Raios de fúria e reprovação saltaram arrogantemente dos amáveis e doces olhos da tia May, à medida que Peter entrava em casa, segurando-se com dificuldade à porta numa tentativa desesperada de se manter de pé. Os olhos do adolescente estavam vazios, inexpressivos, sem vida, focados num ponto invisível que só ele observava.

— Peter Parker, eu vou fingir que não estou a ver o estado em que te encontras! – Ralhou a doce tia desorientada. – Para a minha frente, vamos tomar um banho, agora! – Gritou.

— Banho com água? – Balbuciou o Aranha, cambaleando no pequeno hall de entrada.

— Claro que é com água, querias que fosse com leite? – Respondeu a senhora Parker mal-humorada, guiando Peter até á casa de banho.

— Eu não posso tomar banho com água, assim as minhas chamas desaparecem, não me faças isso monstro! – Exclamou o herói atrapalhado, atirando-se no chão de azulejo azul, fugindo do tão terrível banho. – Eu não quero, não quero! – Gritou, deitando saliva por todo o lado, será que ele pensa realmente que cospe fogo?

— Pára já com essa parvoíce, eu não estou para brincadeiras. Devias ter vergonha de chegar a casa nesse estado! Sabes que mais? Estás de castigo até às férias de verão! Entra já para o banho! – Ripostou a tia May em tom furioso, dando uma palmada na boca do seu jovem sobrinho, atirando-o com força no chuveiro completamente vestido.

— Não podes pôr de castigo o tigre Rei de Marte e do fogo! – Reclamou o Aranha em tom desafiador, tentando escapar à água fria que a dedicada senhora lhe atirava na cara.

— Vamos ver se não posso! – Retaliou May irritada com aquela conversa de gente tonta, ou melhor, gente bêbeda! – Se o teu tio te visse nestas figurinhas estavas tramado, onde é que eu errei?

No fim do atribulado banho, May arrastou o peso quase morto do seu querido sobrinho até ao seu quarto, içou-o para cima da cama, descalçou-o, despiu-o, colocou-lhe o pijama e cobriu-o com um cobertor, amanhã conversariam melhor.

A lua iluminava de forma enigmática, banhando a entrada da casa de Diana com uma tonalidade prateada, lembrando o cristalino gelo, os dois homens encaravam-se sistematicamente, presos pelo fino universo das suas almas submissas aos encantos celestiais.

— Quem és tu? – Perguntou a voz tranquila de Steve Rogers, segurando Diana com força junto do peito, sentindo um grave perfume a álcool penetrar bem fundo nas suas narinas.

— Apenas alguém. – Respondeu o estranho adorador das sombras geladas, virando costas, cortando o ar com o esvoaçante tricô da sua capa.

— Espera! – Gritou o Capitão incrédulo. – Eu quero saber o que lhe fizeste? – Insistiu, caminhando apressadamente para o exterior numa tentativa de encurralar o estranho.

— Algo que devias ter sido tu a fazer, adeus Capitão América! – Respondeu o encapuzado, correndo até ao táxi, saindo dali a grande velocidade, deixando Steve e Diana vulneráveis ao brilho alucinante da lua misteriosa.

— Vamos lá cuidar de ti, irei atrás dele mais tarde. – Murmurou o louro em tom doce, fechando a porta da habitação. – Depois de uma boa noite de sono tudo ficará bem. Porém devo-te prevenir de que não te safarás de um grande raspanete.

— Clint! – Murmurou a morena em tom sumido, à medida que Steve a depositava cautelosamente na cama. – És tão lindo! – Disse, acariciando o rosto do soldado, este sorriu.

— Dorme, eu não sou o Clint sou o Steve…

— Adoro-te! – Exclamou a Vingadora delicadamente, beijando suavemente o Capitão nos lábios.

— Não! Pára com isso! Olha para mim, eu não sou o teu namorado! – Gritou Rogers receoso, abanando levemente a Sereia.

— Oh meu deus Steve, desculpa! – Lamentou-se a adolescente horrorizada, reconhecendo aquele rosto doce que em muito se diferenciava do rosto arrogante do Gavião. – Steve por favor!

— Tem calma, o álcool não te deixou ver que era eu, não peças desculpa, errar é humano. – Tranquilizou-a o Capitão em tom suave, sentando-se na beira da cama da jovem. – Falamos melhor amanhã, agora dorme, eu fico aqui.

— Obrigada. – Sussurrou a Vingadora, aninhando-se junto do bravo soldado, deitando a cabeça no seu colo, finalmente voltara a adormecer.

— Fica tranquila o que aconteceu jamais sairá daqui! – Prometeu Steve calmamente, dando diversas carícias no rosto ternurento da Sereia. De seguida levantou-se e caminhou em silêncio até à sala, onde o grande cão branco dormitava, deitou-se no sofá, iria passar ali a noite.

A madrugada vagueava tranquila sobre o manto Nova-iorquino, sacudindo as estrelas do céu poluído, atiçando os ferozes raios do sol, Steve acordou com os passos felpudos do Gavião na sua direção, a guerra fizera com que adquirisse um sono tão leve como a água oceânica.

— O que queres? – Questionou o louro em voz baixa, afagando o pelo fofo do animal. – Tens fome, é isso? Então vamos lá! – Disse, erguendo-se do sofá, começando a procurar a saca da ração do Gavião. – Aqui está! – Exclamou, encontrando a comida de cão num canto da cozinha, deitando uma quantidade considerável na grande taça de metal platinado. – Come!

Por volta das oito e meia, depois de ter preparado um ótimo pequeno-almoço, Steve dirigiu-se ao quarto de Diana com o intuito de a acordar.

— Diana! Diana! São horas de acordar! – Exclamou em tom suave, dando diversas palmadinhas no rosto da Vingadora, não tinha grande jeito para aquilo. - Fiz um pequeno-almoço maravilhoso!

— Steve! O que fazes aqui? – Inquiriu a Sereia em tom confuso, mal abrindo os olhos. – Bolas que dor de cabeça!

— Tivesses pensado nisso antes de beberes até caíres para o lado. – Censurou Rogers, acendendo a luz. – Vamos a levantar, temos muito que falar!

— Deixa-me só tomar banho, nós já falamos. – Pediu a Vingadora apreensiva, vendo a expressão dura desenhada nos lindos olhos do Capitão, era pior se fosse o Stark!

—Não te demores. – Afirmou Rogers, abandonando o quarto.

— Estou tramada! – Murmurou a morena, retirando um fato de treino branco com fita rosa do seu armário.

Dez minutos depois, Diana já estava sentada à mesa de refeições, diante de um grande prato de torradas, compota de cereja e um fumegante jarro de leite com chocolate, não tinha grande apetite, porém iria comer para deixar Steve mais satisfeito.

— Steve, eu sei que errei e peço desculpa por isso. – Principiou a jovem envergonhada, retirando um guardanapo do monte que Rogers colocara sobre a mesa.

— O que tu fizeste foi muito grave, podia ter corrido muito mal, ainda bem que tens noção disso. – Retaliou o Capitão mantendo o tom casual, comendo deliciado uma torrada. – Foste muito irresponsável e inconsequente, bem sei que é normal os adolescentes praticarem este tipo de loucura, contudo tens que ter consciência de que não és uma adolescente qualquer, tu és uma Vingadora.

— Eu sei disso Steve, nunca mais pisarei o risco. – Garantiu Diana em tom arrependido, como eram duras e justas as palavras do seu herói.

— Sabes porque é que eu não te ralho mais? – Perguntou o Capitão sorrindo levemente.

— Porquê? – Questionou a Sereia curiosa.

— Porque sei que tu és suficientemente esperta para tornares os erros de hoje aprendizagens de amanhã. – Decifrou Steve honestamente.

— Eu fiz algo de muito grave enquanto estava bêbeda? – Inquiriu a jovem, temendo a resposta.

— Claro que não. – Mentiu Rogers, bebendo um grande trago de leite para afogar os seus valores morais. – Agora é a minha vez de te fazer uma pergunta. Tu conheces aquele sujeito que te trouxe a casa?

— Acho que era o Peter. – Respondeu Diana insegura, como estaria o seu amigo?

— Não, não era o Peter. – Discordou Steve preocupado, olhando Diana de uma forma estranha.

— Então quem era? Espera lá, talvez fosse o Jeremy! – Exclamou a Vingadora esperançada.

— Quem é o Jeremy? – Perguntou Rogers, duvidando daquela teoria.

— Ele é um amigo lá das aulas de dança. – Explicou a morena sinceramente. – Ele é magro, louro, tem mais ou menos a minha idade…

— Não era ele. – Interrompeu o soldado ainda mais apreensivo, recordando aquelas misteriosas palavras prenunciadas pelo estranho. – Este sujeito trajava vestes negras ocultava o rosto com uma máscara e fugiu num táxi.

— Não pode ser. – Murmurou a Vingadora em tom analítico, relembrando os misteriosos encontros que tivera com o estranho homem.

— O que foi? Tu conheces este homem? – Insistiu o louro, dando um pouco de pão ao Gavião que se aninhava aos seus pés.

— Eu não sei quem ele é, no entanto já me cruzei com ele por várias vezes, parece que ele está sempre no lugar exato à hora exata, quando eu preciso de ajuda. – Esclareceu a Vingadora, rapidamente, vendo o olhar inquisidor brilhar nos olhos do soldado. – Desculpa nunca te ter falado dele, todavia achei que não fosse importante.

— Não tens que pedir desculpa, um amigo é sempre bem-vindo. – Disse Steve tranquilamente, embora desconfiado. – De qualquer forma, da próxima vez que ele te abordar avisa-me. – Pediu, erguendo-se.

— Posso pedir-te uma coisa? – Questionou Diana em voz serena.

— Claro. – Assentiu Rogers, olhando-a com curiosidade.

— Não contes nada ao Tony, é que fizemos as pazes há pouquíssimo tempo, não quero estragar as coisas, entendes? – Pediu a Sereia sorrindo, Stark era muito importante para ela, a última coisa que desejava era desiludi-lo com aquele comportamento absurdo.

— Já nem me lembro do que aconteceu, fica tranquila. Mas acho que deves ir visitar o Tony, ele está a passar um mau bocado, precisa dos amigos perto dele, faz isso, por favor. – Sugeriu Steve ternamente, se alguém tinha o poder de animar Tony, esse alguém certamente era a Diana.

— Eu vou, fica descansado. – Concordou a Vingadora, dando um abraço de profunda gratidão a Steve. – Até logo, olha ainda não me esqueci do nosso filme!

— Quando as coisas acalmarem combinamos um fim-de-semana só para nós os dois. – Garantiu Rogers alegremente, como estava ansioso para esse fim-de-semana! – Até logo! – Despediu-se, dando um beijo na cara da morena e uma carinhosa festa na cabeça do Gavião.

— Até logo! – Exclamou a Sereia sorridente, começando a levantar a mesa do pequeno-almoço.

Na pobre casa dos Parker, Peter agitava-se ligeiramente debaixo do cobertor, abriu os olhos com dificuldade, a dor de cabeça era insuportável, o estômago ardia-lhe como se tivesse engolido uma bebida repleta de chamas incandescentes, as pernas e os braços tremiam suavemente e estava um pouco febril, a este diagnóstico dá-se o nome de ressaca meu amigo!

— A tia May deve estar furiosa comigo. – Constatou o jovem aterrorizado e envergonhado, pegando no seu telemóvel. – Como estará a Diana? – Interrogou-se, marcando o número da morena. – Diana estás bem?

— Olá Peter, estou mais ou menos, e tu? – Respondeu a Vingadora aliviada por escutar a voz do seu melhor amigo.

— Nunca me senti tão mal, preferia levar uma surra do Duende Verde, do Homem Areia, do Abutre, do Lagarto e do Dr. Octopus. – Explicou o Aranha, cobrindo a cara com as mãos numa tentativa de se proteger da fraca luminosidade que adentrava pelos seus estores. – Tiveste problemas?

— O Cap estava à minha espera. – Declarou a Sereia, por falar nisso não tinha perguntado a Steve o que ele fazia ali.

— Deve ter sido péssimo. – Constatou Peter, sentindo um enorme sentimento de compreensão pela sua insubstituível amiga, sabia o quanto era importante para ela a relação que criara com o Capitão.

- Nem por isso, ele deu-me um valente raspanete, porém correu tudo bem. Para falar a verdade ele teve razão em cada palavra que proferiu, nós fomos muito imprudentes, mesmo muito. Como estão as coisas com a tua tia? Ela deve estar passada? – Inquiriu a Vingadora preocupada, apesar da senhora May ser um doce jamais iria tolerar aquele tipo de atitude.

— Pois imagino que ela não esteja nada satisfeita, ainda não estive com ela, se me disse alguma coisa ontem á noite eu não me lembro. – Esclareceu o herói pensativo. – Acho que ela vem aí, depois falamos!

— Ok, até logo! – Respondeu Diana alarmada, contudo apenas escutou os sinais sonoros do telemóvel a desligar, boa sorte Peter!

- Peter, precisamos de falar. – Afirmou categoricamente a tia May, entrando no quarto a tremenda velocidade, abrindo os estores de rompante o que provocou um comentário de desaprovação por parte do seu sobrinho. – Não reclames, estás assim porque queres!

— Eu sei disso, desculpe. – Confessou o herói em tom sumido, recostando-se nas suas almofadas.

— Ainda bem que tens consciência do erro que cometeste, onde é que já se viu chegares a casa a cair de bêbedo. – Censurou a doce senhora, sentando-se ao lado do jovem.

— Não volto a repetir, aprendi a lição. – Garantiu Peter sinceramente, esfregando o estômago.

— O teu arrependimento não te livra de um castigo. – Avisou May friamente.

— É justo. – Concordou o Aranha resignado, não valia a pena tentar negociar.

— Quando saíres das aulas vens direitinho para casa, a Diana está proibida de vir cá, não meterás as mãos nos teus tubos de ensaio e derivados, acabou-se o computador, os jogos e os DVD’s, acho que não me estou a esquecer de nada. – Enumerou a tia em tom opressivo.

— Parece que estou num campo militar. – Comentou o herói taciturno. – Eu farei o que listou, fique tranquila.

— Acredita que não será de outra maneira. – Garantiu a senhora erguendo um fatal pulso de ferro.

— Certo, então o que posso fazer afinal? – Perguntou Peter mal-humorado.

— Estudar, acho que é suficiente para te ocupares. – Respondeu a tia May com azedume na voz, levantando-se e preparando-se para deixar a divisão. – O teu pequeno-almoço está lá em baixo.

— Obrigado. – Disse o herói, saltando da cama, caminhando lentamente atrás da sua educadora, não era boa ideia recusar a refeição.

Nessa noite Diana não estava com grande disposição para saídas, Peter tinha-lhe enviado uma SMS a explicar que estava de castigo, a imprensa continuava a dizimar o nome de Stark espalhando tinta misturada com ódio e manipulação pelos olhos submissos da população e tinha a leve sensação que Steve não lhe contara todos os pormenores da noite anterior, contudo um compromisso é sempre um compromisso.

— Estou pronta. – Murmurou a Sereia em voz suave, encarando o espelho onde o seu corpo bem definido desfilava com um bonito vestido preto rendado, umas sandálias pretas de salto alto, uma bolça azul clara pendia elegantemente do seu ombro, o seu cabelo era como uma leve flor empurrada pelo vento, suave, solto e brilhante.

Por volta das oito, o barulho roncado do motor do velho carro do Gavião irrompeu freneticamente pelos ouvidos da jovem, esta pegou nas chaves, saiu, fechando a porta nas suas costas.

— Tenho ordens para conduzir a princesa Diana até ao restaurante. - Brincou Clint sorridente, saindo da viatura para abrir a porta à adolescente.

— Mas que motorista tão giro, acho que já não me apetece jantar com o meu namorado! – Exclamou a Vingadora em tom divertido, segurando na mão esticada do Arqueiro. – Estás lindo! – Comentou deslumbrada, olhando as vestes do Gavião, este trajava uma t-shirt azul claro, que combinava na perfeição com a tonalidade do seu cabelo, usava ainda umas jeans de ganga escura, uns ténis brancos, realmente estava muito bonito.

— Obrigado miúda, tu também estás linda, esse vestido é muito, muito, muito sexy é isso! – Elogiou Clint tentando disfarçar os seus verdadeiros pensamentos.

Os dois namorados jantaram num restaurante muito recatado, a qualidade da comida era óptima, o ambiente era acolhedor e extremamente convidativo e o preço acessível completava às mil maravilhas o folheto de boas vindas.

— Pareces cansada. – Comentou o Arqueiro em voz doce, terminando a sua deliciosa sobremesa, mousse de manga com natas.

— Fui sair ontem à noite como sabes, acho que já não estou habituada a noitadas! – Esclareceu Diana de forma ensonada, também ela finalizando a sua sobremesa, mousse de chocolate com raspa de bolacha e natas.

— Pois, esse Peter não é uma boa influência para ti. – Afirmou o Gavião categoricamente, como se não existisse margem para dúvidas.

— Tu nem o conheces, não tens o direito de o julgar dessa forma, ele é fantástico! – Ripostou a morena irritada, depositando o dinheiro num potinho.

— Pronto desculpa, vamos dar um passeio? Acho que comi demais! – Questionou o louro, levantando-se e arrumando a cadeira.

— Claro, era esse o combinado.- Respondeu a Vingadora tranquilamente, erguendo-se de forma graciosa, um passeio à beira mar era sempre reconfortante.

Os dois heróis caminhavam em silêncio pelo areal castanho pintalgado pelo luar, olhavam a imensidão azul que se estendia furiosa sobre o infinito noturno, saboreando o perfume sereno da perfeita melodia entre a deliciosa maresia e as puras estrelas.

— Parece que o mar hoje está revoltado. – Comentou a Sereia impressionada.

— Sim, parece que sim. Sabes uma coisa, o oceano é como tu, lindo, porém muito perigoso. – Analisou o Arqueiro pensativo, beijando a mão da morena. – Já te disse o quanto estás maravilhosa esta noite? – Perguntou, escapando-se a uma onda fervilhante que flutuava no areal sonhador, sem aviso beijou a morena nos lábios, afogando-se no desejo salgado da cereja campestre. – Adoro-te!

— Eu também te adoro, jamais imaginei que nós poderíamos resultar. – Confessou a heroína maravilhada com aquele cenário agreste, no entanto fantasioso, devolvendo o beijo ao mestre das setas

— Acredita, nem eu. – Declarou Clint sorridente, abraçando a Vingadora com força.

A poucos metros dali, uma jovem mãe de pele negra, vagueava no pequeno e milagroso cruzamento entre a terra e o mar, segurando pela mão a sua pequena filha.

— Agarra com força a mão da mamã! – Avisava a jovem negra em voz doce, acariciando o rosto rechonchudo da sua pequena flor. – Queres uma conchinha Luna?

— Sim, a mais bonita de todas por favor! – Exclamou Luna de forma adorável, largando por um breve instante a mão da sua mãe. – Apanha a mais bonita de todas, uma que venha do mundo das sereias! – Pedia, batendo palmas.

De súbito, uma névoa negra invadiu a maravilhosa praia, um frio de morte e pesadelo gelou por completo os corações dos presentes, a luz pura da lua submeteu-se ao arrepio cruel do mar, as ondas gritavam de pânico, raiva e fúria. Luna já não estava mais na areia junto da sua mãe, flutuava no revolto oceano, transportada de forma egoísta pelas marés aguçadas e criminosas, roubada pela vontade azul, fria e bela, envenenada pelas profundezas cristalinas e misteriosas.

A jovem mãe, tomada pelo desespero e pelo sofrimento, aventurou-se corajosamente naquele universo desconhecido, enraivecido, julgador, contudo a fatalidade das bravas e condenadoras vagas arrastaram-na sem remorsos para o areal brutalmente espancado, deixando uma enorme fenda entre ela e a sua pequena luz lunar. Um arrepio de terror e nostalgia embateu friamente no peito da morena.

Conseguirá Luna alguma vez adquirir a concha do mundo das sereias que tanto deseja? Conseguirá Diana domar a fúria do mar? Conseguirá a morena deixar as suas trágicas recordações no fundo do oceano?