C A I T L I N

Caitlin odiava ser o centro das atenções, talvez por sua pouca habilidade social, pois havia uma enorme diferença entre a psicóloga Snow e Caitlin Snow pessoa, quando vestia o manto de psicóloga, falar com pessoas e sobre pessoas era mais fácil, pois ela podia usar termos técnicos e despachar quando acabasse o horário, mas quando era apenas Caitlin, digamos que sua interação social era uma bosta. Todos aqueles olhares sobre ela, todas aquelas caras tortas e sorrisos esnobes a faziam sentir como se fosse mais baixa que eles.

—Mantenha o sorriso. - Felicity mandou arqueando as costas e mantendo a postura, mas Caitlin não estava sorrindo. - Mirabella, desculpe o atraso e a chegada.

A mulher esguia e elegante se aproximou delas com um sorriso nervoso, Mirabella era tão bela quanto seu nome.

—Pelo menos vocês chegaram, deixa eu apresentar vocês as outras. - Caitlin caminhou perto Felicity em direção às outras noivas, todas estavam elegantes em seus vestidos longos e saltos altos, até Felicity estava linda com um vestido verde fluido com um decote entrelaçado. - Meninas.

As seis mulheres se aproximaram, as câmeras se viraram para elas, Caitlin começou a suar frio.

—Noiva número quatro, não é? - uma delas indagou com um sorriso tão doce que Caitlin sabia que era falso, assentiu. - Eu sou Laurel Lance, a noiva número um.

—Caitlin Snow.

Então todas começaram a se apresentar e Caitlin tentou decorar todos os nomes, sabia que a fada madrinha de Laurel era Maggie Sawyer redatora da seção de beleza; tinha também Kara Danvers, a noiva número três, sua fada madrinha era Lyla Diggle, seção de comportamento humano; por fim havia Iris, sua fada madrinha era Sara Lance, irmã de Laurel e redatora da seção de saúde. Tudo parecia estranho aos seus olhos, como se todos fossem peças de uma casinha de boneca, a perfeição era a única coisa que importava, todas pareciam perfeitas para estarem ali, todas menos ela.

—Felicity, Caitlin, vamos para o sofá para conversamos melhor. - Mirabella apontou para o móvel branco posicionado perfeitamente a frente da janela de vidro. Olhou rapidamente para Felicity antes de seguir até o sofá, as câmeras, ou pelo menos a maior parte delas, estavam viradas para ela. Uma das assistentes arrumou o microfone no decote do seu vestido. - Então, Caitlin, conte-nos mais sobre a sua história com Ronnie.

Abriu a boca sem saber o que falar, olhou para Felicity, que limpou a garganta chamando a atenção para si, Mirabella olhou para ela em repreensão, as duas então tiveram uma conversa silenciosa, apenas com os olhares, isso durou apenas três segundos antes de Mirabella falar.

—O noivo de Caitlin é bombeiro e voluntário nas horas vagas. - Caitlin olhou para Felicity não entendendo porque Mirabella estaria continuando com aquela história. - Ele a ajudou a cuidar da irmã dela depois da morte da mãe delas. Não é mesmo, Caitlin?

Ela engasgou com o ar em seus pulmões e começou a tossir, olhou para Felicity que também estava surpresa e abismada com aquilo.

—Com licença. - murmurou sem conseguir conter o ataque de tosse, se levantou saindo apressada do salão, precisava de um pouco de ar puro. Empurrou a porta giratória da entrada do hotel e correu para rua, não sabia muito bem para onde ir ou o que fazer. Mas não precisou de um tempo para pensar, o barulho da buzina chegou aos seus ouvidos segundos antes de sentir o impacto do carro e ser jogada para frente, levou cerca de três segundos para parar de ouvir os barulhos ao seu redor e tudo ficar escuro. Aquilo deveria ser o coroamento do seu grande dia.

×××

Sua cabeça latejava quando acordou no quarto branco, virou o rosto e piscou várias vezes tentando desborrar a figura borrada a sua frente, tentou levar a mão até a cabeça, mas alguém a segurou, o toque suave e quente.

—Não se esforce. - uma voz gentil disse abaixando seu braço. Caitlin fechou os olhos tentando acalmar todo o corpo, seu joelho esquerdo ardia e as palmas das suas mãos coçavam. - Você está bem?

—Um pouco dolorida, mas bem. - sussurrou se esforçando para sentar, a pessoa ao seu lado a ajudou, demorou cerca de dois segundos para Caitlin conseguir visualiza-lo melhor, o cabelo, os olhos, as bochechas, a boca, ela tentou cravar em sua mente aquela imagem. - Onde estou?

—Pronto - socorro, te trouxe pra cá assim que te atropelei. - ele disse com calma, ela franziu a testa perplexa e assustada.

—Como assim me atropelou? Foi você quem me atropelou?

Ele abriu e fechou a boca nervoso, então coçou a nuca gaguejando um pedido de desculpas.

—Não acho que foi uma boa ideia começar essa conversa assim.

—Com certeza não foi.

—Então vamos do início. Muito prazer, me chamo Barry Allen e sinto muito por ter te atropelado. - ele estendeu a mão e ela apertou.

—Caitlin Snow. Obrigada por me trazer aqui, outra pessoa teria me deixado no chão e dado no pé.

—Tinha testemunhas demais. - ele brincou, ela riu. - Sinto muito mesmo, mas você apareceu do nada e eu não tive tempo de frear.

—Desculpa, as coisas estavam complicadas demais lá dentro. - disse, então lembrou-se de Felicity. - Aí merda!

—O que foi?

—Onde está meu celular? - perguntou virando a cabeça rapidamente, parou quando sentiu a pontada atravessar seu cérebro.

—Você não estava com nenhuma bolsa quando eu te atropelei. - Barry disse. - Você quer ligar para alguém? Eu te empresto meu celular.

Assentiu, Barry lhe entregou o aparelho, Caitlin fechou os olhos tentando lembrar o número de Felicity, começou a digitar no teclado quando o contato de Felicity apareceu na tela do celular.

—Você conhece Felicity Smoak?

—Sim, ela é minha amiga, minha melhor amiga para falar a verdade...espera, você conhece ela? - Barry perguntou surpreso.

—Claro! Ela é minha fada madrinha, ou era, porque depois da cena que eu dei não me surpreenderia se me tirassem do jogo.

—O que aconteceu?

—Aí, é uma longa história, acho melhor não te atazanar com isso. Eu apenas tenho que ligar para Felicity. - explicou apertando no nome dela.

—Coloca no viva-voz. - Barry pediu, ela assentiu. Demorou apenas dois toques para ela atender.

—Barry, eu não tô com saco para aguentar as suas frescuras hoje, então se não for nada importante nem ouse completar essa ligação. - Felicity rosnou ao celular, Caitlin já podia imagina-la no hall do hotel girando os calcanhares sobre os saltos nudes com a mão na cintura.

—Felicity, é a Caitlin. - disse, do outro lado da linha sua fada madrinha soltou um longo suspiro aliviado que durou pouco, pois logo ela começou a brandar irritada.

—Onde você está? Como pode fazer isso? Por que diabos está com o celular do Barry? Por que não está aqui? Você quer que eu perca o meu emprego, Caitlin?!

—Se acalma e respira fundo. - pediu fazendo ela se calar. - Agora inspira pelo nariz e expira pela boca. - ordenou, mas ainda podia ouvir a respiração constante e irritada dela. - Felicity, inspira pelo nariz, - do outro lado ela fez o que Caitlin pediu. - isso e agora expira pela boca. - ela pode ouvir o barulho da respiração de Felicity contra o celular. - Mas calma?

—Não, apenas mais irritada com você. Agora dá pra senhorita me explicar o que está acontecendo.

—Eu saí para tomar um ar puro e acabei sendo atropelada. - disse fazendo Felicity ofegar. - Não se preocupe, estou bem, foi Barry que me atropelou e ele também me trouxe para o hospital.

—Sua amiga é dura na queda, Feli. - Barry disse sorrindo.

—Meu Deus, essa foi uma baita coincidência. - Felicity falou com a voz abafada e mais baixa.

—Foi mesmo. - concordou. - E eu sinto muito por ter fugido, não devia ter feito aquilo.

—Olha, acho melhor a gente conversar pessoalmente. Barry pode te trazer de volta pro hotel, não pode Barry?

—Claro. - ele disse sorrindo para ela. - Acho que é um dos inúmeros favores que eu estarei devendo a senhorita Snow para não ser processado.

—Pois é melhor mesmo, porque eu tenho os melhores advogados do mundo. - lançou um olhar desafiador para Barry.

—Já estou tremendo de medo. - ele brincou erguendo as mãos e as balançando. Ela riu.

—Será que dá pra vocês dois pararem de brincadeira e virem logo! - Felicity gritou chamando a atenção deles.

—OK! - eles gritaram juntos, uma enfermeira apareceu os olhando torto, tanto ela quanto Barry lançaram um sorriso amarelo para a mulher de branco, quando ela voltou a atenção para o celular Felicity já havia desligado. - Acho melhor irmos antes que alguém nos expulse.

Jogou os pés para fora da cama encarando seu joelho envolto na gaze, olhou para suas mãos vermelhas, elas estavam limpas, mas Caitlin podia ver os arranhões superficiais. Barry lhe entregou suas sapatilhas, ela calçou antes pular da cama, reprimiu um gemido de dor quando sentiu o choque chegar até o seu joelho, o braço de Barry envolveu sua cintura.

—Deixa que eu te ajudo. - ele sussurrou próximo ao seu ouvido, Caitlin mordeu o lábio incomodada com a súbita aproximação. - Vamos.

Eles seguiram para fora do pronto-socorro, como o médico já havia dito para Barry que assim que ela acordasse já estava liberada, eles não viram problema em sair sem avisar ninguém. Barry a levou de carro para o hotel, a viagem toda foi agradável, a música tocava no rádio e a conversa não parecia necessária, ela agradeceu silenciosamente quando parou na frente do prédio e Felicity já estava lá.

—Você quase me matou do coração, sabia? - sua fada madrinha disse a ajudando sair do carro. - Quando não atendeu o celular e quase surtei, então lembrei que estava com o seu celular na minha bolsa, aí a situação piorou quando Mirabella me perguntou sobre você e eu não soube o que falar. Pelo menos agora temos uma boa desculpa.

—Barry pode ser minha testemunha. - falou batendo no ombro dele.

—Será um prazer. - ele disse passando o braço pela cintura dela de novo, Caitlin voltou a morder o lábio nervosa, Felicity arregalou os olhos na direção deles, ela parecia completamente confusa ou perplexa, era difícil decifrar o rosto dela naquele momento.

—Ok, vamos entrar logo porque isso vai dar merda. - Felicity murmurou. Olhou para ela sem entender nada.

Caitlin mancou com a ajuda de Barry até o salão, as câmeras ainda estavam lá e as noivas também, Mirabella foi a primeira a vê-los e correr em sua direção.

—Aí meu pai. O que houve? - ela perguntou olhando para Caitlin de cima para baixo, passando pelo cabelo bagunçado, a maquiagem borrada, a roupa amassada e o joelho machucado.

—Fui atropelada. - disse calmamente.

—Por quem? - Mirabella colocou a mão sobre a boca abismada.

—Por…

—Barry? - a voz de Iris lhe chamou a atenção, na verdade a noiva número dois via em sua direção erguendo o vestido sobre seus calcanhares.

—Fudeu. - Felicity sussurrou ao seu lado colocando a mão sobre o rosto.

—O que você está fazendo aqui? - Iris colocou a mão sobre a cintura e olhou diretamente para Barry. - Pensei que só viria quando eu te ligasse.

Barry abriu a boca, mas nenhuma palavra saía, parecia que ele tinha dado um tilt. Caitlin demorou cerca de dois segundos para ligar os pontos e entender o que estava acontecendo, então pela primeira vez na vida seu cérebro foi mais rápido que sua filtro de fala social, pois quando abriu a boca a única coisa que saiu, bem alto, foi.

—Aí meu Deus, você é noivo da cacatua! -Barry a olhou abismado, Iris a olhou incrédula e Felicity gargalhou escandalosamente se divertindo com aquilo.

—Caitlin, por que você não vem comigo para descansar um pouco no sofá e me explicar o que aconteceu, em? - Mirabella indagou já a puxando pelo braço em direção ao enorme sofá branco querendo amenizar a situação, Felicity a acompanhou.

—Por que não me contou antes? - perguntou um pouco irritada a Feli. - Porque não me contou que ele era noivo dela.

—Da cacatua? - sua fada madrinha arqueou a sobrancelha sem conter o riso. Caitlin bufou. - Olha, eu não tenho culpa se você foi atropelada justo por ele? Foi uma coincidência, apenas isso.

—Vocês duas fiquem aqui, que eu vou tentar resolver aquela confusão. - Mirabella disse como se falasse com duas crianças pequenas. - Ainda temos uma entrevista para completar, senhorita Snow.

—Então eu não fui expulsa?

—Claro que não, principalmente agora que temos essa história. Isso tudo vai ser um arraso.

Caitlin observou Mirabella se afastar sobre seus saltos de quinze centímetros, ela tentava entender como alguém conseguia manter o bom humor e o otimismo naquele momento.

—Você teve sorte, sabia? Mirabella nunca cedeu tão fácil. - Felicity disse. - Mas agora você tem uma história de verdade aqui, seu atropelamento ainda pode render muita coisa.

—Uhum.

—Mas me diz uma coisa, por que cacatua?

—Na escola ela se exibia demais, então comecei a chamar ela de cacatua, alguns dos meus colegas também adotaram o apelido, ela morria de raiva quando a chamavam assim. Graça a Deus, ela nunca descobriu que fui eu quem criou isso. - explicou fazendo Felicity rir ainda mais.

—Caitlin, eu definitivamente vou amar ter você como minha noiva.

—E eu vou amar ter você como madrinha.

Felicity sorriu colocando a mão sobre a sua e disse.

—Eu estou sentindo que talvez a gente realmente tenha uma chance de ganhar essa bagaça.

Ela riu, talvez pelo menos desta vez a sorte estivesse ao seu lado.