ASGARD
— Depois de tudo o que fizemos por você. Salvamos sua vida. O acolhemos em nossa casa, o tornamos um príncipe, herdeiro do trono de Asgard. Um filho de Odin... é assim que nos retribui? Com suas mentiras, suas traições... nos presenteia com seu ódio, sua repulsa, as mais cruéis trapaças – o velho rei inicia sua fala ao ver seu filho entrar no salão escoltado por quatro de seus melhores e mais fortes guardas, podia sentir a fúria dos olhos de Loki caindo sobre si ao postarem o príncipe aos pés da escada, o rei levanta de seu trono apoiado em Gungnir, aproximando-se lentamente do trapaceiro, retirando a mordaça que a algum tempo já o incomodava – manchas a memória de sua mãe, da mãe de Thor , da rainha de Asgard...
— Acha que acredito em suas mentiras? Jamais quis que houvessem me salvado daquele lugar. Deveriam ter me deixado morrer no frio de Jotunheim – O deus acorrentado pelos pulsos, pescoço e pernas, deu um passo à frente interrompendo Odin, balançava suas correntes na intenção de irritar cada vez mais os guardas, estes que por sua vez, queriam arrancar sua cabeça, levantou sua cabeça olhando fixamente para Odin – Mentes para seu povo. Mentes para os nove reinos. Mente para seu amado filho Thor. – o príncipe deu alguns passos para trás em fúria, demostrando toda sua raiva em seus gestos e olhares, continuou sua fala lavada em sarcasmo e decepção – Achas que acredito na morte de Frigga? Por anos a considerei minha mãe, uma parte de mim, mas agora ela nada és minha. Já pode aparecer mamãe, eu sei que você está ai, que você sempre esteve ai – o trapaceiro voltou sua atenção para a parede ao lado direito do salão, a qual uma luz verde e dourada se materializou revelando a deusa de longos cabelos loiros, pele alva, e olhos levemente avermelhados, lavados em lágrimas de arrependimento.
— Loki, querido, me desculpe, era necessário – o deus acorrentado nada dizia, suprimindo a dor, com a raiva crescendo cada vez mais forte dentro de si, seus olhos verdes marejavam com tamanho ódio que por eles saiam, jamais imaginaria que Frigga, a única pessoa que por séculos chamou de mãe, o trairia de maneira tão fria, dentro de si tentava não acreditar, a pessoa em que mais confiava. Porém, esta era a verdade, todos eles eram iguais, durante todos esses anos não se importaram com ele, fora criado em um reino onde o rei se aproveita dos fracos para seu benefício, e essa era a realidade, todos eram vermes que podem ser esmagados e descartados a qualquer momento. Sua raiva apenas crescia, se alastrando como um incêndio sem controle, o sentimento de rejeição nascendo dentro de si da maneira mais dolorosa, lágrimas de ódio desciam sem permissão por seu rosto, entortou levemente a cabeça para o lado enquanto ouvia as palavras de Frigga – me perdoe querido, jamais quis fazê-lo sofrer, por favor Loki, meu filho...
— Você não é minha mãe – o príncipe a interrompe, aproximou-se alguns passos dos soberanos, decidido a falar o que guardou para si todos esses anos –, temo nunca ter sido, vocês queriam me manipular, me viam como uma relíquia, o meio mais fácil de acabar com uma guerra – a essa altura as lágrimas involuntárias já molhavam o belo rosto do príncipe renegado, não mais olhava para aqueles que um dia disseram ser seus pais, encarava seus pés e suas grossas correntes –, claro, acham que por ser um Jotun devo viver apenas com restos, eu apenas queria que olhassem para mim como olham para Thor e Balder, como tratam Thor e Balder, mas isso é demais para os reis de Asgard...
— LOKI, BASTA – gritou Frigga, que já não mais conseguia conter as lágrimas e assim atraindo a atenção de seu filho para si – DURANTE TODOS ESSES ANOS AGUENTAMOS TUDO O QUE SEUS ATOS FIZERAM AOS REINOS, MANDOU O DESTRUIDOR PARA MATAR SEU IRMÃO, TENTOU DOMINAR MIDGARD, FORJOU SUA MORTE DUAS VEZES, ENQUANTO SOFRIAMOS COM O LUTO – a rainha sentou-se na longa escadaria sentindo uma forte tontura e logo foi amparada por um dos guardas, passados alguns segundos, continuou em voz baixa – tentou matar seu pai. E tudo isso apenas para conseguir o trono, apenas para ser rei, para obter o poder...
— Ele não é meu pai – retruca Loki em voz baixa e raivosa – e você não é minha mãe – doía dizer aquilo para ela, por séculos foi a única que o entendeu, mas precisa mostrar a sua dor, mostrar as consequências das decisões que o levaram até ali – eu seria um rei muito melhor que Thor, mas vocês jamais confiariam o trono de Asgard a um Jotun, quero que vocês sofram tudo o que fizeram-me passar durante minha vida – a passos lentos subia os degraus se aproximando de Odin, Frigga já recuperada levanta-se lentamente permanecendo ao pé da escadaria – a dor, a humilhação, ser a sombra de seus filhos perfeitos, ser o irmão fraco – parou em frente a Odin o olhando com repulsa – você é fraco, não passa de um rei fraco e repugnante, espero que lembre de minhas palavras, seu reinado de gloria irá cair, por culpa sua e do orgulho de seus filhos favoritos, o povo se revoltará contra Valhala, a peste tomará conta dos reinos governados por seu soberano – Frigga olhava seu filho com um misto de medo e decepção, aquele com certeza não era mais seu Loki, já o Pai de Todos adquiria uma raiva incondicional a cada palavra dita, e com essas palavras Loki assinou sua sentença – Asgard cairá, da maneira mais dolorosa e fria...
— BASTA, NÃO OUVIREI MAIS SUAS PALAVRAS FERINAS – em uma tentativa de se acalmar o velho rei senta-se em seu trono, fitando o trapaceiro a sua frente – não sei mais o que fazer com você.
— Que tal me prender novamente pelo resto de minha eternidade? – diz o deus da trapaça enquanto descia os degraus ficando parado ao lado de sua mãe, virou-se bruscamente para Odin que o olhava com tristeza e raiva – melhor ainda, me mande para Midgard, eu poderei encontrar minha redenção por lá igual a Thor, não, melhor, mande-me fazer trabalhos comunitários como Balder, ou quem sabe me queimar em praça pública para o delírio de seu povo.
— QUIETO! A partir de hoje, você, Loki de Jotunheim, filho de Laufey, está proibido de viver neste reino... – fala o rei, pensando se aquela era a melhor opção.
— ODIN NÃO! PARE! POR FAVOR! Não faça isso – grita Frigga que começava a chorar novamente, caindo de joelhos aos pés da escada, Loki olhava para o Pai de Todos com magoa, desacreditando o que estava para acontecer – ele ainda é nosso filho.
— Não! Ele é filho de Laufey, mil perdões, mas esta é nossa única opção - o grande rei levantou de seu trono dourado ficando apoiado em Gungnir – lhe demos várias chances de mudar.
— Mentira! É tudo mentira – Loki já não segurava mais suas lágrimas, a raiva dentro de si transbordava, ao olhar para Frigga não sentia mais carinho e amor por ela, apenas raiva, ódio e decepção, seria capaz de arrancar a cabeça de Odin se ele estivesse solto – jamais me deram chance alguma. A MELHOR MANEIRA DE SE LIVRAR DE MIM, FOI ME DEIXAR APODRECER EM UMA JAULA...
— CANSAMOS DE AJUDÁ-LO! VOCÊ JAMAIS PISARÁ NOVAMENTE EM ASGARD, NÃO MAIS PROFANARÁ OS REINOS DE YGGDRASIL, A PARTIR DE HOJE TODOS ESTARÃO LIVRES DO MAL QUE CARREGAS! EM NOME DO MEU PAI, E DO PAI DELE! EU ODIN, BANO VOCÊ! - um raio sai de Gungnir atingindo Loki no peito, o príncipe cai de joelhos com tamanha dor, seus gritos podiam ser ouvidos do lado de fora do palácio, conforme o raio ficava mais fraco, seu poder deixava seu corpo, uma fumaça verde sinuosa deixava seu corpo entrando na lança, ao cessar totalmente, o príncipe cai no chão sem forçar para se manter em pé, Frigga chorava cada vez mais alto, implorando para seu filho ficar, Odin cai sentado em seu trono com a sensação que não foi o melhor a se fazer, Loki por sua vez, olhava para o rei petrificado tentando por seus pensamentos em ordem, acabará de ser banido, ao longe ouvia o som dos guardas se aproximando e a rainha caída em prantos – levem-no para a Bifrost, mandem jogá-lo no lugar mais longe possível! Adeus Loki.
— Vocês vão se arrepender disso – dizia enquanto era levantado e arrastado pelos guardas – TODOS VOCÊS VÃO SE ARREPENDER!
Chegando na cúpula da Bifrost acompanhado de seis guardas, pode ver Thor, Lady Sif, os três guerreiros e Balder voltando para seu reino dourado, não pode conter o sorriso debochado quando todos o viram.
— O que está acontecendo? Larguem-no – fala Thor ao ver seu irmão acorrentado, se aproximou dos guardas empunhando Mjhölnir, porém, Sif o detém a tempo.
— Irmãos! Não terão mais de se preocupar comigo, aproveitem o tempo que os resta em seu reino, o fim está mais próximo do que imaginam, pena que não estarei aqui para ver seu reino e seu rei cair! – dois guardas soltavam suas correntes quando Frigga adentra a cúpula da Bifrost correndo aos prantos.
— LOKI! MEU FILHO! – pulou no deus abraçando-o da maneira mais forte que conseguiu, mas o trapaceiro continuava parado sem retribuir o abraço, não sentia mais que Frigga era sua mãe – querido, eu sinto muito, não queria que isso acontecesse.
— Não sinta – sussurra – volte para seus filhos perfeitos, sua família perfeita – a rainha o solta olhando no fundo dos olhos verde esmeralda do filho renegado, não via sentimento algum neles, nem mesmo a raiva de minutos atrás – esqueça que um dia estive em sua vida.
— Pare Loki! Você sempre será meu filho – diz a soberana com a voz embargada, ao ouvir isso o príncipe começa a rir se afastando daquela que um dia fora sua mãe.
— Vocês vão se arrepender tanto disso – e assim e sugado pelo vórtice da ponte deixando para trás o eco de sua risada e a sombra de um sorriso. Thor e Balder logo amparam sua mãe aos prantos, a todo momento pediam o que havia acontecido, a rainha apenas os mandou falar com Odin, se recolhendo em seus aposentos, com a dor da perda de seu filho favorito.
Já era noite quando chegou à terra desconhecida, para alguém que está sem nenhum poder e acabará de ser banido, havia chegado bem ao local, estava parado no meio de um campo verde com grama rala, totalmente cercado por árvores, olhou em volta pensando para aonde iria, quando sua atenção se direcionou a uma estrada de terra atrás de si, logo pode ouvir o som de risadas e uma luz mais a frente, seguindo a estrada chegou a uma taverna com estalagem e decidiu que passaria por ali a noite.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.