Operação Zumbi

11 - O fim do mundo


O Grupo Y se escondeu nos arbustos ao passarem pela porta secreta, deixando apenas o líder com Luke. Discretamente cada um de nós saiu do esconderijo para o lado de fora da Cidade, para os quilômetros de armadilhas que tínhamos de arrumar. Parker avisou que as primeiras estavam normais e as últimas, mais distantes dos portões, precisavam de manutenção.

Ou seja, zumbis.

Suspirei pesadamente sentindo falta da minha CFR Whisper ou qualquer arma na qual estava acostumada a andar. Havia deixado todas em meu quarto quando ainda estava com o pé machucado e que, por falar nisso, ninguém havia notado como eu estava andando perfeitamente ou melhor, ninguém havia se perguntado como eu já estava andando tão rapidamente.
Caminhamos até metade da ponte encontrando alguns zumbis que se prendiam nas armadilhas e burros como eram, não conseguiam sair.

Parker colocou silenciador em sua arma e atirou exatamente na cabeça da coisa fazendo com que sangue preto e pele espirrassem para cima. Uma coisa linda de se vê. Ele tirou o corpo morto, dessa vez realmente morto e o jogou pela ponte para o que antes era água e agora não passava de terra seca e rachada.

Nossas armadilhas eram feitas com pedaços de madeira que pareciam formar um círculo com várias pontas afiadas, ficavam de pé bem presas a cordas e no seu interior, era colocado gaiolas com ratos para chamar atenção e prender qualquer zumbi que se aproximasse. As armadilhas se espalhavam por toda a extensão da ponte, estrategicamente colocadas sem deixar qualquer espaço aberto o suficiente para que avançassem demais. Enquanto nos aproximávamos, Tori, Tony e Parker matavam os zumbis em nosso caminho, jogava-os para fora enquanto eu tinha o trabalho de reagrupar as madeiras e apertar os nós das cordas. Luke estava com o garoto na qual eu havia salvado no muro na noite passada, Nick, e ensinava como um bom Beta deveria fazer. Matar o zumbi, jogá-lo da ponte e ajeitar as armadilhas para manter a maioria das pontas para frente.

Quando Nick ergueu seu olhar para nós, ele sorriu calorosamente para mim voltando logo a ouvir o que Luke dizia. Não arriscamos nos aproximar demais deixando os dois com a privacidade que queriam, apenas fizemos o que deveríamos fazer e esperamos que Luke terminasse sua aula com o garoto mais novo. Me encostei no parapeito da ponte sem a mínima vontade de olhar para baixo e arriscar ver a quantidade de corpos que tinha ali. Olhei para o céu azul claro como em qualquer outro dia imaginando como deveria ter sido antes. O mundo pré-apocalíptico, antes do fim, antes do começo dessa nova era, mas talvez nada do que conseguia imaginar fosse tão perto do que deveria ter sido.

— É tão sombrio, não é? – Tori disse ao meu lado. Eu realmente não havia visto se aproximar. – Meu pai costumava dizer que aqui era um bom lugar para morar. Era divertido, iluminado e simplesmente lindo. É uma pena que não conhecemos desse jeito.

— Meus pais costumavam dizer a mesma coisa e mesmo com as histórias que me contavam, não consigo imaginar como era.

— Você não acha estranho? Aconteceu realmente o fim do mundo e nós estamos reorganizando-o. – Tori falou me fazendo olhar para ela por um instante. Ela olhava para o horizonte com seus olhos escuros e levemente puxados, sem se importar que eu a encarava. Para nós duas que nascemos na Era Apocalíptica, era normal o que fazíamos ou o que tínhamos de temer, já que aquilo era tudo o que conhecemos. Diferente daqueles que conheceram o mundo de antes e carregam saudade nos olhos.

— Estamos tentando, pelo menos. – respondi dando de ombros.

— É, tentando. Mas quer saber, a perda dos meus pais só me serviu para amadurecer mais rápido. – concordei com a cabeça enfaticamente. Nós nunca conversamos sobre nossos pais, nunca nem mesmo contávamos o que sentíamos por ter passado por muitas coisas tristes e traumatizantes. Ela se acomodava em seu mundo assim como eu no meu. Até aquele momento.

— Como aconteceu? Você sabe... Com os seus pais.

— O de sempre, eles saíram e não voltaram mais. Aliás, é assim que perdemos eles não é? Não existe doença a não ser esta. Não existe perigo a não ser este.

— Califórnia. Mississipi. – a voz de Tony ecoou com o vento até nós.

Tori e eu nos viramos apenas para vê-los caminhando em direção ao muro, inclusive Luke e o líder do Grupo Y, Nick. Suspiramos instantaneamente nos preparando para a volta e supostamente para mais uma saída durante a noite, passamos por algumas armadilhas, por pobres ratos que ficavam como isca para zumbis nojentos, realmente era um final muito triste e como uma boa observadora, não deixei de notar o erro naquela armadilha, o modo como a madeira pontiaguda estava para baixo, o que não iria ajudar em nada, talvez machucaria o zumbi mas não o prenderia como deveria ser.

Olhei para Tori, mas ela não havia visto o mesmo que eu, nem mesmo estava atenta as armadilhas. Respirei fundo e parei observando a corda que prendia a madeira em pé e dava suporte a gaiola, observei as madeiras pontiagudas imaginando como as arrumaria, onde prenderia e como faria sem qualquer corda extra. Com muito cuidado pus as mãos na ponta da madeira seguindo até o começo dela tentando encontrar sua outra ponta antes de movê-la, havia muitas cordas que prendiam todas elas no centro servindo como base para a gaiola. Ergui a ponta da madeira empurrando-a para cima tentando deixá-la erguida tendo como alvo estômago ou pescoço, sorri orgulhosa pronta para fazer o mesmo com a madeira ao lado quando um ruído seco chegou ao meus ouvidos vindo da entrada da ponte. Movi minha cabeça para o lado só para checar, pelos cantos dos olhos, a distância de corpo que se arrastava em minha direção.

Não pensei em chamar Tori, quem poderia está mais próxima a mim. Não pensei em puxar minha arma, se eu estivesse com uma. Porém, me virei encarando o corpo sujo com o rosto deformado e olhos mortos enquanto se aproximava lentamente, logo atrás vinham mais dois, lentos como tartarugas.

Pensei em puxar uma daquelas madeiras, mas não tinha certeza se a armadilha ainda ficaria de pé, pensei em correr porém meu corpo inteiro estava travado como se aquela opção não existisse. Pensei, pensei, pensei até que meus olhos desviaram do rosto do zumbi até o tórax onde havia metade de uma faca enterrada na pele. Não pensei duas vezes antes de correr até ele, me esquivar de seus braços, ignorar seu odor insuportável e puxar com todas as minhas forças o cano da faca. Péssima ideia para alguém que não sabia a profundidade em que ela estava, péssima ideia para alguém que estava sozinha e péssima ideia não ter chamado por meu grupo.

Empurrei as pernas do zumbi com um pé fazendo-o cair em desequilíbrio no chão e a faca deslizar para fora. No segundo seguinte, Tori estava ao meu lado apontando a arma para os dois zumbis que vinham logo atrás e que estavam no chão em um piscar de olhos. Olhei para aquele caído em meus pés e não esperei por Tori agir antes de mim, cravei a lâmina da faca bem no centro de sua testa. Ignorei a força que tive de fazer para empurrá-la pelo crânio e precisei ignorar o sangue preto em minhas mãos.

Mas tudo o que não ignorei foi puxar a faca de volta.