Wonderland, Tia Dalma

Will e Elizabeth estavam lá dentro havia pelo menos meia hora. Quando chegaram, não tinham certeza se deveriam entrar ou não, até que uma mulher apareceu na porta e os mandou entrar. Eles entraram, relutantes e meio desconfiados, pois a casa era forrada com objetos e animais estranhos, itens que eles nem sabiam e nem queriam identificar. A vidente pediu para que esperassem e sumiu por uma porta. Estavam ficando preocupados àquela altura.

— Alice já devia ter retornado a essa altura – disse Will, que não parava de tamborilar os dedos na mesa.

Elizabeth nada disse. Estava preocupada também, mas sentiu que não poderiam sair da casa da vidente tão cedo. E então a mulher voltou ao recinto, sentando-se em uma cadeira e pedindo que se juntassem à ela.

— O que vocês procuram não está aqui – disse ela, em tom de mistério.

— Hm, como é? – Will pareceu confuso. – Mas nem sabemos o que estamos procurando. Viemos até aqui por respostas.

— Certamente que vieram – disse Tia Dalma -, perdoem-me, as vezes o tempo corre ao contrário para mim. Conheci um homem uma vez que vivia da mesma forma, de trás para a frente. Ninguém o compreendeu, coitado.

Houve um silêncio constrangedor, pois nem Will nem Elizabeth estavam acompanhando o que ela dizia.

— Bem, de qualquer forma, me chamo Tia Dalma. E vocês tem problemas.

— Sim, sabemos disso. Poderia ser mais específica? – disse Elizabeth, começando a se irritar.

Tia Dalma fitou-a intensamente, e logo abriu um sorriso felino.

— Ora, eu sabia que estava sentindo um cheiro de oceano – Tia Dalma se levantou e caminhou até Elizabeth, que levou a mão até sua espada, por cautela. – Conheço suas origens, garota. E agora vejo porque está com eles. O destino de vocês três se encontrou de uma forma curiosa. Mas, bem, vamos lá.

A vidente fez uma pausa, e começou a encarar o teto com concentração inabalável. Will e Elizabeth se assustaram quando ela, de repente, falou em voz alta:

— Alice foi sequestrada.

— O que?! – ambos gritaram.

— Vocês não conseguirão nada se forem sozinhos resgatá-la. O seu sequestrador trabalha para Jafar. Vocês devem ter ouvido falar dele, suponho – disse, olhando-os.

— Só sei que todo mundo tem medo dele – disse Elizabeth. – mas nunca o vi pessoalmente.

— Pelos céus. Vocês não poderiam estar mais desinformados – disse Dalma. – Jafar tomou o trono de Wonderland.

Isso só pode significar uma coisa, pensou Will Scarlet.

— Meus pêsames, Valete – disse a vidente, em tom brando. Will, no entanto, não conseguiu sentir nada além de uma ligeira surpresa.

— Ela está morta, então – disse ele, com uma expressão meio vazia.

— É uma sorte você não ter coração. Ele estaria partido nesse momento – disse Dalma, pousando a mão sobre o peito de Will, onde ficava seu coração. – Você me lembra uma pessoa. Um homem que por amor arrancou o próprio coração. Você sabe o que aconteceu com ele? – disse ela. Will não respondeu. – Ele se tornou um monstro. Viveu uma vida inteira de crueldade e infelicidade. Tudo o que saía dele era ruim, melancólico. Todos o temiam. Até que encontraram seu coração em um baú e o furaram. Ele morreu sem glória nenhuma.

Will engoliu em seco.

Elizabeth estava com as sobrancelhas franzidas.

— Eu não poderia estar mais perdida, nem que estivesse no Pacífico sem vento nenhum. – disse a pirata, cruzando os braços.

Tia Dalma entrou em outra sala, buscou um mapa e os entregou.

— Sigam as instruções. Elas levam até o item que vocês vão precisar. Fiquem de olho em espiões, não confiem em ninguém e trabalhem em equipe. O sequestrador de Alice está no corpo de Cyrus. É um demônio antigo. Esse item irá expulsá-lo.

— E como saberemos encontrar Alice? – perguntou Will. A vidente coçou o queixo, pensando.

— Quando tiverem encontrado o item, voltem aqui.

— E o que Jafar pretende? O que querem de Alice? – Will insistiu. Dalma revirou os olhos.

— Vocês saberão quando chegar a hora.

Elizabeth e Will estavam prestes a sair quando Dalma os interrompeu.

— E é claro que eu espero um pagamento – disse ela, sorrindo.

— Ah, certo... Como podemos pagá-la? – disse Elizabeth.

— Vou precisar do coração – ela disse, encarando Will. – Você tem um mês.