Os príncipes Kar’kion e Gil’kion disponibilizaram a sua guarda pessoal. Não eram muitos homens, apenas uma pequena secção de vinte elementos leal a cada principado, num total de quarenta, armados com pistolas laser ligeiras. Tinham de servir e Han aceitou aquela escolta até ao complexo palaciano.

Realizou uma pequena reunião tática com ambos os sargentos que estavam providencialmente equipados com mapas holográficos da capital. Era uma vantagem óbvia, já que Han e companheiros não conheciam as melhores vias, nem sabiam o trajeto ideal para alcançarem o monte onde se situava a cidadela que albergava os palácios.

Han promoveu-se a comandante da missão e ninguém ousou contestar essa decisão repentina. O exército dos clones avançava resoluto pela capital e estava já a ocupar os lugares-chave que o faria controlar a cidade dentro em breve, cortando linhas de comunicação e de abastecimento. No espaço havia ainda a ameaça de um antigo cruzador estelar do Império que podia desequilibrar a situação a qualquer instante. Era uma jogada muito arriscada com tão poucos meios, mas a realidade era que os príncipes não tinham nenhum exército sob o seu comando. Mencionaram brevemente os fantasmas da névoa e calaram-se quando Han lhes tinha revirado os olhos, aborrecido com a confiança que colocavam num bando de espíritos incorpóreos.

Os príncipes não se mostraram hostis ou relutantes, embora desavindos e em campos opostos de uma batalha surda que demorava havia demasiado tempo. Também não olharam um para o outro e evitaram a proximidade como se existisse, em redor deles, um campo de forças que os excluísse mutuamente. Han comunicou-lhes brevemente o que iriam fazer – subir uma avenida, esperando encontrar pouca resistência no seu avanço, eliminar quem se atravessasse no seu caminho – e os dois príncipes, como num reflexo um do outro, concordaram. Pediram apenas para seguirem na retaguarda da incursão, juntamente com os seus séquitos. Han tentou explicar-lhes que não teriam ninguém para protegê-los, mais os respetivos séquitos que incuíam obviamente civis, ele precisava de todos os homens da sua guarda pessoal e os príncipes sorriram, novamente como se tivessem ensaiado aquilo para que agissem e reagissem ao mesmo tempo.

Eram dois clones e moviam-se como se ignorassem o facto. Ou talvez o ignorassem mesmo.

A progressão pela avenida escolhida foi até bastante rápida, tendo em conta que o cerco se apertava. O exército da capital posicionava-se em locais importantes e ia fechando o perímetro à sua volta, para capturá-los.

Tomason revelou-se ser um bom aliado, naquela ocasião. Tinha boa pontaria e não hesitava em disparar a matar. Encolhia os ombros, abria um sorriso com um certo laivo de crueldade e depois dizia, sem qualquer pinga de remorso, que não eram humanoides, eram coisas que ele tinha fabricado. A bem dizer, tinha-os visto a todos nascer e agora destruía-os para que fossem reciclados. Era ligeiramente chocante, mas depois Lando começou a alinhar pelo mesmo compasso e iniciou uma competição de tiro com o taanabiano. Mais um pouco, cogitou Han enciumado, tornavam-se amigos inseparáveis.

Chewbacca ganiu de dor ao receber um tiro de raspão no braço esquerdo. Como reflexo, voltou a besta laser artesanal para o local de onde partira o disparo e derrubou um clone, que sumiu-se numa explosão de faíscas. Threepio lamentava-se alto de cada vez que um raio laser passava demasiado perto, mas foi estranhamente eficiente e profissional ao avaliar o ferimento do wookie.

— General Solo, o corte não é muito profundo, mas vai precisar de cuidados.

— Chewie, consegues aguentar-te? Estamos quase lá. Ótimo, companheiro… sim, eu sei que dói. De acordo com o mapa holográfico o portão principal dos muros do palácio é já depois daquela esquina. Basta avançarmos mais alguns metros-padrão e chegamos.

— E se o portão estiver a ser guardado por clones? – perguntou Lando, ofegante.

Tomason disparava e agora ria-se, divertido.

— Mandamos o teu novo amigo à frente. Ele está imparável.

— Ele não é meu amigo. Mas é bom de pontaria e…

— E não se importa de destruir a sua própria mercadoria. Conheci contrabandistas assim. Um esquema com seguros. Ganhavam duas vezes. Até serem descobertos e acabarem mortos numa cantina desconhecida da Orla Exterior. – Disparou um tiro, abateu um clone e fungou, desdenhoso.

— Ele está a safar-nos a pele.

— Estás a defendê-lo. Nem parece teu, Calrissian. Julgava que o querias pelas costas…

— A discutir por causa de mim! – ironizou o taanabiano a juntar-se a eles. – Estou a ficar sensibilizado.

— Não abuses, Tomason – ameaçou Han, irritando-se. – Continues a ser nosso refém.

— Ótimo! Prefiro ser vosso refém, a ser vosso aliado.

O corelliano abanou a cabeça, admirado com tamanha petulância. Eram, no entanto, demasiado parecidos para o seu gosto. E ele desconfiava de que Lando sabia isso também, o que o deixava incomodado. Podiam ser um grupo, se não existisse tanto passado recheado de erros entre eles. Talvez noutra vida, pensou despreocupado e varreu esse problema da sua cabeça.

Os lamentos de Chewie, os silvos dos tiros laser e o cheiro acre dos rebentamentos próximos apressaram-nos. Chegaram ao portão que estava espantosamente deserto e aberto de par em par. Para além das pilastras elaboradas que sustentavam os gonzos abria-se uma estrada empedrada em aclive, bordejada por estátuas escuras. E no fim desta, no cimo da elevação, ondulava um coro azulado de formas corporais desvanecidas formando uma barreira compacta que circulava o primeiro edifício do complexo.

Han correu como um louco, ladeira acima, gritando a plenos pulmões, pistola laser ostensivamente erguida na sua mão direita. Furou o nevoeiro azul de dentes bem cerrados e com a respiração suspensa. Depois apalpou-se e não sentiu nenhum ferimento, rasgão ou perturbação. Olhou para trás, ofegando. Tinha atravessado os fantasmas da névoa que definiam uma espécie de fronteira e aparentemente não lhe tinha acontecido nada de especial.

Clamou por Chewbacca. Em baixo, para lá do portão aberto e dos muros limítrofes do palácio, ficava a batalha campal. Explosões, novelos de fumo branco, traços de luz dos disparos trocados, berros e ordens.

— Sim, estamos perto! Para de te queixar e vem ter comigo. Não, os fantasmas não te vão fazer mal. Não me fizeram a mim… Não sei se são frios, nem sequer senti. Sobe depressa, sua bola de pelo sensível! Preciso de apoio à retaguarda.

Lando e Tomason ficaram, com os soldados dos príncipes, a deter os clones que se apercebiam demasiado tarde onde eles se estavam a refugiar e tentavam agora dificultar-lhe a criação da trincheira que os faria resistir à sua investida. Threepio subia aos saltinhos o caminho, gemendo de horror de cada vez que olhava para uma das estranhas estátuas.

Han assegurou-se de que quem ficava estava a dar conta do recado e entrou num enorme pátio ladrilhado que precedia um edifício pintado de cores escuras, com enfeites dourados a pender sujos e descuidados dos beirais, no que teria sido em tempos uma decoração sumptuosa banhada a ouro.

Não sabia se estava a escolher a direção certa, mas continuou a avançar, guiado pelos seus instintos e pelo seu coração. Com relutância admitiu de si para si que iria encontrar Leia porque gostava dela, porque sentia um verdadeiro amor por ela. Raios! Ele não queria confessar essa dependência! E nem precisava de fazê-lo, sossegou-se. Bastava encontrá-la e não explicar nada.

Chewbacca chamou-o, acenando um dos seus braços peludos. Apontou para um corredor mais adiante.

— O que foi, Chewie?

— General Solo! General Solo! – exclamou Threepio, o seu sintetizador de voz a reverberar naquele amplo salão coberto por uma abóbada de vitrais negros. – Para onde estamos a ir?

Han colocou-se ao lado do wookie. Uma galeria iluminada com projetores fixos de baixa potência, as lâmpadas fracas criavam grandes manchas sombrias, terminava numa porta fechada de batente duplo. Escutou movimento atrás de si e voltou-se, de repente. Encontrou os dois príncipes gémeos, lado a lado. Threepio tremia, transido de medo.

Kar’kion e Gil’kion, continuando a ignorar a presença um do outro, ainda que estivessem praticamente ombro com ombro, estenderam um braço em simultâneo, indicando a porta. Han crispou uma sobrancelha.

— Como é que sabem que…?

Desistiu de completar a pergunta e a sua dúvida. Não estava a gostar dos calafrios que o avisavam desses providenciais maus pressentimentos que o tinham salvado tantas vezes. Percorreu a galeria e destrancou a porta.

Endireitou as costas ao deparar-se com um quadro que não esperava, de todo, encontrar. Apontou o cano da pistola laser ao humanoide vestido com roupas vistosas, que lhe sorria de forma desafiadora e desagradável.

— O que é que se está a passar aqui? Luke? Onde está Leia?

O Jedi, parado, não lhe retrucou. Encontrava-se dependente, estranhamente daquele humanoide. Leia gritou-lhe que estava bem e o corelliano viu-a, silhueta numa pequena fresta da porta de um outro compartimento, mais adiante. Reparou em Artoo, desligado num canto. Havia fantasmas por todo o lado, a encher a sala, a pairar inertes e moles. E depois viu o velho que se chamava Bekbaal que tinham encontrado na floresta, para o qual existia um anel que o convocava e que ele ainda guardava no bolso do seu casaco. Ele segurava Leia pelo pulso.