Only Daydreams...

Capítulo Único...


Mais uma manhã. Mais um dia. Hoje se completa 365 dias que ele faleceu. 365 dias que falta um lugar em meu coração. Muitas pessoas dizem que amam, dizem que já amaram ou dizem que sabem o que é amar. Mas a verdade é que nem metade delas sabe o que é amar.

“ ‘Kyunnie, o que é amar pra você?

‘Ah, Minnie, amar é sentir o que eu sinto por você.

‘E o que você sente por mim?”

Nunca uma pergunta me fez pensar tanto como aquela que ele me fez. O que eu sentia por ele, com toda certeza, era amor. Mas o que, exatamente, eu sentia –e ainda sinto- por ele? E pensar quantos momentos eu passei com ele, nesta mesma cama.

“ ’Kyunnie! Pare com isso, ainda são 7 horas da manhã.

‘Ninguém mandou você me acordar.

‘Mas eu queria sua companhia.

‘E eu não estou lhe dando a minha companhia?

‘Não assim, pabbo!”

Rápido levantei-me e fui para o banheiro, lavei meu rosto, uma, duas vezes. Olhei-me no espelho, logo vendo uma rachadura no mesmo. E pensar que eu nunca chegaria a consertar aquilo...

“ ‘Kyunnie, eu sinto muito.

‘Esta tudo bem Minnie. Mas como você conseguiu quebrar o espelho? Isso é loucura! Nem eu consegui algo assim.

‘Eu juro que foi sem querer! Eu estava secando meu cabelo e quando fui afastar o secador, eu bati com ele no espelho. Desculpa, desculpa!”

E, pelo que me conheço, nunca mais irei trocá-lo. E mesmo que o troque, guardar-lo-ei comigo, como gostaria de tê-lo guardado ao meu lado, protegendo-o de tudo o que lhe fizesse mal.

Sai do banheiro, vesti uma roupa qualquer e sai, pegando minha carteira e colocando no bolso da calça jeans. E, ao passar na sala, olhei para o sofá. Aquele sofá de dois lugares, amarelo. Era seu preferido. Mesmo que fosse a única coisa que fugia das cores branco e preto naquela sala.

“ ‘Esse será sempre o meu sofá, porque assim como ele dá alegria a sala, eu dou alegria a sua vida, não é, Kyunnie?”

Sai apressado de casa. Aquelas lembranças apenas serviam para piorar o sofrimento que já faz em meu coração. Logo hoje, no seu dia preferido. 13 de julho. O nosso dia, dia do nosso aniversário de namoro.

“ ‘SungMin, a muito tempo nós estamos... Você sabe, gostando-nos e saindo juntos. Então eu queria fazer um pedido a você.

‘ Pode falar, Kyu.

‘ Min, você quer namorar comigo?

‘ Ainda não sei o porquê que demorou tanto pra pedir. Te amo, Kyu”

Passei pelo porteiro de meu prédio e apenas lhe acenei brevemente antes de colocar os óculos escuros e o boné. O sol estava muito forte e eu ia fazer o percurso andando, então tinha de me proteger, principalmente porque esqueci de passar o protetor solar. O que eu não esqueceria se ele estivesse aqui.

“ ‘Cho KyuHyun, volte já aqui!

‘Mas Minnie, esta nublado o céu, não tem sol.

‘E no que isso interessa? Não importa quanto sol tenha, se esta claro tem sol, e se tem sol você tem que usar o protetor solar. A não ser que queira virar um camarão ambulante!

‘Não seria uma má idéia.

‘Calado, pabbo!”

Naquela época eu odiava esse jeito super preocupado dele, mas hoje, é do que eu mais sinto falta. Pois era nessas horas que eu via que ele se importava comigo, mais do que qualquer outra pessoa.

A dor de perder alguém que se ama é semelhante a dor de levar uma facada no coração. Ou até mais dolorosa que isso. Não que eu já tenha levado, mas quando isso acontece, você perde sua vida. E quando você perde alguém realmente importante, você perde igualmente a vida.

Não de forma literal, mas, vivo, eu não me sinto mais. Eu sou apenas uma casca vazia, um zumbi, um robô, ou o que preferirem. Porque tudo o que me resta é a tão entediante rotina. Isso até o dia em que o senhor lá de cima resolver me levar para o encontro de quem eu realmente quero por perto.

E lá estava a praça. A nossa praça. E pensar que eu reclamava por ter que acordar cedo para acompanhá-lo até ela. Sim, porque todos os fins de semana de manhã ele acordava-me as 6 horas, apenas para acompanhá-lo em mais uma seção de fotos na praça.

“ ‘Olhe, Kyunnie, que linda foto que tirei das crianças no parquinho. Acho que vou editá-la para postar no face.

‘Toda e qualquer foto que você tire é linda, Minnie. Deveria postar todas.

‘Isso é só pra que eu pare de tirar fotos e volte pra casa pra você dormir? Pabbo!”

E foram tantas risadas, resmungos e sorvetes tomados nesse parque que a angustia que me batia era algo sem igual. Era quase como se estivessem tirando-me a capacidade de enxergar tudo com cores. Ah, sim. Ele amava fotos em preto e branco. Minha vida poderia ser em preto e branco, eu realmente não me importaria.

Mas melhores que nossos momentos passados naquela praça durante a manhã, eram os nossos momentos passados a noite, na companhia de nossa amiga lua e suas vizinhas, estrelas. Ah, ela era a protetora de nossos maiores segredos. Quase nossa madrinha.

“ ‘Kyunnie, já parou para pensar sobre o sol e a lua? Eu acho a relação deles linda.

‘Relação, SungMinnie?

‘Sim. Eles vivem separados, mas de tempos em tempos se reencontram em eclipses. Eu acho isso lindo.

‘E você considera isso uma relação entre dois astros da natureza?

‘E por que não? Por que apenas nós podemos nos relacionar e eles não? Pabbo.”

Cada pensamento, cada palavra vinda de seus pensamentos era como uma luz acesa em meu coração, uma luz que era apagada assim que eu lembrava que, neste momento, o meu pássaro fugiu de entre as minhas mãos.

Ah, essa igreja, eu me lembro dela como se fosse ontem o dia de nossa promessa. Mais uma das várias promessas as quais eu quebrei. Mais uma das várias promessas que eu nunca poderia cumprir.

“ ‘Kyunnie, você me promete uma coisa?

‘Claro, Minnie. Tudo por você. O que é?

‘Promete que um dia seremos nós ali no altar, nos casando?

‘Considere realizado.”

Eram tantas promessas, tantas juras e tantas palavras de amor que nunca mais serão ditas ou realizadas. Tantos erros que cortavam-me o coração, dia após dia. Tantas coisas que eu poderia ter feito, mas adiava, tudo por ser tão cabeça dura.

Se um dia parássemos para pensar, veríamos que tudo o que acontece de ruim é porque deixamos de fazer algo. Deixamos de pensar no nosso bem e no bem dos outros a nossa volta.

E lá estava eu, olhando praquela mesma padaria, aquele mesmo senhor atendendo e foi quase como se eu pudesse ver-nos sentados naquela mesa, a que já era quase nossa, nos fundos do local.

“ ‘Eu ainda não acredito que estamos a três anos juntos, Kyunnie.

‘Três de muitos que ainda virão, Minnie.

‘Eu te amo tanto, Kyu.

‘Eu te amo ainda mais, Min.”

E nós ainda tivemos um ano. Nosso ultimo ano. E justamente quando íamos, mais uma vez, reencontrar-nos naquela padaria, alguém tinha que tirá-lo de mim, tirá-lo de meus braços, tirá-lo de nossos momentos. Mas o que essa pessoa não sabe, é que ela nunca o conseguira tirar de meu coração.

E foi apenas quando vi o senhor acenar para mim de dentro da cafeteria que percebi que já estava parado ali a tempo demais. Acenei-lhe de volta e deixei meus lábios esticarem minimamente, apenas para voltar a fazer meu percurso até a florista.

Sim, a florista, na verdade, era a vizinha de SungMin. Ela foi uma das pessoas que mais chorou no funeral. Chorou, até mesmo, mais que o próprio pai de SungMin. Aquele que disse-me que estava melhor assim. Um preconceituoso sem escrúpulos.

Entrei rapidamente na loja, vendo todas as flores. Rosas, margaridas, e a tão amada calona. Mas não era nenhuma dessas a que eu procurava, mas sim a rosa-de-sarom. Um dos símbolos do nosso país, assim como um dos símbolos do meu amor para com ele.

“ ‘Kyunnie, a rosa-de-sarom será tão importante para nós quanto é para o nosso pais. Ela será a flor que representa o nosso amor.”

Comprei um buque grande apena com aquela flor de cor rosa claro, com vermelho no centro. Agradeci a senhora, já amiga, e sai da loja, parando logo ao lado em um supermercado para comprar o nosso tão amado vinho tinto. Aquele que bebíamos uma vez ao mês, durante a madrugada, conversando sobre tudo o que queríamos para o futuro.

E mais sonhos não realizados...

Não demorou para que estivesse em frente ao grande prédio o qual passamos nossa adolescência, onde viramos melhores amigos. Ainda podia ver SungMin correndo em minha direção enquanto eu esperava-o no portão.

“ ‘Kyunnie, não acredito que saiu mais cedo que eu de novo.

‘Não é minha culpa se os meus professores do ultimo horário são mais preguiçosos que os seus.

‘Pabbo. Vamos logo, ainda temos que passar na casa de Sra. Jung antes de irmos para casa.”

Aquilo já era tão repetitivo que eu não pude deixar de me lembrar também do espanto que me foi ao percebi, um dia, que havia saído mais tarde que ele e que não iríamos passar na casa de nossa amiga florista.

“ ‘Minnie?

‘Né Kyunnie. Parece que hoje os meus professores estavam mais preguiçosos que os seus. Vamos, quero tomar sorvete.

‘Não vamos na casa da Sra. Jung hoje?

‘Não, não. Ela esta viajando, pabbo.”

E como eu amava quando ele me chamava de bobo. Era simplesmente a coisa mais perfeita do mundo. Aquele beiço, aquelas bochechas, aqueles olhos. Eu quase podia ver as orelhas de gatinho e o rabo balançando.

Olhei para o céu, vendo que o sol estava cada vez mais alto. Estava muito atrasado, não queria chegar muito tarde no cemitério. Sabia que seus pais sempre faziam uma missa para ele as três da tarde. Apenas para manter as aparências, como disse-me uma vez o senhor padeiro.

Apertei o passo e não demorou para que eu estivesse de pé em frente ao cemitério. Retirei o boné, prendendo-o em minha calça de forma a deixá-lo pendurado. Entrei a passos lentos, passando de lápide em lápide, até chegar em uma de mármore em tons vinho. Em cima dele pude ver a taça que, todo ano, deixava ali, cheia de vinho. Este ano, como em todos os anos, nada mais restara nela. E pude ver um rachado em sua borda.

Ano que vem teria de trocar de taça.

Abri a garrafa de vinho e despejei em sua taça, para logo em seguida solver do resto da boca da garrafa. E em meio a todos os goles que dava, sentia as lagrimas rasgarem-me os olhos, passando pela minha pele e queimando-a de forma lenta e dolorosa.

Coração descompassado, olhos encharcados não permitindo-me enxergar nada além de borrões, lábios mais vermelhos que o normal pelo vinho que ainda adentrava-me a boca e descia-me a garganta, dedos trêmulos, pernas bambas. Tudo efeito de estar ali, naquele dia.

Assim que consegui terminar de meu vinho, coloquei a garrafa ao lado da taça, como sempre fazia. E ela permaneceria ali, até que seu pai chegasse e a tirasse do local. Logo coloquei o buque de rosa-de-sarom atrás da taça e da garrafa, próximo a sua foto na lapide. Aquela foto. Com certeza não era a sua melhor, mas era a que mais me trazia lembranças.

“ ‘Olhe, Minnie. Aprendi a mexer na sua máquina.

‘Kyunnie, não, apague essa foto!

‘Pode apagar, já passei para o computador mesmo.

‘Pabbo, não faça isso. Eu estou horrível.

‘Não é verdade. Você parece um anjo dormindo.”

Não contive as lágrimas, deixei-as cair e assim fiquei, ajoelhado em frente ao seu túmulo, chorando, com os braços apoiados na lapide e meu rosto sendo amparado pelos mesmos, até que o funcionário dali viesse e me avisasse de que teria que arrumar para a missa que seria da a ele.

Levantei, secando os olhos e colocando de volta meus óculos escuros que apenas agora notei que haviam caído de meu rosto. Fiz uma reverencia para a lápide e me despedi, um adeus triste e sem vida, mas era o que eu podia dar-lhe agora como despedida.

“ ‘Kyunnie, já vai?

‘Já sim, Minnie!

‘Assim?

‘Sim, estou mal vestido?

‘Não falo disso, pabbo. Cadê o meu beijo de despedida, ahn?”

Sai dali em passos lentos, mas sem olhar pra trás. Meu coração já estava ferido demais. Mal posso acreditar que, justo no dia em que faríamos 5 anos de namoro, eu estava ali, em um cemitério, visitando-o em seu tumulo.

E foi com esses pensamentos que me mantive, sem perceber o momento em que, ao atravessar a rua, um carro veio em alta velocidade, fugindo do carro da policia, e batera-me. Tudo o que pude ouvir foram as buzinas, os gritos e os motores dos carros. Mais nada.

Meu corpo fora lançado e parecia que nada mais fazia sentindo. Eu não sentia nada, a dor era tão grande que eu era incapaz de sentir qualquer coisa. Estava dormente, como se impedindo a mim mesmo de sofrer por aquilo. O momento pelo qual sempre esperei havia chego, minha morte. O momento em que me encontraria com ele novamente.

E eu não via pessoas, não via sangue, nada desse gênero passava por meus olhos. Tudo o que via era uma luz. A minha luz. Seu rosto belo, sua mão esticada em minha direção. E eu não me contive em segurá-la e levantar-me daquele chão, daquela realidade a qual eu não mais pertencia.

Porque, finalmente, após um ano, eu tinha vida novamente. Não aquela vida criada, na qual vivemos. Mas uma vida que eu queria. A vida pela qual sempre esperei. Uma vida eterna ao lado de quem amo, no lugar certo. Num lugar onde a paz e o amor reinam e ninguém, nunca mais, irá nos julgar.

E nada como nossos aniversários, agora, serem no mesmo dia. Seu aniversario de renascimento, meu aniversario de renascimento e nosso aniversario de namoro em nossa nova vida. Todos no mesmo dia.

Porque no fim, eu sempre soube, que eu não viveria apenas de devaneios. Que o nosso amor reinaria e eu que eu voltaria para você.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.