Os dias se passaram como se fossem segundos, no ritmo acelerado dos programas de TV e de rádio, das apresentações musicais e dos eventos. Por duas semanas Joy e Sungjae não se viram mais.

As empresas, para o espanto dos idols, já tinham todo o esquema perfeitamente planejado, do início ao fim. Ambas já haviam confirmado o “rumor” do relacionamento, e Sungjae ainda se surpreendia com a esmagadora reação positiva do público. Claro que ele sabia do considerável sucesso que fizeram como casal no We Got Married— eles ficaram no programa por quase um ano, afinal −, mas aquela resposta para uma notícia de namoro entre idols era, no mínimo, assustadoramente rara.

E os empresários estavam certos, no final das contas. “Sungjoy” ficou entre os trending topics por um bom tempo, e de repente o mundo parecia estar prestando uma atenção especial ao BTOB. A popularidade do grupo todo, não apenas de Sungjae, parecia ter triplicado da noite pro dia.

Agora eles estavam em um programa de música para promover seu novo single, e Red Velvet também estava entre as atrações do dia, o que significava que as chances de se encontrarem eram grandes.

Sungjae se esforçava para não pensar nisso enquanto aguardava a hora de se apresentarem. Eunkwang puxou-o pelos ombros, o empurrando para fora do camarim e o conduzindo para o corredor que levava ao set de gravação.

− Sua namorada está indo se apresentar agora. Falei com o manager e ele deixou a gente assistir. – Ele explicou, animado – Já pode me agradecer.

− Não sei se é uma boa ideia...

− Cara, relaxa. Agora todo mundo já sabe que vocês estão juntos, não precisa mais esconder. Além do mais, eu também quero ver.

Então Sungjae, sem resposta, foi arrastado até o palco em que os shows eram filmados. Pelo menos eles conseguiram sentar na parte final da plateia, no canto, escondidos atrás de fileiras preenchidas pelos fãs de Red Velvet. Se o amigo se comportasse, eles poderiam até passar despercebidos. Esse é o plano, Sungjae pensou, esfregando as mãos suadas no tecido da calça. Não sabia por que estava tão nervoso.

Em pouco tempo, Red Velvet apareceu, entrando de forma comedida pelo canto do palco e fazendo sua saudação habitual. Os gritos e aplausos irromperam do público – Eunkwang estava praticamente pulando no assento −, e a música começou.

Sungjae sabia que assistir a esse tipo de exibição ao vivo não é exatamente tão animador quanto vê-la depois de gravada, na televisão ou na internet. O comum é que os grupos tenham que repetir a mesma apresentação várias vezes para que os produtores consigam construir o vídeo perfeito para ir ao ar. Depois da terceira vez, até a animação de Eunkwang diminuiu um pouco, mas Sungjae não conseguia desviar os olhos por um segundo sequer.

De onde estavam, ele conseguia ver perfeitamente. Ela era, como ele, a integrante mais alta; a saia xadrez curta que usava fazia suas pernas parecerem intermináveis, em curvas e traços que, anos antes, o deixariam envergonhado. O mesmo batom vermelho, que parecia ter se tornado uma marca registrada dela, contrastava com a pele clara e combinava perfeitamente com sua blusa vermelha. Todo o grupo foi estilizado de forma parecida, em uma sincronia impecável, como para imitar suas vozes e passos.

Sungjae entendeu o conceito assim que pisaram no palco: algo elegante, atraente, essencialmente feminino. Atrás delas, um fundo projetava imagens de borboletas flutuando; até a coreografia era uma referência exata ao que era proposto, com movimentos suaves, sincronizados ou sequenciados, que exalavam uma energia que o deixava paralisado, e ele só podia observar.

Sungjae sabia que Joy tinha crescido. Havia acompanhado, mesmo que não intencionalmente, a lenta e brilhante evolução que, ano após ano, a transformou naquela mulher cuja beleza dominava o palco. Uma parte dele sentia orgulho – orgulho de ter feito parte dessa história, orgulho por saber que ela não era mais uma menina perdida na própria imagem, ou na imagem que criaram para ela, mas alguém certo da própria identidade.

Mas outra parte, a parte que considerava os acontecimentos recentes, não conseguia evitar a sensação de ele estava ainda mais distante dela do que pensava. Ali, no palco, Joy parecia outra pessoa, alguém que Sungjae não conhecia. Ele estava cada vez mais consciente de que, na prática, os dois eram quase desconhecidos – mas desconhecidos que agora teriam que fingir um relacionamento por três meses.

Sungjae se levantou assim que as filmagens acabaram e o grupo desceu do palco.

− Vamos logo, daqui a pouco é a nossa vez.

...

Os dois grupos se encontraram no corredor dos camarins, quando o BTOB estava voltando depois de terminar as próprias gravações. Red Velvet os cumprimentou com timidez, e os meninos responderam entusiasticamente – eles agiam como verdadeiros adolescentes toda vez que encontravam as garotas.

Eles convidaram-nas pra entrar no seu camarim, e não aceitaram não como resposta. Em uma questão de segundos Eunkwang já estava contando piadas para Seulgi (ele tinha uma inclinação declarada por ela, e a menina se divertia quando estavam juntos), Ilhoon conversava com Irene e Changsub fazia Yeri e Wendy rirem de suas caretas.

Enquanto isso, o Sungjae e Joy sentaram-se lado a lado, mas não trocaram nenhuma palavra entre si. Joy não fazia ideia de como agir. Sabia que tinham que manter as aparências, mas os dois não haviam, de fato, conversado sobre aquilo, e o encontro com os meninos do BTOB a pegou de surpresa. Em uma situação normal, ela conseguia se adaptar a diferentes contextos com facilidade, mas tinha medo de como Sungjae responderia. Ele certamente não tinha ficado nada satisfeito quando descobriu o plano na noite do parque.

− Fiquei muito feliz com as notícias, Joy, apesar de ter sido tão repentino. – Hyunsik comentou, tentando quebrar o silêncio – Como vocês conseguiram manter segredo de nós por tanto tempo?

− Ah, nós estávamos com medo de como iriam reagir. – Ela respondeu, reunindo toda a calma que conseguia – Nos desculpem por esconder isso. Deve ter sido um grande choque para vocês, oppa.

− Vocês não devem ter se acostumado com o fato de que podem interagir abertamente agora. – Minhyuk comentou, brincalhão – O Sungjae não consegue nem te olhar nos olhos direito.

− Ah, o Sungjae-oppa é assim mesmo... – Joy respondeu rindo, apesar de o comentário ter feito seu corpo congelar por um segundo.

No instinto do momento, ela deu tapinha no ombro de Sungjae, como se estivesse brincando com ele. Joy decidiu que daria tudo de si para fazer aquilo parecer crível, mas Sungjae se sobressaltou com aquele mínimo toque e cruzou os braços, como se estivesse se esquivando dela.

A menina respirou fundo, fingindo que não havia percebido, sorrindo como se o mundo dependesse disso. Por dentro, estava exausta. Quando, exatamente, Joy se perguntava, ela havia se tornado o tipo de pessoa que mente de forma tão descarada? E ao mesmo tempo sentia frustração e medo, porque se descobrissem a verdade sobre a relação deles, seria muito pior para os dois grupos.

Ela gostava dos meninos do BTOB, que cuidaram dela com muito carinho na época do WGM, e o Red Velvet já havia se tornado sua família. Não seria ela que deixaria aquele plano ruir.

...

− Você já pode falar a verdade agora. Me diz, o que está acontecendo?

A expressão de Hyunsik era séria, mas reconfortante. Depois que eles se despediram do Red Velvet, os meninos voltaram para seus dormitórios, mas Hyunsik fez questão de ficar um tempo sozinho com Sungjae. Os outros desconfiaram, mas logo cederam ao cansaço e deixaram os dois.

− Eu não sei do que você está falando, hyung.

− Estou falando do fato de você estar estranho desde que a notícia do namoro saiu. – Hyunsik explicou – Eu não sei quando foi a última vez que eu te vi tão sério. Eu te conheço, e lembro muito bem da época em que vocês filmavam o We Got Married. E não me venha com desculpas de que você está tímido, porque se eu tenho uma certeza nessa vida é que você nunca trataria a Joy do jeito que está tratando. Então ou você virou um babaca da noite pro dia, ou algo não está certo.

Sungjae se endireitou, passando as mãos pelo cabelo em frustração. Se tinha alguém que ele não seria capaz de enganar, esse alguém era Hyunsik. Ele era esse tipo de pessoa; sua sensibilidade era tão grande que conseguia notar coisas que nem passavam pela cabeça de outros. Sabendo que não tinha outra alternativa, Sungjae lhe contou tudo, explicando nos mínimos detalhes como havia sido enganado para encontrar Joy naquela noite e fotografado propositadamente, todo o plano montado pelas empresas. Hyunsik ouviu com atenção, sem dizer nada, fazendo uma única pergunta depois que o mais novo terminou de falar.

− Mas você e a Joy, depois disso tudo, vocês pelo menos conversaram sobre isso?

− Não... As coisas estão meio estranhas entre nós. Eu honestamente não sei o que fazer.

Hyunsik assentiu. Seu pressentimento estava certo.

− Então vocês precisam se resolver, e logo, se você quiser que isso não desmorone. Do jeito que vocês estão agindo um com o outro, não vai demorar para que as pessoas comecem a perceber que algo nessa história não bate.

Sungjae estremeceu só de pensar. Aí, sim, eles teriam um grande problema.