Sungjae passou a semana seguinte procurando incansavelmente por respostas. Os poucos instantes em que tinha de descanso foram preenchidos inquirindo os membros da equipe de marketing, os managers da CUBE, qualquer pessoa envolvida que poderia lhe dar alguma explicação. Ninguém dizia nada além do que o que ele já sabia, e todos respondiam com extrema cautela, como se cada palavra fosse calculada. Sungjae já estava cansado de como tratavam a situação como se fosse apenas mais uma estratégia de publicidade, quando era ele que teria que enfrentar aquela mentira sozinho.

A única informação que conseguiu foi com um dos managers, um hyung mais próximo, que cedeu apenas depois de muita insistência.

“Escute, Sungjae, a única coisa que eu sei é que isso tudo foi uma iniciativa da SM. Foram eles que primeiro contataram a CUBE; não ficamos sabendo o motivo, só que as ordens vieram de cima, e nós seguimos. Sinto muito pelo que está acontecendo, mas você sabe muito bem como essas coisas são... Isso é muito delicado, e duvido que alguém além do CEO saiba de todos os detalhes.”

Aquela explicação só o havia deixado mais confuso. Então a proposta tinha partido da SM, mas qual seria a motivação? A notícia do namoro, mesmo que tivesse rendido bons frutos até então, era uma estratégia extremamente arriscada. E algo lhe dizia que a SM não proporia aquilo sem um bom motivo. As últimas palavras do manager ainda martelavam em sua cabeça:

“Tem outra coisa também, mas não leve o que eu vou te falar muito a sério, porque pode não ser verdade. Dizem por aí que a SM está se preparando pra lançar um projeto solo da Joy. E, bom, não há dúvidas de que esse tipo de publicidade seria muito favorável para divulgar um projeto assim.”

Sungjae não queria pensar nessa possibilidade. Ele precisava descobrir a verdade, e só restava uma pessoa a quem ele poderia recorrer. Hyunsik estava certo: ele e Joy precisavam conversar.

...

Joy estava com as meninas quando recebeu a mensagem. Ver o nome de Sungjae em seu celular a surpreendeu tanto que por um momento se esqueceu de que eles haviam dado seus números um para o outro, sob recomendação dos empresários.

− Sooyoung-ah, qual o problema? Aconteceu alguma coisa? – Wendy questionou, percebendo a expressão preocupada da menina. Joy nunca foi muito boa em esconder seus sentimentos.

− É o Sungjae. Ele quer se encontrar comigo hoje.

− Isso é algo bom, não? – Seulgi comentou – Vocês vão poder se resolver.

Joy assentiu, tentando deixar o nervosismo de lado. De certa forma, os dois teriam que se encontrar cedo ou tarde. Tinham que resolver aquele clima estranho antes da sua primeira aparição juntos, que inclusive já estava marcada.

− Não se preocupe muito, Sooyoung—ah. Nós vamos encerrar o ensaio por aqui hoje, então descanse um pouco antes de ir, tudo bem?

Irene lhe ofereceu a mão, ajudando-a a se levantar. Não queria deixar transparecer, mas a situação entre Joy e Sungjae a preocupava um pouco. Ela conseguia perceber o efeito que aquilo estava causando na menina, e sentia que não podia fazer nada para ajudar. Se pudesse voltar no tempo, teria impedido Joy de assumir aquela responsabilidade. Agora era tarde demais...

− Obrigada, unnie. Estarei de volta em pouco tempo.

− Joy—unnie, fighting! – Yeri torceu, tentando oferecer um pouco de energia – E seja firme, senão eu vou voltar a te irritar diariamente!

Joy riu com a provocação, e seu sorriso se manteve enquanto saía do prédio para enfrentar o que quer que tivesse esperando por ela.

Sungjae havia lhe enviado a localização de onde deveriam se encontrar – o estacionamento de um edifício que ficava na vizinhança do prédio da SM – e a placa do carro em que ele estaria. Ela o localizou com facilidade, e já conseguia ver a silhueta do menino no assento do motorista, com uma máscara escondendo seu rosto.

Inspirando fundo, ela se dirigiu ao carro, acenando para que ele pudesse perceber a sua presença. Já tinha o discurso memorizado na cabeça − “Eu sei que não é uma situação fácil para nenhum de nós, e eu sei que você não ficou feliz com isso tudo. Não será fácil, mas nós já temos certa experiência filmando o WGM, e eu sei que, com você, sou capaz de fazer isso. Então vamos dar o nosso melhor para que corra tudo bem. O que acha?”

Estava satisfeita. Só precisava dizer aquilo com confiança.

Abriu a porta do passageiro, tentando manter a calma, retirando a própria máscara do rosto e entrando no carro. Assim que se sentou foi recebida com a corrente fria do ar condicionado. Sungjae mantinha as mãos presas ao volante, mesmo com o veículo parado, e evitava seu olhar.

− A razão pela qual eu te chamei aqui... é que eu sinto que tem algo que nós precisamos resolver.

Joy sorriu fracamente, tentando aliviar o clima.

− É mesmo. As coisas têm estado um pouco estranhas entre nós, não? Acho que o Minhyuk-oppa percebeu naquele dia. – ela disse, e continuou, incomodada com a ausência de resposta do outro − A Yeri também falou que nós não parecemos um casal, mas às vezes ela fala esse tipo de coisa só para provocar.

− Elas sabem a verdade?

− Hum... sim. Elas estavam comigo quando... – Joy ponderou qual seria a melhor forma de dizer aquilo – quando o plano foi proposto.

− Então, nessa história inteira, eu fui o último a saber?

Ela assentiu, seus olhos se desviando inconscientemente para a janela. Joy podia sentir o ressentimento na voz dele, e não se lembrava de alguma vez já tê-lo visto com um ânimo tão frio.

− Sinto muito por isso. Se faz você se sentir melhor, eles me enganaram também. Me disseram que você estava de acordo. Se eu soubesse a verdade, não teria aceitado. Achei que você tinha concordado porque... bom, por causa daquilo que eles falaram.

Sungjae entendeu o que ela quis dizer. Publicidade fácil, mais fama, mais dinheiro. Agora, só pensar nessas coisas era o suficiente para fazer seu sangue ferver de repulsa, e ele sentia aquela desconfiança terrível ameaçando a irromper pela sua garganta.

− Não. Eu não teria concordado por esses motivos. – respondeu, tentando esconder o próprio aborrecimento (sem muito sucesso, considerando a forma como ele fisgou, do canto do olho, os ombros da menina se encolherem) − Olha, Sooyoung... Eu estou confuso, e cansado de tudo isso. Eu fui simplesmente jogado dentro dessa mentira, ninguém pediu minha opinião, ninguém me explicou o motivo.

Joy já não sabia mais o que falar para melhorar a situação. Sentia que piorava as coisas com tudo o que dizia, e que Sungjae se fechava mais a cada palavra sua. Até a forma como ele a chamava lhe parecia mais distante, como se estivessem em lados opostos de um rio, e a agitação da água abafasse seu nome. Do outro lado da correnteza, ela tentava, com todas as forças, responder.

− E eu já disse que sinto muito. Muito mesmo. Mas eu não estou entendendo aonde você quer chegar com isso. – Não custa nada tentar, ela pensou, iniciando o discurso que tinha preparado − Olha, eu sei que não é uma situação fácil para nenhum de nós...

− É verdade que você vai lançar uma música solo?

De repente, foi como se a “correnteza” entre eles tivesse subitamente parado. Não, mais do que isso, foi como se não houvesse mais água, ou rio, como se os dois tivessem sido soprados para algum lugar onde nada existisse além do vácuo e do silêncio.

Joy sentiu, mais do que escutou, o longo suspiro que Sungjae soltou ao seu lado – como se ele estivesse segurando aquela pergunta por muito tempo, até que ela se libertou de uma vez, em um só fôlego.

Ele estava virado pra ela agora, e ela se forçou a não desviar o olhar. Lembrou-se do que Yeri dissera, tentou ser firme, mas já podia sentir a própria voz tremular.

− Por que você está me perguntando isso agora?

Sungjae não conseguia mais conter a sua frustração.

− Você não está negando. −Replicou, passando rispidamente as mãos pelo cabelo.

− Sim, Sungjae. Eu vou lançar uma música solo. – Ela respondeu, tentando manter a calma − O que... o que você está tentando concluir com isso?

− É só que me parece muito oportuno. A SM pensa em um jeito fácil, barato e eficiente de promover esse projeto. Mas as chances de eu participar voluntariamente são pequenas... Então arranjam um outro jeito. E agora, eu sou uma das partes desse acordo. É isso que você não quer me contar, Sooyoung?

Isso não pode estar acontecendo, era a única coisa que passava pela cabeça dela, Sungjae não faria isso.

− Então é esse o tipo de pessoa que você acha que eu sou?

Sungjae se deu conta da dimensão do próprio erro assim que ouviu a voz dela – fraca, vacilante, quase que um sussurro – e enxergou a dor em seu olhar. Na verdade, percebeu assim que as palavras começaram a sair de sua boca. A visão dela já estava um pouco marejada; pelo menos nisso ela não mudou em nada, Sungjae reconheceu, com pesar. Joy sempre havia sido uma garota sensível, e Sungjae ainda se lembrava da forma como gostava de provocá-la, chamando-a de bebê quando chorava facilmente. E dessa vez é você que está fazendo ela chorar.

− Não foi isso o que eu quis dizer. – Ele disse, agora um pouco mais calmo. Queria corrigir a situação, se explicar, embora não soubesse como − Mas o fato é que eu não sei. Eu não sei que tipo de pessoa você é. Os últimos dias foram muito confusos pra mim. E querendo ou não, ninguém sabe do que uma pessoa é capaz depois que as câmeras são desligadas.

Foram essas as palavras que quase a derrubaram. Porque, no fundo, Joy compreendia a desconfiança dele quanto ao motivo do namoro falso, entendia como Sungjae devia ter se sentido enganado.

Mas ela conseguia ler nas entrelinhas do que Sungjae dizia − ele estava duvidando dela, da pessoa que ele conhecera quando as câmeras do WGM ainda estavam ligadas. Não houve um único segundo naqueles 11 meses em que Sooyoung não havia dado tudo de si, não houve uma única vez em que ela não se sentiu assustadoramente vulnerável. Ela havia sido mais honesta do que achava que era capaz, mais verdadeira do que pensava que lhe era permitido.

Quando se chateava ou se divertia, quando reclamava dele nas entrevistas ou quando respondia com um sorriso, dizendo que ele havia feito seu coração bater mais forte; cada palavra, cada toque, cada lágrima foi profundamente ela. E essa situação toda fez com que ele duvidasse disso também.

Ela o machucara, sabia disso. Agora os dois estavam quites.

Joy foi a primeira a quebrar o contato visual, recolocando a máscara no rosto. Se eu tiver que ficar aqui por mais um segundo... Ela respirou fundo, tentando conter as lágrimas.

− Está bem. Pense o que quiser de mim, eu não ligo.

Sooyoung.

Sungjae a segurou pelo braço, em um pedido silencioso para que ficasse, mas ela se desvencilhou como se o mero toque dele a machucasse.

− Não. – Foi a última coisa que Joy disse, com a mão firme na porta do carro − Eu não queria que fosse assim, mas você já deixou muito claro que isso é só uma relação de negócios. Então que sejamos profissionais. Eu vou dar o meu melhor nesse trabalho para que três meses passem sem nenhuma complicação. Espero que você faça o mesmo.

Sungjae perdeu a noção de quanto tempo ficou parado, sozinho, no estacionamento. E, mesmo depois de dar partida no carro e voltar para casa, mesmo depois de se deitar para dormir, a única coisa que ele conseguia enxergar era a figura dela partindo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.