Oportunidades

▸ Beautiful day.


Quando a conheceu, ele era apenas um estudante. Um rapaz que vivia a vida desleixado, dormia nas aulas, fazia pouco caso do que o impusessem. Mas dotado de uma inteligência tamanha que, segundo os professores, não era aproveitada por sua falta de vontade e compromisso. E ele continuou, concluiu o colegial, se graduou e decidiu ser aluno da vida. E assim foi encontrá-la, arrumou suas coisas e partiu numa viagem insana que ninguém pode contestar — sua mãe estava de cama e seu pai morto — e se tornou um viajante. Explorou vilas próximas, observou as diversas faces da natureza, conheceu novas pessoas… Encontrou, por exemplo, uma mulher que seguia para um lugar próximo, então optou por acompanhá-la até um lugar chamado Sunagakure no Sato.

A Vila da Areia era conhecida principalmente pelo clima árido e extremamente quente, e Yamanaka Ino pretendia chegar lá por algum motivo. Motivo esse que não fez questão de saber, não falavam muito sobre suas vidas. Embora, em determinados momentos, a Yamanaka fosse bastante tagarela e o olhava firmemente com aqueles olhos azuis inquietantes.

Caminharam por um tempo, encontraram povos pela extensão da fronteira, ganharam abrigo e comida.

E, depois de mais ou menos três dias, chegaram à Suna com feições cansadas.

— Aonde você vai?

— Preciso falar com o Kazekage — Ino respondeu. — Mas não se preocupe, já vim aqui antes. Só preciso que me siga, se quiser, claro.

Ele assentiu, não tinha grandes planos, afinal. E seguiu-a olhando as crianças que passavam lançando-lhe olhares curiosos, ou rindo e brincando. Isso o fez pensar que sua grande expectativa para esposa era uma mulher doce, calma, bonita (obviamente). Via a relação dos seus pais e ficava pensando no quão agressivas eram as pessoas do sexo feminino. E, ainda assim, seu pai amava Yoshino. As palavras dele ainda estavam em sua mente.

Observou a paisagem local à medida em que avançavam. As casas no tom de areia, eram simples e com uma beleza única. O clima desértico que, para os habitantes, era agradável. O sol escaldante parecia querer fritá-los a cada passo.

Estava tão distraído admirando a vila que acabou por se distanciar de Ino e, de bônus, esbarrando com alguém.

— Desculpa — murmurou na intenção de ajudar a pessoa, ou melhor, mulher. Porém, ela rejeitou bruscamente essa tentativa.

— Olhe por onde anda — a voz nada doce dela repercutiu em sua mente, o fazendo, na hora, suspeitar de que ela era problemática no mínimo. E, depois de limpar a areia do seu próprio corpo e observá-la fazer o mesmo, viu seu rosto. Ficou surpreso: reconheceria tais olhos verdes e personalidade exclusiva em qualquer lugar.

— Nara? — ela foi a primeira a dizer, igualmente surpresa. Era Temari, quem amava. E quem o deixou há um tempo para voltar a sua terra natal. Só não imaginava que seria Suna. — O que faz aqui?

— Escolhi viajar pelo mundo — comentou estreitando os olhos. Fazia anos que não se viam e Temari estava diferente do que lembrava. Nem tanto, mas ainda assim diferente. — Estou acompanhando uma pessoa.

— Alguém tão preguiçoso como você levando uma vida dessas? — Sorriu. — Algo como isso existe, afinal.

— E você continua a mesma problemática — bufou.

Ficaram calados por um tempo, até Temari começar a andar, e ele a acompanhá-la. Os olhos de Shikamaru fixaram-se na figura excêntrica, praticamente uma ex-namorada. Conheceu-a no colegial, num evento integrando cinco vilas. Um tempo depois, começaram a namorar. Até que, bem, Temari teve de voltar para sua terra. E o deixou em Konoha, pois pelo visto era alguém importante em Suna.

Talvez ainda a amasse. Ou melhor, tinha certeza. Ficara triste por um tempo após a partida, mas acabou desistindo da tristeza. Para reencontrá-la ali, naquele lindo dia, naquele lindo lugar.

— Que cara é essa? — a expressão curiosa no rosto feminino era quase imperceptível.

Shikamaru não respondeu.

Explicar seria estranho, afinal mal acabou de reencontrá-la numa situação nada confortável. Isso não seria inteligente de sua parte.

— Não é nada. — Sentiu sua visão enfraquecer aos poucos, borrando tudo aos poucos. — Eu só…

— Nara Shikamaru! Nara Shikamaru! NARA SHIKAMARU! — ela gritava com voz de repreensão.

Sua visão ficou pior, e aos poucos a voz de Temari também se perdia em meio às lembranças. Sua cabeça balançou o suficiente para trazê-lo de volta.

Foi tudo um sonho. Ou melhor, um pesadelo. Porque ainda sentia a falta de Temari.

Sua respiração estava acelerada quando acordou de repente, e suava muito. Tentou se situar. Estava na aula. Geografia. Havia adormecido. A professora o sacudia e gritava seu nome freneticamente.

Quando viu, todos na sala olhavam para ele e sua cara de sono. Foi encaminhado à diretoria, obviamente, concedendo-lhe uma advertência. Mas seu sonho foi tão real! Seria ele um aviso?

Aviso ou não, incluiria Suna na sua lista de destinos. Era uma boa oportunidade, afinal.