O desjejum foi frugal e rápido. Copos pouco cheios de caf e pães instantâneos insípidos, sem qualquer recheio que lhes assentou no estômago como pedras, mas era isso ou nada. Os androides tinham as baterias recarregadas e Threepio até tivera direito a um banho de óleo, escasso quanto as refeições dos humanos e do wookie, ele também não se queixou. Eram plenamente cientes da precariedade daquele abrigo e não era uma opção para uma residência permanente.

Leia limpou-se do suor do treino com a ajuda de toalhas molhadas que passou no rosto, no colo e debaixo dos braços. O mesmo fez Luke e o Jedi teve de partilhar as toalhas com Han e Lando, pois não haviam muitas. As condições para um banho completo eram inexistentes e outra vez não houve reclamações.

Fizeram uma pequena reunião tática no exterior. Amanhecia na floresta e naquela zona do planeta, a temperatura subia dissipando a neblina, conferindo cores vívidas ao lugar. As aves despertavam ruidosas nos ninhos e uma melodia estridente preenchia os espaços que estavam silenciosos.

Foi a princesa que tomou a palavra e presidiu à reunião. A sua liderança foi aceite tacitamente. Estavam ali, em última análise, em nome da Nova República e Leia era uma senadora eleita, tendo sido ela também que, na noite anterior, delineara a estratégia que serviria de plano para as suas próximas movimentações, pelo que aquela posição lhe coube naturalmente.

Ela anunciou, de costas hirtas, autoritária e um pouco ríspida:

— Eu, Luke e Artoo ficaremos com o speeder que me serviu de transporte até este lugar e seguiremos para a capital do planeta, onde solicitaremos uma audiência com o regente que neste momento governa Hkion. Sei que será uma petição difícil, dado o tratamento que foi dado ao cavaleiro Jedi enviado em nome do Senado Galáctico. Sei também que não fazemos ideia de quem será esse regente, mas enquanto os príncipes estiverem afastados do poder e a preparar-se para lutar, alguém certamente está a assumir a governação, alguém que é imperioso descobrir para aferirmos das suas lealdades e perceber o que conhece sobre os mistérios que Bekbaal nos revelou, nomeadamente os fantasmas da névoa e os clones mineiros. General Solo, general Calrissian, seguirão na Millenium Falcon com Chewbacca e com Threepio para o planeta gasoso que possui nas suas luas as famosas minas de ouro de Hkion. Deverão apenas observar a e reportar, não quero provocações, nem confrontos diretos.

Neste ponto, Han revirou os olhos. Leia engrossou a voz:

— O meu pedido é perfeitamente atendível e explicável com a escassez de meios à nossa disposição, general Solo. Não pretendo que caiam numa cilada e nem pretendo que estendam uma emboscada às nossas tentativas de negociação com o regente. As perdas nesta missão não são aceitáveis e teremos baixas, obviamente, se partirmos para uma situação de força.

— As baixas incluem feridos? – perguntou Lando.

— Feridos… e mortos – explicou Leia com uma ligeira tremura das mãos. Cruzou os braços para escondê-las. – Se algum de nós ficar debilitado ou mesmo perder a vida, a Chanceler será obrigada a revelar que nos enviou para cá numa missão secreta e não sancionada pelo Senado, o que a colocará numa posição fragilizada perante os partidos da oposição.

— Para além do aborrecimento de morrer – comentou Han.

— Hkion não significa muito no esquema político galáctico, mas haverá aqueles que se irão aproveitar de uma situação atípica para minar a autoridade de Mon Mothma e fazer passar uma moção de censura que leve a que os Centristas consigam mais destaque nas reuniões senatoriais. Os Centristas apoiam os métodos do Império Galáctico, são adeptos fervorosos de uma República mais musculada, digamos assim. Um eufemismo para uma ditadura. Depois, se é mesmo verdade que existe um exército de clones, ora aí está uma arma suficientemente apelativa para que os Centristas a aproveitem.

Lando interveio outra vez:

— O que iremos, então, observar e reportar?

— Em suma, o vosso objetivo é verificar a existência do exército de clones, apurando o maior número de detalhes possível, como números, produção, instalações onde são fabricados, tecnologia. Vocês serão infiltrados. Máxima discrição. Mínimo risco.

— Veremos. Não iremos para um local pacífico e seremos espiões – remoeu Han.

— Threepio irá ajudar-vos com os relatórios. Ele é muito bom a compilar e a sistematizar dados. Será muito útil nesse requisito e, por favor, utilizem-no até à exaustão.

— Muito obrigado pelo voto de confiança, Alteza – agradeceu o autómato.

— Da minha parte e do Luke, teremos Artoo para nos colocar em contacto permanente. Uma das razões para que iremos tentar penetrar no palácio é precisamente para nos servir de quartel-general camuflado e o vosso posto recuado. Artoo irá estabelecer uma linha de comunicação segura e encriptada, tal como fez ontem para Chandrila, para que possamos enviar sem outras delongas o relatório que vocês apurarem para a Chanceler. Mesmo que não consigamos escapar do sistema e aqui fiquemos retidos, a Nova República terá a informação necessária para agir com maior legitimidade e menos secretismo. Deverão regressar para a capital quando deixarem a vizinhança do gigante gasoso onde nos voltaremos a reunir. Compreendido? Alguma pergunta?

— Não, Leia. Foste bastante clara e o teu plano… poderá resultar – disse Lando.

— Terá de resultar, não temos outro e estamos rodeados de inimigos – emendou ela resoluta. Havia uma faísca de determinação no seu olhar.

Han disse:

— Bem, se está tudo acertado… Vamos andando. Temos muito trabalho à nossa frente.

— Han – chamou Luke –, como pensam regressar à Falcon?

— Da mesma maneira com que chegámos até aqui, miúdo. Pelo nosso próprio pé. A Falcon não está longe. Aterrámos na orla da floresta.

— Não, nem pensar. Iremos dar-vos uma boleia no speeder.

— Se a Falcon não está longe, eles podem fazer o caminho de volta – cortou Leia. – Não podemos ser vistos juntos.

Lando suspirou, mirando as árvores da floresta. Pareciam-lhe todas iguais, mas fazia uma pequena ideia que rumo tomar para que regressassem à nave. Aquela história já era perigosa demais para que Leia e Han se pusessem com joguinhos por causa de uma qualquer bronca conjugal.

— Por que não? Nós estamos juntos! – admirou-se Luke.

— Sabem o caminho de volta, não se irão perder? – indagou Leia. – Podemos facultar-vos um mapa portátil eletrónico, com uma rota segura e rápida, mais direta. No speeder temos o mapeamento da floresta e da maior parte dos lugares do planeta.

— Sem problemas, querida – respondeu Han e deu meia volta, chamando Chewbacca com um assobio que lhe rosnou o que pareceu uma observação mordaz.

Ela cerrou os lábios, zangada. Também deu meia volta e encaminhou-se para o speeder. Artoo rolou para trás e para diante, indeciso se devia segui-la, se ficar com Luke que olhava da irmã para o amigo. Threepio seguiu Han. Estacou ao lembrar-se de um pormenor. Aproximou-se de Artoo, bateu-lhe na cúpula dizendo que se voltariam a ver, mais tarde e desejou-lhe sorte seguido de um “oh, céus” murmurado. Lando esperava ao lado de Chewbacca.

Luke apanhou o braço de Han.

— Vocês precisam de resolver isto…

O rosto do corelliano estava pálido. Gracejou, mas a alegria estava longe das suas palavras:

— Primeiro temos clones para desmantelar e fantasmas para espantar. Hum, miúdo? Provavelmente depois de Hkion. O que me dizes?

— Isto não está certo.

— O que queres? Ela é teimosa e eu também sou… Cuida dela, miúdo.

— E tu cuida de ti. Não quero que o meu sobrinho nasça sem um pai.

— Eh, soubeste isso por causa da Força, não foi?

Luke acenou que sim, envergonhado. Seria porventura um segredo e ele tinha-o descoberto por meios ilegítimos e dissimulados. Talvez nem devesse saber, já que Leia e Han guardavam essa novidade para si, escondendo-a da galáxia.

— Estupendo. Cuida também de ti. És o último Jedi, provavelmente a criança vai nascer com esses poderes esquisitos e tu vais treiná-la.

— Primeiro, os clones e os fantasmas.

— Certo!

— Que a Força esteja contigo.