A Casa de Leão, de fachada tão opulenta quanto imponente com sua dupla de leões maravilhosamente esculpidos guardando sua entrada, sofria um processo de destruição incomum e incompatível com sua bonita entrada. Já havia espalhadas pelo chão castigado e acidentado diversas colunas tombadas, seções de lajes quebradas e trechos de pedra em um rastro de destruição. O templo era muito bem iluminado por muitos e grandes archotes de fogos pendurados nas colunas que ainda permaneciam de pé.

O responsável por aquele descaso com a estrutura do templo não era outro senão seu próprio dono: Aioria, o Cavaleiro de Ouro de Leão.

Sua vítima rastejava pelo chão acidentado e manchado de seu próprio sangue; apoiando-se em uma coluna destruída e caída à sua frente, ele finalmente conseguiu colocar-se novamente de pé. Aioria não lhe poupava de seu terrível poder e, não fosse aquela Armadura de Bronze restaurada por Mu de Áries, talvez o garoto estivesse morto há muito.

— Você não sabe desistir.

A voz de Aioria era grave e terrível.

Seiya levantou os olhos, limpou o sangue que teimava em escorrer por seu rosto e respirou fundo como podia. À sua frente, a figura imponente de Aioria tinha sua capa branca delicadamente colocada por cima de seu ombro esquerdo, de maneira que sua figura era ao mesmo tempo elegante e terrível.

Logo ele, que Seiya lembrava-se bem de ter jurado lealdade à Atena ao ver-se chocado com o cosmo da Armadura de Sagitário, a Armadura de seu irmão. O Cavaleiro de Bronze chegou à Casa de Leão com o espírito renovado, crente de que ali teria um poderoso aliado naquela corrida contra o tempo. Mas a fúria com que seguidamente foi atingido pelo cosmo dourado de Aioria imediatamente quando chegou diante do Cavaleiro de Ouro só não foi mais violenta do que a destruição da expectativa leve e esperançosa que carregava consigo.

— O que aconteceu, Aioria? — perguntou Seiya, colocando em poucas palavras uma imensa angústia que tinha ainda no peito.

Aioria calou-se, de olhos fechados.

— Você viu a Armadura de Sagitário acordá-lo das mentiras que vivia, por que está me atacando dessa forma? Você está parecendo outra pessoa. O que aconteceu com você, Aioria? Por favor, me diga!

Nada disse novamente e aquela era, na verdade, a primeira vez que Seiya parecia ter qualquer oportunidade de tentar falar a ele.

— A senhorita Saori está inconsciente na Casa de Áries, atravessada por uma Flecha de Ouro! Ela precisa da nossa ajuda!

Mas o homem parecia distante, como se houvesse apagado de repente.

— O Camerlengo é a única pessoa que pode retirar a flecha e isso tem que ser feito antes que as chamas do relógio se apaguem, caso contrário a Atena vai morrer. Você entende isso, Aioria? Atena vai morrer!

— Atena vai morrer? — perguntou Aioria finalmente abrindo os olhos, sobressaltado.

De olhos abertos, Seiya viu de mais perto que Aioria tinha uma expressão obcecada, seus olhos pareciam vidrados e a cor de suas íris muito menores. Ele levou imediatamente as mãos à cabeça, como se tentasse conter dentro de sua mente qualquer monstro que lhe tentava abrir o crânio. Tremia com o esforço para afastar aquelas dores terríveis.

Seiya já havia visto aquilo antes e tentou chamá-lo à razão.

— É por isso que precisamos chegar ao Camerlengo de qualquer maneira, você precisa me ajudar!

Aioria então fechou os olhos, como se para evitar que escorresse por seus olhos o que lhe causava aquela enorme dor, trancando dentro de si e controlando o que fazia machucar a sua mente.

— Será que agora você entendeu? — tentou Seiya. — Pra que termos essa luta inútil, deixe-me ao menos passar pela Casa de Leão, Aioria.

— Não, eu não posso! — vociferou ele com fúria, rangendo os dentes.

O Cavaleiro de Pégaso afastou-se alguns passos, sem vergonha alguma de sentir-se acuado por aquela presença imponente. Era mesmo um Leão de Ouro e seu elmo, Seiya observou melhor agora, parecia mesmo simular a cabeleira de um rei da selva dourado, deixando seus cabelos curtos e mais claros aparecerem, mas alongando seus fios como uma coroa de ouro.

— Eu já disse. Qualquer um que tentar atravessar esta Casa de Leão será morto por mim. E se você quiser passar terá de ser por cima do meu cadáver, Seiya!

Os olhos outra vez abertos e doentes, pois ele parecia um maníaco.

O homem que estava diante de Seiya não era o mesmo Aioria que ele havia conhecido mais jovem; certa vez, lembrou-se rapidamente, Seiya fugiu de seu treinamento escorraçado pelos outros garotos gregos por ser estrangeiro. Marin tentou falar-lhe para continuar treinando, mas Seiya já não via sentido para aquilo, uma vez que jamais poderia ser Cavaleiro se não tinha nascido ali. Foi Aioria que o convenceu a voltar a treinar com Marin.

Foi Aioria que intercedeu por ele na batalha contra Cássius.

Viu Aioria jurar lealdade à Atena.

Pois ali não via mais Aioria. Havia outra coisa em sua mente.

Ele sabia que algo terrível havia acontecido com aquele velho Aioria.

E algo ainda mais terrível iria acontecer com ele, pois a verdade era que Saori continuava sofrendo na primeira Casa e Seiya precisava chegar até o Camerlengo se quisesse que ela vivesse. E era tudo o que ele mais queria.

Era terrível, mas ele teria de atacar Aioria de Leão. E era terrível, pois ele enfrentaria o poderoso Cavaleiro de Leão.

— Não tenho escolha. Nesse caso, vou ter que vencê-lo aqui, Aioria!

Queimou seu cosmo, ainda procurando nos olhos perdidos de Aioria qualquer resquício daquele bom homem.

Não encontrou.

O Cavaleiro de Pégaso avançou na direção do Cavaleiro de Ouro com seu punho brilhante para desferir seus incríveis Meteoros, mas viu-se arremessado contra colunas novamente. Era tudo muito rápido. Seiya viu apenas o ombro direito de Aioria relampear um brilho dourado e, no instante seguinte, já estava novamente no chão.

Não podia ver a técnica de Aioria.

Ele sabia que Aioria usava sua técnica próximo à Velocidade da Luz, de tal maneira que ele não tinha qualquer chance de sequer saber o que podia fazer contra aquilo. Ele não poderia evitar aquela técnica se não podia enxergá-la.

Levantou-se com muita dificuldade novamente.

— Não importa como, eu preciso enxergar seu golpe. Preciso ver sua técnica na Velocidade da Luz. Preciso alcançar o Sétimo Sentido.

Queimou seu cosmo tentando lembrar-se do buraco da Casa de Touro em que viu-se parte de tudo ao perder parte de seus sentidos; fechou os olhos para mergulhar na escuridão e seu Cosmo elevar-se outra vez.

Aioria caminhava na sua direção, pois estava claro que ele não desistiria.

Seiya pediu um milagre ao seu próprio cosmo.

Concentrado em espalhar-se pelo universo e tocar a Essência do Cosmo, Seiya pela primeira vez sentiu próximo dele as presenças ou ao menos a sutil cosmo-energia de seus amigos. De Shun e de Shiryu. Sentiu ainda mais longe, em um lugar profundo de seu peito, a oscilação da vida de Saori.

Mas viu-se mesmo invadido por uma força imensa ao reconhecer no Cosmo que manifestava dentro de si, já que buscava fazer parte de tudo, a força de Marin. O Cosmo de Marin. Um Cosmo que Seiya tão bem reconhecia, tanta falta lhe fazia, e naquele instante foi como se ela estivesse ao seu lado.

Abriu os olhos e finalmente viu.

Quando o ombro direito de Aioria brilhou, ele viu claramente que era o punho do leão manifestando centenas de feixes de luz, como raios dourados cruzando sua vista para todas as direções; para o alto, para os lados, na diagonal, à frente, entrecruzados. Uma matriz aleatória de luzes que Seiya sabia que, se tocasse qualquer feixe, teria o corpo destruído.

Mas nada pôde fazer para evitá-los e foi atingido outra vez, voando contra colunas trazendo ainda mais destruição para a Casa de Leão. Pensou em Marin, que ele tinha certeza estar também lutando em algum lugar do Santuário.

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Shun e Shiryu corriam muito apressadamente pelas escadarias que ligavam a Casa de Câncer à Casa de Leão; o Cavaleiro de Andrômeda viu no momento que o relógio de fogo apareceu no horizonte que a chama de Leão estava mais fraca, ainda acesa, mas claramente apagando-se no tempo.

Estavam muito apreensivos, pois a destruição na Casa de Leão era tamanha que, ainda que não estivessem lá, podiam sentir o embate cósmico sutilmente ao longe.

— Shiryu, algo está estranho.

— Também pode sentir, Shun?

— Sim. Seiya está lutando na Casa de Leão.

— Precisamos nos apressar para ajudá-lo! — falou a garota.

— Não é só isso.

— O que quer dizer, Shun?

— O Cavaleiro de Ouro de Leão é Aioria. Esse é o Cavaleiro de Ouro que esteve na cidade e jurou lealdade à Saori.

— Mas então…

— Não sei. Algo terrível deve estar acontecendo.

Continuaram com o peito pesado e correram escadaria acima o mais rápido que conseguiam, mas quando os degraus terminaram em um platô antes de continuar a subir adiante, Shun viu aparecer uma pessoa enorme colocando-se entre eles e o templo que já se avizinhava em cima.

Facilmente era um rapaz que dava o dobro de seus tamanhos, de membros musculosos e grandes, um peitoral extremamente forte, mas que não usava armadura alguma com exceção de proteções simples nas pernas, nos ombros e nos braços. Não era uma armadura como a deles. Mais próximo, Shun percebeu que faltava-lhe uma orelha.

— Não posso deixar vocês entrarem na Casa de Leão.

— Quem é você? — perguntou Shun, apenas para confirmar o que já imaginava.

— Eu sou Cássius.

Cássius, refletiu Shun. Pois tanto ele como Shiryu também sabiam da história de tanto que Seiya lhes contava sobre seu tempo de treinamento na Grécia, de como era perseguido por Shaina e seus capangas. O maior deles, seu grande rival, Cássius. Que teve de derrotar para conseguir a Armadura de Pégaso. E que o fez arrancando-lhe uma das orelhas.

— Então foi você que lutou com Seiya pela Armadura de Pégaso.

A lembrança pareceu tornar o garoto irado.

No entanto, ali diante de Shun e Shiryu estava um garoto extremamente alto e musculoso, mas que sabiam que sequer podia controlar o Cosmo. Sem uma Armadura, não era uma ameaça para Cavaleiros de Bronze como eles, acostumados a batalhas terríveis.

— Vamos, Shiryu.

E os dois começaram a subir as escadas outra vez para chegar até Leão, pois não podiam perder tempo ali.

— Eu falei que não posso deixá-los passar.

— Isso significa que vai ter que nos deter. — falou Shiryu, de maneira simples. — À força.

— Se é isto que estão querendo. — riu Cássius de forma zombeteira.

Ouviram então, muito baixo, mas perceptível, a voz de Seiya gritar dentro da Casa de Leão, que ali já estava muito próxima.

— Talvez a batalha da Casa de Leão já tenha terminado. — comentou Cássius olhando para o templo.

— O que quer dizer? — perguntaram os Cavaleiros de Bronze juntamente.

— Aioria é agora somente uma máquina de combate.

— Mas isso não faz sentido, ele jurou lealdade à Atena. — falou Shun outra vez.

— Mas infelizmente Aioria não tem mais controle sobre sua mente. E se ele não tiver misericórdia, Seiya certamente morrerá. Talvez os pedaços de seu corpo já estejam espalhados pela casa.

Tanto Shun como Shiryu sentiram ainda mais urgência para seguir em frente e parar de perder tempo com aquela conversa que em nada poderia ajudar Seiya. Afinal de contas, Cássius havia sido derrotado facilmente pelo garoto e sequer podia controlar o Cosmo.

— Vamos logo de uma vez, Shun. — falou a garota.

Mas Shiryu sentiu, tarde demais, como o ar ao seu redor espalhou-se de forma decisiva e seu estômago foi atingido com violência por uma força monumental, como se um trem a houvesse atingido sem que ela estivesse esperando.

Shun gritou seu nome vendo a amiga sendo arremessada por Cássius escada abaixo; ele havia atingido Shiryu usando toda a força de seu corpo em seu ombro para acertar a Cavaleira de Dragão no estômago, jogando-a muitos e muitos metros lá embaixo. Cássius então parou diante de Shun, ainda chocado de ver a velocidade que aquele garoto sem armadura tinha; certamente não era o mesmo fraco que Seiya havia lhes contado.

Cássius socou o chão entre as pernas de Shun, causando um buraco enorme fazendo com que o Cavaleiro de Andrômeda tivesse de saltar; mas quando pulou, viu sua perna sendo tomada pela enorme mão de Cássius que, urrando, bateu o corpo de Shun contra a parede rochosa da montanha e também contra os degraus da escada, como quem batia um tapete.

E também o arremessou para muito longe dali, de modo que tanto ele como Shiryu teriam de vencer todos os degraus que haviam subido até então.

O garoto não era um Cavaleiro, tampouco trajava uma Armadura, mas ao sentir a dor que sentia no estômago, Shiryu tinha certeza de que havia dentro de Cassius um Cosmo prestes a surgir.

—/-

A destruição da Casa de Leão era enorme, mas Cássius podia ainda escutar fundo no templo o sofrimento de Pégaso. Não demorou muito para que encontrasse Seiya deitado indefeso no chão do templo, enquanto Aioria, o Cavaleiro de Ouro, pisava em sua perna.

— Está na hora de pôr um fim nessa luta.

— Espere. — falou uma voz forte na escuridão.

Cássius pisou na luz, interrompendo a tortura do Cavaleiro de Pégaso.

— Cássius? — estranhou Aioria ao ver o enorme guerreiro em sua Casa.

Seiya também surprendeu-se por ver seu antigo rival ali naquele momento tão derradeiro.

— Não entregarei a vida de Seiya para ninguém. Ele é meu!

O enorme garoto colocou-se entre Aioria e o corpo caído de Seiya.

— Há quanto tempo, Seiya. — falou ele em sua voz grave e ameaçadora.

O Cavaleiro de Pégaso colocou-se lentamente de pé, vendo à sua frente uma face que o perseguira por toda a infância.

— Desde aquela luta eu só tenho sonhado com o dia que me vingaria de você. — e então virou o rosto para que Seiya pudesse ver a cicatriz no lugar da orelha que havia cortado. — Toda vez que essa cicatriz doía, eu sonhava em matá-lo de uma vez por todas e esse dia chegou.

— Está certo, Cássius. — falou Aioria atrás dele. — Seiya privou seu sonho de se tornar um Cavaleiro.

— Seiya, fico contente em vê-lo aqui. E sabe de uma coisa? Eu vou acabar com você!

Deixou escapar uma risada contente antes de ameaçar de forma decisiva.

— Vou despedaçá-lo!

Seiya colocou-se em guarda para lutar contra Cássius outra vez, mas viu como o olhar do enorme garoto olhou por sobre seus ombros. Para Aioria.

— Era tudo que eu mais queria. Mas antes disso...

Cássius urrou, mas seu punho não foi na direção de Seiya; o enorme garoto girou em seu eixo e lançou toda sua força na direção de Aioria, que aparou seu enorme punho com a mão esquerda. Por ser enorme, o punho fechado de Cássius era do mesmo tamanho que a mão espalmada de Aioria. O Cavaleiro de Ouro, no entanto, com sua força, começou a esmagar o punho fechando as mãos lentamente, quebrando-lhe as juntas aos poucos.

— O que está fazendo, Cássius? — perguntou ele olhando para o enorme garoto com um sorriso sádico no rosto.

Cássius urrava de dor.

— Cássius? — surpreendeu-se Seiya, levantando-se.

— Seiya, eu vou segurá-lo e você vai embora daqui! — ordenou ele.

Cássius então aproximou-se de Aioria, aproveitando-se da pequena distância entre eles e o tomou pela cintura, levantando-o no ar esmagando-o com sua força de gigante.

— O que aconteceu com você, Cássius? — perguntou Seiya, confuso, pois estava tudo trocado ali à sua frente.

— Eu não estou fazendo isso por você. — falou o garoto entre os dentes. — Estou fazendo pela senhorita Shaina.

— Está fazendo pela Shaina? — confundiu-se Seiya.

— Isso mesmo! Escute, Seiya. O mestre Aioria está sob o controle de um terrível feitiço. — e então tornou sua atenção para os olhos fanáticos do Cavaleiro de Ouro. — Ele não voltará ao normal enquanto não matar alguém pessoalmente.

— Agora eu entendo. — falou Seiya.

— Depressa, eu me encarrego dele. Saia logo dessa Casa! — pediu Cássius.

— Cássius, me solte! — falou Aioria lentamente.

— De jeito nenhum! — respondeu Cássius, apertando-o ainda mais fortemente.

Aioria levantou os braços e atingiu os ombros de Cássius com violência, fazendo-o cuspir sangue no chão. E repetiu por diversas vezes, fazendo o garoto vacilar, mas Cássius fechando os olhos viu o rosto de Shaina sofrer e ele tirou forças de dentro para caminhar alguns passos, apertando com ainda mais força o corpo de Aioria.

Seiya viu como ao redor do corpanzil do enorme garoto e rival brilhava uma aura branca que, na verdade, era o seu Cosmo que queimava. Afinal de contas, talvez Cássius pudesse finalmente sentir o Universo dentro dele.

— Seiya, o que está esperando? Fuja!

O Cavaleiro de Pégaso levantou-se para partir, mas o Cosmo dourado de Aioria manifestou-se com força e ele finalmente livrou-se daqueles braços fortes como troncos, acertando Cássius com uma joelhada no estômago. O garoto caiu sofrendo no chão e Seiya correu até seu corpo, mas foi afastado por ele.

Ele segurou nas pernas de Aioria, ainda deitado em frente dele.

— Afaste-se, Cássius, eu não tenho nada contra um soldado como você!

— Nunca, mestre Aioria. Só vou soltar quando você voltar a ser o que era.

— Então vai morrer primeiro!

Aioria chutou o queixo de Cássius levantando seu corpo no ar, de tal maneira era a força que tinha o Cavaleiro de Ouro, e com seu punho atingiu o estômago do garoto com sua técnica dourada. Seiya viu, com horror, como o brilho de ouro atravessou o corpo de Cássius, saindo por suas costas.

A força havia sido tanta que o enorme corpo musculoso de Cássius rodou no ar e chocou-se com uma coluna antes de cair no chão. Seiya correu até ele, desesperado. Ele sangrava pelo peito, seu rosto estava cortado e sua boca vomitava o sangue que lhe irrigava por dentro. Ele ainda tentou se levantar, mas não conseguia.

Seiya segurou seu corpo preocupado.

— Por Atena, Cássius, por que você fez isso?

— Eu já te disse. Aioria não pode quebrar o feitiço enquanto alguém não morrer perante os seus olhos.

— Isso não é motivo pra você morrer. — falou Seiya.

— Mas se você morrer alguém ficará muito triste. Eu já disse que não faço isso por você, Seiya. Despedaçaria meu coração vê-la sofrer. Eu não poderia aguentar. Ela é tudo pra mim.

Seiya viu que dos olhos do enorme garoto lágrimas começaram a correr; e ele pareceu surpreender-se quando limpou a tristeza dos olhos. Deixou escapar um riso rouco.

— Engraçado descobrir que eu posso chorar.

— Cássius! — reagiu Seiya ao ver que o garoto tremeu de dor.

O Cavaleiro de Pégaso olhou sobre os ombros para o Cavaleiro de Ouro e o viu sofrer dentro de sua mente, mas sua voz entrecortada chamou-lhe a atenção.

— Vou matar os dois. — ameaçou ele.

Seiya compreendeu que o desfecho seria terrível se algo não fosse feito, portanto ele colocou-se diante de Cássius para enfrentar Aioria e queimou forte seu Cosmo de Pégaso. Ao seu lado, no entanto, viu que o enorme Cássius colocou-se ao seu lado para lutar e a aura branca que Seiya viu contornar seu corpo voltou a ajudá-lo.

— Vamos, Cássius! Juntos poderemos vencer Aioria! — disse Seiya.

O Cosmo do Cavaleiro de Ouro também ergueu-se no templo e o trio encarou-se para o momento derradeiro naquela Casa de Leão. Aioria guardou seus demônios dentro da mente e sua voz reverberou como o rugido de um leão.

— Cápsula do Poder!

Seiya não pôde ver a técnica de Aioria, pois Cássius adiantou-se entre os dois e colocou-se entre ele e o punho dourado de Aioria, de forma que seu enorme corpanzil cobrisse Seiya de qualquer ferimento que aquela técnica terrível pudesse fazer em seu corpo. Enquanto suportava com imenso sofrimento a técnica do Cavaleiro de Ouro, Cássius teve força para gritar à Seiya que atacasse Aioria.

— Vamos, Seiya! Traga Aioria de volta!

O brilho dourado arrefeceu e o corpo de Cássius caiu no chão à sua frente; Aioria tinha os olhos trêmulos olhando o corpanzil estendido à sua frente. Seiya saltou no ar e inflamou seu Cosmo com fúria como se tivesse asas, para descer feito uma estrela cadente e acertar um chute fortíssimo no rosto do delirante Cavaleiro de Leão, jogando seu elmo para longe dentro daquele templo.

Aioria cambaleou para trás e, apoiado em uma coluna, escorregou para sentar-se no chão, sem fôlego. Seu rosto torcido de dor e as duas mãos na cabeça.

Seiya não perdeu qualquer tempo com o Cavaleiro de Ouro e ajoelhou-se ao lado do corpo extremamente ferido de Cássius.

— Cássius! Cássius, não se entregue agora.

Cássius tinha os olhos trêmulos, despedindo-se de sua vida, enquanto sua boca frêmita chamava por Shaina, quando finalmente seu rosto caiu para o lado com um sorriso no rosto. Seiya não pôde deixar de escapar as lágrimas em seus olhos ao tocar o ombro do amigo falecido. Puxou seu rosto para ele e o abraçou, vendo que na face outrora tão odiável de Cássius petrificou-se para sempre um curto sorriso na boca.

Shun e Shiryu haviam chegado e estavam agora ao lado do amigo que sofria.

Seiya olhou deles para Cássius e finalmente sobre os ombros para ver o Cavaleiro de Ouro.

Aioria levantou-se de onde estava e caminhou até o corpo caído de Cássius.

— O que foi que eu fiz? — perguntou ele, preocupado.

Seiya estava arrasado ao falar com Aioria.

— Estou vendo que finalmente voltou ao normal. — disse ao ver os olhos duros de Aioria, em profunda decepção. — Mas o Cássius…

— Cássius. — lamentou Aioria ao vê-lo tão ferido.

— Meu amigo Cássius. — disse Seiya. — Chegou a hora de você se transformar em uma estrela e proteger a Shaina.

Um ar fúnebre entre todos eles.

— Eu não sabia que ia deixar-se matar. — comentou Shiryu ao lado de Shun.

— Sacrificou sua própria vida. — comentou Shun.

— Para me despertar. — falou a voz grave e pesada de Aioria.

— E me deixar viver. — completou Seiya, em prantos.

Aioria ajoelhou-se ao seu lado e a capa que trazia nos ombros esticou sobre o enorme corpo de Cássius ensanguentado.

— Cássius. A sua morte não será em vão.

Olharam-se todos e Shun pousou a mão no ombro de Seiya que levantou-se, pois sua missão ainda não estava terminada.

Foi então que sentiram um Cosmo tão poderoso que, por um instante, assombraram-se. Aioria, o Cavaleiro de Leão, inflamava em ouro e seu cosmo iluminou a Casa de Leão por completo. Seiya colocou-se novamente em guarda com medo de que Aioria houvesse retornado a seu estado diabólico, pois o Cosmo era ainda mais violento do que antes.

— Eu vou pessoalmente até o Camerlengo acabar com isso! — vociferou ele.

E então virou-se para Seiya, que viu seus olhos trêmulos de ódio, mas de forma muito diferente de antes; era o mesmo Aioria que conhecia, mas algo o havia enfurecido de maneira que sua ira não era resultado de um feitiço, mas de muitos anos de perseguição e mentiras.

— Vai lutar ao nosso lado? — perguntou Shun.

— Vou lutar ao lado de Atena! — anunciou Aioria, como se para o Santuário inteiro escutar. — E por Cássius.

Seiya sentiu seu peito encher-se de esperança, pois aquela força de Aioria era exatamente o que esperava quando chegou na Casa de Leão pela primeira vez.

— Escutem todos! — falou ele com gravidade para os Cavaleiros de Bronze. — Devem temer o Camerlengo. Ele não é quem vocês pensam que ele é.

E então a esperança despedaçou-se entre todos eles; quando Seiya adiantou-se para perguntar o que Aioria queria dizer com aquilo, algo ainda mais terrível aconteceu: outra vez viu que o Cavaleiro de Leão foi jogado ao chão, atormentado de dores na cabeça.

— Aioria! — gritaram Shun e Seiya ao vê-lo sofrer.

Sua voz balbuciava e puxou Seiya mais próximo para que lhe pudesse falar.

— Eu sinto muito, Seiya. — começou ele, com muitas dores que lhe afetavam a fala. — Não consigo seguir enquanto não expulsar esse feitiço de minha mente por completo, mas logo estarei entre vocês. — ele falava entre muita dor e falta de ar. — É lamentável, pois quem enfrentarão agora é a pior de todos os Cavaleiros de Ouro. A mais próxima dos deuses. Shaka de Virgem.

E então as dores em sua cabeça novamente o jogaram contra o chão, enquanto Shun e Seiya tentavam ajudá-lo de qualquer forma.

— A mais próxima dos deuses? — perguntou Shun.

— O que isso significa? — tornou Seiya.

Aioria tentou manter sua mente clara e sua voz soou com extrema dificuldade.

— Lembrem-se! Lembrem-se muito bem do que vou dizer, Cavaleiros de Bronze. — e finalmente abriu seus olhos para encará-los. — Não deixem Shaka abrir os olhos.

— Os olhos de Shaka? — perguntou Shiryu.

— Sim. Quando Shaka abre os olhos todos em sua volta morrem.

E então a dor invadiu-lhe a mente outra vez e ele os afastou de perto.

— Vão de uma vez, Atena precisa de vocês!

Seiya olhou para Shun decidido a seguir adiante.

— Vamos, Shiryu! — chamaram os dois.

E os três Cavaleiros de Bronze partiram finalmente da Casa de Leão.

Longe dali, Shaina acordou sozinha em sua cama e não pôde afastar a profunda tristeza que lhe diminuiu o peito. Uma enorme parte de sua vida havia lhe deixado.