Antes de partir Fitzwilliam resolveu ir à procura de Miss Alice Gardinner. A verdade é que ele se apaixonara por aquela menina tímida e doce, e já não conseguia esconder de si próprio o que sentia. Ele tentara esquecê-la ao se aproximar de Miss Bingley, porém embora a sua razão lhe dissesse que era o melhor afastar-se, o seu coração estava já nas mãos daquela menina.

Por ela ele estaria disposto a renunciar o compromisso que tinha para com a prima, renunciaria mesmo do nome e prestigio que aquela união lhe daria. Posses ele tinha, embora fosse o terceiro filho homem de um Conde, por isso tinham como viver bem.

Assim que saiu de Netherfield, percorreu o caminho por onde Alice habitualmente passeava, não precisando de procurar muito, pois logo a encontrou passeando perto de Longbourn.

— Miss Gardinner! - gritou ele assim que a avistou...- Que bom vê-la, como está?

— Bem, vejo que gosta de cavalgar, e hoje com certeza está um lindo dia para isso.

— Sim realmente está...- e descendo do cavalo, aproxima-se de Alice...- Eu vim...vinha à sua procura.

— À minha procura? Porquê?

— Sim. Para...para saber se gostou do baile. Reparei que dançou apenas uma meia duzia de danças...

— Assim foi...

— Não gosta de dançar?

— Gosto, claro que sim, mas acho que a minha companhia não agradou aos cavalheiros...

— Não, isso não é verdade. Como é que alguém não pode gostar de si Alice. Uma menina tão fina, delicada, doce, educada...linda. Era com toda a certeza a mais bonita da festa.

— Coronel, assim deixa-me sem o que responder e algo...

— Não precisa de ficar envergonhada comigo. Alice, permite-me que a chame pelo seu nome?- Alice acena afirmativamente com a cabeça...- Na verdade eu vim para me despedir...

— Despedir? Vai-se embora? Não passa o Natal em Hertfordshire?

— Bom, o voltar para o Natal dependerá apenas de uma certa dama...

— Uma Dama?! Já entendi.

— Já!? e que me diz?

— Espero que ambos sejam felizes.- e baixando a cabeça Alice vira-se e prepara-se para retornar a Longbourn...- Já devem estar à minha espera em Longbourn...

— Alice...não vá. Acho que afinal não entendeu nada do que eu queria dizer. A dama a quem me referia...és tu...minha Doce e Linda Alice.

— Eu!? Coronel...eu...

— Oh Alice! Basta uma única palavra tua, um gesto...e eu volto, volto para ti...

— Eu não sei nem o que pensar...apanhou-me de surpresa. Pensei que fosse Miss Bingley a dama, mas ouvir que afinal sou eu...

— Tu, sempre foste tu. Alice perdoa-me pela minha atitude durante o Baile, tentei negar o que sentia, tentei esquecer...mas foi impossível porque o meu coração já é teu. Apenas preciso de saber que me esperas, que podes ainda ser minha como eu sou teu.

— Eu espero Fitz, eu espero.- Alice não perde tempo e abraça-se ao seu amor, ao seu primeiro amor...- Quanto tempo vai ficar em Londres?

— Não sei, mas para ficar contigo tenho que resolver uns assuntos antes. Mas vou tentar resolver tudo até ao Natal, posso escrever-te?

— Sim, ficarei ansiosa por recebê-las, mas, escreva-as para Netherfield...

— Para Netherfield!?

— Sim, Jane não me fará perguntas, e em Longbourn tenho os meus pais e a minha tia...é...

— Se assim queres, agora tenho mesmo que ir...adeus minha doce Alice.

E assim o Coronel partiu ruma a Londres deixando Alice a pensar na sua felicidade. Ficara tão triste depois de perceber o súbito interesse de Fitzwilliam em Miss Bingley durante o baile, mas afinal ele gostava dela, ele amava-a. E Alice amava-o também...ela sempre o amou desde o primeiro dia que o viu. E embora fossem horas de regressar Alice foi o mais devagar possível para acalmar que o seu coração quer a sua mente. Decidira no percurso não comentar com ninguém este assunto. Seria apenas ela e Fitz...dois corações que agora batiam como se fossem apenas um.

Passaram-se umas duas ou três semanas, e Alice nada soubera do Coronel, e ao contrário do que ele lhe prometera ele não viera no Natal. Contudo, Alice não desistira de esperar pelo seu amado, ela sabia que ele iria voltar. Nenhuma carta chegara a Netherfield, ela ia lá todos os dias para se assegurar disso. Naquela manhã, um manhã como outra qualquer, Alice saiu de Longbourn bem cedo com um pressentimento que seria naquele dia que iria receber notícias. Quando lá chegou, encontrou Lizzy e Jane na salinha com Miss Darcy. Entrou e cumprimentou as três.

— Alice, vieste sozinha?- perguntou Jane.

— Sim. Estou cansada de ficar em Longbourn sem nada para fazer, para além disso sabes bem que adoro passear por este campos.- encaminha-se até Georgiana que estava a bordar, quando Jane a chama de novo.

— Alice, deste a morada daqui a algum amigo?

— Ah! Sim, desculpa, mas Sarah na ultima carta perguntou-me se podia dar a morada daqui o Jeremy me escrever também...e antes que perguntes é apenas um amigo da escola. Desculpa, devia ter te avisado...ou...

— Alice...para por um minuto, não é preciso tantas explicações. Toma chegou esta carta do teu amigo, se bem que pela tua reacção talvez seja mais do que um amigo...

— Juro que não é...o Jeremy é apenas um amigo. E mais uma vez desculpa devia ter pedido autorização.

Alice pega na carta e dirigiu-se para junto de uma janela, ela sabia bem de quem era. Ela e o Coronel tinham combinado ao pormenor como se corresponderiam. Por isso assim que Jane lhe disse o nome, ela sabia que era de Fitzwilliam.

"Minha Pequena e Doce Alice,

Infelizmente não consegui ir a Netherfield pelo Natal. Tive que vir para Kent, onde me encontro a escrever esta cara, para resolver alguns problemas que estão mais complicados do que pensei.

Espero que continue tão bonita como antes e por favor espere por mim. Darei notícias logo que possível.

Do seu Sempre

Coronel FitzWilliam

P.S. - Não se preocupe, eu sei a sua morada de Londres. Tudo se quer quando se quer."

Embora tivesse esconder toda a sua felicidade Alice não pode deixar de se sentir explodir com tantas emoções e os seus olhos brilhavam. Brilhavam tanto que Lizzy logo brincou com ela sobre os seus sentimentos pelo tal Jeremy. Naquele momento Alice pensou se teria sido uma boa ideia receber a correspondência em Netherfield, pensou que ali pelo menos não haveria perguntas, porém manteve-se firme perante a insinuação da prima e respondeu segura.

Depois desta pequena brincadeira, a conversa foi interrompida por Mr. Darcy e Mr. Bingley que discutiam sobre as notícias que o primeiro recebera. Tanto Lizzy como Jane sorriram ao ver os dois tão envolvidos na discussão.

— Achas normal, depois de ser dispensado por Lady Catherine?- Dizia Mr Darcy algo enfurecido.

— Talvez a tua tia o tenha chamado, e sabes como ela é...e Fitzwilliam não é...bom vamos dizer dono de si...ele depende dela...

— Talvez, mas ele sabe perfeitamente que pode sempre contar comigo. Eu o tenho como um irmão.

— E ele sabe disso tudo. Mas Darcy...

— Eu não percebo, juro que não percebo...- Darcy senta-se olhando para Lizzy tentando acalmar-se no sorriso que ela lhe dá.

— Darcy, já pensaste que não é para perceberes, apenas aceitares e se preciso estares lá para ele.

Darcy olhou para Bingley e deixou-se ficar a pensar no que ele lhe dissera. Alice, agradeceu toda esta confusão pois viu o assunto da carta que recebera completamente esquecido. O dia foi passando e Alice por fim regressou a Longbourn. Mr. Darcy continuava a pensar na carta que o primo lhe enviara, e a sua cara era igual a de um menino quando estava de birra. Assim que se recolheram, Lizzy deixou-o entrar primeiro no quarto e devagar foi-se chegando perto dele, abraçando-o por trás.

— Não gosto de te ver com esse bico, pareces uma menino a quem foi proibido algo.

— Eu apenas não o percebo. Porque é que ele voltou para Rossings? Ele nunca gostou de lá, só ia para me acompanhar...

— Darcy, não o podes julgar sem antes saber exactamente o que se passa. Talvez Bingley tenha razão, talvez a tua tia o tenha chamado.

— Não, não foi apenas isso. Toda a vez que a minha tia o chama ele apenas vai se for comigo. Algo se passa e eu vou descobrir...

— Quem sabe ele não foi a Rossings para comunicar algo à tua tia. Quem te diz a ti que desta vez ele foi porque quis...

— E porque é que ele não me disse isso na carta? Não, eu tenho a certeza que aqui há mão de Lady Catherine...

— Darcy, não podes querer que o teu primo se comporte como tu. Ele é diferente, é impulsivo, efusivo...tens que lhe dar pelo menos o beneficio da dúvida.

— Talvez tenhas razão, mas...

— Darcy...

— Elizabeth, eu só queria perceber. Estou preocupado, ele é como se fosse meu irmão percebes?

— Sim, eu percebo. E sabes, acho que talvez Alice o tenha modificado um pouco, talvez ele apenas tenha ido falar com a tua tia sobre o rumo da sua vida.

— Achas? Alice disse-te alguma coisa?

— Alice não me disse nada, porém ela recebeu uma carta hoje. Vinha de um tal de Jeremy...- Darcy franze o sobrolho sem perceber o que Lizzy estava a querer dizer...- Eu acho que a carta era de Fitzwilliam...

— Será? Não sei a atitude dele foi tão diferente para com ela no baile...

— Eu só acho que Alice ficou com os olhos a brilhar de felicidade depois de ler a carta, e aquele brilho nos olhos eu só os vi quando ela estava com o teu primo. Ficares assim, não te vai adiantar nada. Espera uns dias e vais ver que ele vai acabar por te revelar tudo quando estiver preparado.

E assim depois desta conversa que acalmou de certa forma Darcy, foram dormir. Darcy a pensar qual o motivo de Fitzwilliam regressar a Rossings Park, e Lizzy a pensar na possibilidade de afinal esta gostar efectivamente de Alice e ter ido a dizer a Lady Catherine que o casamento que ela tanto almeja não se irá realizar. A pergunta que fica na sua mente é: será que a altiva senhora irá aceitar de novo este contratempo?

Esta era a pergunta que Lizzy não tinha a certeza de querer a resposta. Ela não tinha receio de Lady Catherine, ela já a enfrentara várias vezes. O seu medo era o que ela poderia fazer com Alice e os tios...ou até mesmo com Fitzwilliam. Será que poderiam correr esse risco?