— Ei Finn, venha cá ajudar o seu velho! – Um homem de meia-idade, beirando os quarenta, gritou do lado de fora de uma pequena casa.

— Estou indo, pai! – Um adolescente gritou da cozinha, enquanto comia rapidamente seu café da manhã, se preparando para sair.

Os latidos do cachorro dele que estava do lado de fora pareciam convida-lo a sair também.

— Calma Jake, eu estou quase acabando aqui. – O jovem sorriu enquanto comia ainda mais rápido.

— Com devagar, Finn! – Uma voz calorosa e feminina o avisou, ao entrar na cozinha.

— Tá, mãe. – O garoto revirou os olhos, enquanto terminava.

Esse garoto é, obviamente, Finn Mertens, alguns dias antes de encontrar a coroa.

Essa pequena fazenda no interior era tudo o que a sua família, composta pelo seu pai, sua mãe, seu irmão e seu cachorro, possuíam. E era dela que vinha todo o sustento.

Finn tinha acabado de completar dezessete e em alguns anos ele iria herdar as responsabilidades de seus pais e teria que cuidar da fazenda.

Apesar dessa vida simples e bucólica, Finn era genuinamente feliz.

Todos os dias eram gastos junto das pessoas que ele mais amava e, é claro, ao lado do seu cachorro, Jake, e da sua mula, Bartram.

Algumas vezes por mês, Finn montava em Bartram e iria para a cidade vender o que sua família produzir e comprar o essencial para viverem.

Porém existiam diversos perigos com os quais ele tinha que tomar cuidado. Nessa região do interior, a incidência de assaltos era bastante alta. Sendo a Trupe do Destino o grupo mais famoso. Ela “oferecia” serviços de proteção para todas as fazendas que ficavam distantes da cidade.

Mas é claro que esse era um serviço pago e todas elas deveriam pagar mensalmente o valor estipulado pelo Destinão, o líder do grupo.

E embora a extorsão fosse óbvia, a Trupe do Destino tinha quase uma centena de membros, então como seria possível que alguns fazendeiros do interior pudessem se rebelar contra ele?

E além de estarem em desvantagem numérica, todos eles conheciam histórias sobre as fazendas que se recusaram a pagar o que deviam. Todas que moravam nelas eram mortos e a fazenda era queimada.

Então, quando Finn tinha que comprar comida e outras coisas, ele sempre tinha que se atentar para o tanto de dinheiro que sobrou, para ter o suficiente para que o Destinão não jogasse sua ira na fazenda de seus pais.

Mas Finn odiava tudo isso.

Porque diabos ele tinha que dar dinheiro para um babaca daqueles? Ele queria simplesmente viver uma vida tranquila com seus pais.

Na verdade, o que ele mais queria era dinheiro. Pois para Finn, enquanto ele tivesse dinheiro ele seria capaz de se tornar um lorde, tendo poder e muitos guardas. Se ele fosse um lorde, ninguém ousaria extorqui-lo como a Trupe do Destino.

Quando ele saiu da casa, ele pôde ver seu pai ajeitando Bartram e colocando várias coisas em bolsos ao lado da sela.

Jake começou a latir repetidamente, animado por ver seu dono.

— Finn, ainda bem que você chegou. Eu acabei de carregar o Bartram e tudo já está pronto para você ir para a cidade. – O rosto cansado de seu pai anunciava que ele já estava trabalhando há algum tempo.

Finn sabia que já estava chegando o dia em que a Trupe do Destino iria vir recolher o pagamento.

— Tudo bem pai, então eu já vou indo. – Ele se aproximou da mula. – Vamos Bar Bar, estou contando com você. – Ele subiu na mula e se preparou para ir para a cidade.

Os Contos do Frio e do Gelo

Bartram não era uma mula das mais rápidas, mas Finn não se importava com isso, ele gostava do passo lento dele, porque dava para aproveitar a vista e as mudanças nos arredores desde a sua fazenda até a cidade.

Essas terras que ele vivia não possuía um lorde, mas quem comandava era a lady Bonnibel.

Todos da cidade comentavam sobre ela, sobre a sua beleza e seu estranho cabelo rosa, além do fato dela ser uma líder excepcional. Finn desejou mais de uma vez poder vê-la, apenas para saber como ela realmente era.

Mas isso era um sonho, afinal, apesar dela realmente estar no controle das terras da fazenda de Finn e da cidade que ele estava indo, o seu domínio se expandia para muito além do horizonte e não tinha como ela vir para uma cidadezinha no meio do nada.

À medida que ele se aproximava da cidade, ele percebeu que todos estavam se aglomerando perto da rua principal, como se estivesse acontecendo algum evento.

Finn amarrou Bartram em um poste próximo e se esgueirou entre a multidão para ver o que estava acontecendo.

Quando ele conseguiu chegar na frente, ele viu uma mulher de uns 26 anos montada em um cavalo branco majestoso. A mulher usava uma armadura branca e vermelha, seu rosto era jovem, apesar dela aparentar ser uma pessoa mais velha pelo ar de experiência que ela exalava.

Seus cabelos rosados voavam com o vento, deixando aquela cena ainda mais majestosa.

— A lady está realmente aqui... – Finn murmurou perplexo. Era a primeira vez que ele via a senhora das terras onde ele morava. E ela era tão linda quanto os boatos diziam.

Ela sinceramente parecia ser de outro mundo, como se fosse uma existência totalmente separada de pessoas insignificantes como Finn. Afinal, dezenas de milhares de pessoas dependiam dela e a admiravam.

A lady Bonnibel seguia na frente e era seguida por duas dúzias de cavalos com cavaleiros montados em cima. Aquela era a famosa guarda real, liderada por Menta, o mordomo e braço direito de Bonnibel.

Em sua mão esquerda, ela puxava uma corrente de ferro. Seguindo a corrente de ferro, Finn viu uma garota que estava acorrentada e era puxada forçadamente seguindo a lady.

Quando viu essa garota, os olhos de Finn brilharam. Seus cabelos ruivos pareciam ser ainda mais exóticos do que os róseos da lady Bonnibel. Além disso, suas feições e seu corpo eram bem diferentes de todas as garotas que Finn já tinha visto.

Apesar dela aparentar ter dezessete anos também, ela parecia ser de um lugar muito distante do qual Finn morava, uma estrangeria. O que despertou um imediato interesse no garoto.

— Então os rumores de que alguém do povo bárbaro foi capturado era verdade... – Um homem perto de Finn comentou.

Povo bárbaro? Finn olhou novamente para a garota ruiva. Ela não parecia ser alguém do tão temido povo bárbaro.

Mas Finn não podia dizer muita coisa sobre esse assunto. Ele só tinha ouvido sobre o povo bárbaro por boatos e contos que eram cantados por músicos na cidade.

Nas músicas eles eram um povo violento e em sua maioria ignorante, que veneram a guerra mais que tudo. Todos eles eram horríveis e seus rostos assustariam qualquer pessoa.

Mas a jovem diante dele não parecia ser como as histórias, exceto pelo olhar de fúria fumegante que ela tinha em seus olhos, obviamente direcionados para Bonnibel à sua frente.

Na verdade, ela era bem mais bonita do que as garotas da cidade. Finn sentia como se sua beleza era comparável à da lady Bonnibel, mas as pessoas ao seu redor não pareciam ver desse jeito.

Parecia que o rótulo de membro do povo bárbaro era muito forte.

Possivelmente, muitos deles sofreram perdas por causa daquele povo ou apenas os temiam pelas músicas cantadas e pelas histórias dos anciãos sobre o perigo bárbaro.

Finn desejou ajuda-la, mas não era algo que estava em seu poder.

— Eu ouvi dizer que a garota bárbara ia ser transportada até a prisão na capital, mas a carruagem quebrou e ela vai ficar aqui por alguns dias. – Uma mulher perto de Finn informou a seu marido, seu tom de desprezo e medo era bem claro.

— Como poderei deixar meu filho brincar por aí, sabendo que tem um bárbaro nas proximidades?! – Uma outra pessoa exclamou em um tom mais baixo.

Era claro que ninguém ousaria fazer uma reclamação direta para a lady Bonnibel, então tudo que eles poderiam fazer era reclamar entre si.

— Então ela vai ficar por mais tempo... – Finn murmurou para si mesmo, talvez ele pudesse conversar com aquela garota exótica se ele tivesse sorte.

Mas ele realmente não esperava por alguma coisa, além disso, ele tinha que vender as coisas da fazenda e voltar logo.

Depois de observar a lady escoltando a prisioneira para algum lugar, Finn saiu da multidão e foi vender as coisas que ele tinha trazido.

Talvez, com sorte, eles se encontrariam no futuro.

Os Contos do Frio e do Gelo