Um pedaço do chão começou a se erguer, um monte se pedra e terra se levantando acima de nossas cabeças. Depois o monte de pedra começou a tomar forma, criou braços, a parte de baixo se separou em duas pernas, o pedaço de rocha do topo foi formando uma cabeça meio desforme, até que diante de nós havia um gigante de pedra de uns seis metros de altura.

Sete se virou para ele ainda concentrado e o mais estranho aconteceu. Os olhos do gigante se abriram. Pelo menos as orbitas estavam vazias, mas emitiam um estranho brilho vermelho. Ele se virou na direção de Quatro e abriu sua boca de pedra soltando um urro ameaçador. Era como se a coisa estivesse viva.

- Você ficou me provocando antes por eu ser baixinho não é? Vamos ver como se sai agora que seu adversário é maior do que você.

Sem que Sete fizesse nada ou desse comando algum, o monstro de pedra avançou na direção de Quatro, dando um soco com seu punho enorme. Se Quatro com seus novos reflexos felinos não tivesse dado um salto para trás teria sido esmagada.

Quatro estava atônita com a situação, como todos eu acho. O monstro desferia um golpe atrás do outro, mas o que lhe sobrava em força lhe faltava em velocidade, e isso, Quatro em sua nova transformação tinha de sobra. Ela desviava de todos os golpes do monstro, mas dava para notar que estava começando a se cansar.

- Qual é o problema gatinha? Não está mais tão otimista e confiante agora? O que houve com a história de “se quer ser um Ancião tem que aprender a lidar com situações difíceis”? você não parece estar lhe dando tão bem com essa situação. – Provocou Sete rindo maliciosamente. Eu até que estava gostando da nova personalidade do baixinho.

Quatro ficou irritada com a provocação de Sete. O gigante de rocha deu mais um soco onde ela estava, mas Quatro se esquivou novamente. Mas antes que o monstro erguesse o punho ela saltou sobre ele, foi correndo felinamente pelo seu braço até chegar ao ombro. Ela se segurou agachada, o monstro virando o rosto para ela.

- Vamos ver o que acha disso. – Quatro abriu bem a boca.

Eu tive que tampar os ouvidos, assim como todos os outros. O grito de Quatro era ensurdecedor, muito acima do comum. E como a sala era fechada as ondas de som não tinham para onde ecoara, tornando o barulho cada vez mais alto. Sete também teve de tampar os ouvidos e acabou caindo de joelhos, como a maioria de nós. Não sei exatamente o motivo, mas o brilho vermelho dos olhos do monstro se apagaram, mas Quatro continuou gritando até que sua cabeça explodisse numa chuva de rochas.

Enquanto o resto do corpo do monstro caia Quatro deu um salto para longe dele. Ela parara de gritar, mas parte do som continuava a reverberar no ambiente fechado e meus ouvidos continuavam a zunir.

Quatro pousou de pé, com uma pose de vencedora. Ela enfiou as unas grandes e afiadas em ambos os ouvidos e tirou algo de dentro deles que jogou no chão, pareciam pequenos punhados de pelo nojentos. Então por isso ela não fora afetada por seu próprio grito, ela protegia os ouvidos com seus pelos para abafar o som. Bastante inteligente.

Sete se colocou de pé e apesar da cara de dor, a mesma que todos nós tínhamos, devido ao som, ele continuava a esboçar um sorriso zombeteiro e malicioso.

- Nada mal. Nada mal mesmo. Grito super sônico, foi mesmo uma boa jogada. Mas já que você gosta tanto de animais, vamos ver como lhe dá com essa nova situação difícil.

Sete ergueu o braço novamente se concentrando, como fizera anteriormente. O chão mais uma vez tremulou, mas dessa vez dois montes de rocha começaram a se erguer, menores do que o anterior, mas ainda assim grandes. Eles foram tomando forma até surgirem dois grande leões de rocha do tamanho da Quatro, com orbitas brilhantes e vermelhas, rugindo para Quatro.

Sete se sentou no chão calmamente, enquanto seus leões avançavam contra Quatro.

- Mas como ele faz isso? Não parece ser telecinese, é como se aquelas coisas estivessem vivas. – Questionou o garoto de Kupin para ninguém em particular.

- E realmente estão. – Falou Mika. Todos se viraram para ele esperando uma explicação. – Sete usou uma perfeita combinação de dois de seus Legados para criar essas criaturas. Primeiro usou a telecinese, comum a todos da Garde para dar forma a elas, depois usou um de seus raros legados, o de dar vida a seres inanimados.

Todos ficaram boquiabertos, era a primeira vez que eu e certamente todos os outros víamos tal Legado. O baixinho era realmente impressionante.

Quatro estava com sérias dificuldades. Quando se desviava da investida de um dos leões era atacada por outro. Quando atacava um com suas garras, outro a arremessava para longe com sua pata de pedra.

Um dos leões se lançou sobre ela a derrubando no chão. Ela segurava a boca do bicho com ambas as mãos para não ser devorada, mas o leão era forte demais. Ela abriu a boca, todos em reflexo tampamos os ouvidos, preparados para o que viria. Mesmo de ouvidos tampados e reforçados pela telecinese, o barulho era extremamente incomodo. A cabeça do leão explodiu sobre Quatro. Dessa vez ela não tampara os ouvidos então o som também a afetara.

Ela jogou o resto do corpo de pedra do leão pro lado, o outro já vindo em sua direção. Ela com ar de fúria e urrando dilacerou o rosto de pedra do bicho com suas garras, depois foi destroçando-o. quando terminou se virou raivosa na direção de Sete e começou a correr para ele.

Ele nem se mexia. Quando Quatro estava a apenas seis metros de distância dele, o braço erguido para trás pronta para atacar, mais um golpe inesperado. Sete lançou duas fortes rajadas de energia amarela pelos olhos, atingindo Quatro em cheio e jogando-a para longe e rolando no chão.

Com dificuldade e devagar, Quatro se levantou novamente. Sete parecia irritado.

- Sabe, me irrita pessoas que não sabem a hora de parar. Como você mesma disse, saber a hora de desistir também é uma lição importante a se aprende, mas pelo visto você ainda não a aprendeu não é? Então eu irei ensiná-la da pior forma!

O chão tremulou novamente, e dessa vez cinco montes de pedra se ergueram, formando cinco novos leões que rosnavam para Quatro. Ela não teria a menor chance. O primeiro começou a avançar contra ela, mas Quatro, que segurava o braço esquerdo, aparentemente machucado, nem se movia. Ela seria atingida em cheio, mas...

Cinco grossas trepadeiras espinhosas surgiram de dentro do chão, jogando areia e pedra para todo lado, logo abaixo do leão que investia, agarrando-o e o esmagando com força, até quebrá-lo em pedaços. Eu me virei para Pittácus, que estava com ar sério e concentrado e de braço erguida em frete ao corpo.

- Chega. A luta já acabou, Quatro não está mais em condições de continuar lutando.

Sete olhava para ele furioso.

- Não se meta na minha luta.

- Você já demonstrou seus Legados, é o suficiente.

- Eu acho que não. Eu estive preso tempo demais, quero me divertir um pouco, e vocês não irão atrapalhar minha diversão.

Um dos leões começou a investir na direção de Pittácus. Mas o garoto de Kupin, já um pouco maior e revestido em metal, que devia ter absorvido da parte da sala onde estávamos, se lançou na frente dele agarrando a boca do leão com ambas as mãos. Ambos eram fortes, mas o garoto de Kupin era mais. Ele forçou a boca do bicho abrindo-a até arrancar a parte de cima de sua cabeça, depois ergueu o resto do corpo do animal e jogou para longe.

- Pittácus disse que já chega!

Sete ficou ainda mais irritado, as íris de seus olhos brilhavam vermelhas como chamas vivas.

- Eu disse para não me atrapalharem!

O chão começou a tremular mais, porém dessa vez diversos montes de rocha estavam se erguendo e tomando forma. Agora haviam mais gigantes de forma humana, leões, ursos, gorilas, cobras, escorpiões, cada um deles maiores do que a gente, vivos, ameaçadores e com seus olhos vermelhos e brilhantes virados perigosamente em nossa direção.

Todos os outros da Garde se colocaram à frente, já se preparando para lutarem. Sete sorriu animado e malicioso.

- Isso é o que eu chamo de diversão.