Os Filhos da Aurora.

A explicação definitiva, e a tristeza...


A explicação definitiva.

- Peraí, como assim, Ângelus Fustibus? E por que você está tão assustada? – Disse Ricoh, virando-se para observar as ótimas asas, por cima do ombro (Ele estava louco para testá-las).

- Como assim Ângelus Fustibus, e não era pra eu estar assustada? Garoto, você é o descendente do Astrano mais poderoso de todos os tempos!

- Mas isso não é bom?

- NÃO! – Berrou a garota, o que deixou Ricoh ainda mais preocupado.

- Mas por que não, se eu sou um dos mais poderosos, posso ser muito útil! E como é que eu sou o descendente dele, se todos nós nascemos... eu diria... de uma mesma mãe!

- Não!, é parecido com a reprodução dos humanos, mas ao invés de sêmen e óvulos, tem o que nós chamamos de Deveolo da aurora! Um ovo que provém do impacto das moléculas, átomos, e muito mais, é complicado, complicado! É um tipo de ovo, um presente da aurora, que simplesmente acontece quando os Astranos têm suas relações.

Ricoh ficou pensativo. Então era por isso que Temosnozes os chamava de filhos da aurora. Observava suas asas por cima do ombro, depois lançava um olhar triste para a armadura astrana de Isabelle, desejando estar em casa com seus pais, então passou por sua cabeça que talvez seus pais humanos não seriam realmente seus pais. E agora Ricoh sabia o que era ser adotado por pessoas totalmente diferentes de seus pais genéticos.

- Então... meus pais humanos... eles não são meus pais biológicos?

- Claro que sim! Mas é claro que sim, Ricoh! Achei que Temosnozes tinha te contado! Eles também são astranos, são seus pais só que não se lembram disso. Foi apenas um teste – Disse Isabelle olhando para o vazio -, seus pais eram voluntários, queriam saber como era viajar para outros mundos, outras dimensões. Eles foram os primeiros a ir, Ricoh. Só que algo deu errado, e eles acabaram perdendo a memória, durante a transformação para a forma humana. Deixaram você com Temosnozes e Salgueiro, os melhores amigos deles, e se algo desse errado, eles cuidariam de você. Eles conseguiram resolver o problema da máquina, quando você tinha apenas dois anos, e como o tempo passa muito diferentemente entre essas duas dimensões, você foi enviado como um bebê, o bebê deles, mas apagaram sua memória astrana também. Então aqui está você. O Ângelus Fustibus deve ser seu tátara, tátara, tátara, tátara avô.

- E o que tem de mal eu ter herdado os poderes dele? – Perguntou o garoto, ainda triste com a história, mas interessado em saber sobre seu avô.

- Ele... – Começou a garota, com uma nítida cara de dó, olhado bem no fundo dos olhos de Ricoh, que agora dançavam a mesma dança da aurora, com as mesmas lindas cores. -, Ele foi o astrano que começou toda essa guerra com os Casus, e algumas outras raças. Ele era o maior e mais forte. Mas um dos únicos que não sabiam lidar com seus poderes. Ele adorava a luta com os Casus, mas por que ele agüentava, matava muitos, era tão sanguinário quanto eles, mas os Casus passaram a atacar qualquer astrano que vissem pela frente, no início com medo, mas agora eles estão descontrolados. Querem mais e mais sangue, como o seu avô. – No final dessa conversa, os dois já se encontravam sentados no chão.

- Tah, mas ele, era assim, não eu!

- Ai está mais um problema. Quando um astrano herda os poderes de um ancestral, ele acaba herdando também sua personalidade. No caso do seu ancestral, uma personalidade enganosa, e doentia, sanguinária...

- Ta, para, para! – O garoto não agüentava ouvir mais aquilo. Mas sabia que dentro de si mesmo, não existia nada de parecido com seu ancestral. Somente estes poderes, que, pensou o garoto, não eram nada de mal.

Ricoh ficou coma a face aturdida. Não sabia se impressionava-se mais com a história dos pais, ou com sua descendência. O garoto começou a sofrer por dentro. Mas por fora, a garota Isabelle conseguia ver nitidamente seu sofrimento. Ela deu um longo apertado e demorado abraço no garoto, deixando seu coração mais quente, e em outro caso ele até teria adorado o abraço, mais que adorado, ele teria amado aquilo tudo. Mas agora ele só pensava que aquilo não fazia sentido, não tinha como, ele só podia ter sido envenenado, um veneno que te prende em um sonho triste para sempre, mas aquilo tudo (o garoto já tinha comprovado), não era mais que a triste e pura realidade. Uma distante da realidade dos humanos, uma realidade em outro mudo.

- Vamos – Começou o loiro, em um tom desagradavelmente triste. Precisamos chegar logo ao Magna-movens, e eu preciso também encontrar Sarah. Vou contar a ela tudo o que descobri sobre mim. Quero saber a opinião dela.

- Sim, eu também preciso encontrar o David, ele deve estar precisando de ajuda. – Disse Isabelle, olhando para o vazio. – Ricoh... eu... sei que você está triste, e... eu também, por você, mas... eu quero que saiba, Ricoh, que não tenho nada contra você, e que confio que nem um mal você fará para mim. Você é gentil, eu acabei de descobrir isso, quando você me ajudou com o corte no pé, ai, da próxima vez que eu passar por um córrego, vou prestar muita atenção se não tem uma daquelas plantas idiotas BEM NA MINHA FRENTE!

- Vamos, Isabelle, quero chegar logo lá. Vou ter uma conversa com Temosnozes. Aliás, por que será que o nome dela é Temosnozes?

- Temosnozes é a tradução do nome dela para a língua falada em seu mundo. É por isso que eu prefiro meu mundo, que não tem nem uma diferença de linguagens. A mesma língua falada aqui, é a que falam nos quatro cantos deste mundo. Eu estava estudando seu sistema solar, e sabe o que eu descobri?

- Hã?

- Nosso mundo é do tamanho de Júpiter, um pouco maior, e mais bonito hehe! – Os dois já estavam caminhando, seguindo o leito do rio.

Ricoh sentia-se afetado por aquele céu escuro, com estrelas. Por que será que só existe noite naquele lugar estranho? Ele ainda tinha que digerir toda a história sobre a reprodução astrana, o que o deixou muito confuso. Como era difícil acreditar que tudo aquilo não passava da verdade! Uma triste verdade.

Ele olhou para os pés de Isabelle, que nem tocavam o chão.

- Isabelle, você pode voar! – A garota olhou para ele como se aquilo não fosse nenhuma novidade.

– Isso não adianta, agora, Ricoh.

- Como não, Isabelle, a gente pode ir voando! Chegaremos mais rápido, e ainda podemos ajudar os outros.

- Não, a gente não pode ajudá-los, Ricoh, para ganhar os poderes eles têm que vir sozinhos. Eles têm que passar por todos os perigos, e vir até aqui, só assim ganharão todos os poderes de que precisam.

- Tudo bem. Mas vamos LOGO!

O garoto não sabia nem como começar. Ele simplesmente imaginou suas asas se abrindo, seus músculos todos se movendo, e então já podia sentir. Sentir seu coração batendo mais forte, seus membros movendo-se, tudo em seu corpo cooperava para o trabalho das asas, e quando viu ele já estava correndo, pegando impulso com os pés, e já podia então sentir o ar batendo em seu rosto, e os pés não tocavam mais o chão. Ele olhou para trás, e viu que Isabelle o seguia, ela voava sem asas, tinha o poder de tele cinese, podia flutuar e mover as coisas apenas com a força do pensamento. Ricoh viu também que a lança da garota flutuava ao seu lado, e então olhou para o colar, mas ao invés de ver um pingente de clavas, viu uma águia, uma águia diferente, de cores vibrantes, é claro, mas era nitidamente uma águia.

Os dois passaram pelo túnel duplo, seguiram para a saída da galeria, e já conseguiam ver a luz da aurora brilhando lá fora. Mas quando saltaram de dentro da galeria, não viram ninguém na floresta, então escutaram gritos, gritos de felicidade, parecia que todos os Astranos já tinham chegado ao santuário. Então, pensou Ricoh, existiam outras entradas para o santuário, todos estavam reunidos no Primo Major, o Castelo principal do Magna- movens.

Isabelle e Ricoh saíram da floresta em alta velocidade, e Ricoh que não sabia usar as asas muito bem, não conseguiu para a tempo de atingir uma mesa do Primo major. Todos se calaram. Ricoh levantou-se rapidamente, e as pessoas pareciam prestar mais atenção nas asas do que nele. Eles se assustaram e começaram a se afastar, e a cair uns em cima dos outros, então Temosnozes e Salgueiro apareceram na frente de todos, e um círculo foi formado ao redor do garoto, só Isabelle ao lado dele, e Sarah, que acabara de chegar. O mundo começou a girar. Os olhares maldosos das pessoas de alguma forma afetaram Rioch, ele ainda estava fraco, depois da transformação, e muito preocupado. A pressão do loiro caiu bruscamente, o mundo escureceu em frente aos seus olhos. Ele tinha desmaiado.

- Ricoh, Rioch! – Berrou Isabelle. – Afastem –se!

- Não vêem que ele está passando mal?

Um garotinho saltou do meio da multidão e falou:

- Afastem-se vocês deles, não vêem que ele é o filho do Sanguinário?

SANGUINÁRIO. Então era assim que ele seria chamado. O herdeiro do Sangunário.