Se nos últimos tempos, a banda finalmente estava vendo uma estabilidade na sua fama, o dia da apresentação com a Polo 91 reservava várias instabilidades. De manhã houveram diversos anúncios na tv e internet sobre a apresentação e o novo featuring. Obviamente, isso levantou o hype dos fãs e as duas bandas ficaram em primeiro lugar nos trends do Twitter. Enquanto isso, Magno tinha sua carteira oficialmente assinada pelos Desqualificados, antes de seguirem para os estúdios do auditório televisivo.

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Partindo do escritório do especialista em arte, os membros da DESQ chegaram bastante apreensivos na sede do canal de TV. Assim que cruzaram os portões, Ana derramou lágrimas de emoção. Nunca nos últimos anos iria imaginar que ela conseguiria ficar tão famosa a ponto de chegar ali. Imaginar todos os parentes que duvidavam de seu sonho lhe vendo no horário nobre da televisão nacional era extremamente gratificante. Chegaram todos adiantados aos camarins, os membros da Polo 91 ainda não estavam lá. Ao invés disso, alguns empresários lhe cumprimentaram em nome da banda.

— Somos os representantes deles, os meninos devem chegar mais tarde. — falou um homem alto e forte usando terno e óculos.

— Ahn, certo... mas deveríamos ensaiar antes da apresentação a música nova de parceria — comentou Ricardo, estranhando.

— Ah, fique tranquilo! Eles mandaram a letra e a melodia da canção para vocês treinarem. Agora mesmo devem estar treinando no estúdio deles também. Basta umas passadas rápidas antes de entrarem juntos para sincronizarem tudo.

Ele e Ana ficaram indignados. Achavam que era um absurdo fazer uma música desse jeito, sem responsabilidade e no improviso, temiam que o resultado fosse ruim, Ricardo até chegou a sugerir aos parceiros que cancelassem o featuring. Milena que colocou panos quentes:

— Olha, eu acho que independente da maneira deles trabalharem, é inegável que essa parceria vai ser muito importante na nossa carreira... Tem muita gente já esperando por isso, fãs e ouvintes, no geral, que podem não sair frustrados se a gente tentar fazer o que prometeu.

Ricardo coçou a nuca, ainda meio irritado, mas acabou concordando. Embora a namorada estivesse irritada também, ele era o único ali querendo, de fato, desistir, e seguir com isso, contra toda a banda, não seria nem um pouco legal. Porém, ele não sabia o que lhe perturbava mais: a ideia de ser visto como um traidor da banda ou seu fascínio por novamente Milena parecer estar mais certa do que tudo. Enquanto iam estudando a partitura enviada e trabalhando em equipe para tirar o som, Ricardo olhava de relance para a vocalista, belamente concentrada em capturar toda a emoção por trás da letra que cantaria. Perante aquela cena, mais de uma vez, o baterista sentiu um impulso de querer terminar. Terminar seu namoro esfriado com Ana, terminar a distância entre ele e Milena. Ah, se pudesse encostar a boca naqueles lábios delicados, cravar seu corpo magro contra o corpo impiedosamente curvilíneo que Milena tinha e exatamente nos lugares certos... Cortou o pensamento. O que ele precisava era terminar aquela droga de música maldita o mais rápido possível.

O pior era que Ricardo sabia que a cantora o considerava quase como alguém "da família", por ser prima de Ana. Isso sem contar como ficaria a banda Consumar aquela paixão traria muito mais problemas do que trocar de namorada já traria. Quando se pesa os prós e os contras, é a natural que o caso não resulte em nada, só talvez em devaneios secretos na cabeça do músico, que a assistia tão de perto, resignado de que jamais aconteceria algo entre eles. Enquanto a mente dele estava nessa louca batalha de expulsão de um sentimento, Patrick, Ana e a própria Milena se empenhavam ao máximo para tocarem a melhor versão possível da música da Polo 91, que se chamava "Os Donos da Festa".

Algumas horas depois, apareceram os três irmãos que compunham o conjunto musical. Eles não estavam a fim de muita conversa, muito menos de explicar o porquê do atraso, recebendo um tratamento totalmente antipático da parte de Ricardo. Até Milena se sentiu desconfortável com a atitude do grupo, e o clima estranho entre as bandas prejudicou bastante a qualidade da música quando tentaram tocar juntos pela primeira vez.

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— Olha, preciso ser sincera: o som tá muito estranho. — a vocalista da DESQ comentou, sem-graça.

— Está sugerindo que nossa música é ruim? — perguntou o baterista da Polo 91, Kevin, com a feição fechada, acentuada pelo cabelo liso, negro e longo caindo sobre o rosto. Um dos irmãos, colocou a mão na testa e suspirou fundo. Era Nícolas, o guitarrista.

— Assinamos um contrato. Essa música precisa ser apresentada ao vivo daqui a uns vinte minutos para o país inteiro. Precisamos cooperar, não dá para simplesmente cancelar... — falou, tentando argumentar com Milena.

— Eu sei — a goiana se defendeu — Também não quero que a apresentação seja cancelada, mas justamente, precisamos caprichar mais porque do jeito que tá não vai ser nem um pouco legal...

Nícolas lhe encarou por um longo tempo, abraçando sua guitarra contra a camisa xadrez que usava. Então, assentiu com a cabeça.

— Certo, vamos tentar de novo.

Mais uma vez, os músicos tentaram tocar a música sincronizando seus sons. Eles se esforçaram mais, porém mesmo assim, tinha uma cacofonia na melodia. O som das duas guitarras e duas baterias estava se sobrepondo e gerando uma espécie de ruído nas caixas de som. Ricardo terminou o segundo ensaio sacudindo a cabeça, em desagrado. Via que Nícolas tentava abrandar as coisas com Milena claramente flertando com ela. Aquilo foi a gota d'água. Pousando as baquetas no tambor principal de sua bateria, ele se levantou e foi beber uma água, claramente querendo estar o mais longe dali possível. Ana foi atrás dele.

— Isso! Fujam! — berrou Kevin.

— Se vocês não tivessem se atrasado tanto, talvez, isso não estaria acontecendo. — era a vez de Patrick falar, irritado com a postura da outra banda também. Ele aguentou o máximo, sabendo da admiração de Milena por eles, mas até ele, goodvibes, estava ficando de saco cheio.

— Espera! Vocês não vão deixar a raiva atrapalhar nosso trabalho, não é? — comentou Nícolas, começando a ficar realmente preocupado.

Nisso, um dos empresários bateu na porta do estúdio reservado onde estavam.

— Vocês têm quinze minutos. Vamos, ajeitem esse som logo!

— Gente, ainda precisamos ensaiar muito mais.— constatou João, o vocalista da Polo 91.

— Mas a Ana e o Ricardo nem estão mais aqui! — Milena comentou, ela mesma ficando nervosa.

— Então problema deles. — comentou Kevin, que sem dar tempo para ninguém falar mais nada, bateu a contagem rítmica na bateria, forçando todos a voltar para o ensaio, mesmo sem o casal.

Sem a sobreposição de instrumentos, a música saiu absurdamente melhor. Quando Ana e Ricardo retornaram, a Polo fez questão de deixar claro que os dois estavam oficialmente de fora da apresentação. Aquilo acabou com a paciência do baterista da DESQ que acabou sendo carregado para fora do estúdio por seguranças, depois de atirar suas baquetas na direção do outro baterista falando:

— então, toma!

Até Ana ficou chocada.

Foi esse o clima em que a banda estava quando, enquanto caminhava furioso, se livrando dos braços fortes dos seguranças e fugindo para longe dali, o baterista foi abordado por um homem armado dentro de um carro.