Os Filhos da Aurora.

Uma pequena demonstração.


Caminharam um pouco na reta da orla da floresta. Sarah não parecia ter raiva da garota Astrana Belle, mas Ricoh ficou escarlate só de olhar para ela. O garoto não sabia como lidar com isso.

- Então... hum... está tudo bem entre vocês? – Perguntou Belle, também ficando vermelha.

- Tudo! – Começou Sarah, quando Ricoh já abria a boca para falar. – Nós somos amigos, não há nada de errado! – Exclamou a garota, logo percebendo que fora, agressiva. Ela sabia muito bem o que fazer, e não era isso, não podia tratar as pessoas daquela forma por não ter sido correspondida, e Ricoh não tinha culpa de nada. – Hum, me desculpe. – Completou Sarah, envergonhada.

- Tudo bem – Belle deu um sorrisinho para Sarah, que simplesmente virou o rosto, escondendo sua expressão de quem não acreditou no que viu. – Compreendo você Sarah, não se importe, eu te entendo. – Olha, não precisa se preocupar, isso passa, eu sei que sim.

- To bem! – Exclamou Sarah, com intuito de pôr um fim na conversa, já não agüentava deixar o rosto rígido, para que ninguém visse sua expressão de desgosto e ofendida.

- Ah, vocês estão ai. – Disse Temosnozes, com um sorriso no rosto. – Já disse para elas, Ricoh? – Ela mirou o garoto.

- Ah, não... – Ele virou-se para Sarah e Belle. – Temosnozes e Salgueiro fizeram testes em mim. Tenho todos os poderes de Hidarck, mas em personalidade não sou nem parecido com ele.

Isabelle saltou para o loiro e deu um longo abraço nele. Ela estava irradiando felicidade, Sarah ficou contente com a noticia, não parecia, mas aquela garota com raiva de tudo. Temosnozes gritou agora se afastando e caminhando em direção a uma multidão de jovens e crianças:

- Venham, já vai começar! Belle, eu acho que Salgueiro vai precisar de você, é melhor você vir até aqui, e quem sabe você pode nos ajudar com seus poderes.

Ricoh e Sarah se juntaram à multidão. Salgueiro carregava barras de ferro nas mãos, ele as posicionou no chão, de forma que uma se ligasse à outra.

- É a sua vez, Belle! – Disse Salgueiro. Use sua tele cinética.

Belle ergueu os braços lentamente, e as barras de ferro acompanharam seu movimente, ligando-se nas outras, formando uma plataforma, um palco. Salgueiro então ergueu os braços também, não para ajudar a erguer as barras, mas das suas mãos saiu um jato de fogo, mais forte que qualquer maçarico que já existiu na Terra. O fogo acabou soldando as barras, formando um palco firme.

- Então, quem vai começar? – Disse Temosnozes. Ela mirou um garotinho moreno. – Pode ser você, garoto? – Ele subiu no palco. – Bom, vamos lá Astranos. Para ensinar a vocês como lidar com seus poderes, nós queremos primeiro saber quais são eles. – Todo mundo está me ouvindo? – Ela mirou a multidão. Alguns pareciam não entender o que ela dizia. Ela segurou o colar da aurora perto da boca, e então continuou a falar. Não parecia nem um pouco com o som de um microfone, mas se assemelhava a um. Todos estavam ouvindo agora, mas era como se ela estivesse conversando com cada um separadamente, por que a voz não ecoava. “Bem engenhoso”, pensou Sarah.

- Bom, todos estão me ouvindo, agora. Qual o seu nome, garoto?

- Ham... Logan... Logan Hill – Falou o garoto, tímido.

- Muito bem, Logan, já sabe algum de seus poderes?

- Le-leio. Leio mentes.

- Hmm, bom, então no que estou pesando agora?

- Que eu devo ter algum poder melhor. E tenho. Minhas mãos. Elas, elas se transformam, e também soltam fogo, como as do Salgueiro. Sou bom com armas, e consigo forjá-las usando o fogo das minhas mãos, e as ferramentas em que elas se transformam.

- Muito bem, muito bem, gostei, agora preciso que você transforme...

Ela a interrompeu.

- Uma espada. – Disse o garoto, ainda tímido. – Foi o que você pensou.

- Bom, bom, ótimo em ler mentes, esse é um poder que não é dado a todos, Logan, imagina se todos lessem as mentes dos outros?

Ele levantou os braços até a altura da cintura. Ficou olhando para eles, esperando que algo acontecesse. Então as mãos dele começaram a se dissolver, centímetro por centímetro, como poeira, e se recolocando, mudando de cor, da forma exata de uma espada, duas espadas, uma saindo de cada braço do garoto, e ainda assim ele não sentia dor alguma. As lâminas terminaram de se recompor, brilhando com a luz da aurora, e maiores que o próprio braço do garoto.

- Uaaul! – Exclamou uma garota perto do palco. – Genial! Genial!

- Muito bem, Logan – Disse Temosnozes –, você foi bem, agora poderia unir fogo à lâmina?

- Vou tentar.

Ele mirou a lâmina prateada, um metal parecido com o da armadura de Belle. Ele balançou os braços rapidamente, o fogo desceu de seus ombros, mas sem queimar um centímetro de pele, e incendiou as lâminas.

Temosnozes bateu palmas.

- Ótimo, ótimo, deve ser bem ruim ter uma lâmina dessas na barriga, sabe, fogo cortante, é péssimo! Tudo bem pode descer, vou chamar outro. – Ela puxou do bolso de dentro das vestes um pedaço de papel. Era uma lista, lista de nomes. – Agora... Denis McStone.

O garoto subiu no palco.

- Muito bem, McStone, o que você sabe fazer?

- Eu corro.

- Ah, quem não corre querido? Quero saber seus poderes.

- Eu corro super rápido. Mais de 500 km/h.

- Hum, bom, deve ser eficaz em fugas, quero ver isso. – Disse Temosnozes com um sorriso no rosto.

O garoto se preparou, então começou a correr, só o que deixou foi um rastro de luz, e não dava pra distinguir se ele estava ou não mexendo os músculos, só se via um vulto, cortando o caminho, ele deu uma volta inteira na orla da floresta, percorreu o caminho imenso ao redor do castelo, seguindo o leito do lago, e então subiu no palco na maior velocidade.

- Ah, você já voltou! Ótimo, adorei, mas sabes fazer outra coisa?

- Sim, manipulo, manipulo toda a atmosfera ao redor, eu sei exatamente a composição da atmosfera do lugar onde estou, e posso assegurar que esta é muito parecida com a da Terra, a não ser por um nível muito mais baixo de CO2, um dos piores poluentes da Terra.

Temosnozes aplaudiu.

- Maravilhoso espetacular!

- Posso também deixar uma pessoa sem ar, ou usar o ar ao meu favor, mudando também sua composição e direção.

- Bom, vejamos, pode mudar a brisa, de, vejamos – ela ergueu o dedo, e verificou a direção do ar –, de norte para oeste?

- Sim, muito fácil.

Salgueiro parecia interessado. Ele curvou os braços, e observou o garoto.

Denis apontou para o norte, e com o braço fez uma curva, apontando agora para o sul. Imediatamente, todos ali sentiram aquela brisa suave, tocando o rosto. Senhor Salgueiro sorriu.

- Ótimo, ótimo, chame outro, Nozes.

- Cintia e Caroline Gringes. – Chamou Temosnozes.

- Aqui! – Duas gêmeas no meio da multidão ergueram o braça, e caminharam até o palco. Uma não era nada parecida com a outro, mas os movimentos das duas eram perfeitamente sincronizados.

-Muito bem, o que vocês sabem fazer?

- Somos como armas. – Disse Cintia.

- Fazemos tudo juntas. – Disse Caroline.

- Lançamos bolas de plasma, de fogo, raio lasers entre outros, e também podemos imitar qualquer tipo de arma que poça existir. Sempre juntas, é claro. – Disseram as duas em coro.

- Muito bem, gostaria de ver isso. Não querem um alvo que possam acertar, ou uma barreira, ou algo do tipo? Sou ótima nisso.

- Sim, pode ser.

- Temosnozes fez um gesto com a mão, um tipo de aceno, de baixo para cima, e do lado direito do palco surgiu uma barreira, como uma parede, amarronzada.

- Ótimo, bolas de plasma, certo Caroline? – Disse Cintia virando-se para a irmã.

- Claro!, com as bolas de plasma podemos desconstruir isso que você fez em um segundo.

- Bom isso é o que veremos.

As irmãs deram as mãos, e então começou a acontecer algo parecido com o que aconteceu com as mãos de Logan, se desfazendo e se reconstituindo, mas em outra forma, mudando também de cor. Quando a transformação terminou, Ricoh percebeu que as mãos delas tinham sido ligadas uma na outra, formando um círculo pequeno, de onde começou a sair uma luz azul-marinho, formando uma bola de plasma. A bola disparou do círculo, e atingiu a parede em alta velocidade, fazendo uma fumaça esverdeada sair da barreira, mas quando a fumaça desapareceu, não havia mais barreira alguma. Só o palco.

- incrível! Invencível, insubstituível! – Exclamou Temosnozes. – Agora, vejamos Sarah Bacht!

Sarah começou a caminhar em direção ao palco. Todos olhavam para ela, como se não esperassem muita coisa. Mas ela continuava a caminhar com a cabeça erguida.

- Então, Sarah, já conhece alguns de seus poderes? – Perguntou Temosnozes fazendo cara de curiosa.

- Sim, sei, tenho inteligência lógica e agilidade. Posso lhe assegurar que não sou atingida muito facilmente por bolas de plasma, raio lasers, e nenhum tipo de arma a não ser espada, que ataca diretamente o oponente é capaz de me atingir, se eu estiver parada. Posso prolongar o tempo para dar a chance a mim mesmo de fugir, enquanto a bala fica parada no ar, ou qualquer outra coisa que joguem em mim, e também posso mudar de direção a mesma.

- Ótimo e sua arma?

Ricoh ficou curioso, nunca tinha visto a arma de Sarah antes. Ela segurou o colar, que se soltou do pescoço dela. O pingente da aurora desapareceu, e o colar ficou mais fino, mais brilhante. Ela virou-se para Temosnozes e disse:

- Pode cortar qualquer coisa, menos o metal da armadura da Isabelle.

- Hum, vejamos, eu vou criar barreiras, e jogá-las contra você e...

Sarah a interrompeu.

- Não, não pode deixar que eu faça isso, também manipulo a Terra.

Ela segurou o colar pela ponta, olhou para o chão na frente do palco, e as pessoas se afastaram, deixando uma grande pedra marrom subir. Sarah esperou um pouco, então abriu os braços. Passou-se um minuto inteiro, e só o que todos viram foi à pedra caída do outro lado do palco, cortada ao meio. Além de desviar a pedra, ela a cortou com o colar.

- Se a espada de Logan corta, não sei o que esse colar faz, mas sei que ele vai te servir muito! – Disse Temosnozes aplaudindo. – Muito, muito bom mesmo.

Mas Sarah não viu que outra pedra saiu do chão direto para ela, Ricoh entendeu que era Temosnozes testando Sarah. Então, a apenas um metro Sarah deu um salto e com um giro rebateu a pedra, também cortada ao meio.

- Super agilidade! – Temosnozes impressionou-se. – Muito bem, Sarah, agora vamos ver, Ricoh Lewis!

Ricoh sentiu as borboletas na barriga. Nervoso, essa era a palavra. Ele se adiantou para o palco, e subiu. Ouviu um murmúrio, os outros jovens não tinham esquecido da primeira amostra de seus poderes, e não iriam gostar da segunda. Ele chegou perto de Salgueiro e sussurrou:

- Por favor, posso não ter que fazer isso? Eu não sei como, não conheço nenhum dos meus poderes! Eu nem sei se tenho poderes!

- Posso lhe assegurar que você é o Astrano mais forte daqui. – Disse Salgueiro, dando um tapinha no ombro de Ricoh e cruzando os braços novamente.

Ele caminhou até Temosnozes.

- Eu juro que não sei como fazer isso.

- Você vai saber, é só respirar fundo.

Ele ficou no meio do palco, e esperou, esperou. Nada aconteceu. Só saíram duas faíscas verdes da ponta do dedo do garoto. Todos vaiaram.

- Esse Hidarck não tá com nada!

- Eu já disse que ele não é o Hidarck, ele só tem os poderes dele!

- Há, e como ele tem os poderes do Hidarck, se só consegue soltar faíscas com a ponta dos dedos?

Ricoh não agüentou. Desceu do palco, correndo para a floresta. Não agüentou ouvir aquilo, e no momento em que ele pisou na orla da floresta, sentiu aquele formigamento familiar nas costas, e sua camisa se rasgando. Suas asas tinham crescido. Ele agora as batia de tal forma, que não tardou a subir dez metros de altura, planar do ar, observando as flores. Virou para trás e viu os olhares atentos da multidão boquiaberta.

- Ricoh, volta já aqui! – Gritou Salgueiro.

Ele não deu ouvido. Precisava descansar pensar em tudo o que estava acontecendo. Não se importava em ser atacado por casus, só queria ficar sozinho, pensando.