Prólogo

Prof.ª Shizuka, acendendo seu cigarro e tragando-o por 5 segundos, me encara com dúvida nos olhos, provavelmente, querendo um bom motivo para seu aluno tê-la chamado no estacionamento ao termino do 5º horário.

—– Desembucha logo Hikigaya, o que deseja tratar comigo?

Não é a primeira vez que faço isso, mas diferente das outras vezes, estou tremulo e com o coração quase pulando para fora. As garotas anteriores por quem me apaixonei equiparavam-se ao meu nível, já a prof.ª é de um nível superior. Se for fazer uma analogia, seria um cão sarnento solitário cortejando uma bela loba.

Garotas de ensino médio buscam um cara capaz de atender as satisfações pessoais inalcançáveis (ou quase) delas. No caso, mesmo que não admitam, todas buscam seu próprio príncipe encantado e tal príncipe deve atender uma complexa lista de pré-requisitos. Já as mulheres adultas acima dos 30 que ainda não conseguiram casar começam a entrar em desespero e aceitam o primeiro cara decente que atenda os pré-requisitos básicos delas. Mas um garoto vagabundo e desempregado como eu nem ao menos entra na lista de opções viáveis de uma mulher como ela, pelo simples fato de eu atender a 0% dos pré-requisitos. Com isto não estou afirmando que mulheres acima de 30 anos não buscam príncipes encantados, todavia, elas são mais realistas e se desapegam das fantasias juvenis. Até porque um cara jovem, rico e bonito não vai atrás de senhoras e sim de garotos do ensino fundamental. Ops, falei demais.

—– Vamos, desembucha. Eu não tenho o dia todo.

—– Er... Como eu posso colocar isso em palavras? Prof.ª Hiratsuka... Eu gosto de você. Por favor seja minha namorada.

O cigarro caiu da mão dela e seu rosto ficou corado.

—– Ei! É feio fazer trote com as pessoas sabia?!

—– Trote? Não! Estou falando sério! Eu gosto você!

—– ...Sério?

—– Seríssimo.

Aparentemente consegui atingir seu coração. Mas o quão baixa estão as expectativa da Prof.ª Shizuka para se abalar com a confissão de um aluno?

Esfregando a mão na cabeça e meio sem jeito ela disse:

—– Sabe... Somos aluno e professor, então bem... Não daria muito certo...

—– Isso não é uma boa resposta. E se não fossemos aluno e professor?

—– Bem... Tem as leis não é mesmo? As leis impedem que pessoas maiores de idade se relacionem com menores...

—– E se eu fosse mais velho?

A Prof.ª Shizuka ficou em silencio.

Eu nunca cheguei tão longe numa confissão. Todas as vezes terminou com: “Não, mas podemos ser bons amigos?”.

—– Ah bem... Mesmo que não houvesse esses empecilhos nós ainda teríamos que nos conhecer melhor e somente depois iniciar um namoro ou algo parecido...

—– Então vamos nos conhecer melhor.

—– Ei, ei! Eu disse “mesmo que não houvesse”, mas há.

—– O que os olhos não veem o coração não sente.

—– Não é desta forma que as coisas funcionam! Só um adolescente irresponsável poderia pensar assim!

Dando um suspiro, a Prof.ª Shizuka retoma a compostura:

—– Olha Hikigaya, admiro sua coragem, mas...

Um homem apaixonado e um homem louco em nada diferem.

—– Me conceda apenas uma chance. Irei provar o meu valor. Apenas uma chance.

Colocado a mão a no queixo, a Prof.ª Shizuka ficou pensativa.

—– Tudo bem, vou te dar uma chance, apenas uma. Mas antes terá que cumprir uma missão.

—– Missão? Que tipo missão?

—– Na classe 2-A tem uma garota meio... Problemática. Linda e inteligente, mas problemática. A sua missão é ajuda-la, caso obtenha êxito, te darei uma chance.

—– Certo! Quem é a garota?!

—– Eu nem citei o problema dela e você já quer saber quem é? Em todo caso, o nome dela é Yukinoshita Yukino, uma jovem antissocial além da conta, o individualismo dela chega a ser insano, o que a prejudica bastante.

Yukinoshita Yukino, ou Lady Neve Sob Neve, ou King of Yuki-Onna’s. É conhecida por todos na escola. Se não a viu em pessoa, você ouviu alguém cochichar/falar a respeito dela.

Perfeita e insuperável, imaculada e inalcançável.

Não é estranho pessoas deste porte sofrerem de solidão, afinal de contas, imagine alguém que edificou uma torre tão alta, mais tão alta, que ninguém consegue comunicar-se com ele por causa da extrema altitude, bem, isto é a vida de pessoas como a Yukino. Eles constroem, involuntariamente, um status que os elevam a patamares transcendentais que humanos comuns enxergam com incompreensão e ao mesmo tempo admiração ou inveja.

Imagino o porquê da prof.ª Shizuka delegar a mim a função de ajudar a Yukino. Sou um solitário também, então como posso ajudar alguém que sofre de solidão?

—– Eu tenho que ajudá-la a socializar? É esta a missão?

—– Basicamente.

—– Não é algo tão fácil...

—– Achou que eu te daria uma missão fácil? O que está em jogo aqui é uma chance comigo, ou você acha que não vale o esforço, Hikigaya?

—– Claro que vale. Anote: em 3 meses ou menos Yukino estará sorrindo e conversando com todos.

—– Essa eu quero ver.

E desta forma, eu dei o primeiro passo para conquistar o coração da prof.ª Shizuka.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.