Regina encarava com descrença a mulher a sua frente, pensando o quanto inoportuna tal presença era, não apenas ali na porta de sua casa, mas o fato de ser procurada, sem nenhum contato combinado antes, era simplesmente inaceitável do seu ponto de vista. Ninguém tinha o direito de se impor de tal forma, muito menos a loira arrogante a sua frente, que se portava com altivez e insolência.

— Podemos conversar, Regina?

— Não tenho nada para conversar contigo. – Regina negava com a cabeça. – Por favor, se retire da minha residência.

— Sempre tão acessível. – A loira revirou os olhos, sorrindo com deboche. – Temos um assunto de extrema importância a ser tratado, que não pode mais ser adiado.

— Extrema importância? – Regina riu nervosa. – Desde quando tem essa importância para você? Sinto lhe informar que está quinze anos atrasada. Como já lhe disse, não tenho nada para falar contigo, com licença.

Regina se movimentou para bater à porta na cara da mulher, que rapidamente colocou seu pé no vão da porta, impedindo o ato da morena, fazendo assim o resto de paciência que não lhe restava evaporar.

— Mas era só o que me faltava mesmo. – Regina esbravejou. – Será que terei que chamar a polícia para te retirar daqui?

— Fique à vontade, aproveite e diga ao xerife que mando lembranças.

O sorriso presunçoso no rosto, junto a arrogância que exalava por entre os poros da mulher loira fazia Regina querer lhe socar a face. A odiava com todas as forças, tinha nojo do comportamento soberano, que se achava acima de tudo e de todos na cidade. Esse tipo de pessoa era da pior espécie, ao seu ver, pois usava a influência do seu sobrenome e fortuna para agir como bem entendesse, sem se importar com as consequências para as outras pessoas, contanto que tivesse o que desejava, nada mais tinha relevância.

— Podemos pular a parte que você se nega a me receber e conversar civilizadamente?

— Podemos pular a parte que você finge se importar com a Robin e ir embora logo? – Regina rebateu furiosa. – Não irei repetir, dê o fora da minha casa.

— Me poupe, Regina, deixa de frescura e vamos acabar logo com isso. Da mesma forma que você não deseja conversar comigo, eu não desejo estar aqui tentando tal feito. Eu te olho e vejo a mesma adolescente mimada e insolente da época da escola, que sempre impôs suas excentricidades a todos a sua volta, nos obrigando a achar natural e conviver com comportamentos levianos e imorais.

— Imorais? – Regina respirou fundo, sabendo muito bem do que se tratava essa reclamação da mulher mais velha. – A única imoralidade que prevaleceu por todos esses anos, foi a falta de caráter dos membros da tua família, pois não pense que eu me esqueci de tudo que vocês fizeram desde o momento que Zelena contou da gravidez.

— Águas passadas. – A loira fez sinal de pouco caso com a mão. – O que é relevante é a atualidade, Robin já é uma mocinha, precisa de uma boa orientação para ter sucesso na vida.

— Mas é muita cara de pau mesmo. – Regina negou com a cabeça. – Tudo que Robin precisa, ela já possui, não existe nada para vocês orientarem aqui.

— Discordo totalmente. – Ingrid ergueu a face ainda mais, sorrindo cinicamente. – A adolescência é uma fase muito complicada na vida de uma jovem, como você deve se lembrar, levando em conta que tanto você, quanto tua irmã, foram duas adolescentes problemáticas, não me culpe de estar preocupada com a minha neta. Não quero nenhum dos desvios que vocês tiveram, acometendo a Robin, ela pode ter um futuro brilhante.

Regina estava prestes a explodir com a loira a sua frente, quando ouviu a voz da sobrinha lhe chamando, respirando profundamente para se controlar, pois não queria que Robin presenciasse nenhuma cena desagradável. A loirinha tinha ouvido a voz da tia exaltada e se preocupou, indo rapidamente para o seu lado, verificar o que estava acontecendo, ficou surpresa ao ver quem estava deixando Regina nervosa.

— Olá, Robin. – Ingrid se adiantou e sorriu para a menina. – Justamente quem eu queria ver.

— Oi. – A loirinha respondeu sem jeito, não se sentia à vontade com ninguém da família do pai.

— Meu amor, pode voltar ao que estava fazendo, eu já vou lá contigo em alguns instantes. – Regina acariciou o ombro da sobrinha, tentando passar uma tranquilidade que não sentia no momento. – Ingrid já está de saída.

— Não estou não. – Ingrid se intrometeu, falando diretamente para a loirinha. – Eu vim pessoalmente lhe fazer um convite, minha querida.

— Convite? – A curiosidade falando mais alto que a timidez perante a mulher mais velha, fez Robin se interessar.

— Sim. – Ingrid sorriu, imaginando que conseguiria levar Robin aonde queria. – O teu pai está na cidade e gostaria muito que fosse conosco, no sábado terá um grande evento no clube campestre, toda nossa família estará reunida para festejar minhas bodas com o seu avô. E desejamos muito a sua presença, querida.

— Minhas tias também estão convidadas? – Robin questionou olhando nos olhos azuis de Ingrid, que nitidamente surpresa, ficou em silêncio analisando qual seria a melhor resposta. – Não gosto de ir a esses lugares sozinha.

— Robin... – Regina falou em tom de alerta, não queria de forma alguma ir, mas sabia que se Robin fizesse questão de ir, cederia e acompanharia a sobrinha.

— Você não estará sozinha, toda a sua família vai estar presente. – Ingrid respondeu sorrindo.

— Emma e Regina são a minha família. – Robin rapidamente se impôs, não era boba, sabia o quanto as tias não eram bem vistas pela família do pai. – Então se elas não forem, eu estaria sozinha sim.

— Regina é sua tia por parte de mãe, já a Swan não é mais nada sua, não entendo qual a necessidade da presença dela. – Ingrid não conseguia esconder o desgosto de imaginar Emma Swan em suas bodas de pérola.

— A senhora frisou que toda a minha família estará lá, sem elas isso não é verdade. – Robin sorriu e falou de forma carinhosa. – Não importa se a Tia Emma não está mais casada com a Tia Regina, ela me criou e sempre será minha família, as duas são as pessoas mais importantes da minha vida.

Regina sentiu um orgulho sem tamanho, de ouvir e ver a forma que a loirinha falava com Ingrid, sem se intimidar e defendendo a família que formavam. Queria que Emma pudesse ter presenciado tal cena, sabendo o quanto ela se sentiria da mesma forma, sorriu, já imaginando a reação da ex-esposa ao ouvir sobre isso e ficando ansiosa para lhe contar.

— Compreendo. – Ingrid claramente não compreendia, apenas queria encerrar logo esse enfado e garantir a presença da neta em sua festa. – Não prefere levar de acompanhante algum namoradinho? Não precisa se preocupar em esconder isso de nós, adoraríamos conhecer...

— Eu não tenho nenhum namorado. – Robin interrompeu, ficando com as bochechas vermelhas, era embaraçoso ouvir isso e queria encerrar logo tal assunto. – E eu não me preocupo em esconder nada de vocês, não tenho nenhum motivo para isso.

— Não, claro que não. – Ingrid sorriu satisfeita, apreciando muito o fato de Robin não estar envolvida com nenhum rapaz, pois tinha intenção de lhe apresentar um bom partido na festa. – Tolice a minha cogitar tal hipótese.

Regina revirou os olhos, captando rapidamente as segundas e terceiras intenções da megera a sua frente, agora fazia questão de acompanhar Robin nesse evento, não queria a sobrinha exposta a situações inconvenientes e constrangedoras. Sabia perfeitamente que os Hood-Gardener queriam controlar a vida de Robin, as chamadas “orientações” eram definições de carreira, casamento e a forma que ela deveria se portar na sociedade. E não tinha ninguém e nem nada que obrigaria Robin a seguir caminhos que não fossem da sua escolha, os desejos e vontades dela seriam sempre respeitados. Regina se lembrou de quando a sobrinha era pequena, ela e Emma fizeram um pacto de sempre respeitarem e honrarem a forma que a loirinha decidisse viver a sua vida, sem impor predefinições ou projetarem seus próprios sonhos na menina.

— Certo, Ingrid. – Regina queria encerrar logo o assunto, para a mulher evaporar de sua casa. – O convite já foi feito, então nos dê licença que estávamos prestes a jantar.

— Oh, claro. – Ingrid tirou de dentro de sua bolsa um envelope dourado, esticando na direção de sua neta. – Aqui está o convite, pode levar quem deseja, o importante é a sua presença, minha querida.

Robin pegou o envelope o analisando de perto, parecia uma carta real antiga, cheio de formalidades antiquadas. Ingrid se despediu e partiu, para grande alivio de Regina, que desistiu de ir tomar banho e foi junto a loirinha jantar de uma vez, sua banheira ficaria para depois. De forma sutil, enquanto comiam descontraídas, quis saber se a sobrinha planejava ir nas bodas de seus avôs, o talvez que recebeu foi o suficiente para perceber que Robin queria ir, lhe assegurando que ela não precisava se preocupar, pois iria junto e tinha certeza que Emma não lhe negaria também. Terminaram de jantar, assistiram um episódio de Grey’s Anatomy na televisão e foram para seus respectivos quartos. A morena logo abriu a torneira de sua banheira e se despiu, iniciando um relaxante banho de espuma, seus pensamentos voaram até a sua ex-esposa, sentindo uma imensa vontade de ouvir sua voz, esticou sua mão e pegou o celular da mesinha ao lado, discando rapidamente o número que sabia de memória.

— Oi. – Emma atendeu logo ao terceiro toque. – Surpresa boa sua ligação.

— Boa noite, Emma. – Regina sorriu, sentindo uma ansiedade gostosa na boca do estômago. – Como foi seu dia?

— Entediante e o seu?

— Longo e cansativo. – Regina suspirou. – Tenho algo para falar contigo, mas não foi por isso que te liguei.

— Ah, é?

— Sim, amanhã falamos sobre esse algo. – Regina usou um tom de voz sedutor. – Quero falar sobre aonde e como estou.

— Hum. – Emma falou interessada. – Me diga aonde e principalmente como vai.

— Na banheira. – Regina mordeu o lábio inferior, pensamentos da loira lhe acompanhando ali inundaram sua mente. – Completamente nua e desejando sua presença.

— Isso é um convite, Regina?

— Você quer que seja?