O jantar tinha sido mais formal e com certeza com mais etiqueta do que aquela que Mrs. Bennet tinha planeado a princípio. Pois era claro que devia-se ter mais maneiras quando a menina Darcy tinha vindo visitar a sua residência de propósito só para ver a futura irmã.
Mrs. Bennet fez questão de mencionar isso durante várias ocasiões, durante a ceia, àqueles que tinham falado de um jeito cruel sobre o casamento de Elisabeth e Mr. Darcy. Miss. Darcy anuiu, timidamente, que o que Mrs. Bennet dizia era a mais pura das verdades. Tinha sido ela própria a pedir ao irmão para visitar a residência dos Bennet, da qual ele sempre falava com carinho.
Sabendo como era a personalidade de Miss. Darcy, Elisabeth não a condenou de alguma maneira, quando ela passou mais de metade da ceia a falar apenas com ela e com Mr. Bingley. Pelo contrário, tinha medo que os seus parentes e conhecidos, presentes ali, achassem a doce criatura tímida que era Miss. Darcy, fria e orgulhosa demais para falar com os restantes. Tal como tinha acontecido com Mr. Darcy.
O pai, Mr. Bennet, fazia uma ocasional pergunta a Miss. Darcy, para tentar que ela socializasse mais, mas de nada adiantava pois, depois de responder a Mr. Bennet, voltava-se para os seus conhecidos, ficando em silêncio quando começaram a falar do futuro matrimónio entre Jane e Mr. Bingley.
Foi uma conversa duradoura e cheia de felicitações e desejos de uma vida feliz e prospera.
A conversa sobre o matrimónio entre Elisabeth e Mr. Darcy já ocorreu mais silenciosamente. Houveram felicitações, mas os risos de felicidade que tinham preenchido a anterior conversa tinham-se desvanecido.
A mãe, envergonhando Elisabeth, falou sobre o homem sortudo que Mr. Darcy era e que feliz seria quando finalmente casasse com a sua filha. Nada disso, apesar de embaraçoso, era novo, para Lizy. A surpresa veio quando a doce Miss. Darcy aproveitou o silêncio para falar maravilhas sobre a sua nova irmã e as enormes afeições que o irmão mais velho demonstrava por ela, sempre que estavam juntos.
— Que saudades ele tem de si, quando estão separados. – garantiu Miss. Darcy, com os olhos em Elisabeth – Ele não diz nada, mas eu bem o conheço. Que pena que tenho por ainda terem de estar tão afastados um do outro.
Mrs. Bennet não podia ouvir nada melhor. A própria Miss. Darcy a confirmar em frente a todos que o orgulhoso Mr. Darcy estava perdidamente apaixonado pela segunda filha.
— Esperemos que isso não seja um problema de longa duração. – comentou Mrs. Bennet – Quando eles se casarem, o seu irmão poderá passar o tempo que desejar com Elisabeth.
Miss. Darcy limitou-se a sorrir em direção a Mrs. Bennet, sem falar uma palavra sobre o matrimónio do irmão com Elisabeth, o que não lhe agradou muito. Mas pôs de imediato o mau-humor de lado quando ouviu o que Miss. Darcy tinha a dizer.
— O meu adorado irmão deu-me permissão para organizar um baile, antes da minha partida para Londres. – finalizou Miss. Darcy – Para comemorar o futuro matrimónio com a Miss. Elisabeth.
Miss. Darcy corou um pouco quando olhou para Elisabeth, mas esta esboçou um sorriso para transmitir um obrigado silencioso.
Miss. Darcy não disse muito mais, durante o resto da noite mas, depois de verem o afeto que Miss. Darcy tinha por Elisabeth, os convidados retomaram a conversa do matrimónio de Lizy com Mr. Darcy, muito mais calorosamente.
Antes de irem para casa, Miss. Darcy presentou os convidados com uma pequena peça, tocada no piano de Mary. Todos aplaudiram e deram os seus melhores gracejos ao talento que Miss. Darcy demonstrava com tão pouca idade.
Deixaram a propriedade com uma melhor opinião de Elisabeth e Mr. Darcy. A sua mãe, depois de se despedir de Miss. Darcy e Mr. Bingley, retirou-se, para que eles pudessem falar melhor em privado.
— Tem de prometer que me visitará amanhã. – Miss. Darcy agarrou as mãos de Elisabeth – Ou então tenho a certeza que morrerei de tédio, pois Mr. Bingley estará todo o dia a escrever cartas tediosas.
— Miss. Darcy tem toda a razão. – concordou Mr. Bingley – As duas senhoras devem ir visitar Miss Darcy quando o sol raiar. Receio que ela já leu todos os livros da minha coleção e não terá nada de interessante com que se ocupar.
Por breves momentos, um sorriso apareceu no rosto de Elisabeth, que imaginava Mr. Darcy a recomendar todo o tipo de livros à irmã mais nova. Tinha a certeza que Mr. Darcy teria feito isso com a melhor das intenções, pois considerava que uma senhora devia ter todos aqueles dotes. Mas o quão aborrecida deveria a pequena Miss. Darcy ter estado, ao ler livros por dias a fio.
Miss. Darcy olhou para Elisabeth e sorriu ao vê-la sorrir, pois o irmão fazia a mesma expressão quando pensava em Lizy.

Depois de Elisabeth e Jane prometerem à pequena Miss Darcy que compareceriam e de arrumarem a mesa, Mrs Bennet deixou as suas duas filhas mais novas retirarem-se para dormir. No entanto, quanto às duas maiores, fez questão que elas a acompanhassem ao escritório do pai, apesar de estarem tão cansadas quanto as irmãs.
O pai, que tinha escapado para o escritório no momento em que as visitas deixaram a casa, não ficou contente ao ver as convidadas a entrarem.
— Mas que adorável que a Miss. Darcy era, não acha, Mr. Bennet? – perguntou Mrs Bennet, mas não esperou por uma resposta – E quão dotada no piano. Foi uma honra ouvi-la tocar. Atrevo-me a dizer que irei ter muitas outras oportunidades para a ouvir, depois de Lizzy se casar com Mr. Darcy. Que desconsolo seria se a minha própria filha não me convidasse a sua casa para ouvir tão refinadas melodias. Oh! A Mary nunca irá ser tão boa quanto Miss. Darcy. E ela que treina dia e noite…
— Cara Mrs. Bennet. – interrompeu Mr. Bennet – Todos estivemos presentes e ouvimos a mesma coisa. Qual é o propósito de estar a torturar as nossas pobres filhas a estas horas da noite? Deixe-as ir, pois amanhã têm um sítio onde estar.
— Pois claro! – Mrs. Bennet olhou para as duas filhas com um grande sorriso – Quem me dera puder acompanhar-vos, para entreter Miss. Darcy. Mas o convite não me foi estendido. Lizzy, tenha atenção ao que diz e ao que faz. Depois de Miss. Darcy ter o cuidado de falar tão bem de si, não quer com certeza mostrar-lhe algum lado vergonhoso. Tenho a certeza que diria ao irmão e então estaria em perigo de perder o seu noivo.
— Mamã… - implorou Jane – Lizzy nunca mostraria um lado que não possui.
Mrs. Bennet ignorou a filha e continuou a falar.
— Gostaria que Miss. Darcy socializasse mais um pouco. Está na idade de o fazer. – disse Mrs. Bennet – Mas quem a pode culpar por ser orgulhosa como o irmão? Afinal, cresceram juntos.
— Mamã. – foi a vez de Elisabeth – Darcy não é orgulhoso.
— Os olhos do amor não vêm defeitos, querida filha. – avisou Mrs. Bennet – Mas não vai durar para sempre. Deve-se ir preparando para os humores de Mr. Darcy. E Miss. Darcy, também. Pois não pode ignorar a sua futura irmã.
Uma vez que sabia que não ia adiantar de nada dizer que Miss. Darcy era envergonhada e não orgulhosa, Lizzy limitou-se a suspirar e a continuar a ouvir a mãe a falar sobre os eventos da festa.
Ficaram trinta minutos a ouvir a mãe e, se o pai não a tivesse travado, talvez ainda estivessem ali quando o sol se estivesse a levantar. Mas foi-lhes dada finalmente permissão para se irem deitar e foi isso mesmo que Elisabeth e Jane fizeram.
Apesar de Elisabeth estar exausta e nada mais querer do que se deitar e dormir, Jane estava demasiado entusiasmada com o dia que se aproximava e o seu encontro com Mr. Bingley.
— Quem me dera que Mr. Darcy tivesse acompanhado Mr. Bingley. – mencionou Jane – Assim estaria tão feliz quanto eu.
— Não se preocupe, querida irmã. – disse Elisabeth, fechando os olhos – Eu terei todo o prazer de entreter Miss. Darcy, enquanto Mr. Bingley a entretém a si.
Jane corou e deu um pequeno empurrão à irmã, mas preferiu não dizer nada e copiar a irmã, que já estava no primeiro dos sonos.