Ele assumiu sua posição de ataque inicial. Droga! Os legados dele eram um problema. Eu precisava pensar em alguma coisa e rápido. Eu avisa conseguido tirá-lo do sério anteriormente, mas agora ele já estava calmo outra vez. Ele começou a correr em minha direção. Eu ia analisar como ele lutava com aquela armadura primeiro e depois bolava alguma estratégia.

Esperei até que ele se aproximasse o bastante para me desviar de seu soco com um esquivo. Seu punho passou a centímetros do meu rosto. Mas mesmo assim conseguiu me ferir fazendo um corte em minha bochecha. Aproveitei nossos movimentos e desferi também um soco bem no meio de seu rosto, mas minha mão o atravessou. Eu dei um salto para trás me afastando dele. Eu precisava pensar em e rápido. O punho dele não havia me atingido, disso eu tenho certeza. Eu era mais rápido do que ele. Mas então como ele me feriu? Tentei prestar atenção em sua armadura. Ela era de energia sólida, mas brilhava. Energia, brilho...ENERGIA! Claro! Era como material radioativo, mesmo que você não toque no objeto, a energia que ele emana também é nociva. Então era isso. Maravilha! Ele não poderia me atingir diretamente por que eu era mais rápido, mas só de chegar perto de mais ele já conseguia me ferir. Enquanto eu nem conseguia tocar nele. Ou... Bom, eu tinha que testar, era minha única alternativa.

Dessa vez eu assumi o ataque. Corri em sua direção com o punho erguido. Como esperado não se preocupou em assumir nenhuma posição defensiva, apenas sorrindo para mim de maneira zombeteira e provocativa. Quando cheguei bem perto desferi meu soco. Mas para sua surpresa eu não completei meu movimento. Assim que minha mão atravessou sua cabeça eu parei meu punho. Ele estava estarrecido e eu com meu braço parado atravessando seu rosto. Então ainda aproveitando o impulso da corrida dei uma joelhada em seu estômago. E para minha surpresa o atingi. Ele caiu de joelhos, sua cabeça deslizando por meu braço como um fantasma. Eu me afastei novamente.

Ele estava bem e já se levantava, mesmo que com um pouco de dificuldade. A armadura amenizou a força do golpe. Mas deu certo! Eu comprovei minha teoria. Então ele ainda não conseguia manter todo o corpo intangível, ou apenas intangibilizava uma parte por vez. Bom, eu estava torcendo para que fosse o primeiro caso. Se fosse assim, a vitória era minha.

- Então, você descobriu meu ponto fraco. É, eu não consigo deixar todo o meu corpo intangível. Infelizmente meus legados ainda não estão cem por cento desenvolvidos. Mas eles serão o suficiente para derrota-lo, isso eu garanto.

- Engraçado, eu achei que fosse apenas uma demonstração de legados amistosa. – Falei com o máximo de inocência que podia fingir.

- Por favor, vamos deixar de hipocrisia, ok?!

Eu sorri.

- Como quiser.

Dessa vez nós dois partimos pra cima. Mas estava sendo uma luta acirrada. Ficamos lutando de perto, quase colados um no outro, sem dar espaço para fugas ou movimentos longos. Ambos dávamos ataques rápidos, mas tanto os meus quanto os deles estavam sendo inúteis. Mas ele ainda estava conseguindo levar vantagem. Eu sempre dava ataques consecutivos, para tentar aproveitar seu ponto fraco, mas ele sempre intangibilizava uma parte d corpo e protegia outra. Seus ataques não me atingiam diretamente, pois como eu era mais rápido conseguia me desviar, mas o impulso da energia que emanava de sua armadura me causava pequenos ferimentos que foram se acumulando.

Eu parei e saltei para trás. Precisava recuperar o fôlego. Ele apenas respirou de forma profunda três vezes e já estava recuperado, enquanto eu ainda ofegava. Mas como? O Cêpan dele até agora não se preocupara em falar nada então ainda nem sabia qual dos outros era.

- Cansado Nove? Sabe, por mim eu posso continuar com isso o dia todo, sem me cansar. – Ele deu um risinho debochado.

- Como assim?

17- Um dos meus legados. Eu possuo uma super resistência. Aguento qualquer impacto, qualquer dano, e não me canso.

Ele veio correndo em minha direção e começamos novamente a briga. Socos, chutes, joelhadas, cotoveladas, cabeçadas, desvios, bloqueios, esquivas. Até que... Ele me pegou de surpresa. Ele criara uma lâmina de energia sólida na ponta da mão no meio de um de seus movimentos e enfiou em meu estomago. Eu fiquei momentaneamente paralisado pela surpresa e a dor. A lamina doía mais do que deveria. Devia ser sua energia. Ele retirou a lâmina e eu vi aquele sangue jorrando. Aquilo... ele me pegou pelo pescoço e me levantou tirando meus pés do chão. Não! Aquilo parecia... Aquelas lembranças. Não! Aquelas cenas. Minha mão segurando um punhal, seu sangue jorrando, seu olhar de surpresa. Eu a segurando pelo pescoço, sua expressão de dor...

- NÃO!

Eu perco o controle. Aquelas cenas... Eu dou um soco o mais forte que consigo nele. O peguei de surpresa então usou seu legado, sendo arremessado para longe. Mas já estava se levantando de novo. Aquelas cenas, elas agora não paravam de passar por meus olhos. Cada lembrança. “Set?”. Seu rosto. “Set, o que é que está have...”. Não, não! “Set, do... quê que... você... tá falando? Set... eu não to con... seguindo respi...”. Estou desorientado, desnorteado. Isso não está acontecendo.

- Qual o seu problema? Tá dando uma de maluco?

Eu levantei minha cabeça. Seis olhava para mim sem entender minha atitude. Maldito, ele tinha que me fazer lembrar disso. Sinto o ódio e a raiva afluindo de mim.

- Maldito! – Eu praguejei com os dentes serrados.

Eu senti a energia começando a fluir por meu corpo. Eu não devia usar aquilo agora, mas não conseguia me controlar. Tudo o que eu queria era ver aquele miserável sofrer.

- Vem cá, você vai ficar ai dando uma de louco mesmo é? AAAAAAAAAARRRRRRRRRRGGGGGGGGGGRRRRRRRRRRRRR!

Seu grito irrompeu como um estrondo enchendo a sala, muito pior do que o que a Dois dera ao ser eletrocutada pela Um. Eu fechei minha mão, me concentrando. Eu podia fazê-lo sentir dor em apenas uma parte do corpo, mas queria que ele agonizasse sentindo dor em cada célula, em cada nervo de seu corpo. Seus olhos estavam arregalados de desespero e agonia. Apenas uns poucos minutos com essa intensidade e ele enlouqueceria com a dor.

- PARE!

Eu anulei meu legado, pego de surpresa. Seis caiu no chão de uma vez, sua armadura se desfazendo no ar. Eu me virei para ver quem havia gritado. Todos olhavam para mim. Uns atônitos, outros pareciam estar com medo. Exceto, ela de novo. A Oito me encarava de forma enérgica. Essa garota... Fora ela quem gritara me mandando parar. Seu olhar de repente mudou, como se estivesse... triste. Será que ela vira alguma coisa em minha mente? Ou a tristeza era pelo Seis? Olhei pra ele, ainda estava caído no chão, acordado, mas sem conseguir se mexer. Pelo visto sua super resistência era apenas física, ataques metais o incapacitavam com facilidade. Droga! De qualquer forma eu não deveria ter perdido o controle, não devia ter revelado esse legado assim, agora. Eu ainda estava meio confuso, meio fora de mim. Algumas daquelas cenas ainda passavam em minha mente. Eu fui andando me arrastando até onde os outros estavam e me larguei na parede, caindo sentado no chão. Apenas abaixei a cabeça, mas sentia os olhos de todos ainda em mim.

Inferno! Eu só queria poder sumir daqui agora. Sumir. Como queria naquela noite. Aquela noite... Na noite em que... na noite em que parte de mim se foi. Na noite em que parte de mim morreu.