A Casa de Áries continuava bem iluminada pela luz do sol que filtrava-se para dentro do templo pelo maravilhoso domo de cristal no seu centro. Guardando a entrada do templo, está o enorme corpo do Touro de Ouro de braços cruzados olhando as escadarias vazias que desciam adiante.

— Maldita Mu. Desde que ela foi ao Templo de Éris, não apareceu mais nenhum Fantasma por aqui e eu sequer posso deixar a Casa de Áries para ajudar Seiya e seus amigos.

O desapontamento era real.

Aldebarã escutou os gemidos de dor que Saori deixou escapar atrás de si e correu até seu pequeno corpo. Seus olhos retorciam-se, como se um pouco de sua consciência houvesse retornado para seu corpo; com assombro, o enorme Aldebarã viu o motivo pelo qual ela sofria: a seta de ouro cravada em seu peito lentamente penetrou alguns centímetros a mais dentro de sua pele.

O enorme Cavaleiro de Ouro desesperou-se com uma vontade enorme de puxar aquela seta e resolver de uma vez o problema, mas sabia que se o fizesse talvez a mataria de vez. Era terrível não poder fazer nada. Queria poder fazer algo.

O rosto de Saori aos poucos retornou ao seu estado pleno e calmo novamente.

Ele olhou para a entrada da Casa de Áries e correu até as rochas ao lado da escadaria do templo. Trouxe dali um par de flores bonitas que resistiam naquele lugar, crescendo onde não poderiam nunca crescer, mas perseverando e fazendo o impossível que era florescer por entre as rachaduras das pedras.

Trouxe de volta e colocou uma na orelha de Saori e outra na orelha de Alice.

— Lutem, meninas.

Fechou os olhos como se orasse por elas, mas então sua concentração foi cortada por uma sensação poderosa que o fez levantar-se e olhar na direção da saída da Casa de Áries.

— Mas o que diabos significa isso? — falou ele sozinho. — Dois Cavaleiros de Ouro estão prestes a se enfrentar.

Aldebarã estava um pouco em choque.

— Outra vez.

—/-

O trovão que reverberou na Casa de Virgem não foi o prenúncio de uma tempestade, mas o rugido de um enfurecido Leão.

— O que o irmão do traidor faz aqui na Casa de Virgem? — perguntou Shaka. — Esse não é o seu templo. Volte à Casa de Leão que tão porcamente você defendeu, Aioria.

Aioria, no entanto, se não estava possuído pelo Satã Imperial, sem dúvidas tinha ira nos olhos e dali não arredou o pé. Pelo contrário, caminhou na direção para colocar-se diante da Cavaleira de Virgem.

— O que pretende aqui, afinal? Veio por acaso suplicar pela vida desses inúteis Cavaleiros de Bronze, entregando-se finalmente aos traidores de Atena?

— Não, Shaka de Virgem. Vim até aqui para poder salvar a sua vida.

Shaka imediatamente deixou escapar um riso incompreensível.

— Talvez seja mesmo verdade que há um mal instalado no Santuário, pois estão todos agindo como se estivessem loucos, feito os Espíritos Famintos desgraçados do Inferno.

— Pense bem, Shaka. — tornou Aioria. — Tomada de sua gigante confiança, você não percebeu o que a Cavaleira de Fênix realmente estava tramando.

A Cavaleira de Virgem olhou para Ikki que, a seus olhos, não passava da casca de uma guerreira que outrora havia sido valente. E então voltou a olhar para Aioria como se estivesse diante de uma pessoa distante de suas faculdades mentais.

— O Sétimo Sentido, Shaka. — falou Aioria para ela.

Outra vez Shaka olhou para Ikki, que tinha a cabeça baixa com alguns espasmos pelo corpo que não podia sentir.

— Ela sacrificou seus sentidos e perderia todos eles para poder tocar a Essência do Cosmo.

— Isso é ridículo, ela sequer pode ficar de pé.

— Você a prendeu dentro de seu próprio Cosmo. E por dentro ela explodiria sua própria vida se fosse preciso para que você morresse junto.

— Está dizendo que Fênix se mataria apenas para me vencer?

— Exatamente, Shaka.

— E de que adianta uma vitória como essa? Sequer é uma vitória. — disse a Cavaleira de Virgem.

Aioria apontou para os corpos desacordados dos Cavaleiros de Bronze.

— Daria a eles uma chance de seguir em frente.

— Isso é ridículo.

— Isso é o que fazem os Cavaleiros de Atena.

Encararam-se finalmente naquela escuridão.

— Está delirando. — acusou Shaka. — Agora volte para sua Casa de Leão, Cavaleiro Aioria. Não deveria abusar da confiança que o Camerlengo deposita em você.

— O Camerlengo é a própria reencarnação do mal.

A voz de Aioria reverberou outra vez ali como um trovão, de tal modo chocante que Shaka sentiu-se sem fôlego com um sacrilégio tão enorme sendo dito debaixo de seu templo.

— Agora está indo longe demais, Leão. — falou baixo Shaka. — Não há ninguém debaixo desse céu que seja tão bondoso como é o Camerlengo, e você deveria saber bem disso.

Aioria deixou escapar uma risada.

— Chega a ser ridículo e irônico que seja tão cega, Shaka de Virgem. — caminhou para o lado olhando os corpos dos Cavaleiros de Bronze. — Mas você não é a única, já que fomos todos igualmente cegos, pois aquele é um homem terrível e eu não sei bem há quantos anos nos engana.

— Quem não nos engana é você, Aioria, irmão de Aioros. — acusou Shaka. — O Camerlengo foi aquele que nos guiou na terrível batalha contra os Titãs, foi ele quem impediu Atena de ser morta por seu irmão Aioros, o Traidor do Santuário, e também foi ele quem nos levou à vitória contra os Gigantes na Guerra que se instaurou. Sempre ao lado de Atena. E debaixo de todas as suspeitas e descalabros que você fez durante toda sua vida, ainda assim ele o aceitou como um Cavaleiro de Ouro. Ainda assim o perdoou erro após erro que cometia. E aqui está você maldizendo seu nome.

— É um demônio! — vociferou Aioria.

— Aioria de Leão, eu estou cansada de seus delírios e embora o Camerlengo tenha lhe conferido sua mais preciosa confiança, agora que a invasão ao Santuário está acabada eu não terei motivos para não puni-lo diante de tamanhos pecados proferidos em meu templo.

— Vai lutar comigo, Shaka de Virgem?

— Vamos terminar aquilo que a benevolência do Camerlengo impediu de prosseguir.

— Que assim seja.

Seus Cosmos levantaram-se iluminando de ouro aquela Casa de Virgem. Dois Cavaleiros de Ouro realmente iriam lutar.

—/-

Longe da montanha das Doze Casas, Mu de Áries brilhou seu Cosmo e sua Armadura de Ouro no Templo de Éris, lutando sozinha contra uma horda de Fantasmas que profusamente marchava surgida de dentro de um santuário aparentemente abandonado. Mas ela era brilhante e magnânima, de modo que nem mesmo um exército como aquele poderia pará-la.

— O que é isso?

Mu olhou no horizonte para a direção da montanha das Doze Casas.

— Dois Cavaleiros de Ouro irão lutar entre si? — perguntou-se ela sentindo o vento bagunçar seus cabelos.

Era terrível se fosse mesmo verdade, mas seu coração estava ali em outra missão. Mas aquele fato desgraçado era mais um motivo para que ela se apressasse a terminar aquela sua missão o quanto antes. Virou seus olhos para a entrada daquele santuário principal do complexo do Templo de Éris e por um instante estava confusa, pois o exército de Fantasmas que ela teve de enfrentar bravamente até então e que a impedia de seguir em frente parecia ter desaparecido. Nem um Fantasma a mais avançava daquelas escadarias.

— Dois Cavaleiros de Ouro lutando nas Doze Casas. Os Fantasmas da Discórdia surgindo do Templo de Éris. Essa Crise só parece piorar.

Ela aproveitou aquele momento de paz em que nenhum outro fantasma parecia vir em sua direção e finalmente entrou no santuário principal abandonado de Éris. Subiu algumas escadas e finalmente surgiu em uma seção do templo em que apenas as colunas mantinham-se de pé, pois seu teto havia muito tempo já não existia.

Ao final de um corredor, diante de um altar, flutuando sobre um pedestal de pedra, Mu encontrou uma bonita maçã de mármore. Uma aura púrpura sutilmente se precipitava da maçã, mas ela já não sentia o Cosmo de nenhum Fantasma ao redor.

Buscou guardado na sua Armadura um cilindro de ouro que encontrou assim que pisou naquele Templo, ainda nas áreas comuns perto da estrada. Não era outro senão o cilindro com o Selo de Atena que Seiya havia deixado cair em sua terrível batalha com Shaina, no dia em que Shiryu havia perdido sua visão.

Mu tirou o Selo de Atena de dentro do cilindro, mas assombrou-se ao ver que havia um rasgo enorme no papiro, de modo que o selo não teria qualquer efeito. Ela desapontou-se e então colocou as duas mãos ao lado do pedestal, olhando fundo para aquela maçã de mármore brilhante em púrpura sutilmente.

Ela precisava fazer algo.

— Mu.

A maçã lhe chamou.

Ela se afastou, inicialmente com medo de ser tomada por alguma semente de Éris.

— Mu.

Chamou outra vez a voz, mas então a Cavaleira de Áries pareceu reconhecer aquele tom.

— Mu de Áries. — falou a voz, finalmente.

Ela se aproximou outra vez do pedestal e certificou-se de que a voz não vinha de qualquer outro lugar daquele Templo. Tinha certeza: vinha mesmo de dentro daquela maçã, se é que aquilo seria possível.

— É você, Máscara da Morte? — perguntou Mu para a maçã.

— Vejo que não me esqueceu, Mu. — respondeu a voz.

— O que significa isso? — perguntou Mu, sem compreender o que ela fazia dentro daquele terrível artefato.

— Sinto seu Cosmo próximo ao Poço dos Espíritos. Onde você está, Mu de Áries?

Mu olhou ao redor e então compreendeu tudo.

— Estou na Câmara de Éris em frente à Maçã da Discórdia.

— Ah, como imaginei. Então Éris não está realmente selada.

— Não. — respondeu ela, apenas.

— Não esmoreça, Mu de Áries. — falou a voz sedutora da mulher. — Saiba que encontrei a fonte das sementes de Éris próximo ao Submundo. Ninguém mais passará ao Mundo dos Vivos enquanto eu estiver aqui.

Mu hesitou em dar ouvidos àquela voz.

— Devo mesmo confiar em você, Máscara da Morte?

— Você faz o que quiser, Mu. Mas, mesmo aqui do Inferno, eu posso sentir que dois Cavaleiros de Ouro estão prestes a lutar por mil dias e mil noites.

Mu olhou então de volta para a montanha das Doze Casas onde podia sentir aqueles dois Cosmos poderosos se chocando; mesmo longe era um evento catastrófico que Cavaleiros de Ouro se enfrentassem.

— Eu não posso fazer nada sobre isso e, se estamos sendo sinceros, eu adoraria que os dois idiotas se explodissem juntos e acabassem aqui do meu lado. — deixou escapar uma risada Máscara da Morte. — A isso pouco me interessa, o que me interessa é livrar o Limiar dessas sementes putrefatas que sujam meu jardim.

A verdade era que, por pior que fosse, Máscara da Morte era muito mais capaz de lidar com aquela crise do que ela mesma, pensou Mu.

— Droga, Máscara da Morte, eu ficarei em alerta e, assim que tivermos o Selo de Atena, eu voltarei.

— Não se preocupe. — disse ela do Inferno. — Não é como se tivesse qualquer outra coisa para se fazer aqui.

Mu não tinha exatamente certeza daquilo que fazia e, no fundo de seu coração, gostaria de lhe perguntar mil coisas para certificar-se de que lado ela estava, mas o momento era de urgência, de modo que precisou confiar na palavra de Máscara da Morte.

Virou as costas ao Templo de Éris e voltou para o Santuário de Atena.

—/-

Não havia debaixo daquele céu estrelado outro sujeito mais desgraçado em ira.

Aioria marchou com sua Armadura de Ouro para o coração do Templo de Atena. Suas passadas reverberavam estrondosas contra as colunas opulentas da nave central daquele templo. Sua capa branca esvoaçava a cada pisada firme do homem contra os tapetes milenares da antiga decoração daqueles corredores prementes de história.

Seu rosto distorcido em fúria. Os dentes trincados, tamanha força na mandíbula para evitar devorar seu descontrole. Tamanha era a sua ira que, ao chegar finalmente diante do enorme pórtico branco esculpido de mil batalhas antigas que antecedia o altar sagrado, moveu-o sem que ele sequer o tocasse.

Movido pela força de seus olhos furiosos.

O altar era inteiro de mármore, colunas de prata levantavam-se dos dois lados e, adiante, uma cortina vermelha com detalhes em ouro estavam semi-abertas para uma enorme escultura da Deusa Atena. Debaixo dela, sentado em um alto trono dourado, o Mestre Camerlengo.

Um rosto desconhecido. Um homem fora das lendas. Dois presentes para o futuro.

— Você sabia! — acusou Aioria, imediatamente, em fúria.

Dias atrás, Aioria havia encarado o Camerlengo descarregando seus quinze anos de angústia por um crime que seu irmão não havia cometido, mas foi interrompido pela presença de Shaka de Virgem no Templo. Ela que, sem dúvidas, havia achado muito estranha a ira com que o Cavaleiro de Leão atravessou sua casa naquela fatídica noite para ter com o Camerlengo.

Dois Cosmos de Ouro que levantaram-se diante do representante vivo de Atena prontos para se enfrentarem, pois Aioria exigia desvendar as mentiras daquele Camerlengo e Shaka estava ali para garantir que Aioria se comportasse.

Tudo fugiu do controle quando Atena apareceu entre eles.

Dois Cosmos de Ouro espalharam-se pelo altar e Shaka mudou sua postura corporal de forma que concentrasse seu enorme Cosmo no meio do peito. Aioria concentrou seus raios em seu punho direito e, com violência, os dois se atacaram.

— Rendição Divina!

— Relâmpago de Plasma!

Shaka foi fatiada no ar pelos feixes de luz de Aioria e Aioria foi arremessado longe pelo cosmo iluminado de Shaka.

Por sorte ou azar, Aioria foi lançado exatamente na direção de Atena e simplesmente atravessou sua figura austera, como se ela fosse feita de ar. Seu corpo bateu contra uma coluna e ele caiu no chão.

— Droga, Shaka. Não me atacou com todo seu poder. — balbuciou Aioria com enormes dificuldades para levantar-se, pois ele certamente havia usado toda sua ira contra ela.

Viu do outro lado do salão o corpo da Cavaleira de Ouro estendido no chão; se ela tivesse utilizado mesmo toda sua força, os dois estariam agora presos por tantos dias e noites em uma batalha impossível. Mesmo assim, ele não conseguia se levantar.

Apertou os olhos e viu, de costas e bem próximo a ele, as costas do vestido de Atena que mantinha-se imóvel diante dos acontecimentos. Ele tentou ao menos se sentar e, quando o fez, percebeu que do outro lado do salão o Camerlengo finalmente levantou-se de seu trono.

O Camerlengo, com seu elmo dourado e sua batina perfeita, desceu os poucos degraus de seu trono e caminhou lentamente na direção de Aioria; e a cada passo que aquele sagrado homem dava, seu Cosmo elevava-se cada vez mais de maneira incrível. Uma aura dourada contornou sua enorme figura, para surpresa de Aioria.

— O Sétimo Sentido? — balbuciou ele ao vê-lo chegar mais próximo.

O Camerlengo se aproximava e Aioria viu, com assombro, como ele simplesmente atravessou a figura de Atena, como se fosse mesmo apenas um holograma incorpóreo. O enorme Camerlengo levantou Aioria pelo colar da Armadura de Leão para que o encarasse mais de perto.

Ainda que estivesse escondido nas sombras de seu elmo, Aioria viu seus olhos terríveis pela primeira vez e sentiu medo.

O Camerlengo pareceu tremer aos poucos o que era uma risada demoníaca que ecoou pela pedra do altar.

O enorme homem colocou a mão direita na cabeça de Aioria, sem seu elmo, e balbuciou palavras inauditas.

Era o Satã Imperial.

— Guarde a Casa de Leão e mate qualquer um que tentar passar por ela. Seu feitiço só acabará com a morte de seu invasor.

E então soltou a cabeça de Aioria e levantou-se, deixando o corpo de Leão para trás para retornar ao trono.

Seria impossível descrever a dor que estourou na mente de Aioria e as nuvens de dúvidas e pavores que se juntaram em sua visão. Até que tudo se pacificou em sua mente. Ele se levantou com dificuldades, recolocou o elmo na cabeça, ajoelhou-se diante do Camerlengo e saiu do Altar de volta para a Casa de Leão.

Jogado aos seus pensamentos, o Camerlengo ficou em silêncio por muito tempo ainda, quando finalmente desceu de seu trono e foi até o corpo ainda desacordado de Shaka. Ajoelhou-se ao seu lado e a abraçou, manifestando um bonito cosmo dourado.

Shaka acordou e sentiu que estava nos braços do representante de Atena, e que ele cuidava de suas feridas. Ela imediatamente sentiu-se desconcertada e quis levantar-se o mais rápido que podia.

— Não se preocupe, Shaka. — falou a voz doce do Camerlengo. — Está muito ferida. Deixe-me cuidar de você.

— Mestre Camerlengo Arles. — começou ela. — Onde está Atena?

O Camerlengo pareceu hesitar e só então falou com a voz grave, mas bondosa.

— Está descansando.

Shaka então finalmente colocou-se de pé livrando-se do Camerlengo e havia uma certa ira dentro dela. O Camerlengo, no entanto, permaneceu ajoelhado, prostrado à sua frente.

— Acalme seu coração, Shaka. — o homem parecia lhe suplicar. — Lembre-se de seus próprios ensinamentos. Aioria percebeu o grave erro que cometeu.

— Eu não posso acreditar que o irmão de um traidor como aquele seja capaz disso.

— Ver o seu corpo desacordado o trouxe à sua razão. Ele desculpou-se com Atena e voltou para a Casa de Leão para cumprir sua penitência.

— Mestre Camerlengo Arles, eu não posso compreender como você pode confiar tanto em Aioria. — falou Shaka, resoluta. — Por vezes me pergunto até onde pode ir a sua enorme benevolência e misericórdia.

—/-

A Casa de Virgem tremia. As bases, as colunas, o piso, o teto ameaçava ceder com a violência com que agora tanto Aioria de Leão como Shaka de Virgem lutavam sem ceder um centímetro.

— Seiya, Seiya! Acorde, Seiya.

Shun chacoalhava seus amigos ao lado, que aos poucos foram finalmente recobrando a consciência graças ao terremoto que chacoalhava aquela montanha inteira.

— Shun, o que está acontecendo? — perguntou Shiryu, finalmente acordada.

— Eu acho que há dois Cavaleiros de Ouro lutando com todas as suas forças. — comentou Shun.

— Dois Cavaleiros de Ouro? — perguntou Seiya, também abrindo os olhos.

— Ah, onde está Ikki? — procurou Shun ao lembrar-se de que sua irmã também estava na Casa de Virgem.

Viu seu corpo jogado no chão sem sua Armadura; Shun gritou por seu nome e foi até ela desviando de pedaços da casa que caíam ao redor enquanto duas forças invisíveis e terríveis lutavam fora da sua visão. Virou o corpo de Ikki para si e imediatamente os olhos dela se arregalaram de desespero ao ver seu irmão querido.

Ela tentou lhe abraçar, mas muito sem jeito. Ikki chamava por Shun, mas sua voz era embolada.

— Ikki, o que aconteceu com você?

Mas ela não escutava.

— Ela não pode nos ouvir. — concluiu finalmente Seiya.

Um brilho de ouro então os cegou onde estavam e, ofegantes, apareceram enfim os Cavaleiros de Ouro que chacoalhavam todo o Santuário. Era Aioria de Leão de um lado e Shaka de Virgem de outro.

— Andem, Cavaleiros de Bronze. Levantem-se e sigam para a próxima Casa! — ordenou ele.

— Aioria! O que está acontecendo? — perguntou Seiya.

— Eu manterei Shaka aqui, agora levantem-se e vão de uma vez, pois Atena tem pouco tempo de vida.

— Droga, quanto tempo será que ficamos desacordados? — perguntou-se Shiryu.

— Deixe Fênix aqui, Andrômeda. — falou Aioria ao ver que Shun queria carregar sua irmã nos ombros para fora daquele lugar. — Shaka removeu seus Sentidos, vocês terão de subir as Doze Casas sozinhos. Não percam mais tempo aqui!

Seiya olhou para Shun, que olhou para Ikki e compreendeu nos olhos e na fala embolada dela o que precisavam fazer.

— Vá, Shun! — disse com dificuldades.

— Certo, irmã.

— Vamos, Shun. — puxou Seiya, já de pé.

— Seiya, antes de partirem, tem algo que vocês precisam saber. Peço que preste bem atenção ao que vou dizer. — chamou Aioria uma última vez de costas para ele. — O Camerlengo não é a pessoa bondosa que você pensa que ele é. Se ele realmente for o único que pode ajudar Atena, então talvez vocês tenham de fazê-lo à força.

— O que está dizendo Aioria? — perguntou Seiya sem compreender.

— O Camerlengo não é outro senão aquele que representa o mal que está instalado no Santuário.

A informação caiu como uma explosão de desesperança entre os Cavaleiros de Bronze. Pois se apenas o Camerlengo poderia ajudar Atena que sofria ferida na Casa de Áries, que chance teriam se ele também fosse aquele que havia causado sua maldição em primeiro lugar.

— Vão, Seiya! — bradou Aioria. — Não posso prometer que estarei logo atrás de vocês, mas se um milagre acontecer e Shaka dar-se pela razão, eu logo estarei ao seu lado e juntos poderemos salvar Atena, mas por agora, vocês precisam partir!

— Certo.

E partiram.

Shaka tentou evitar que eles avançassem, mas Aioria colocou-se diante dela com seu enorme Cosmo de Ouro.

— Vai mesmo colocar-se ao lado dos traidores como seu irmão, Aioria?

— Já passou da hora de você compreender que é você que está do lado errado, Shaka. Acorde!

Os Cavaleiros de Bronze finalmente saíram pela Casa de Virgem e viram como a luz do sol havia movido-se enormemente e, assim que subiram pelas escadarias para a próxima casa, viram com assombro no relógio de fogo que tanto o fogo de Virgem como também o de Libra já haviam se extinguido.

A chama de Escorpião já queimava com meia intensidade.