Onde estamos agora?

Capítulo único - Onde estamos agora?


Onde estamos agora?

De Dani Tsubasa

De novo eles não tinham conseguido se encontrar, ou sequer ter uma conversa sem pressa pelo celular, isso vinha se tornando constante, doloroso e confuso. Às vezes Andrew achava que Hollywood ia longe demais com seus artistas, e que não seria má ideia de vez em quando terem férias como pessoas normais. Os paparazzi também eram um problema, e seriam um ainda maior se realmente tivessem férias. E nossa, como isso era confuso!

O som do celular chamou sua atenção, e Andrew voltou a olhar para o aparelho.

“And, eu me sinto terrível por isso. Não quero que pareça que estou te evitando. Acabei de concluir o trabalho de hoje.”

“Eu sei, Em. Mesma coisa aqui.” Ele respondeu

“Sabe... Tenho medo. De que nosso tempo acabe com a gente.”

Sentindo uma pontada de dor no coração, Andrew ficou em silêncio na escuridão do quarto, iluminado apenas pela luz do celular.

“Eu sei que nós dois sabíamos disso quando começamos.” Emma voltou a escrever.

“Sim. Eu passei uma semana inteira pensando sobre isso antes de dizer que te amava. Na verdade, ainda estava pensando quando falei sem querer naquela hora. Eu nunca vou esquecer o seu olhar pra mim e como quase tive um infarto enquanto esperava você responder.”

Andrew riu quando ela respondeu com emojis rindo e alguns corações.

“Você acha que isso está mudando agora?” Ele perguntou, sentindo o peito doer pela demora em ter uma resposta.

“Não! Céus, eu te amo! Mas... Dói. Não nos vemos há meses. Todas as nossas tentativas de encontros foram frustradas por nosso trabalho.”

“Também dói, querida.”

“Você já pensou em como seria se fôssemos pessoas comuns?”

“Algumas vezes. Seria tão mais fácil. Mas também amo tanto o que faço.”

“Eu também.”

“Mas te amo demais também.”

Um grande coração atravessado por uma flecha foi a resposta, e ele sorriu. Era assim que ela respondia quando não sabia exatamente o que dizer. Andrew respondeu com o mesmo emoji, só para em seguida sentir as emoções dentro de si ficarem tumultuadas novamente.

“Eu não quero nos perder. Mas dói. Estou com medo.”

“Nem eu.” Andrew escreveu. “Não é menos difícil pra mim, meu amor. Mas ainda não, por favor. Ainda estamos aqui.”

“Certo... Eu preciso dormir. E acho que você também.”

“Acho que nos fará bem.”

“Eu te amo. Boa noite, And.”

“Boa noite, Em. Eu te amo.”

Os dois fecharam o aplicativo de celular, e se deitaram em silêncio, sem conseguir dormir ainda. Andrew não viu as lágrimas dela, e ela não viu como até mesmo respirar ficou mais difícil para ele com a perspectiva de que eles poderiam acabar como tantos artistas apaixonados que tinham sido separados por suas agendas lotadas ou polêmicas da imprensa. Andrew sempre se perguntava como Angelina e Brad tinham conseguido conciliar suas vidas juntos e como atores até hoje. Eles tinham muitos filhos, talvez isso lhes desse força, mas é preciso estar bem um com o outro e consigo mesmos primeiro para que qualquer outra pessoa perto de você esteja também. Amava seu trabalho, ele quisera isso desde pequeno, mas nessas horas o odiava, e sequer sabia o que raciocinar a respeito. Se perguntava se artistas mais visados como eles nasciam condenados pelo destino a ficar sozinhos para sempre, ou nunca ter um relacionamento concreto, pois fosse a outra pessoa famosa também ou não, ainda seria muito difícil estarem juntos por longos períodos de tempo.

As memórias iam e vinham nos pensamentos de Emily enquanto isso, desde a primeira vez que tinham se visto até à última, meses atrás, quando os dois ainda não tinham o coração contaminado por dúvidas e medo. Como era possível pesar duas coisas tão importantes na vida quanto a carreira dos seus sonhos e a pessoa que completa sua alma? Nunca esqueceria o que sentiu quando eles estavam no set, esperando serem chamados para dar início a mais uma cena, e Andrew falou que a amava antes de perceber o que tinha feito, e o que sentiu com isso, o que tinha certeza que ambos sentiram ao longo de todo aquele dia de gravação agora que tinham contado isso um para o outro, e como não queria perder isso agora, embora a vida parecesse estar fazendo um cerco cruel em torno deles. Sempre poderiam não dar mais certo um dia, e eles seguiriam seus caminhos, e conheceriam outras pessoas, mas não funcionava da mesma forma com o trabalho, o amor não era vital para Hollywood. Hollywood só queria que as pessoas que assistiam suas produções acreditassem que sim.

Andrew não conseguia deixar de pensar em como seriam as coisas se tivessem tido mais tempo, se Gwen não tivesse sido morta, se a trilogia de seu Homem Aranha não tivesse sido cancelada, e eles continuassem compartilhando o set. Fora tão difícil para os dois gravar aquele momento. Eles tinham aprendido a amar Peter e Gwen, e queriam os dois bem tanto quanto queriam isso para si mesmos. Ele achava que a Sony tinha perdido uma excelente oportunidade de mantê-la viva e criar uma história totalmente nova, com o Homem Aranha na Inglaterra. Mas estava longe dessa possibilidade se concretizar só porque ele sugerira isso, havia muitas coisas envolvidas, e tudo tinha terminado deixando muitas cicatrizes, apesar do quanto Andrew ficou feliz por interpretar seu herói de infância. Tudo que não queria agora é que o que ele e Emily criaram juntos se tornasse mais uma dessas marcas.

Cansados com o turbilhão em suas mentes, os dois dormiram sozinhos, o que já estavam até desacostumados a fazer meses atrás, quando muitas vezes adormeciam nos braços um do outro.

******

- Você tá bem mesmo? As gravações acabam em breve. Não vai entrar numa bad justamente agora.

Emily riu. Às vezes Ryan soava tão parecido com seu personagem, Sebastian.

- O jeito que você fala de vez em quando... Parece com o Sebastian – ela disse, dando um gole em seu café enquanto estavam no refeitório do set, num intervalo entre as gravações.

Ryan riu.

- Não tem como não pegar um pouco os trejeitos do personagem depois de passar tanto tempo com ele. Mas você fugiu do assunto.

Emma permaneceu em silêncio, não tendo certeza que queria falar sobre aquilo agora.

— Só brincando... Você não precisa falar se não quiser. Mas se quiser, estou aqui. Ou você pode falar com Eva.

Emily sorriu em gratidão. Ela e Ryan tinham criado uma bela amizade ao longo das gravações. A certo ponto ele tinha lhe apresentado Eva, sua esposa, com quem também se dava bem.

- É o garoto aranha?

Ryan sentiu que estava certo ao ver a amiga fazer menção de sorrir, mas mudando para uma expressão triste.

- Não tem mais garoto aranha. Nosso tempo é... Faz meses que não conseguimos nem conversar direito.

- Sério?! Vocês falaram sobre isso?

- Sim. Algumas vezes.

- Mas é oficial?

- Não tocamos no assunto com todas as letras ainda, mas... Começamos a evitar trocar mensagens. Talvez assim seja mais fácil.

- Emma...

- Você não precisa me consolar. Isso acontece toda hora. Hollywood não é feita de amor, só parece que é. A vida continua. Mas não funciona igual com o trabalho.

- Eu sei. Acha que não já estive nesse mesmo dilema? Acho que todos nós que damos vida a tudo isso já estivemos, pelo menos uma vez. Eu e Eva estamos firmes há anos, especialmente desde nosso casamento, mas não foi fácil como parece agora. O trabalho dela geralmente é mais tranquilo que o meu, mas ainda foi difícil. Eu queria muito estar com ela agora, apesar do quão feliz estou aqui. Eu não vejo a hora de chegar em casa e cantar todas essas canções como se tivessem sido feitas pra ela, e vê-la rir disso e zombar dizendo que sou um palhaço.

Emma riu.

- Isso é lindo, Ryan.

- Não é? Dá pra ver que você está feliz, mas uma parte sua não tem estado aqui nas últimas semanas. Eu não tenho nenhum direito ou poder pra decidir sua vida, mas como um amigo, eu aconselho que vocês pensem mais sobre isso. Acha que eu também não vi todas as entrevistas e flagras dos fotógrafos com vocês dois? Dá pra ver que é real. Eu sei que não podemos dar as costas do nada ou a qualquer hora pra tudo isso – ele gesticulou para o set e tudo mais em volta deles – Mas algo assim também não é uma coisa que você deixa ir. Você é incrivelmente talentosa, Emily, e tenho certeza que vai brilhar tanto quanto eu.

Ela gargalhou com essas palavras.

- Mas vou me lembrar de ser mais modesta.

Ryan riu.

- Eu não saberia o que fazer com tudo isso às vezes se eu não tivesse Eva e nossa princesa.

Ryan e Eva tinham uma garotinha chamada Esmeralda, com pouco mais de um ano de idade.

- É claro que poderia ser qualquer outra pessoa se tivéssemos decidido não seguir juntos, mas todos os dias eu agradeço por ser ela.

- Nós... Meio que já decidimos isso. Já tentamos tanto. E estamos mergulhamos do que estamos fazendo, estamos felizes com isso.

- Emma... Acaba em breve.

- E eu deveria ir atrás dele? E se...

- Tem muitos e ses aí. Conversem mais uma vez. Hollywood faz esse tipo de coisa parecer tão clichê, mas torce o nariz quando acontece na vida real. Isso não é contraditório e cruel? Acho que qualquer produção seria melhor e mais bonita se alguém começasse a pensar mais na nossa sanidade e estado emocional, você não acha? Podíamos começar uma revolução sobre isso hoje mesmo aqui no set. Ou no último dia de gravação, pra escandalizar geral. A história de Mia e Sebastian até não se parece um pouco com a sua agora? Só que seu marido é seu trabalho.

Emma riu junto com o amigo em concordância, mas permanecendo profundamente pensativa pelo resto do tempo que ficaram ali sentados, enquanto Ryan só a observava, deixando-a em paz com seus dilemas. Ela voltou a beber seu café, não conseguindo ter certeza se estava aliviada por falar sobre isso com alguém, ou mais incerta e angustiada ainda.

******

Andrew se jogou na cama do hotel após o último dia de filmagens. Não era raro compartilhar quartos com colegas de elenco, mas estava grato por ficar sozinho dessa vez. Sua mente não estava bem para lidar com um dia a dia normal além do set, especialmente depois de sua última conversa com Emily, algumas semanas atrás. Aquela conversa que tinha doído tanto, apesar de também levá-los a um ponto de equilíbrio sobre o que fazer com suas vidas no momento. Olhou para o celular que vinha evitando ultimamente, largado no criado mudo ao lado da cama.

Ele ainda a amava tanto! Tanto! E não tinha dúvidas de que ela também. Por que tinham feito isso? Por que se sentia condenado a uma sentença injusta imposta por algo que também era tão importante para ele?

Virou-se de lado na cama, encarando o celular e de repente se sentindo tão cansado, como se nunca mais fosse ter vontade de atuar na vida, ou de dar qualquer entrevista, ou de levantar de onde estava em algum momento. Costumava se sentir renovado a respeito de suas crises existenciais após algumas horas de sono, mas não dessa vez. Agora não era apenas cansaço, era uma tristeza que doía, a constante sensação de algo faltando. Sentia-se tão feliz e satisfeito por concluir mais um trabalho, mas ela era a única pessoa para quem ele queria contar isso. E contaria, se não estivessem evitando manter contato.

- O que eu vou fazer amanhã?

Ele poderia simplesmente finalizar qualquer coisa que ainda precisasse ser acertada com a produção e viajar para casa para descansar e encontrar algumas pessoas, mas provavelmente a sensação de vazio que ele achava que estava perdendo, e que tinha voltado desde aquela conversa, ainda estaria lá. Se tivessem sido um pouco mais fortes, mais pacientes, estariam viajando para encontrar um ao outro nos próximos dias? O trabalho fora intenso nos últimos meses, os dois teriam algum tempo agora.

Conseguindo forças para se sentar, estendeu a mão para apanhar o telefone e checá-lo, automaticamente abrindo aquela conversa outra vez. Por que continuava fazendo isso? Seus olhos ficaram atentos ao perceber algo diferente dos outros dias, havia palavras novas, e muito recentes, de minutos atrás.

“Andrew? Como você está?”

“Em... Bem. Acabei de voltar do fim das gravações.”

Não achou que ela estivesse acordada para responder, mas surpreendeu-se novamente quando um bip de resposta veio poucos minutos depois.

“Também terminamos por aqui. Só fazendo ajustes finais agora. Verificando se algo deve ser alterado ou refeito.”

“Aqui também, embora os produtores pareçam satisfeitos... Eu achei que você não ia mais falar comigo.”

“Eu sei.” Ela respondeu com poucos minutos. “Eu... Nós...”

“Diga.”

Emma passou vários minutos olhando para o celular. Ambos sabiam que fosse qual fosse sua decisão, nunca teriam uma vida completamente normal, e se o visse de novo, os dois iriam cair. Mas se entrassem num eterno ciclo de repetição com isso?

“Seria uma imprudência nos vermos mais uma vez em algum momento?”

“Não sabemos de nenhuma das respostas agora. Não acho que podemos definir isso como uma imprudência.”

“Quando? Que irônico. Foi essa palavra que acabou com tudo.”

“Calma, querida.”

Ela levou a mão livre ao rosto quando sentiu seus olhos arderem e umedecerem. Por que ele tinha que chama-la assim? Tornava muito mais difícil.

“Emily...?”

“Ainda estou aqui.”

“Você ainda está em Los Angeles?”

“Sim. Acho que vou passar um tempo com meus pais e Ren nos próximos dias.”

“Ela está bem?”

“Não parava de rir e pular da última vez que a vi.”

“Isso é ótimo.” Andrew respondeu, acrescentando um emoji sorridente. “Eu vou até você. Ou prefere que façamos de outra forma? Eu voltaria a Los Angeles de qualquer jeito em pouco tempo.”

“Quando?”

“Logo. Alguns dias pra partirmos sem sermos multados por quebra de contrato.”

Emma riu, querendo dizer tantas coisas, mas não sentindo que deveriam ir além disso agora.

“Eu direi a você que estou indo.”

“Estou esperando. Durma bem.”

“Você também, Em.”

Ela soltou o suspiro que estava segurando no momento em que a conversa acabou e levou as mãos às têmporas para aliviar a dor de cabeça que a tensão estava lhe causando. Mia podia se sentir conformada ao trocar aquele último sorriso com Sebastian, mas Emma não queria viver isso com Andrew. Ela achou que estavam bem, que conseguiriam seguir, mas tinha percebido que não ao ser perguntada sobre isso por um paparazzi que tentara segui-la em algum momento dos últimos meses. Simplesmente o ignorou e se recusou a falar sobre Andrew enquanto os seguranças da produção o afastavam. Não sabia exatamente o que diria a ele quando se encontrassem, e nem o que ele estava achando de como estavam agora, seria doloroso demais pedir essa certeza por telefone. Mas respirou fundo, decidindo que tentaria relaxar a respeito do assunto até os dois estarem juntos novamente depois de tanto tempo.

******

Andrew estava nervoso como da primeira vez em que contracenou com Emma ao perceber o que sentia por ela, e a possibilidade de seus caminhos se separarem definitivamente o machucava. Não tinha ideia do que viria dessa conversa, o que os dois sentiriam ao se verem. Ele tinha planos, tinha se preparado para ambas as possibilidades, ainda que desejasse muito que os cortes acidentais escondidos pelos band-aids em seus dedos não fossem em vão. Nunca fora um exímio artesão, e não estar acostumado a trabalhar com linhas finas de costura têxtil não facilitou sua tarefa. A ideia tinha vindo quando ele começou a pensar e se lembrar de seu tempo juntos, e a colocou em prática no dia seguinte ao da conversa dos dois por telefone. O próximo passo fora procurar um artesão de verdade para finalizar o trabalho para ele, com a ajuda de um de seus colegas mais chegados da produção. Tudo que não precisava agora era o público especulando seu relacionamento com Emma. Sabia que os fãs ficavam felizes pelos dois, mas não podia dizer o mesmo sobre a mídia, que tinha uma forma bem mais inconveniente e agressiva de lidar com isso.

Pegou o telefone ao sair do elevador, discando o número dela, e sendo atendido no primeiro toque.

- Emily, eu tô aqui.

- Estou te esperando. A porta tá destrancada.

- Certo.

Andrew caminhou os passos que faltavam até o apartamento dela, ficando parado em frente à porta por um instante, desejando que o que quer que acontecesse, os dois ficassem bem. Tomando coragem, girou a maçaneta e entrou, vendo a chave na fechadura do lado de dentro e trancando a porta após passar. Emma estava sorrindo para ele na entrada da sala, usando um vestido simples, mas bonito, num tom de rosa que combinava perfeitamente com ela.

- Você ainda tá ruiva – ele sorriu de volta.

- Você não gosta mais? – Ela brincou.

- Eu não disse isso.

Os dois riram enquanto ele deixava a mochila num canto da sala e colocava cuidadosamente a sacola de papel que carregava em cima da mesa de centro, depois se erguendo para abraçar Emily.

Ela o abraçou de volta, sem nenhuma preocupação com o tempo que ficariam assim. Tempos atrás eles estariam rindo e se beijando, mas nenhum dos dois tinha certeza de onde estavam agora, e se afastaram, trocando um longo olhar antes de Emma puxá-lo para se sentarem no sofá.

- Você tá com fome?

- Ainda não.

- Ok... Eu pedi pra você vir aqui, e nem tenho certeza do porque. Acho que eu queria saber como ia ser depois de tanto tempo, se ia ser como antes.

- E foi?

- Eu não sei. Me diga você.

- Não já está sendo? – Ele sorriu – Por que não tentamos? Acho que é a maneira mais definitiva de entendermos onde estamos agora. Se você quiser.

- Faz sentido.

- Depois de trabalhar tanto gravando pretendo fazer alguma coisa que me mantenha mais nos bastidores por um tempo, não vou precisar viajar tanto.

- Eu andei pensando nessa mesma coisa. Musicais são muito intensos.

Andrew sorriu.

- Guerra também. Embora todas as histórias sejam um pouco intensas em algum momento.

Emma concordou com um aceno de cabeça.

- Um amigo me disse que todo casal tem um momento de crise que parece que é o fim, e a escolha entre superá-lo ou não define se vão continuar juntos. E disse que ele passou por isso também.

- E ele conseguiu? Estão juntos?

- Sim, até hoje.

- Quanto tempo?

- Anos.

- Isso é bom.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, pensando nos vários rumos que essa conversa podia tomar.

- Emily... Você quer isso pra nós dois? A onda ainda está aqui. Estamos cansados, eu acho. Mas você ainda quer passar por cima dela comigo? Eu posso fazer de novo tudo que fez você me amar antes?

Emma olhou para baixo quando ele segurou sua mão, num gesto tão natural que parecia que ele nem tinha percebido, e que o tempo nunca tinha passado. Percebendo a mudança de foco, ele também fitou o ponto onde suas mãos estavam unidas, parecendo refletir sobre manter o gesto ou não, mas Emma decidiu por ele, virando a palma da mão para cima para que seus dedos se entrelaçassem.

- Se estivéssemos casados.... Você ainda me amaria agora? Que nem um marido voltando da guerra? Eu meio que estava em uma há um tempo.

Emily sorriu, percebendo o quanto gravar Até o Último Homem o havia marcado, e tomando seu tempo para refletir sobre o que ele disse.

- Eu sei que você não gosta nada daqueles paparazzis inconvenientes atrás de nós, e que isso piorou muito quando ficamos juntos, e eu tenho pensado em mil maneiras de driblarmos isso. Mas eu quero que você me diga se ainda estou na sua vida.

- Fui eu que chamei você aqui. Eu também não sabia onde estávamos, mas eu não consigo deixar você ir.

Andrew respirou fundo e desviou rapidamente o olhar quando seus olhos começaram a umedecer.

- Eu ainda te amo, não sei porque não disse logo quando cheguei.

Emma assentiu, agora com os olhos tão molhados quanto os dele.

- E suas sardas são lindas, definitivamente deviam colocar menos maquiagem em você nas gravações.

Emma riu, apertando-o com força quando Andrew a abraçou e passou a acariciar seu cabelo.

- Cedo demais pra um segundo primeiro beijo?

- Eu também não sei. Por que você não testa?

Ela o ouviu dar um suspiro de alívio e felicidade, e um beijo suave foi pressionado em sua bochecha, fazendo-a procurar os lábios dele automaticamente. E descobriram ao mesmo tempo que ainda sabiam fazer isso, seus movimentos ainda sincronizavam, com a mesma suavidade, e a mesma sensação de conforto e pertencimento. Talvez se arrependessem mais tarde, mas estavam aqui juntos agora, e precisavam saber em que ponto seu relacionamento estava, o que fariam de agora em diante.

Andrew se afastou com a mesma delicadeza com que tinha começado o beijo, mas continuaram abraçados respirando juntos.

- E então? O que você acha? – Ele perguntou baixinho.

- Que eu quero que você fique. Talvez agora possamos fazer isso dar certo. Sem nenhuma super produção fazendo holofotes apontarem pras nossas cabeças, sem viagens imensamente longas o tempo todo por um tempo. Não parece que é um presente da vida pra nós?

- Não é educado recusar presentes – ele brincou sorrindo – Eu até trouxe um pra você.

- É mesmo? E o que é?

- É um enigma. Eu só quero que você abra quando tiver certeza de onde estamos, quando você tiver certeza de que realmente estamos juntos de novo.

A expressão dela misturou curiosidade e diversão.

- E como vou saber?

- Com o tempo, Emily. Ele nos afastou, e agora é ele que nos trouxe de volta e vai nos ajudar.

Andrew se esticou para pegar a sacola de papel em cima da mesa e entrega-la para ela.

- Isso tem algo a ver com esses curativos nos seus dedos?

- Mais ou menos. Eu não sou artesão, eu só tive a ideia e passei vários dias testando até dar certo. Depois procurei um artesão de verdade pra terminar o serviço. Bem, um amigo da produção foi até ele por mim. Eu não queria que a primeira página dos jornais do dia seguinte fosse que Andrew Garfield andou preparando um presente.

Emma riu e o olhou curiosa por mais um instante antes de tirar o conteúdo da sacola, se deparando com uma lindíssima caixa feita de resina branca e mesclas de dourado. Era pequena e tinha uma textura lisa e suave. O fundo era um pouco transparente e parecia ter algo dentro, mas que era impossível de identificar sem abrir. Um pequeno cadeado dourado lacrava a caixa.

- Você não vai me dar a chave? E qual parte disso você fez? É um trabalho excelente.

- Eu fiz uma parte que tá dentro. Eu vou te dar a chave daqui algum tempo – ele disse, puxando um cordão que só agora ela percebeu que estava em seu pescoço, com duas pequenas chaves douradas presas nele – Quando nós entendermos melhor o que somos agora. Ou quando você sentir dúvidas de novo. Ou você pode tirá-las de mim sem que eu perceba em algum momento.

Andrew ficou satisfeito ao vê-la rir, e se divertiu com ela enquanto Emma tentava adivinhar o conteúdo da caixa. Assim eles passaram o restante da tarde, voltando ao início, se conhecendo de novo, sentindo seus corações voltarem a se tocar pouco a pouco. E só quando acordaram juntos no sofá na manhã seguinte, tendo adormecido enquanto conversavam, perceberam o quanto estavam cansados, e que talvez, agora, realmente desse certo.

******

- Eu ainda não acredito que isso deu certo – Emma falou sorrindo enquanto os dois se abraçavam na cama pela manhã e riam.

- Eu sou um gênio – Andrew se gabou.

- Não sei como não desconfiaram depois que você fez isso e se revelou naquela Comic Com.

- Se tivéssemos ficado o dia todo talvez descobrissem.

Os dois tinham adquirido figurinos para cosplay do Homem Aranha e da Mulher Aranha, com lentes que tornavam impossível alguém ver seus olhos, e ido disfarçados a um evento geek da cidade no dia anterior, ficando pouco tempo, evitando falar muito, e não tirando as máscaras quando estavam cercados de pessoas. A ideia de realizar essa loucura fora de Andrew, e eles mal acreditavam que realmente não tinham sido reconhecidos.

Fazia seis meses que ele tinha voltado, seis meses que decidiram se dar uma segunda chance. Apesar de ainda viajarem separados às vezes, estavam trabalhando em projetos bem mais tranquilos e fazendo seu melhor para evitar ou lidar bem com os fotógrafos perseguidores que insistiam em tornar seu relacionamento público.

Deitada no peito nu do amado, ela olhou para o presente que ele lhe dera em cima da mesinha que tinha no quarto, e sorriu. A caixa permanecia trancada, e ela praticamente se esquecera de continuar insistindo para abri-la nos últimos tempos.

Percebendo o olhar dela e seu silêncio, Andrew procurou o ponto em que ela estava olhando, vendo o presente que trouxera para ela seis meses atrás, e também sorrindo, mas não conseguindo deixar de ficar nervoso.

- Começo a pensar que tem uma aranha radioativa ou geneticamente modificada aí dentro.

Andrew riu.

- Ela já teria morrido de fome, Em.

- Então porque seu coração tá disparado só de olhar pra ela?

- Excelente estratégia – ele brincou com o fato de ela estar na posição perfeita para detectar seu estado emocional.

Andrew a abraçou antes de se virar para os dois ficarem lado a lado e ele poder encarar seus olhos verdes, beijando os lábios da amada antes de falar.

- É hora de te dar aquela chave. E de você avaliar se mereço pontos como artesão.

Ela riu baixinho.

- Finalmente.

Os dois se sentaram na cama, e Andrew levantou para pegar a caixa e as chaves em sua mochila. Emma sempre sabia onde estavam, mas respeitava as condições dele.

- Emily, essa caixa vai mudar nossa vida. E eu quero que você seja sincera sobre o que acha do que tem aqui dentro.

- Quanto mistério – ela riu, aceitando as chaves douradas e usando uma delas para destrancar o cadeado quando Andrew voltou a sentar-se ao seu lado.

Abrindo a tampa, Emma se deparou com uma caixinha de veludo azul marinho e um fundo de resina transparente que parecia exibir uma mensagem formada por vários fios de linhas de costura branca entremeados e posicionados como letras, parecendo tecidos por uma teia de aranha. Então entendeu porque o coração de Andrew tinha disparado antes mesmo de ler a frase inteira. Tirou a caixa de veludo de dentro, mantendo-a segura em sua mão, para conseguir ler com clareza as palavras Você quer se casar comigo?

Agora ela já sabia que havia uma história alternativa em que Gwen sobrevivera, e Peter a pedira em casamento após salvá-la na ponte, e não conseguiu deixar de se lembrar disso, da mensagem feita com teias no segundo filme que gravaram juntos, e de que foi o Homem Aranha que os uniu. Então fora isso a causa dos machucados quando ele veio encontra-la, as linhas. Emma respirou fundo enquanto seu cérebro absorvia a mensagem e sentia Andrew tomar sua mão. Olhou para ele, vendo-o abrir a caixa de veludo azul, que exibia dois anéis dourados.

- Emily Jean Stone, você quer se casar comigo?

Ela só conseguiu concordar com um aceno de cabeça quando levou uma mão aos lábios, e tentou conter as lágrimas sem sucesso.

- Eu quero sim! – Ela disse quando ele a abraçou, beijando seus cabelos enquanto ela soltava a caixa ao lado deles na cama e o abraçava de volta – Eu quero me casar com você.

- Eu também, querida – ele respondeu sorrindo, sabendo que agora ela estava completamente confortável em ser chamada assim novamente.

- Você fez isso?!

- Sim. Tive a ideia depois que você pediu pra nos encontrarmos naquela noite. Passei horas tentando fazer dar certo e esperando a cola secar com as linhas na posição certa pra levar pro artesão. Eu fiz num impulso, mas no caminho pra cá eu achei que era cedo demais pra te pedir. Você teria aceitado?

- Eu não sei... Acho que te pediria tempo.

- Então daria no mesmo.

Ela riu, não querendo se desvencilhar do abraço tão cedo.

- Vamos fazer isso logo? – Ela perguntou.

- Se você quiser... Eu gosto dessa ideia. Podemos casar oficialmente, assinar os documentos, e depois planejar uma cerimônia com nossas famílias e amigos mais próximos.

- Eu gostei da ideia.

- Então vamos nos levantar, acertar tudo e nos preparar pra fazer isso amanhã cedo?

- Vamos contar pra alguém?

- Só nossos pais e irmãos. Assim temos risco zero de alguém da imprensa saber.

- Ótimo! – Emma respondeu radiante, voltando a beijá-lo.

******

Ren derrubou os dois no gramado do jardim da casa dos pais de Emily quando passou andando atrás da pequena Riley. Emma e Andrew gargalharam enquanto observavam a filha de dois anos rindo e brincando com a Golden Retriever, que se deitara no meio do jardim, abanando a cauda e sorrindo enquanto Riley acariciava seu pelo.

- Eu não acredito que isso podia não ter acontecido – Andrew falou para a esposa.

- Que bom que tivemos bom senso no último instante.

- Sou grato a Ryan por ajudar você com isso. E a alguns amigos que fiz na época também.

Emma sorriu, deixando o marido abraça-la pela cintura. Hoje era um dos raros dias de folga para ambos, e não viam maneira melhor de passar seu tempo. Emily mal acreditava, mas ela estava sobrevivendo aos fotógrafos enlouquecidos. Eles até tinham conseguido flagrar alguns momentos de sua gravidez, mas até agora ela e Andrew estavam obtendo êxito em manter fotos de Riley longe da mídia, e de redes sociais, uma vez que ambos continuavam preferindo não ter nenhuma.

- Eu não acredito que quase deixei você ir – falou encarando o amado.

Os olhos castanhos a encaram de volta, fazendo-o parecer a criatura mais fofa do mundo, e Emma amava que sua filha tivesse herdado isso dele, era quase impossível resistir quando Riley decidia usar sua expressão de cachorrinho carente.

- Você é tão fofo – Emily falou sem sequer pensar.

- Ficou comigo só por isso?

Os dois riram juntos e ela o deixou beijá-la.

- Eu fiquei porque eu te amo.

- E eu, Em – lhe disse com outro beijo.

Uma mãozinha no joelho de Emma os fez se afastarem, e os dois sorriram para a filha, que estendeu a coleira de Ren para o pai. Andrew segurou o objeto, e viram Ren enlouquecer, pulando e girando no jardim em alegria.

- Ainda não é hora do sei passeio, Ren – Andrew falou rindo – Prometo que vamos mais tarde – falou acariciando a cabeça da cadela, e vendo Emily segurar a filha no colo.

Elas eram iguaizinhas, quase clones, como Andrew costumava brincar. Os mesmos cabelos dourados, pele clara, e sardas, que tinham surgido recentemente no rosto de Riley. Seus olhos eram castanhos, porém mais claros que os de Andrew, às vezes parecendo serem de uma cor diferente na luz do sol.

Os dois beijaram os cabelos da filha ao mesmo tempo, vendo a garotinha sorrir, e Ren se esparramar nos pés dos dois também pedindo por atenção, o que teve imediatamente de Riley.

- Parece que ela já encontrou a primeira melhor amiga – Emma falou.

- Quanto tempo será que temos até ela querer ter um em casa?

- Pensamos nisso quando acontecer, And. Vamos aproveitar nosso dia sem enlouquecer, ok?

Ele riu concordando e a beijou.

- Eu te amo, amo vocês duas. Eu não me arrependo de nada.

- Nem eu.

- Mesmo com os fotógrafos malucos?

Emily riu e negou.

- Nunca. Eu amo você. E amo Riley.

Olhando juntos para a filha, a viram deitada na grama com Ren, que estava em um de seus shows de fofura, com a barriga para cima e as patas esticadas, sua língua pendendo para um lado enquanto parecia sorrir, e Riley ria observando a cadela. Decidindo se deixarem levar, se esticaram na grama perto das duas, estendendo as mãos para a filha, que agarrou os dedos dos pais e sorriu.

- Não é perfeito? – Andrew perguntou.

- Sim – Emily respondeu simplesmente.

Eles estavam entrando em novos projetos de atuação depois de bastante tempo trabalhando em direção e outras coisas, mas havia algo definitivo agora, um ponto de equilíbrio, eles sabiam onde estavam. Por hora, eles estavam bem.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.