Em breve chegariam a Hkion. Faltavam escassos minutos e Leia estava apreensiva. Mordia os lábios e os seus olhos cegos fixavam-se num ponto, sem realmente verem alguma coisa. Ela não sabia qual a melhor abordagem para lhe darem acesso à capital.

A sua presença ali era secreta e não podia revelar os seus objetivos, mas ela continuava a ser uma senadora reconhecida e famosa pelos seus feitos, imensamente divulgados, na Guerra civil. Decidiu, portanto, apresentar-se como senadora e que estava em missão diplomática para se juntar ao cavaleiro Jedi enviado previamente. Ela tinha a certeza de que não lhe iriam recusar o vetor de acesso e que seria tratada com a mesma desconfiança que haviam dispensado a Luke, logo que fosse acolhida por qualquer comitiva que fosse nomeada para recebê-la. Entretanto, contava estar já no palácio e bastava exigir uma pausa para descansar para que conseguisse chegar à prisão e tirar Luke de lá. Pela força. Um plano falho, mas que se lhe afigurava o único viável, naqueles minutos em que desligava o hiperpropulsor.

O navegador indicou-lhe as coordenadas do hemisfério Sul e ela franziu uma sobrancelha, nutrindo aquele tipo de irritação que a desconcentrava e a enfurecia.

O cargueiro fazia a sua aproximação à superfície do planeta e via-se pela janela da cabina de pilotagem o deserto situado no extremo do único continente que era civilizado e desenvolvido pelo engenho do seu povo. O androide protocolar e ela própria não conseguiam perceber a razão de os valores que recebiam na consolam serem diferentes do navegador e da paisagem vislumbrada. Deste modo, a interpelação que receberam do centro de controlo aéreo e espacial assim que penetraram na atmosfera do planeta não teria consequências se não fosse respondida – e não seria respondida – porque simplesmente fugiram do alcance dos radares terrestres e dos satélites em órbita. A desorientação momentânea era-lhes benéfica.

O cargueiro tinha aparecido e desaparecido, misteriosa e rapidamente, dos monitores do centro de controlo aéreo e espacial. Ainda levaria algum tempo até que o relatório desse voo fosse compilado, respondendo à pergunta fundamental se se teriam despenhado ou não.

Leia Organa mal acreditava na sua sorte e olhou de forma aprovadora para Threepio que, sem querer, pois não estava na sua programação ser dissimulado, providenciara uma solução aceitável para o problema complicado de fazer a aproximação a Hkion. Deu-lhe uma palmada no braço metálico e murmurou:

— Obrigada.

— Creio que cometi um erro… – lamentou-se o androide, ligeiramente pasmado.

— Um erro providencial!

Ela desapertou os cintos de segurança, levantou-se da cadeira de piloto e foi até ao compartimento onde guardava o seu casaco, a sua arma laser, uma pistola do modelo M-57, e o seu sabre de luz. Agarrou neste primeiro. Uma arma elegante para tempos mais civilizados, contara-lhe o irmão, palavras de Obi-Wan Kenobi. Por momentos sentiu que não era digna de usar essa maravilhosa espada dos cavaleiros Jedi, mas resolutamente afastou esse pensamento para não lhe toldar a coragem.

Artoo passou por ela a rolar e aos apitos, Threepio ia no seu encalço e explicava-lhe que não sabia o que tinha acontecido, reforçando a sua inocência, acaso não tivessem acreditado nele. Ao vestir o casaco, ela percebeu tudo. O erro de Threepio fora provocado por Artoo. A confiança espalhou-se pelo seu espírito, deu-lhe forças redobradas quando já começava a sentir as pernas a amolecer e o coração a desfalecer de medo. A empresa era arriscada, muito arriscada, mas agora que tinham tocado o solo agreste do maior deserto de Hkion não podia voltar para trás.

O astromec, pensou ela distraída com aquele assunto ligeiro, fora sempre adepto da transgressão e do delito. Adorava as situações fora do padrão, coisa estranha para um autómato que se regia, ou que se devia reger, por leis mais restritas e protocolos incontornáveis. Mas fora Artoo, de certeza, compreendia-o agora, que falsificara os dados de navegação e as coordenadas dos vetores, para que Threepio, que estava aos comandos do cargueiro quando este deixara o hiperespaço, cometesse o erro que tinha resultado na sua entrada na atmosfera de Hkion no lugar mais desabitado do planeta e que a cobertura dos sistemas de controlo não alcançava.

E tinham agora tempo precioso providenciado pelo erro de Threepio.

A intervenção de Artoo, por seu lado, deixou-a numa situação diferente que implicava ouro tipo de ação. Precisava agora de arranjar um transporte que a levasse do deserto até à capital, um transporte rápido de preferência. Definiu que a sua chegada seria clandestina, ao invés da ideia inicial de se apresentar como senadora. Pensando bem, era mais inteligente e seguro não ter a sua presença registada. Assim não iria tornar-se noutro refém da Nova República pelo qual podiam exigir um resgate absurdo. Ou pior, fazer um exemplo com o seu cadáver.

Arrepiou-se com essa perspetiva.

Leia enfiou a pistola laser no coldre do cinto que lhe cingia as calças, prendeu o sabre de luz ao mesmo cinto. Foi para o convés inferior, onde os androides já esperavam por ela e fez descer a rampa.

Uma baforada de ar quente irrompeu por ali adentro e ela estreitou os olhos, ao mesmo tempo que aplicava um punho diante da boca e nariz para proteger as vias respiratórias das poeiras acinzentadas que o remoinho de vento carregava.

Desceu pela rampa, as suas botas assentaram no chão que ondulava como um mar encrespado pela paisagem, em suaves montículos de cinza. O deserto era produto de um gigantesco incêndio que reduzira uma floresta frondosa àqueles despojos estéreis. Atrás de si escutou os rolamentos de Artoo, as passadas desarticuladas de Threepio.

Leia lembrou-se, subitamente, que o androide protocolar tinha enviado uma mensagem encriptada a Han Solo sobre aquela situação – que estavam a ir para Hkion para salvar Luke Skywalker. Ela não queria a ajuda de Han Solo! Ela conseguiria resolver aquilo sozinha e sem a ajuda daquele canalha imprestável que desde o primeiro minuto se insurgira contra aquela missão, que apelidou de inútil e perigosa! Porque se solicitasse a sua ajuda, dava-lhe razão de que a missão fora mesmo inútil e perigosa!

Apertou os lábios, inquieta. Podia ser classificada de perigosa, mas ainda iria recuperar o objetivo inicial de descobrir o que se passava ali. Uma vez reunida ao irmão, eles iriam tentar, numa equipa coesa e fortalecida, dois sabres de luz eram mais imponentes do que apenas um, perceber o que ocultava a desavença furiosa dos dois príncipes. E então a missão seria efetivamente útil.

O tempo que Threepio lhes tinha feito ganhar não podia ser integralmente gasto na viagem desde o deserto até à capital, onde Luke estava preso. Uma vez que as forças policiais do planeta fossem informadas sobre a intrusão dela, tornava-se imediatamente num inimigo público, os seus movimentos seriam drasticamente condicionados, ou mesmo reduzidos. Movimentar-se como uma fugitiva num mundo à partida hostil acabaria por fazer dela um alvo fácil de detetar, capturar e abater. O que não faltavam eram caçadores de recompensas e criaturas ambiciosas.

Ela olhou em volta e não via que pudesse existir um entreposto próximo ou qualquer sinal de um aglomerado populacional que lhes pudesse ser útil para lhes providenciar esse meio de transporte.

Como se lesse os seus pensamentos ou adivinhasse as suas preocupações, Artoo avançou e ergueu os seus sensores, que começou a movimentar para fazer as leituras necessárias. Apitou e girou a sua cúpula, ao que Threepio traduziu:

— Ele diz que se formos naquela direção, vamos encontrar alguém que nos poderá ajudar.

— Que tipo de ajuda? – indagou Leia desconfiada.

— Prospetores. Usam speeders velozes para não perderem o valor da mercadoria, que não pode demorar muito tempo fora das cinzas que a protege… Tens a certeza sobre isto, Artoo?

— Que tipo de prospeção fazem neste deserto?

— Pedras de grafite – explicou o androide dourado, traduzindo os apitos do companheiro branco e azul. – São o resultado da combustão a altas temperaturas das antigas árvores que aqui cresciam. A madeira era exótica, com o fogo converteu-se em grafite que depois é talhada em joias raras incrustadas em contas de vidro. As pedras não são muito fáceis de encontrar e degradam-se quando estão em contacto com os gases da atmosfera.

— E como vamos conseguir esse speeder? Partindo do pressuposto, claro, que teremos um mapa no sistema de navegação que nos conduza diretamente ao lugar onde queremos ir… a capital de Hkion.

— Oh, que inconveniente! – exclamou Threepio chocado, dando um murro em Artoo.

— O que foi que ele disse?

— Sua Alteza, perdoe-me… Mas o Artoo disse que podemos comprar o speeder com uma quantidade exorbitante de créditos. Ou, em alternativa, podemos usar as armas que temos.

Os ombros de Leia descaíram.

— Muito bem, já percebi.