O sol lambia as cortinas vermelhas do dormitório masculino da Grifinória. A temperatura morna, típica do início das manhãs, tocou o rosto de Remo. Ele se encolheu, cobrindo a cabeça com o cobertor. Queria dormir um pouco mais. Descansar. Ficar deitado o resto do dia, aproveitando a cama macia e as cobertas aconchegantes, afinal, era sábado. Mas, infelizmente e graças aos seus amigos Tiago Potter e Sirius Black, teria de levantar no mesmo horário de sempre.

Sem querer e resmungando, Remo se livrou das cobertas. Levantou da cama e abriu as cortinas do quarto. A luz do sol, mesmo que fraca, inundou o cômodo, iluminando-o. Poucos segundos depois, Remo pôde ouvir alguns resmungos. Eles vinham, principalmente, dos seus três melhores amigos: Tiago, Pedro e Sirius.

— Isso não é justo — disse Pettigrew de olhos fechados. — É sábado! Ninguém deveria acordar cedo no sábado.

— Culpe Tiago e Sirius por isso — respondeu Remo, indo vestir uma roupa.

Pedro ficou em silêncio, voltando a cair no sono. Quando Remo voltou, os três ainda estavam deitados. Tiago e Sirius, os principais culpados por aquilo tudo, dormiam a sono solto, sem dar sinal de que iriam acordar. Era uma especialidade deles: fugir dos problemas. O caso era que, se perdessem a detenção, teriam de cumprir outra. E esta segunda seria bem pior que a primeira, Remo tinha certeza.

— Acorde os dois, por favor — Remo pediu a Pedro, balançando os ombros do garoto —, enquanto eu tomo café. Estou com fome.

— Mas eu também estou com fome! — Pedro protestou, com voz de sono.

— Então deveria começar a acordá-los logo. — Remo saiu do dormitório e foi para a sala comunal.

Estava vazia, exceto por Lilian. A menina ruiva estava sentada em um dos sofás vermelhos, abraçando duas almofadas de cor dourada. Olhava fixamente para as brasas da lareira. Parecia perdida em seus próprios pensamentos. Remo não queria atrapalhar aquele momento, por isso andou de fininho até chegar ao quadro da Mulher Gorda. Lilian, entretanto, percebeu a presença dele antes que saísse pelo buraco do retrato.

— Espere, Remo — a garota falou, numa voz fraca. — Venha aqui — ela o chamou.

Remo deu as costas para o retrato da Mulher Gorda, que já estava se abrindo, e caminhou até Lilian. Sentou-se ao lado dela. Ao olhar para ela, percebeu que o seu rosto estava vermelho. Especialmente o nariz. Os olhos verdes brilhavam, encharcados de lágrimas que não escorregavam pela pele branca. Remo se perguntava o que teria acontecido para Lilian estar naquele estado, mas antes que pudesse dar voz as suas dúvidas, Lilian o abraçou.

Os braços dela se fecharam em torno do pescoço dele. Os corpos se grudaram e Remo começou a acariciar as costas da menina. Então, sem aviso, Lilian deixou algumas lágrimas caírem por seu rosto. A estas se seguiram muitas outras e elas todas acabaram por encharcar a camisa de Remo. Algo muito sério deve ter acontecido, pensou Lupin.

De fato, nunca vira Lilian daquele jeito. Ela era um agarota muito forte, capaz de suportar tudo. Não igual a Marlene, que reprimia todo tipo de sentimento, mas equilibrada o suficiente para saber lidar com as próprias emoções. Lilian nunca chorara em sua frente antes e certamente nunca se descontrolara daquele jeito também. Já estava soluçando de tanto chorar.

Quando Remo estava prestes a perguntar qual era o problema que a estava afligindo, Lilian o soltou. Enxugou as lágrimas com as costas da mão, ajeitou o cabelo e sorriu. Não estava bem, mas havia se recomposto bastante.

— Obrigada por isso.

— De nada — disse Lupin, sem jeito —, mas o que houve?

Lilian estava prestes a responder quando ouviu passos. Eram rápidos e barulhentos. Estavam acompanhados de vozes conhecidas. E quando três garotos apareceram na frente dos dois, nem Lilian nem Remo se surpreenderam. Eram os amigos marotos de Lupin.

— Uuuh, a ruivinha está namorando com meu melhor amigo — zombou Tiago, quando viu Remo e Lilian sentados lado a lado. — O que aconteceu com o Seboso? Ele está sabendo disso?

Lilian olhou para ele com a raiva a preenchendo.

— O nome dele é Severo! — ela gritou. Em seguida, se levantou do sofá e saiu correndo pelo retrato da Mulher Gorda.

— Você é um babaca, Potter — disse Remo, seguindo Lilian.

Tiago olhou assustado.

— O que houve?

Sirius deu de ombros e riu. Começou a cantar uma paródia de uma música que sua mãe adorava e os outros dois o imitaram. Saíram pelo retrato e desceram as escadas rumo ao Salão Principal, cantando. Calaram-se, entretanto, quando chegaram à entrada do local. Chegaram no exato momento em que diversas corujas voavam para dentro do Salão Principal, todas carregando algo à ser entregue. Aquela cena muitas vezes causava o silêncio dos amigos, que paravam para admirar a entrada das corujas em Hogwarts.

Nenhum aluno de nenhuma das casas, porém, prestou atenção nas corujas. Todos eles olhavam para Sirius Black e Tiago Potter. Porque, mesmo passada uma semana, os dois Marotos ainda eram objeto de fofocas e olhares — admirados e raivosos — por onde quer que passassem. Mas, apesar da vaidade que sentiam, eles não ligavam muito para isso. Tanto que continuaram andando rumo à mesa da Grifinória sem nem ouvir o burburinho que se espalhava sobre eles.

— Bom dia, gente — disse Pedro, sentando-se de frente para Marlene.

— Olá, Pedro— respondeu Lílian — e Sirius — ela continuou, mas não disse o nome de Tiago, apenas o olhou com raiva.

Tiago olhou feio para ela e estava prestes a dizer algo, quando Pedro chutou sua perna. Então ele apenas se sentou, com Sirius e Pettigrew ao seu lado. Começou a comer, animado com o sábado. Não teria aula e ainda teria jogo de quadribol. Já havia se esquecido da detenção que teria de cumprir naquele dia. Sua alegria, porém, acabou quando Morgan Le Fae adentrou o recinto.

A garota estava vestida com os trajes completos do time de quadribol da Grifinória. Toda em vermelho e dourado, segurava uma vassoura novinha, provavelmente de última geração. Os cabelos negros e lisos estavam presos num rabo de cavalo longo, que balançava nas costas enquanto ela andava. Morgan franzia os lábios e estreitava os olhos, num misto de raiva e frustração.

Jogou a vassoura em cima da mesa e olhou para Tiago. Não tinha uma boa notícia.

— Tentei de tudo, mas ela não cedeu — disse, com os punhos fechados.

— A Minerva sempre quer complicar nossa vida, né? — Pedro se meteu na conversa.

— Que droga! Era pra esse ser meu jogo de estreia! — Tiago bufou de raiva e bateu uma das mãos na mesa.

Morgan assentiu e saiu com raiva, batendo pé. Tinha de procurar os outros jogadores de quadribol para dar a triste notícia. Iam enlouquecer, com certeza. Eles não tinham artilheiro reserva. Quer dizer, até tinham, mas nenhum deles era bom o suficiente para estar no time. A Grifinória com certeza ia perder. E o que era pior: para a Lufa-Lufa — e todo mundo sabia que a Lufa-Lufa tinha o pior time de quadribol de todos os tempos. Ia ser uma humilhação e tanto para a Casa.

— Ninguém mandou você aprontar! — alfinetou Lilian, com aquela vozinha fininha e irritante, já preparando-se para levantar da mesa também

Tiago ia perguntar qual era o motivo daquela cena, quando ela saiu rumo à entrada do Salão Principal. Ele revirou os olhos. Já estava pronto para fazer alguma piadinha daquele draminha quando Marlene lhe olhou torto. Ela parecia saber qual era o problema de Lilian, contudo não tinha cara de quem iria falar algo. E realmente não o fez. Apenas avisou Tiago:

— Ela não está muito boa com você, não, Potter. — E saiu da mesa correndo para alcançar Lilian, antes que esta saísse do Grande Salão

Sirius observou Marlene indo embora. Ela corria e seus cabelos ondulados voavam ao redor de sua cabeça, mas ela não se importava. Pelo jeito que andava, queria apenas encontrar Lilian. Algo sério deveria ter acontecido. Sirius então olhou para Tiago.

— Resolve logo isso — disse, em tom de advertência.

Tiago deu de ombros. Tinha mais com o que se preocupar, depois via o que tanto afligia Lilian. Provavelmente, deveria ser por causa da piadinha dele na Sala Comunal. A menina ruiva tinha mania de fazer drama por coisa pouca quando o assunto era as piadas ou as marotices de Tiago. Chegava a ser cansativo.

— Olha, não sei vocês, mas eu estou pouco ligando para a Lilian — disse Tiago, se levantando. — E agora eu vou cumprir aquela droga de detenção antes que a chata da Minerva comece a encher meu saco.

— Boa sorte com o Filch — gritou Remo para Tiago, que apenas olhou torto para o amigo e seguiu seu caminho resmungando que Remo só fazia piada porque passaria sua manhã com o Hagrid, provavelmente ajudando o guarda-caças a dar comida para algum animal esquisito, enquanto Tiago passaria um dia inteiro na companhia de Argo Filch.

Tiago saiu do Grande Salão e seguiu por um dos corredores. Teria de ir até a sala de Filch. Como castigo por ter dado uma festa na Sala Comunal e por ter burlado uma detenção para fazer o teste para o time de Quadribol, teria de ajudar Filch a limpar fichas e mais fichas de detenções de antigos transgressores.

Pensar que aquilo só estava acontecendo por culpa de um calouro, deixava Tiago nervoso. Ainda mais pelo motivo que ele abriu a boca: medo. Grifinória era a casa dos corajosos e aquele menino não passava de um mero covarde! Não merecia estar naquela casa! Tiago começou a bufar de raiva só de lembrar do momento em que foi pego.

O menino entrou em um corredor e deu de cara com Argo Filch. Ele sorria, deixando a mostra os dentes sujos e apodrecidos dele. Apoiava uma das mãos no cabo de vassoura e, com a outra, segurava um molho de chaves. A gata dele, cujo nome Tiago nunca se importara em descobrir, estava ao seu lado. Ela miava de um jeito que apenas gatos a beira da morte miam. Também olhava para Tiago como se estivesse feliz por ele ter que cumprir uma detenção.

— Aí está você, moleque — disse Filch com seu jeito simpático de sempre. — Venha logo, antes que eu lhe arraste por esses cabelos de menininha.

— Meu Merlin... — Tiago suspirou, seguindo Filch.

— E não quero resmungos! — ele gritou. — Ou a Senhora Indra irá rasgar todo esse seu rostinho, que já não é muito bonito!

Tiago engoliu em seco. Sabia que Filch era louco e poderia muito bem fazer isso. Era melhor não arriscar. Mas, por puro amor a rebeldia, revirou os olhos e soltou um suspiro por entre os lábios. Argo virou para trás e olhou feio para o menino, que fingiu que não era com ele.

Caminharam por alguns corredores até chegarem à uma porta de madeira, com a parte superior um pouco arredondada. Filch sorria enquanto abria-a com uma das chaves de seu molho. A satisfação do homem apenas aumentou quando, finalmente, pôde mostrar a Tiago o seu local favorito no castelo.

Não que fosse bonito. Muito pelo contrário. Parecia mais uma caverna suja. Era um ambiente escuro, as paredes eram de pedra cinza e fria, e em uma delas, argolas estavam penduradas. Provavelmente, servia para torturar alunos desobedientes em tempos mais antigos. No centro do local havia uma mesa de madeira e duas cadeiras. Por sobre a mesa tinha um lampião brilhava e vários papéis que deveriam ter sido recolhidos de alunos travessos. Não chegava a ser assustador, mas não era nada confortável.

— Tá vendo aquilo ali? — Filch perguntou — pendurado na parede? — ele nada disse até ver Tiago assentindo. — A gente costumava usar em alunos que desobedeciam ordens de professores ou que aprontavam pelos corredores. Antes do Dumbledore. Mas aí ele chegou e mudou as coisas. Disse que era...como é mesmo a palavra? — Filch passou a mão pelos cabelos que já estavam ficando grisalhos. — Ah, sim! Desumano. Ele disse que era um modo de castigo desumano! Há! — O velho zelador começou a rir sozinho, amargamente.

Tiago apenas assentia, olhando ao redor e imaginando quando sairia dali.

— Pois na época eu disse a ele: olha aqui diretor, esses meninos vão começar a aprontar se não tiverem o devido castigo. Vão achar que os professores são frouxos e vão ver que a disciplina daqui é fraca. Esse colégio vai virar uma baderna, pior que o Beco Diagonal em dia de promoção! — Filch falava enquanto andava, em círculos, pela sua sala. — E sabe o que Dumbledore me disse? Sabe o que ele disse, hã? — O zelador olhou Tiago nos olhos, segurando seu pulso. — Ele disse que enquanto ele estivesse aqui, nenhum aluno seria torturado e, se eu fizesse isso, nunca colocaria meus pés em Hogwarts novamente! — Filch soltou Tiago e virou de costas.

— Pois bem, fui pelos termos dele e olha o que aconteceu? Todos vocês são um bando de delinquentes juvenis que só fazem me atazanar o dia todo! — Argo gritou e, em seguida foi até a porta. — Limpe todas essas fichas de detenção e veja se aprenda um pouco com esses garotos aí. E nada de magia!

Filch saiu da sala e trancou a porta. Tiago ficou preso ali, sem nada para fazer, exceto limpar as fichas de antigos alunos da Escola de Magia e Bruxaria. E por tanto tempo que perdeu as contas.

***

Fazia muito calor na arquibancada da Grifinória. Muitos alunos marcaram presença naquele dia. Hagrid também se acomodara ali. Os torcedores estavam todos vestidos de vermelho e dourado. Muitos seguravam cartazes com dizeres incentivadores. Do outro lado do campo, estava a torcida da Lufa-Lufa. Eles também estavam bastante animados, ainda mais depois de terem descoberto que a Grifinória iria jogar com artilheiro reserva.

Quando os dois times entraram em campo, as torcidas foram ao delírio. Gritavam muito, incentivando seus jogadores. Quando Morgan apertou a mão do capitão do time da Lufa-Lufa e Madame Hooch apitou o início do jogo, a torcida da Grifinória foi à loucura. Colocaram medo no adversário.

— E começa o jogo! — gritou a conhecida voz do narrador — Grifinória já começa com a goles! Alvah sai em disparada, dribla o artilheiro da Lufa-Lufa e passa para Marbeck...

Sirius, Pedro e Remo assistiam, nervosos, ao jogo. Grifinória estava em vantagem. Marbeck e Alvah driblavam todos os artilheiros da Lufa-Lufa, enquanto Chowes e Bierbaur rebatiam todos os balaços que a Lufa-Lufa jogava para a Grifinória. Morgan estava concentrada, procurando o Pomo de Ouro com muito cuidado. Megan Moller parecia estar preparada para pegar quaisquer goles que viesse na direção dos aros. Apenas Pandora Gross parecia perdida, sem saber o que fazer. Mas ela estava substituindo Tiago, então ninguém estava se importando muito.

— Anala Marbeck voa por cima de Jahn — disse o narrador. — Ela vai perder a goles minha gente, vai perder e...ela continua de posse da goles! Isso aí Anala! — A torcida da Grifinória começou a gritar o nome da jovem artilheira. — Anala passa a goles para Alvah e ele está se aproximando dos aros e...Vem um balaço aí! Seger joga um balaço em cima do artilheiro da Grifinória, mas... Espera, espera! Chowes chega bem na hora e rebate o balaço pra bem longe, numa jogada histórica, minha gente! — Marlene segurou a mão de Sirius nesse momento, torcendo para que fizessem o primeiro ponto logo. — Alvah continua com a goles e manda de volta para Marbeck...ela vai fazer o ponto, ela vai fazer o ponto! — O narrador estrangulava a voz para falar. — Marbeck passa pelo goleiro da Lufa-Lufa e coloca a goles dentro do aro! É ponto da Grifinória!

Os grifinórios começaram a gritar e comemorar. Marlene e Sirius se abraçaram. Pedro e Remo abraçaram os dois e começou um grande abraço coletivo.

— Agora é só a Morgan pegar logo esse pomo de ouro e a gente ganha essa parada — disse Remo, voltando a prestar atenção no jogo.

— É isso aí, Grifinória na frente! — gritou o narrador. — Mas, é impressão minha, ou Pandora Gross está completamente apagada?

Sirius bateu a mão na testa quando ouviu aquilo.

— Essa não! Agora vão prestar atenção na Gross!

Dito e feito. Enquanto Seger jogava balaços em Pandora, Altreider infernizava Morgan, Marbeck e Alvah. Infelizmente, a Grifinória só tinha dois batedores. Chowes e Bierbaur não estavam dando conta daquela divisão. Por sorte, Anala também era boa com manobras, o que estava aliviando bastante o trabalho dos batedores. Por outro lado, era complicado mandar a goles para Dustin, já que ele era pesado demais para se desviar de um balaço.

Hagrid, que assistia ao jogo atento, gritou que era marmelada aquele jogo. As vaias, porém, só começaram quando Volkmer marcou um ponto em cima de Moller.

— Morgan precisa pegar logo esse Pomo — repetia Pedro, como um mantra. Todo o jogo dependia dela.

E a partir daí só piorou. Marbeck e Alvah conseguiram marcar mais pontos, estavam bem na frente — Depper, goleiro da lufa-Lufa era péssimo —, mas Volkmer, Ulbuch e Jahn estavam se esforçando. Fizeram pontos suficientes para, caso pegassem o pomo, já ganharem o jogo. E Grifinória não estava conseguindo ir muito além com tantos balaços perseguindo Marbeck e Alvah.

— Ah, não aguento mais ver isso! — gritou Remo, do nada. — Me falem o resultado depois, vou estudar um pouco de animagia!

Remo saiu da arquibancada. Estava nervoso demais e com muito medo de perderem o jogo. Sirius deu de ombros, mas, pelo canto dos olhos, viu que Lilian seguiu o lobisomem. Não deu muita importância e voltou a prestar atenção no jogo.

— É... Agora o jogo está pau a pau — falou o narrador, após mais alguns pontos da Lufa-Lufa, num tom fúnebre. — Se Le Fae pegar o Pomo de Ouro o jogo acaba e Grifinória ganha. Se Iadsen pegar o pomo, o jogo acaba e Lufa-Lufa ganha. Em quem vocês apostam suas fichas? — o menino gritou a última frase e as torcidas começaram a fazer barulho.

Foi uma injeção de ânimo nos jogadores, mas para a Grifinória não ia adiantar muito se Morgan não pegasse logo aquele pomo. Tudo dependia dela. Morgan Le Fae, a apanhadora do time de Quadribol da Grifinória. E ela sabia disso. Estava sentada em sua vassoura, concentrada. Procurava pelo pomo em todos os cantos possíveis daquele campo. Mas não o encontrava de jeito nenhum.

Metros abaixo dela, Iadsen começou a voar mais rápido. Morgan percebeu e olhou na direção do garoto. O pomo estava abaixo da arquibancada da Lufa-Lufa. Morgan iria pegá-lo. Saiu em disparada. O aluno da Corvinal que fazia o papel de narrador do jogo já apontara a corrida dos dois para pegar o pomo. Todos no campo estavam de olho em Le Fae e Iadsen.

A apanhadora mergulhou atrás de Iadsen e logo o alcançou. Sua vassoura atingia maiores velocidades que a dele, tinha que conseguir passá-lo. Mas Iadsen começou a empurrá-la. Morgan o empurrou de volta, sem medo de se machucar. Iadsen reduziu a velocidade, para não cair da vassoura, e Morgan continuou. Estava perto demais do pomo agora. Podia vê-lo nitidamente. Esticou uma das mãos para pegá-lo, estava muito próximo.

— Parece que Morgan Le Fae vai pegar o pomo! — anunciou o narrador. — Se Le Fae pegar esse pomo a vitória é da Grifinória, minha gente! Ela está pegando vejam be... Oh! Não! Não, não, não! Um balaço atingiu Le Fae!

Atônitos, os alunos da Grifinória viram o corpo de Morgan Le Fae cair no chão, sem o Pomo de Ouro. E, sem acreditar, ouviram quando Iadsen capturou esse mesmo pomo e a vitória foi dada à Lufa-Lufa.

Sirius gritou de raiva quando isso aconteceu. Desde que chegara à Hogwarts, não se lembrava de ter visto a Grifinória perder nenhum jogo de Quadribol. Saiu em disparada do campo. Pedro o seguiu, mas Marlene permaneceu estática. Assim como muitos grifinórios, que não acreditavam naquela derrota. Ainda mais quando haviam chegado tão perto da vitória.

O menino Black foi chutando o chão até a entrada do castelo, xingando Potter por ter se metido em encrenca perto do primeiro jogo de Quadribol da temporada. Por conta disso, tiveram que colocar uma artilheira que mal sabia se equilibrar numa vassoura. E acabaram perdendo! Se ele estivesse ali, teriam feito mais pontos e mesmo pegando o pomo, Lufa-Lufa não teria a vitória. Maldito Potter!

— Não fica assim, a gente vai ter mais jogos pela frente... — começou Pedro, correndo atrás de Sirius, para acalmá-lo.

— É, e enquanto isso seremos a piada de Hogwarts! — Sirius parou de repente, gritando. — Perdemos para a Lufa-Lufa, Pettigrew! Para a Lufa-Lufa! — Ele voltou a andar. — Nada poderia ser pior que isso.

Pedro calou-se, então. Sirius estava com raivinha por conta de um jogo bobo, logo iria passar. Mesmo o maior dos amantes de quadribol não fica a vida inteira odiando o mundo por causa de uma derrota. Derrotas são comuns.

— Vamos procurar o Tiago então. Dar logo as más notícias... — Pedro tentou acalmar um pouco o amigo, mas este apenas parou e se virou para Pettigrew, falando com raiva:

— Não quero ver o Tiago agora. Quero ver Remo — Sirius voltou a andar — e ver o que ele está aprontando.

Pedro assentiu, porque não adiantava discutir. Os dois entraram no castelo e foram à biblioteca. Remo disse que estudaria sobre animagia e não haveria lugar melhor que aquele para isso. Exceto, talvez, a Sala Precisa. Mas Sirius jurava que tinha visto Lilian seguindo o amigo lobisomem. Remo não iria para lá com a garota ruiva em seu encalço.

No caminho, encontraram com vários alunos da Sonserina que fizeram piadas com eles por causa do jogo. Não deixariam barata aquela derrota de jeito nenhum. Sirius e Pedro muito menos. Para cada piada, devolviam um olhar torto e ameaçavam pegar suas varinhas. Os meninos rapidamente saíam de perto deles. Puderam chegar a biblioteca, assim, com relativa paz.

Ao chegarem ao local onde os livros de Hogwarts repousavam, não se surpreenderam. Os pouquíssimos alunos que não curtiam quadribol estavam ali, estudando ou terminando algum trabalho que a professora McGonagall passara. Em uma das mesas ao canto, avistaram Remo e Lilian. Tal como os outros, estavam cercados de livros. Lilian, por vezes, anotava algo em um pergaminho. Lupin apenas abstraía o que lia, voltando algumas páginas para ter certeza de que era aquilo mesmo. Eles também cochichavam em voz baixa sobre o que quer que estivessem fazendo. Sirius e Pedro foram até a mesa em que estavam.

Puxaram uma cadeira e sentaram. Lilian deu um oi fraco e logo voltou para os livros. Já Remo, nem percebeu a chegada dos amigos. Só levantou os olhos quando Pedro pigarreou.

—Hã... Er... Oi — ele disse. — O jogo já acabou?

— Perdemos — atirou Sirius.

— Oh! — Remo assentiu. — Pelo menos eu não fiquei para ver aquilo.

— Você ia enlouquecer, Remo! — disse Pedro, lembrando-se dos momentos finais do jogo. — A Morgan quase pegou o pomo, mas ela levou um balaço e o Iadsen passou na frente.

— Tiago já sabe disso? — Lilian perguntou, do nada.

Os meninos negaram.

— Então é melhor irem contar logo, ele já deve estar saindo da detenção.

— Lilian tem razão — concordou Lupin, levantando. — E eu também tenho algo para contar a vocês.

Os três saíram da biblioteca e deixaram Lilian lá, ainda mexendo nos livros a anotando coisas. Sirius e Pedro não perguntaram a Lupin o que ele queria contar, nem o menino o disse. Caminharam em silêncio rumo à sala de Filch. Provavelmente Tiago deveria estar saindo de lá naquele momento.

Não estavam errados. Tiago saía da sala do zelador naquele exato momento. Seu rosto e sua roupa estavam muito empoeirados. Seu cabelo estava mais bagunçado que de costume e ele limpava as lentes de seus óculos, que estavam cinzas, na barra da camisa. Filch vinha atrás, com um sorrisinho sádico no rosto e falando algo sobre os jovens deliquentezinhos dessa escola.

— Ei! Potter! — chamou Pedro.

Tiago abriu um grande sorriso quando viu os amigos esperando por ele. Correu até eles, sem se importar com a cara fechada de Argo Filch ou com os miados estridentes da Senhora Indra.

— E aí, ganhamos? — ele perguntou, todo animado.

— Não — respondeu Sirius, todo sério e com raiva. — Perdemos por sua causa, Potter, seu infeliz! — Sirius deu soquinho no braço de Tiago, que o puxou para um abraço.

— Também amo você, Black. Mas não vá se acostumando, ok? — Sirius fechou a cara e Tiago começou a rir bastante.

— Então... — Tiago passou o braço por sobre o ombro dos amigos. — O que os traz aqui?

— Aqui não — sussurrou Remo, olhando, disfarçadamente para trás.

Tiago olhou para trás, estragando com toda a discrição de Remo, e viu Filch. Sorriu e assentiu, andando rumo a Sala Comunal.

— Se vocês aprontarem, eu vou pegar vocês! — Puderam ouvir Filch gritar por trás deles.

Tiago apenas sorriu e continuou andando.

Quando estavam por um corredor deserto, Remo estacou. Puxou os amigos para a parede e, com feições muitos sérias, começou a falar.

— Tenho uma notícia péssima para dar a vocês — ele começou a falar. — E, antes de mais nada, eu só posso dizer que a pessoa que mais sente com isso sou eu e...

— Desembucha logo, Lupin — disse Sirius, sem paciência.

— Bem... durante o jogo de quadribol eu li um pouco sobre a animagia e eu descobri que, mesmo que vocês se esforcem muito, ainda assim levará anos para que consigam se tornar animagos.