- Como vocês já sabem, vocês dez nasceram predestinados a se tornarem os próximos Anciãos de nosso planeta. Não pode haver honra e responsabilidade maiores, como vocês aprenderão. – Venel de Orlin. - Mas antes de tudo, há coisas importantes que vocês precisam saber. Afinal, não há como caminhar seguramente para o futuro sem antes conhecer bem o passado.

De repente buracos se abrem nas paredes para onde os monitores e computadores se retraem, se fechando logo em seguida. A luz cai quase totalmente e imagens do universo começam a se formar nas paredes agora lisas, no teto e no chão, vindas não sei de onde. Estrelas, planetoides e cometas vão passando rapidamente por nós, como se estivéssemos viajando pelo espaço, até que ficamos de frente para Lorien. Mas não se trata meramente de uma imagem na parede, nós estamos realmente flutuando no espaço e vendo nosso planeta à nossa frente. Na verdade não tem como identificar que é Lorien, o que há diante de nós é uma enorme rocha verde brilhante, bem menor do que como ele é atualmente, mas de alguma maneira eu sei que é nosso planeta.

- O que estão vendo é o início do planeta em que vivemos, na verdade, o que hoje é seu núcleo, formado de loralite. A loralite não é um simples mineral comum como tantos outros, ela possui vida e magia. E mais do que apenas possuir, ela emana vida e magia de dentro de si. – Amelin de Wenon.

- E com o tempo, a vida que emanava daquela enorme rocha viva foi formando ao redor de si o que hoje vocês conhecem como sendo Lorien. – Bonaz de Calin.

Enquanto ele falava, vimos camadas de magma, terra, pedra e outros inúmeros materiais se formando ao redor da rocha de loralite. Víamos nosso planeta se formando, crescendo. Água simplesmente fluía de dentro da terra, a vegetação brotava, árvores cresciam, flores nasciam e agora Lorien estava parecido, ainda que um pouco diferente de como o é hoje. Passaram-se apenas alguns segundos, mas sei que para Lorien representaram milhões de anos. O espetáculo é realmente fascinante, é como se estivéssemos realmente lá.

Nos aproximamos do planeta e vejo seres minúsculos nascerem da água, se multiplicarem, crescerem, se desenvolverem, evoluírem. Vejo animais se formando, mudando, uns evoluindo, uns se extinguindo. E vejo os lorienos se formando, se desenvolvendo, se aprimorando, construindo cidades, aprimorando sua tecnologia, ampliando seus territórios sobre a natureza. E vejo disputas, armas, guerras. E tempo começa a passar mais devagar.

- Infelizmente, com o tempo os lorienos se perderam. Não souberam como utilizar sua tecnologia nem os recursos do nosso planeta. Lorien é um planeta vivo, a vida nasce de dentro dele. Mas infelizmente ele começou a adoecer por nossa causa. Nós o estávamos matando. – Dira de Barasen.

E realmente. O tempo voltou a acelerar, vi as partes verdes ocupadas por selvas e matas sumirem, dando lugar a cidades. Vi a poluição tomando conta do planeta, mares escurecendo, o ar e a atmosfera sendo destruídos. Rios sendo canalizados, árvores sendo derrubadas. Realmente Lorien estava morrendo, e isso era visível. E por algum motivo, dentro de mim havia certo toque de prazer ao presenciar aquela cena.

- Mas então, finalmente, mesmo que um tanto tardiamente, nos demos conta do que estávamos fazendo, ao planeta e a nós mesmos. – Aya (homem) de Heren. – Então começamos a tentar reverter o quadro, antes que fosse tarde demais. E conseguimos. Mas para que aquilo não se repetisse e para ajudar no processo de cura, purificação e restauração do planeta, Lorien permitiu que evoluíssemos.

A próxima a tomar a palavra foi Sariena de Luvan.

- Dez lorienos escolhidos por Lorien receberam do planeta pingentes de loralite especiais que os modificou, fazendo com que eles desenvolvessem habilidades especiais, os Legados. Depois, com o tempo, outros foram desenvolvendo habilidades também. Assim que nosso povo passou a ser classificado em Gardes, os que possuíam habilidades especiais, e Cêpans, os que não a possuíam. Os Gardes passaram a ser responsáveis pela proteção do planeta e do povo, e os Cêpans pela administração, ensino e treinamento do planeta e dos Gardes e demais Cêpans. Mas os dez primeiros a desenvolverem legados, a Garde Alfa, foram escolhidos por Lorien para governarem o planeta e o povo. Eles juraram dedicar seu tempo e vida ao serviço e proteção de Lorien. E em retribuição, o planeta lhes concedeu um poderoso feitiço para protegê-los.

Imagens novas nos eram mostradas durante cada trecho da história. Dez vultos de pessoas juntas em circulo. Um colar de luz verde caindo sobre o pescoço de cada um e fazendo com que seus corpos brilhassem. Depois estenderam suas mãos ao centro do circulo unindo-as. Uma luz azul saiu de suas mãos unidas, cobrindo seus braços e depois seus corpos por completo, ficando todos iguais. Depois outros vultos foram aparecendo, uns brilhantes outros não. Os vultos brilhantes voavam, lançavam fogo, entre outras coisas.

- Sob o comando dos Anciãos o povo de Lorien passou a realmente progredir. Com a ajuda de nossos legados pudemos restaurar e purificar mais rápida e efetivamente nosso planeta. Cada Ancião ficou sobre o comando de um país e tudo relacionado ao planeta e ao povo era resolvido entre nós. Destruímos armas, replantamos florestas. Passamos a aproveitar mais e mais sabiamente os recursos de nosso planeta, que eram sempre abundantes. Aprendemos a conviver com a natureza sem prejudicá-la. E assim, rapidamente Lorien foi se tornando aquilo que é hoje. – Drinian de Povan.

A imagem de antes agora parecia estar se invertendo, como um filme indo de trás pra frente. As áreas cinza diminuindo dando lugar ao verde, o ar e as águas assumindo um tom mais límpido e puro, até ficar como é hoje. A sala então começou a clarear novamente e as imagens sumirem. Estávamos de volta à sala com todos ao redor da mesa.

- Como vocês serão os futuros governantes de nosso planeta era imperativo que conhecessem a origem de seus poderes, de suas responsabilidades como Anciãos e de vocês mesmos. E agora se tiverem alguma duvida, o que certamente têm... - Venel.

Todos ficaram uns cinco segundos em silêncio olhando-se entre si vendo se alguém levantaria a mão. Então o garoto de Kupin ergueu a sua.

- Ééééé... Eu acho que não entendi bem alguns pontos. Tipo, esses pingentes, – Ele fala tirando o seu de dentro da camisa. – foram eles que fizeram os dez primeiros e depois os outros terem legados, é isso?

- Sim. – Respondeu Tezen de Seakon.- Eles são feitos de um tipo especial e único de loralite. Todos os tipos de habilidades, todos os diferentes tipos de legados existentes vieram deles. Lorien deu-os para nós para que pudéssemos purificar e proteger o planeta. Esses são os objetivos dos legados, proteção e pureza.

- Então... – O garoto de Kupin continuou. - Já que todos os legados vieram deles, se por acaso alguém tivesse os dez...?

- Teoricamente? Poderia ter acesso a todas as habilidades conhecidas e até a outras ainda não desenvolvidas por algum lorieno.

Meu coração dá um salto descompassado com essa informação. Pelo canto do olho reparo em cada pingente à mostra dentro do meu campo de visão. Poder infinito e ilimitado. Regeneração, cura, voo, indestrutibilidade e... Quem sabe, imortalidade! De alguma forma, esses pingentes serão meus. Não importa o que seja necessário ser feito pra isso.

- E esse feitiço que mencionaram? – Perguntou a garota de cabelo preto e vermelho. – Nós também vamos precisar fazer? E como ele funciona? Do que ele protege?

- Este é possivelmente o feitiço mais poderoso que já existiu. – Explica Begon de Kupin.- Ele liga os dez Anciãos, tornando-os um. A cada um é dado um número, de forma aleatória, de um a dez. o feitiço faz com que não possamos ser mortos fora dessa ordem numérica. Assim sendo, nada que possa causar nossa morte tem efeito sobre nós, nem mesmo o tempo, por isso não aparentamos ser tão velhos quanto realmente somos.

- Mas dois Anciãos morreram nos últimos anos e foram substituídos. – Argumentou a garota séria de olhos azuis.

- Sim. – Agora era meu pai quem falava. – Entendam, o feitiço não nos torna imortais. O Número Três, por exemplo, não pode ser ferido enquanto Um e Dois estiverem vivos, mas depois de suas mortes ele estará propenso a qualquer tipo de dano normalmente. Eventualmente com o passar dos anos o Um morreria, mesmo que pela idade. Quando um de nós partia alguém digno era escolhido para assumir seu cargo, mas eles não eram afetados pelo feitiço, eram apenas substitutos honorários. – Ele então levantou um pouco sua roupa expondo o tornozelo esquerdo, onde havia uma cicatriz como se o tivessem marcado com ferro em brasa. Mas a marca era parecida com a dos pingentes. – Quando o feitiço é lançado somos marcados. – Depois mostrou o tornozelo direito onde havia seis cicatrizes semelhantes, uma acima da outra. – E como estamos ligados, se um de nós morre os outros literalmente sentem na pele.

- Apenas quatro de nós somos Anciãos originais. Os seis primeiros infelizmente morreram no decorrer destes setecentos e trinta e dois anos. – Explicou Drinian.

Droga! Isso seria um enorme problema. Isso torna praticamente impossível algum ataque surpresa. Na hora em que um fosse morto todos os outros ficariam de alerta. E se ocorrer de eu ser o primeiro então... Droga! Essa porcaria de feitiço me traz mais problemas do que benefícios. De repente sinto que estou sendo observado e olho para o lado discretamente. É a garota branca de cabelo preto e olhos castanhos, ela me olha de forma estranha, mas depois desvia o olhar. Só me falta agora essa infeliz ler pensamentos...

- Mas nenhum feitiço é perfeito. - Begon. - Ele tem suas restrições. Ele apenas funciona enquanto estivermos separados uns dos outros. Se nos juntarmos o feitiço é quebrado, pois em tese já teríamos proteção suficiente se estivermos juntos.

- Pera, mas... Vocês não estão juntos agora? – Pergunta o garoto de Kupin novamente. Parece ser do tipo falante pelo visto. – isso significa que...?

- Sim, muito perspicaz meu jovem. – Respondeu Tezen com um sorriso no rosto.- Foi chegado o momento de uma nova Garde Alfa ser treinada para assumir nosso lugar. Então nós nos reunimos e quebramos o feitiço para podermos passá-lo para vocês.

Ótimo! Então quer dizer que há um furo...

- Bom, esclarecido tudo acho que já podemos iniciar o ritual. Na frente de cada um de vocês há uma adaga. Elas são especiais, criadas única e exclusivamente para a realização deste feitiço. Ou seja, sem elas ele não é possível. - Aya vai explicando. – vocês devem com a mão esquerda cortar a palma da mão direita e derramar um pouco de seu sangue neste cálice que se encontra no centro da mesa.

Alguém usando telecinese arrasta o cálice até o garoto de Kupin.

- Luke, já que você é habitante daqui, por favor, tome as honras e seja o primeiro. – Sugeriu Begon com um sorriso bondoso no rosto.

Ele engoliu em seco, nervoso. Dava pra ver que ele não estava tão feliz com a honra que recebeu. Um pouco hesitante ele pegou a adaga, posicionou sua mão direita acima do cálice e cortou a palma em sentido diagonal. Deu pra ver o sangue caindo dentro do cálice. A taça então foi arrastada em sentido horário até que todos tivessem feito o mesmo. O cálice por fim foi arrastado de volta ao centro da mesa e erguido no ar acima de nossas cabeças e começou a girar.

- Que essas dez vidas aqui representadas sejam unidas e atadas. – Assim que meu pai começou a falar as pedras do cálice começaram a brilhar. – Um seja dez e dez sejam um. Pelo laço de sangue aqui estabelecido nenhum mal lhes seja infligido.

- Aaaaaaaaaaah! – A garota loira de jeito delicado e expressão entediada gemeu alto de dor levando sua mão ao tornozelo esquerdo que começara a brilhar enquanto uma marca era queimada em sua pele.

- Karin de Povan, a Número Um. – Anunciou meu pai. Depois foi a garota de cabelo preto e vermelho s gritar e ser marcada. – Leona de Orlin, a Número Dois. – O garoto de Kupin foi o próximo. – Luke de Kupin, o Número Três. – A garota de jeito sedutor que chegou depois. – Neon de Luvan, a Número Quatro. – A garota séria de cabelo até os ombros e olhos azuis. – Maya de Barasen, a Número Cinco. – O carinha de jeito metido a besta com quem não fui com a cara. Pelo menos eu não estava entre os primeiros. – Kent de Wenon, o Número Seis. – O garoto mais novo. – Lóridas de Calin, o Número Sete. – A garota que ficou me observando, a branca de cabelo longo e preto e olhos castanhos. – Luna de Seakon, a Número Oito. – Então foi minha vez. Parecia que estavam pressionando uma barra de ferro em brasa contra minha pele. Dava até pra sentir um pouco o cheiro de queimado. Era a primeira vez que sentia tanta dor. – Setrákus de Heren, o Número Nove. – E o último foi meu irmão. – Pittacus de Tavan, o Número Dez.

Então dez pequenas porções de sangue arredondadas saíram de dentro do cálice e voaram na direção de cada um, até nossos tornozelos, cobrindo as cicatrizes que ainda brilhavam e doíam horrivelmente. Mas de alguma forma estranha o sangue foi absorvido pela cicatriz, que imediatamente parou de doer e de brilhar. O cálice ainda girando e reluzindo desceu até a mesa pousando em seu centro onde estava inicialmente, parando então de brilhar e girar. Foi realmente tudo muito estranho.

- Está feito. – Anunciou meu pai. – O destino os relacionou.

Então, eu e meu irmão éramos os últimos. O que significava que não poderia matá-lo sem antes ter de matar todos os outros. Me parecia bastante conveniente. E caso só restássemos nós dois, não haveria problema seu número ser depois do meu, pois quando estivéssemos juntos o feitiço se romperia. O único modo de obter todos os pingentes, matando a todos os outros Anciãos, inclusive meu irmão. Um tendo de matar o outro. Então, realmente a profecia estava certa.

- Bem, tirando meus filhos acho que todos já conhecem bem seus Cêpans. Mas creio que tempo é o que não irá faltar para que possam se conhecer. Então por hora acho que podemos tratar de outros assuntos.

- Espera. – Interrompeu-o a tal Luna, a garota que ficou me olhando. – vocês disseram que este feitiço se quebra quando estamos os dez juntos e bem... nós estamos juntos.

- Obviamente é preciso os dez juntos para se realizar o feitiço, então ele só se aciona quando os dez se separam. Se após isso vocês se unirem novamente ai sim ele se anula. Só pode haver no máximo dois de vocês juntos sem que o feitiço se anule, mais um e ele se rompe. Por tanto para que o feitiço não seja acionado antes do tempo, pelos próximos cinco anos em que passarão aqui treinando, aprendendo e continuando seu desenvolvimento, vocês só poderão se ausentar três por vez. Mais do que isso e o feitiço se aciona. – Explicou Dira.

- Hei, pera, pera, pera. – Era o garoto de Kupin, mais uma vez... – Como assim aprendendo? Eu achei que vindo pra cá eu tinha finalmente me livrado da escola!

- Pelo contrário - Begon. - aqui você aprenderá e será muito mais cobrado do que numa escola comum. Ou você acha que entregaríamos o comando do planeta nas mãos desqualificadas de jovens sem conhecimento ou instrução alguns?

Ele fez uma cara de desânimo ao ouvir isso. Idiota. Se foi mesmo o próprio planeta que selecionou cada um aqui, algumas escolhas foram bem infelizes.

- Creio que já que irão não só treinar e aprender, mas também trabalhar em equipe, acho de extrema importância que vocês comecem desde já a se conhecerem melhor, a começar por que não, pelos seus legados. – Sugeriu Bonaz.

- Excelente ideia caro amigo. Que tal irmos pra sala de treinamento 1? – Concordou Amelin.

- Extremamente de acordo.

- Então, por favor, queiram todo nos acompanhar.

Os dez Anciãos foram saindo da sala e todos nos levantamos e fomos seguindo-os. Fomos em direção a duas portas de elevador, nos quais descemos apenas um andar. Saímos num amplo e grande corredor, com portas de ambos os lados, e alguns vasos, estátuas, mesinhas e quadros decorando-o em sua extensão. Entramos na sala em frente ao corredor. O Ancião da frente que não dava pra ver quem era digitou algo no painel ao lado da porta e ela se abriu. Esta sala era bem maior do que a primeira, com as paredes intercalando entre partes de rocha e partes cobertas por metal, o chão era na parte mais próxima às paredes de metal e mais ao centro de pedra. O teto era alto e havia uma cabine cheia de computadores e máquinas ao lado da porta.

- Que tal demonstrarem seus legados nos aos outros através de uma pequena disputa amigável? Não vejo maneira melhor de aprenderem sobre os legados uns dos outros do vendo-os em ação. – Sugeriu Sariena.

- Então se me permitem, por que não começamos com meu Pitt, digo, Pittacus. Adoraria vê-lo em combate.

- E quem iria enfrentá-lo? – Perguntou Sariena.

- Por que não Luke? Já que é habitante daqui. – Propôs Begon.

- Olha... não é por que eu sou o único aqui de Kupin que eu preciso ser o primeiro a fazer tudo não tá? Mas desta vez eu aceito a honra de bom grado.

Bom, essa luta realmente eu gostaria de assistir. Nunca vi meu irmão lutando com ninguém. Ele é do tipo pacifista ao extremo. Apesar de que também nunca vi ninguém que tivesse motivos pra bater nele, ele era do tipo que sempre se dava bem com todo mundo. Mas sei que ele tem poder suficiente pra derrotar qualquer um daqui, exceto eu é claro. Apesar de que não conheço as habilidades do tal Luke. Bom, espero que meu irmão arranque pelo menos metade dos dentes dele pra que ele não continue falando tanto.

Os dois vão caminhando até o centro da sala, um em cada direção e param há uma certa distância um do outro. O garoto de Kupin está ansioso, com um sorriso empolgado no rosto. Fica saltitando de uma perna para outra, estala os dedos, flexiona o pescoço para os lados, alonga os braços. Queria saber se ele acha que isso é uma briga de rua. Ou talvez os legados dele sejam do tipo físicos. Não, acho que ele é só um idiota que gosta de aparecer mesmo.

- Então amiguinho, preparado?

- Claro! – Meu irmão estava totalmente calmo e sereno como sempre. Sorrindo inocentemente. – Se não se importa, gostaria de começar com a demonstração dos meus legados.

Meu irmão então estendeu os braços com as palmas para baixo. Do nada, flores e plantas começaram a brotar do chão e crescerem. Era uma cena bonita, pra quem gosta desse tipo de coisa. Os outros pelo menos, dava pra ver que estavam admirados com o legado do meu irmão.

- Que bonitinho. Então o seu legado é criar plantas? É, muito fofo. E deve ser bem útil, pra um jardineiro hahahaha.

Zombava o garoto de Kupin do meu irmão. Ele por sua vez apenas sorria gentilmente, como se não tivesse percebido o deboche do outro.

- Obrigado.

Mas de repente um cipó grosso e longo coberto de espinhos saiu do chão quebrando-o e jogando pedaços de rocha em volta. Ele se enrolou pelo corpo do garoto de Kupin cobrindo-o totalmente. Estavam todos parados surpresos olhando para o cipó espinhoso enrolado em espiral onde antes estava Luke.

- Meu filho tem fitocinese. É uma habilidade que permite a ele se comunicar e controlar qualquer tipo de vida vegetal, assim como criá-las.

Uns três segundos depois uma forte rajada de fogo saiu de dentro do amontoado de plantas e virou para baixo queimando o restante do cipó. O garoto de Kupin pulou para fora do fogo. Ele estava um pouco ofegante, com a roupa um pouco chamuscada e a roupa cheia de furos manchados de sangue.

- Luke pode cuspir uma forte rajada de fogo pela boca.

Quem deu a brilhante e obvia informação foi um cara alto, musculoso, com uma ou outra cicatriz pelo corpo. Tinha cabelo curto, a pele queimada de sol. Era sério, parecia ser militar.

- Sou Brad, o Cêpan de Luke. Já estou há alguns anos com ele.

- É garoto planta, admito, você me pegou de surpresa. Nada mal.

- Mesmo? Obrigado! – Meu irmão falava com tanta sinceridade e inocência que não sabia se ele estava falando mesmo sério ou só provocando o outro cara.

- É, mas agora a brincadeira acabou!

O garoto de Kupin levou um pouco o corpo pra trás, estufando o peito enchendo-o de ar e de repente soprou uma grande e forte rajada de fogo pela boca em direção ao meu irmão que o cobriu totalmente. O fogo só parou quando Luke ficou sem fôlego. Onde meu irmão estava a pouco só havia uma grande tocha de fogo. O amontoado em chamas então explodiu, lançando pedaços de cipó em chamas para todos os lados, expondo meu irmão, com a roupa chamuscada e algumas queimaduras pelo corpo. Ele havia se envolvido em um cipó para se proteger do fogo.

- É, você também não é nada mal. Fiquei impressionado, seu fogo é mesmo muito potente.

- Obrigado. – Agradeceu o garoto de Kupin. Ele estava muito ofegante, havia gasto muito fôlego com seu último ataque. – Suas plantas também parecem ser muito úteis.

- Sim, verdade. Eu gosto muito delas.

Enquanto falava meu irmão foi massageando rápida e levemente as áreas queimadas, que quase instantaneamente iam se curando. O garoto de Kupin via a cena atônito, assim como os outros. O poder de cura do meu irmão era muito bom. Antes mesmo de Luke ter conseguido recuperar o fôlego ele já estava totalmente recuperado.

- E então, o que mais você tem?

O garoto de Kupin sorriu, aparentemente gostando do desafio.

- Você vai ver.

Ele se agachou tocando o chão com as palmas das mãos. De repente suas mãos começaram a mudar, ficando com a mesma aparência da rocha do chão. Depois foram seus braços. Foi progredindo até que todo o seu corpo estava com a mesma aparência da rocha que formava o chão.

- Outra habilidade do meu recruta, absorção de matéria. Com o toque ele pode absorver as propriedades de qualquer material passando-os para seu corpo.

Mesmo? Eu não sei se esse cara achava que éramos todos cegos ou só queria demonstrar o grande conhecimento que tinha dos legados do seu “recruta”.

- Agora se prepara garoto planta!

Luke, agora com o corpo um pouco maior e mais volumoso, todo feito de rocha foi correndo em direção ao meu irmão, fazendo o chão tremer levemente a cada passada. Ele estendeu o braço pra trás, como se preparando para dar um soco. Meu irmão continuava quieto, parado onde estava, olhando sorridente e calmamente para Luke que vinha à toda em sua direção...