One Step Closer

Capítulo XII - Bônus: Mili


Milena

Hoje é o grande dia. A cada hora que passa eu fico mais nervosa.

Eu estava no salão do castelo me arrumando para o casamento. Meus cabelos estavam presos em vários bobs para depois serem soltos, minhas unhas já estavam feitas e meu vestido estava sendo provado por mim pela última vez antes do evento. Olhei Ana pelo espelho, ela estava radiante, certamente tinha passado os últimos minutos com o Binho, já que agora os dois finalmente são noivos para valer.

– Intervalo para o almoço! – Minha mãe gritou, fazendo com que todas saíssem do salão, menos a costureira. – Você está linda, filha. – Ela disse com os olhos marejados enquanto vinha até mim.

– Obrigada. – Eu estava sem jeito, pensando na decepção que causaria nela hoje à noite.

– Está tudo pronto. – A costureira disse ao terminar de analisar cada detalhe do vestido. – A senhorita já pode tirar o vestido,

Assim o fiz.

Almocei e fui até o meu quarto, onde uma montanha de presentes ocupava boa parte dele. Um, em especial, me chamou atenção. Era uma caixa vermelha, com um laço também vermelho, envolta.

A cor vermelha sempre me chama atenção. É a cor da boca dele. A cor da primeira rosa que ele me deu. A cor do vestido que eu usava em nosso primeiro encontro. É a cor preferida dele. E a minha também.

Resolvi abrir aquela caixa e um grande sorriso surgiu em meu rosto. Só podia ser dele.

Guardei o que tinha dentro da caixa em uma mochila, que eu logo levaria para o lugar combinado. Nessa mochila havia outras coisas também que eu poderia precisar.

***

“Eu estou linda” pensei ao me olhar no espelho.

– Vamos, está na hora! – Minha mãe, eufórica como sempre, gritou.

Entrei no carro vintage que eu mesma havia escolhido, e fomos até a igreja. Milhares de pessoas já estavam na frente, gritando pelo meu nome.

Fiquei na porta e ouvi a música tocando, era minha vez de entrar. As portas se abriram e lá estava Eduardo, na frente do altar. Fui até ele sorrindo, para que ninguém desconfiasse. Quando cheguei, ele piscou para mim e eu sorri. Estava tudo certo.

A cerimonia passava e eu estava a ponto de explodir de tanto nervosismo. Às vezes eu, discretamente, olhava para a porta, com a esperança de ele chegar, mas isso não acontecia. As palavras do padre entravam em um ouvido e saiam para o outro, eu não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo, estava preocupada de mais para isso. Era o meu futuro que estava em jogo. A minha felicidade.

– Se alguém tem algo que possa impedir esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre.

Quando o padre disse isso eu olhei para ele assustada. Ele havia desistido, com certeza. Fechei os olhos para tentar esconder minha tristeza por estar prestes a me tornar esposa de Eduardo.

– Eu! – Uma voz conhecida gritou.

Olhei para trás e lá estava Filipe, ofegante por, provavelmente, ter subido as escadas da igreja correndo. Todos o olharam assustados, inclusive eu.

– Mosca. – Disse para mim mesma sorrindo.

– Guardas, peguem-no! – Meu pai ordenou e os guardas foram até Mosca.

Eu desci as escadas do altar e fui até Mosca, que estava sendo segurado pelos guardas do castelo.

– Não! – Gritei. – Soltem-no!

– O que está acontecendo aqui? – Meu pai perguntou enquanto se aproximava de mim. Sua cara não estava nada boa, eu até o entendo.

– Me desculpe pai, mas eu não posso me casar com alguém que não amo. – Olhei pra Eduardo e ele sorriu.

– Como assim “não ama”? E esse aí, quem é?

– Não o amo assim como ele também não me ama. Não dessa forma, nós somos apenas amigos. E esse é o Filipe. Guardas, já mandei vocês soltarem. – Eles se olharam e aos poucos foram soltando.

– Eu amo sua filha, senhor. – Mosca disse eu sorri. – Ela é a mulher da minha vida.

– Eu não admito isso. – Ele riu sarcasticamente. – Minha filha querendo se casar com um plebeu.

– Eu posso não ser príncipe, mas tenho meus bens, se é isso que lhe interessa. – Mosca interviu.

– Pai, pelo amor de Deus. Se você me ama, dê uma chance para ele. Conversem.

– Eu ordeno que você volte para aquele altar e case com o príncipe Eduardo. – Suas palavras eram tão frias, tão egocêntricas e tão ríspidas que um nó se tornou em minha garganta. Tudo o que eu queria agora era não ser princesa.

– Eu não sou como esses guardas, pai. Eu sou sua filha. Devo-te respeito? É claro. Mas isso eu não vou fazer.

Todos os convidados estavam espantados. Os jornalistas não perdiam a chance de fotografar cada detalhe e eu, estava procurando um jeito de fugir. A ideia era essa: o Mosca chegava, eu corria até ele e nós fugiríamos. Não deu muito certo, mas eu ainda não desisti.

Minha mãe veio até nós, seus olhos estavam cheios de lágrima, eu sabia que havia decepcionado ela, mas ás vezes é preciso pensar em nós mesmo do que nos outros. Eu precisei priorizar a minha felicidade e não a dos meus pais.

Eduardo também se juntou a nós. Ele tentou convencer meus pais a me deixar casar com Mosca, mas tudo o que recebeu foi xingamentos. Segundo meu pai, Eduardo tinha traído sua confiança.

Percebi que Binho e Ana se aproximavam, porém com cautela. Eles conversavam com os guardas, que relutavam com o que pediam, mas pelo sorriso que os dois estamparam na cara e pela forma com alguns dos guardas se afastaram, percebi que haviam cedido. Cedido o que, afinal?

Eles me olharam e eu percebi claramente o que queria dizer. Sorri e discretamente disse para Mosca o que havia acontecido. Quando vimos que a passagem até a porta da igreja estava limpa, corremos. Ouvi alguns gritos do meu pai, mas não parei. Sei que sentiria falta de muita coisa, mas não poderia perder a chance de viver com o amor da minha vida ao meu lado.

Passamos entre a multidão que ainda não sabia do acontecido. Eles estavam confusos ao me verem correndo com um ser estranho. Eles gritavam pelo meu nome. Eles me amavam e eu os abandonaria. Tudo por uma boa causa, calma Milena.

Chegamos em um táxi, que pelo visto estava nos esperando. Assim que entrei e ele acelerou, olhei para o motorista que não me era estranho.

–Juca?

– Alteza! – Ele brincou, pois com eles essa formalidade não existia.

– Mili, sua mochila ta aqui. – Mosca me entregou a mochila que eu havia escondido com algumas coisas úteis para a nossa fuga- Aliás, foi por isso que eu demorei para chegar na igreja. Você escondeu isso bem. – Rimos.

– Eu não acredito que estou fazendo isso. – Eu disse sorrindo.

– Você tem certeza? Você está abandonando tudo. – Mosca estava preocupado.

– A única certeza que eu tenho é que eu quero ficar com você. E se pra isso eu tiver que fugir, eu fujo. – Ele sorriu.

– Eu te amo.

– Eu também te amo.

– Ta bom né. – Juca interviu. – É um momento muito fofo, mas chega de melação. – Nós rimos.

– Para onde vamos? – Perguntei. – Meu pai vai ir atrás de mim, precisa ser um lugar escondido.

– Eu pensei em tudo, pode ficar tranquila. – Mosca me acalmou.

Olhei para trás e não tinha nenhum sinal de gente atrás de nós. Suspirei aliviada. Estávamos nos afastando cada vez mais da cidade. Um misto de alegria com preocupação estava me deixando maluca. Será que eu fiz certo? Não, é claro que eu fiz certo. Eu estou correndo atrás da minha felicidade, apenas isso.