— Por favor, me acompanhe senhorita Charlie.

Para onde ele vai me levar? Eu tentei convencê-lo de todos os modos que eu não havia feito nada, porém, as câmeras no laboratório me denunciaram. Em nenhuma das salas de aula normais têm câmeras, porém, como o laboratório possui diversos materiais importantes, além das máquinas – caras –, recentemente foi instalado É nítido como fui sutil ao notar que estava curando a Dinah. Parabéns Charlie!

— Onde o Senhor está me levando? – pergunto, tentando conter minhas lágrimas de raiva e talvez medo.

— Vou levá-la à Senhora Ridge – hein?! Pra que?

— Eu quero falar com meu pai antes – afirmo, tentando parecer forte e decidida.

— Quem sabe depois, Charlie. Por enquanto, só permaneça em silêncio.

Acho que estou encrencada, mas, por que o Sr. Ezzu está fazendo isso? Não consigo entender a lógica, o porquê de isso ser tão importante. Ok! Sei que não é comum ver alguém curando outra pessoa com o toque e helloooowww: eu nem sei controlar isso direito ainda! E Ridge precisa saber disso? Mesmo?

Caminhamos até a sala de Ridge e, como solicitado, fico quieta durante todo o trajeto. Alguma hora Théo terá que aparecer, eu acho, afinal, estarei muito tempo fora de casa. Bem que podia ser já, não é?

— Entre, por favor, senhorita Charlie – Sr. Ezzu abre a porta e eu entro na sua frente, encontrando Ridge sentada à sua mesa, com um coque no cabelo e olhos vermelhos, aparentando estar bastante cansada. – Sra. Ridge, estarei na minha sala, caso precise de algo. – Tá, qual é a deles? Tão achando que eu vou matar uns três aqui?

— Certo, Sr. Ezzu! Obrigada.

Vejo Sr. Ezzu retirando-se da sala e então, o que me resta é sentar na cadeira em frente à mesa de Ridge. Ela me olha seriamente, como se estivesse analisando minhas ações, provavelmente já viu a filmagem diversas vezes.

— Boa noite, senhorita Charlie! – como eu odeio quando eles me chamam de senhorita!

— Oi Ridge! – estou sem saco para isso.

— E então? O que me contas? – ela sorri forçadamente, se soubesse como fica estranha fazendo isso, tenho certeza que repensaria sobre suas expressões.

— Na verdade, quem me precisa dizer é a SENHORA, não?

— Por que você não me começa contanto a verdade? – ela me olha friamente; será que ela sabe quem sou? – O que você é?

— Olha, Sra. Ridge, eu não sei do que você está falando. E se a senhora me dá licença, preciso voltar para minha casa, amanhã eu acordo cedo e...

— Permaneça sentada, tipiena!

≥ — ·

— Ele falou em que cidade está, Clarisse? – Branca me olha assustada, ela sempre teve a teoria que a proteção deveria continuar o maior tempo possível, e que cada um dos guardiões deveriam tentar eliminar os Daliperianos, um por vez, conforme a ordem. Na verdade, ela tem medo que a proteção se quebre e eu não seja capaz de me salvar, já que a única herança que recebi até o momento foi a super audição e convenhamos isso não seria muito útil contra um Daliperiano. Branca me ensinou a lutar desde pequena, sou ótima com armas brancas, principalmente facas e machados; mas, de todo modo, preciso desenvolver mais se quiser acabar com um deles. Branca também acredita que o/a Oito tenha mais poderes que qualquer um de nós, por isso, tem nele a nossa última esperança.

— Estão no Chile, pelo que pude entender.

— A gente não pode permitir que isso aconteça, Cinco.

— O que eu posso fazer para impedir, Branca? Estamos em Paris!

— Fale com ele, Clarisse! Vamos!

— E como se faz isso?

— Olhe para o anel, somente para ele, e pense algo olhando-o.

Faço o que Branca me orientou, mesmo sem concordar com ela. O que eu mais quero é conhecer todos os outros para juntos realizarmos algo. Sabendo que Dois e Sete estão se unindo, tudo me parece mais possível.

Dois, Sete?

Oi! Quem tá aí? – ouço a voz de Dois em minha mente.

Aqui é a Cinco! Vocês já se encontraram?

Ainda não, Cinco. Não estou conseguindo localiza a casa de Sete e ela não está me respondendo.

Dois. Vocês vão mesmo quebrar a proteção? – receio um pouco em falar isso, sabendo de toda a situação de dois.

Eu preciso Cinco! Sou o próximo! – ele se justifica.

Ao quebrar a maldição, qualquer um poderá ser.

Você não acha que juntos podemos fazer mais, Cinco? – dessa vez quem fala é a Sete.

Olha quem resolveu aparecer! – Dois comenta.

Acho sim, Sete. Mas minha tutora não! Na realidade, estou falando com vocês a pedido dela, ainda bem que ela não pode nos escutar! – confesso.

Entendo! – Dois comenta. – Eu acho que todos nós deveríamos nos reunir! Digo, todos que usam o anel.

Acho que só nós três, Dois! – Sete responde.

O que eu digo para a Branca? – questiono, preocupada.

E se você mentir? – Dois sugeriu. – Você pode dizer que eu me perdi, ou que Sete desistiu de me encontrar, com o mesmo pensamen...

Dois? Ei, Dois! – questiono preocupada.

Onde ele está, Cinco? – Sete parece nervosa.

Dois, não brinque com a gente! – comento, mesmo achando que ele não faria isso.

Tem um deles aqui! – Dois diz, apavorado! – Eles também podem voar! Merda!

Dois! Eu posso controlar o fogo, também posso causar ilusões, alterar percepções – Sete manda os pensamentos tão rápido que quase não consigo acompanhar. Vejo Branca me olhando, sua cara de espanto sinaliza que minha expressão não deve estar muito boa também. – Eu posso lhe ajudar em algo?

Estou voando o mais rápido que posso, em círculos! Não quero sair longe daqui!

Vou te ajudar! – Sete argumenta. – São quantos?

Um só! Mas eu não sei do que eles são capazes!

≥ — ·

Vou correndo para a rua e tento localizar Dois voando pelo céu do Chile. Ele deve estar longe, pois não consigo localizar nada, ou então está realmente muito rápido.

Eu não consigo enxergá-lo, Dois! – de repente escuto um barulho ensurdecedor vindo do outro lado da casa, corro na direção do barulho para ver o que é. – Dois? Cadê você? – Alguns segundos se passam, vejo um corpo voando pelo céu, um pouco mais lento, mas não consigo identificar se é ele.

Voltei! Usei minha luva para deixá-lo um pouco tonto. Você viu?

— Dois, qual roupa você está vestindo?

Calça Jeans, camisa branca, por quê?

Naquele exato momento sei que o corpo voando no céu não era o Dois. O corpo se recupera, pois vejo que ele está tentando voltar para onde Dois está, ou seja, de onde ele foi arremessado. Em poucos segundos ele passará exatamente em cima de mim, é a chance que tenho. Vejo o Daliperiano se aproximando, está muito alto, espero que minhas heranças tenham longo alcance. Ouço Dois e Cinco em minha cabeça, mas não tenho para nenhum deles agora. Swane está atrás de mim, ela me conhece bem o suficiente para saber que estou armando algo, por isso, ela se mantém em silêncio.

É o momento: Ao avistar o Daliperiano exatamente em cima de mim, reproduzo minha imagem ao redor dele, como se eu o estivesse cercando. Sei que ele está pensando o Dois estava trabalhando em dupla comigo. Ele está tão confuso que não sabe qual de mim é a real, não sabe qual atacar primeiro. Lamento: todos são falsas, meu querido! Aproveito seus segundos de indecisão e lanço um jato de fogo em sua direção, que o acerta em cheio, fazendo-o virar cinzas. Consegui! Foi fácil! Ok, ele estava totalmente desprevenido, mas tá valendo!

O que foi isso? – Dois questiona.

Isso se chama: Sete! – respondo, animada.

O que aconteceu, gente? – Ouço Cinco perguntar.

A Sete acabou de incinerar o Daliperiano – Dois parece estar surpreso.

Agora você já sabe a minha localização, Dois. Venha rápido – ordeno.

Então a proteção estará quebrada, certo? – Cinco comenta, baixinho.

Sim, Cinco! – respondo.

Então eu quero estar com vocês! – ela afirma, parecendo bem convicta.

≥ — ·

— Dois e Sete acabaram de se encontrar – falo para Branca.

— Então a proteção está quebrada? – ela me questiona, parecendo muito preocupada.

— Está sim!

— Porque você estava tão preocupada, Clarisse? – ela me olha, analisando se falarei a verdade.

— Dois estava sendo perseguido por um deles. Sete ajudou a matá-lo, ela parece ser muito poderosa.

— E o que você pretende fazer, Clarisse? – vejo o medo de me perder em seus olhos.

— Quero encontrá-los, Branca!

— Você sabe que eu não concordo com isso, Cinco!

— Independente do que você acha, Branca, eu irei encontrá-los! É junto deles que eu devo ficar.

— A partir do momento que você passar por aquela porta, Clarisse, você não me tem mais como sua tutora – vejo os olhos dela repletos de água. – Você sabe que acredito piamente que sua proteção está aqui, comigo. Fique, por favor.

— Branca, não me peça isso! – me aproximo dela e lhe dou um forte abraço. – Você sabe que a minha missão é ao lado deles.

— Não, Cinco, por favor – ela chorava, desesperadamente,

— Venha comigo, Branca!

— Meus princípios não permitem, Clarisse – ela enxuga as lágrimas com as costas das mãos.

— Eu preciso ir – vou até meu quarto e pego minha bolsa de viagem, pego algumas roupas e enfio de qualquer modo dentro da bolsa, deixando o maior espaço para meu receptáculo. Pego-o na sala, perto de Branca e coloco dentro da bolsa também.

— Para que você saiba, Sete e Dois estão deixando o Chile. Eles acham que os Daliperianos podem saber onde eles estão. Decidiram vir para Irlanda, caso você mude de ideia...

— Se cuide, Cinco.

— Obrigada por tudo, Branca – olho no fundo dos seus olhos e sinto o carinho que ela sente por mim. Não posso deixar me abalar. Pego minha bolsa e sigo em direção à porta, deixando para trás tudo o que vivi em Paris e sentindo que meu futuro não será nada fácil.

≥ — ·

AI – MEU – DEUS! Ridge sabe quem sou, de onde vim, me sinto nua. Não sei como consigo fazer graça em um momento desses.

— Bom, se a senhora sabe quem sou, a grande pergunta é: Quem a senhora é?

— Eu desconfiei desde o dia em que vocês bateram na porta desse internato – ela cerra os dentes, parece estar com raiva! Mas que diabos!

— Quem a senhora é?

— Você pouco sabe sobre seu maior inimigo, não é? – o que ela quer dizer com isso? – Os Daliperianos têm realizado muito aqui na Terra, Charlie. Muitos estão com eles! – inclusive você? Vaca velha!

No momento que ela começa a explicar sei o que devo fazer. Quer dizer, sei que preciso fugir, só não sei como. Uma onda de adrenalina toma conta de mim e o que se passa a seguir seria impossível de acreditas, caso não tivesse visto eu mesma fazendo. Peguei a mesa que a Sra. Ridge estava apoiada, que suportava o computador e diversos livros e arremessei contra ela. Em seguida, corri até a porta e tentei abri-la, mas estava trancada! Maldito! Não percebi o Sr. Ezzu me trancafiando com essa mal amada. Dei um chute na porta e ela voou longe. Corri o máximo que pude pelos corredores, assim que sai da ala principal, me deparei com Théo segurando meu receptáculo.

— Eles sabem de mim, Théo – me sinto apavorada.

— Na hora que ele veio te buscar, eu desconfiei. Com a demora, eu sabia que precisava ajudá-la.

— Nós temos que sair daqui, agora!

— Eu estou pronto! – ele sorri, brincando. É outro que não perde a oportunidade. – Você não?

— Mais que pronta, querido paizinho! – troco um sorriso de canto com Théo e juntos corremos em direção ao portão de saída.

— Temos um problema, Charlie – ele continua falando enquanto corre. Maldito! Tem uma resistência invejável. – Os portões estão fechados.

— Perdão, na pressa esqueci de contar. Eu tenho super força!