Era uma noite de inverno como várias outras na floresta britânica com muitas estrelas no céu e a lua se encontrava em seu resplendor máximo, poderia se dizer que aquela era uma noitada tão comum como todas as outras naquela região se não fosse, é claro, os gritos atípicos e estridentes de uma mulher em trabalho de parto pela inabitada região.

Em um chalé não tão perto de uma pequena vila simples da Inglaterra, se encontrava uma mulher de cabelos longos e castanhos, de aparência esquelética e acinzentada de tão magra que estava, a não ser pela sua enorme barriga que carregava dois bebês muito incomuns. Um homem de pele azeitonada e de aparência muito mais saudável que a moça, ele possuía músculos que indicavam força, feições rústicas, olhos vermelho-vibrante e cabelos curtos tão escuros quanto o breu do anoitecer.

A mulher gritava incessantemente enquanto o homem se esforçava para fazer o parto das proles da maneira mais rápida possível. Quando a primeira criança foi retirada, um menino, os gritos cessaram pelo curto período de tempo em que a recente mãe segurou seu filho e o nomeou, antes de iniciarem novamente, pois o outro bebê que mantinha-se na mulher já estava pronto para vir ao mundo, desse modo de forma apressada o homem retirou a segunda criança que dessa vez era uma menina e entregou a sua mãe que a segurou carinhosa e a nomeou.

Foi quando ela sentiu seus braços fraquejarem e sua visão começou a escurecer, o parteiro percebeu isso e se desesperou, pegou a recém-nascida dos braços da moça e a colocou embrulhada em pano ao lado do irmão em um cesto próximo, fez tudo isso em uma velocidade sobre humana. Ele ouvia os batimentos cardíacos da jovem diminuírem e sua respiração pesar, consumido pelo nervosismo o moço partiu para cima da ex-gestante deixando mordidas em todo seu corpo esperando que seu veneno fizesse efeito e salvasse a vida da mulher.

Três anos depois, nesse mesmo lugar, neste mesmo chalé houve uma terrível tragédia envolvendo a vila vizinha e entre gritos, choros, raiva, medo e fogo um massacre foi feito, onde apenas três pessoas conseguiram sobreviver. O resultado de toda aquela violência foi uma pilha de corpos sendo queimadas em uma enorme fogueira, enquanto uma garota de aparentemente 11 a 12 anos chorava sem parar de maneira angustiada e com amargor, no chão bem aos pés da fogueira.

Ao lado dela se encontrava um garoto loiro da mesma idade que ela, ele estava de joelhos olhando de forma desolada para os corpos amontoados e em processo de incineração, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos e seus lábios tremiam perturbado demais com a visão, nenhum dos dois conseguia pronunciar uma única palavra.

Porém, mentalmente ambos imploravam para que aquilo não fosse real, rezavam para ser apenas um sonho ruim, esperavam acordar logo e correr por seu jardim novamente que agora jazia em chamas, voltar à aldeia para comprar pães doces feitos pelo senhor Williams, o padeiro da vila, e dividi-los entre si e com sua mãe, ter uma tarde alegre novamente fazendo um piquenique e brincando com as crianças do pequeno povoado, eles não podiam acreditar que tudo aquilo havia acabado e fora reduzido a cinzas daquela maneira.

Nenhum deles nunca quis que aquilo acontecesse, deveriam ter ouvido sua mãe e feito o que ela mandava, mantido seu segredo seguro, se não tivessem sido tão imprudentes isso jamais teria acontecido, foi o que pensaram naquele momento. Ou talvez, toda aquela situação seria inevitável e tudo resultaria na visão cheia de morte, sangue e chamas que estavam tendo? Eles eram diferentes, nunca seriam aceitos e isso havia sido provado naquela noite.

De longe, o único sobrevivente adulto dentre os três, os observava com pena, tristeza e raiva ao mesmo tempo, tanto em seu olhar quanto em seu coração. O homem apertou os punhos e se dirigiu até aquelas pobres criança desafortunadas, colocou suas mãos sobre o ombro de cada uma delas que o olharam surpresas, e com a voz firme o ele pediu que elas levantassem e disse que eles precisavam partir daquele lugar o mais rápido possível.

No começo, apesar de não quererem deixar seu antigo lar e consequentemente sua vida para trás, não houve protestos de nenhum dos lados, ambos agarraram as mãos do homem e seguiram com ele, era melhor do que permanecer naquele lugar.

A partir daquele momento, aquelas crianças estavam sobre seus cuidados, haviam se tornado suas, ele era a única coisa que eles tinham e o mesmo valia para ele, desse jeito decidiu que cuidaria delas, as daria uma vida pela qual valeria a pena lutar, as protegeria e as manteria perto de si, custe o que custar.