele deveria proteger a todos, e agir como cobertura em meio às batalhas.

Lupin prosseguiu, retirando logo depois a taça de Hufflepuf.

_Podemos ressuscitar os outros. – empolgou-se o próprio Lupin - Lembra? Helga nos disse que da taça minaria um antídoto capaz até de reverter a maldição da morte!

_Mas apenas se for administrado com rapidez. – diz Lílian, frustrando bastante o amigo, e a todos os outros também, que já tinham sentido a esperança pulsar em seus corações - Já não há tempo para quase nenhum deles. Somente se mais alguém tiver morrido depois que entramos na sala precisa.

_Então ela nos será inútil. - Lamenta Sirius ao que Alice o conforta dizendo.

_Sim, ela será útil, até mesmo crucial. Será com certeza usada. Lupin. Você se encarregará dela. Mas agora prossiga, porque ainda há uma relíquia.

Lupin acata mais uma vez e retira o último objeto da caixa de Griffindor.

_Ah! Agora entendo tudo! – Exclama boquiaberto Lupin, depositando o objeto sobre a mesa.

_Então explica porque eu ainda não consegui captar. - Diz Sirius.

Mas depois disso o silêncio impera sob todos na sala, e Lupin, compreendendo tudo, sem pronunciar palavra, entrega, soberano, a ampulheta de Merlin nas mãos de Tiago, que imediatamente a transfere para Lílian.

_Você deveria usá-la. Ela diz emocionada.

_Eu tenho a capa de invisibilidade, e sinto que ela fará bem mais do que me tornar invisivel. Você tem que usar a ampulheta. É sua essa missão. Faça por nós.

Com lágrimas nos olhos ela começa a avaliar o objeto. É idêntico a um vira-tempo tradicional, mas bem maior.

_Se funciona igual aos outros, três voltas devem bastar.

E fazendo como disse, girou três vezes a ampulheta. Tão logo fez isso os seis marotos perceberam todo o ambiente se distorcer e girar. De início sutilmente, mas depois de alguns segundos, de forma alucinante, até que tudo se aquietou e a sala precisa voltou ao seu normal, com apenas uma coisa diferente: o armário, antes destrancado e com as portas cerradas, mas não totalmente fechadas, agora estava totalmente trancado, como se nunca tivesse sido aberto.

Sirius olha pra espada e percebe o que aquilo queria dizer. Eles haviam voltado no tempo. Impulsivamente mete a mão no bolso da calça e retira de lá uma pequena chave, e segue em direção ao armário. Mas Alice o interrompe.

_Sirius, não! Não faça isso. Com certeza a caixa de Griffindor está aí, porém trouxemos os objetos conosco, e eles não podem ter nenhum tipo de contato com os que estão aí guardados. Isso causaria a destruição de ambos.

Sirius, um tanto assustado, um tanto envergonhado, simplesmente recua e, mais na tentativa de desviar a atenção de todos da gafe que lá ia cometendo, diz:

_Então, não vamos mais perder tempo. Vamos.

_Sim. – Responde Tiago – mas antes, todos vistam suas capas de invisibilidade.

_Mas elas não estão aqui. Não vieram. Ficaram... no futuro...

_ “Accio capas de invisibilidade”. Agora estão.

E vestindo as capas, saíram da sala com cautela. Tudo parecia tranqüilo naquele fim de manhã.

_Nós devemos estar na sala comunal ainda. – constatou Alice - Daqui a alguns minutos iremos par ao grande salão, almoçar com os outros.

_E logo depois do almoço, os comensais irão atacar. – concluiu Tiago-Devemos ir para lá.

_E quando os comensais entrarem atacaremos.- adianta-se Sirius - Frank vai na frente com o escudo, logo atrás eu vou com a espada, e vocês ataquem com as varinhas e...

_Pensei que fosse eu a estrategista.

_E é, Alice, só estava dando uma idéia. O que acha?

_Não, Sirius. Não faremos nada disso. Apenas ficaremos escondidos, até que chegue o momento de agirmos, SEM SERMOS NOTADOS, sob nenhuma circunstância.

_Porque?

_Porque se cruzarmos olhares com os nossos eus de agora, coisas terríveis podem acontecer. Podemos enlouquecer ou... pior... Lembra-se do que aconteceria se os objetos que temos nas mãos entrasse em contato com os que estão guardados na sala precisa?

_Mas são os mesmos objetos.

_Por isso mesmo.

Então foram para o grande salão e se esconderam na passagem secreta que leva até a cozinha. Deixaram uma fresta quase imperceptível na porta para que pudessem espiar.

Puderam se vislumbrar, de costas, sentando-se juntos à mesa da Grifinória, se viram conversando, sorrindo despreocupados, relaxando depois dos NIEMs.

_Como pudemos não desconfiar? – se pergunta desconsolado Sirius.

_Como alguém poderia desconfiar? – Pergunta indignada Lílian.

E o tempo transcorre, as sobremesas surgem sobre as mesas. Todos saboreiam as delícias servidas e antes que as sobremesas fossem retiradas, o estrondo.

_São eles! –Diz Sirius emanando expectativa na voz. – O que faremos?

_Esperamos. – Diz em uníssono Tiago, Alice e Lupin.

Toda a batalha ocorre confusa e desleal, a Ordem da Fênix em perceptível desvantagem, com tropas desmanteladas, sem formação militar alguma. O trabalho de extremo Brilhantismo de Julivan jogado por terra.

Aos poucos as batalhas foram empurradas porta afora do castelo, e se transferindo para os pátios. Quando por fim já não havia mais bruxos duelando dentro do castelo, saíram de seu esconderijo e seguiram para a porta principal, atrás da qual começaram a observar. Viram quando uma nova esquadrilha de comensais desceram voando em suas vassouras.

_Em alguns minutos – orientou Alice – chegarão os aurores e a equipe do St. Mungus.

_Os feridos serão levados para a enfermaria. – conclui Lupin - Acho que devemos ir para lá.

_Não. Ficaremos aqui. – ressalva Alice - Deixaremos que sejam levados para a enfermaria somente aqueles que poderão ser restituídos a batalha com feitiços curativos. Todos os que desmaiarem ou coisa pior, levaremos para aquela sala – apontando para uma sala vazia no térreo, do lado oposto às portas do salão principal – e o Lupin saberá o que fazer.

_Mas eles não podem nos ver! – Salienta Frank.

_Por isso, aqueles que porventura acordarem ou não desmaiaram, mas que seja o caso de nós ajudarmos, precisaremos desacordá-los. A melhor forma é com o feitiço ‘Egossomnus alcedonia’ e depois, quando já estiverem devidamente curados e nós devidamente escondidos, os acordaremos com o contra-feitiço ‘suscito pernavitas’.

_Então fiquem atentos. Ali estão os aurores. Já deve ter gente caída. – atenta Tiago – Faça-os levitar por aquela janela. Lupin, vá para a sala e fique atento. Sirius, vá com ele para dar cobertura.

E assim alguns feridos menos graves estavam sendo direcionados para a enfermaria, e logo depois de alguns minutos estavam novamente na batalha. Mas os feridos mais graves, alguns até desacordados pelas maldições, eram levitados pelos marotos até a sala vazia, onde, mesmo desacordados, recebiam das mãos de lupin, da taça de Hufflepuff, os antídotos poderosos que ela exsudava.

Todos se assustaram a testemunhar pela segunda vez a morte aterradora de Julivan, mas dessa vez, em vez do terror, o sentimento de urgência imediata era o sentimento que imperava no coração dos quatro marotos que espiavam pelas frestas da porta principal de Hogwarts. Tão logo os olhares se desviaram do Bruxo estrategista, ele fora levitado para a sala vazia do térreo, pela janela, e Lupin por sua vez, também agindo com a justa presteza,utilizou a taça. Desta vez o líquido que ela fez surgir em seu interior era diferentemente surpreendente. Brilhava mais do que os outros e o forte tom esverdeado se distinguia por poucos detalhes do brilho que o raio produzido pela maldição da morte causava. Lupin teve segurança, confiança, certeza de que daria certo. Derramou o líquido espesso na boca de Julivan, que aos poucos foi se reanimando calmamente. Mas antes que ele despertasse totalmente, quando Sirius notou que a saúde fora-lhe restaurada irreversivelmente, administrou o feitiço do sono no bruxo militar.

Nesse momento os quatro que permaneceram em vigília na porta principal devidamente cobertos e camuflados por suas capas de invisibilidade tinham total confiança de que Julivan e os outros já estavam a salvo, quase totalmente recuperados e preparados para voltar aos duelos. Por uma fração de segundos, os olhares de Lílian se desviaram do grande turbilhão de feridos que se acumulavam no meio do tumulto dos duelos e encontraram os de Dumbledore olhando na direção da porta principal.

Ela pode jurar aos outros três que viu o velho diretor fazer uma rápida, mas honorável, reverência na direção deles. Depois olhou o chão, no exato local onde deveria estar o corpo de Julivan, deu um discreto sorriso e voltou a duelar bravamente.

Durante longos minutos eles assistiram atônitos o massacre que os comensais estavam causando às tropas da Ordem da Fênix, e os poucos que resistiam bravamente acatando a orientação de Dumbledore para recuarem até seu escritório. A essa altura, em que a grande maioria dos bruxos que guerreavam ao lado de Dumbledore já estava ferida, metade na enfermaria, sendo cuidados pelos enfermeiros de St. Mungus e Mme. Ponfrei, a outra metade, ainda adormecida, já totalmente curados, deitados no chão da sala do térreo.

_Terminou a batalha por aqui. – constata Sirius, olhando pela janela – não há mais ninguém ferido no pátio. Todos estão aqui ou na enfermaria.

_Devemos voltar para junto dos outros rapidamente. – apercebe-se Lupin – Precisaremos ir lá para cima.

_Mas o que faremos com eles? – Argúi Sirius, com uma fisionomia quase cômica de quem não sabe como agir.

_Devemos acordá-los.

_Mas eles ficarão desnorteados!

_Mas foi essa a orientação que Alice nos deu. Eles ainda precisarão lutar.

_Deixe-me pensar... pense Sirius Black, pense... – ordenava a si mesmo o maroto pensativo – Já sei! Veja! – Apontava para o quadro negro. – podemos deixar um recado!

_Ótima idéia!

Concorda Lupin. E sem perder tempo empunha sua varinha, e ao sutil movimento surgem as seguintes palavras.

“Aguardem o sinal e subam para duelar o mais bravamente que puderem, dispostos a vencer essa guerra.”

E feito isso, ainda sob as capas, juntos, proferiram várias vezes o feitiço que despertaria a todos. Quando todos estavam já acordados, sem fazer barulho saíram da sala e encontraram os outros marotos que já os esperava aflitos.

_Temos que correr. – apressava-se Tiago – A essa hora estamos quase saindo da sala do Dumbledore para irmos escoltados para a Sala Precisa.