Agrabah, alguns anos atrás…

Um menino mendigava pelas ruas. Ele era bem pobre, órfão. Vivia sozinho, sem ninguém, apenas desejando um pedaço de pão.

Tinha doze anos. Seus cabelos eram negros e bagunçados, e ele era bonito. Seus olhos eram da cor do cabelo, e ele era pequeno para sua idade.

Ele sempre foi acostumado a roubar algumas coisas de ricos. Um ou dois pedaços de pão, uma ou outra coisa para ele vender… Naquele dia, ele havia encontrado uma lâmpada muito bonita, algo visualmente… Mágico.

Ele a roubou junto de dois pães, planejando vendê-la no raiar do dia no mercado negro.

Porém, assim que saiu da casa, a lâmpada começou a atraí-lo. Era como se ela suplicasse, “esfregue-me, esfregue-me”.

O garoto havia ouvido uma lenda de que haviam gênios mágicos em algumas lâmpadas capazes de conceder três pedidos.

E, de todas as pessoas, ele tinha encontrado uma lâmpada.

Seus olhos expressavam cobiça enquanto ele a segurava. Pensou então em todas as riquezas, todo o dinheiro, todo o poder que ele poderia ter. Não precisaria viver nas ruas mais. Poderia comer todo o dia o quê quisesse.

Antes que ele percebesse, já havia esfregado suas mãos no objeto. Imediatamente, uma nuvem saiu da lâmpada. E de repente, um homem estava bem na frente do garoto.

—Senhor meu, seu desejo é meu. Diga-me os seus três desejos!

O garoto olhava assustado para a figura, quase sem palavras.

—Qual é seu nome? - Perguntou o garoto. O homem lhe olhou, com um pouco de nojo e lhe disse:

—Meu Mestre… Meu nome é Jafar.

ALGUNS ANOS DEPOIS…

Will Scarlet estava acorrentando à parede. A mulher de cabelos pretos e brancos lhe olhava com crueldade, enquanto Tremaine, sua sogra, o olhava com ódio.

—Que bom lhe rever, sogrinha… Sabia que eu e sua filha nos casamos? - Disse ele, sorrindo. Havia conseguido lhe irritar.

—Ora, seu…

—Silêncio!! - Disse a mulher de cabelo preto e branco.

—Will Scarlet, não? - Perguntou ela. Ele assentiu. Ela era assustadora.

—Prazer… Meu nome é Cruela de Vil!

Will estranhou o nome. Era bem ridículo. Quem juntaria o feminimo inexistente de “cruel” com algo parecido com o inglês de “demônio”.

“Muito mau gosto dos pais desse ser”, pensou Will.

Cruela pareceu ler seus pensamentos, pois riu. Sua risada era fria, seca, maldosa. Will raramente sentia medo, mas Cruela o inspirava.

—Vamos, Tremaine… Temos mais o quê fazer. Até mais… Scarlet. - Disse Cruela. Tremaine a acompanhou, mas parecia contrariada.

“Na mente sádica dela, Tremaine deve ter torturas bem piores do quê eu pendurado e acorrentado numa parede”, pensou Will com desgosto.

Ele então fechou os olhos. Sua vida com Anastasia estava indo tão bem. Eles tinham acabado de sair do casamento de Alice com Cyrus. Tinham acabado de recomeçar sua vida no País das Maravilhas.

“Não é possível que eu seja tão sortudo de nunca ficar em paz”, pensou ele, fechando os olhos.

Antes que pudesse evitar, sua mente estava de volta à Floresta Encantada, quando ele se encontrou com Anastasia pela primeira vez. Lágrimas rolavam por seu rosto.

Só Deus sabia como ele amava Anastasia.

A lembrança de como se conheceram o fizera sorrir; e depois de um tempo, o fizera chorar.

Ele estava preso no sótão da casa, um lugar sujo, empoeirado e sórdido. Teias de aranha pendiam nas paredes, e baratas corriam pelo chão.

Will nunca se preocupou em se sujar. Ele era um ladrão, e ladrões não temem esse tipo de coisa. Para conseguirem o quê querem, se escondem nos lugares mais sujos, mais fétidos, mais abomináveis… Mas naquele momento Will queria estar no conforto de seu lar com sua mulher. Ele, pelo menos uma vez, gostaria de dizer que viveu feliz para sempre.

E foi pensando nisso que ele adormeceu.

***

—Ele ficará bem? - Perguntou Tremaine, olhando para Cruela. As duas estavam sentadas em cadeiras no quê anteriormente deveria ser uma cozinha.

—Você quer que ele fique? - Perguntou ela, seus olhos transmitindo uma loucura insana. Tremaine sorriu.

—De todas as coisas que eu poderia desejar, essa seria a mais remota. - Respondeu ela, sorrindo. - Eu quero que ele sofra tanto quanto Cinderella deve sofrer. Eu quero…

—Eu entendi. Não precisa falar mais nada. - Disse Cruela, com frieza. Tremaine calou-se imediatamente.

O silêncio dominou por algum tempo o lugar, até Tremaine quebrá-lo:

—Qual será o nosso próximo passo? - Cruela permaneceu em silêncio, e Tremaine encarou isso como um aviso.

Um aviso de quê ela não queria ser perturbada, e se alguém o fizesse…

Depois de algum tempo, Cruela pareceu sair de seu estado de torpor.

—Preciso conversar com alguém. - Disse Cruela, levantando-se de sua cadeira.

—Tremaine, sem comida nem água para nossos prisioneiros. Eu vou sair rapidamente, portanto cuide desse lugar.

—Para onde você…?

—Não é do seu interesse! Apenas cuide dos prisioneiros. - Ela então ajeitou seu casaco e abriu a porta, pronta para sair.

—Aliás… Se eu conseguir, trago um pouco de comida para você. - E saiu. Tremaine então abaixou a cabeça, sentindo-se um pouco desorientada.

Desde que ela havia trazido Cruela para Storybrooke, a mulher a ignorava totalmente. Havia achado aquela mansão abandonada e simplesmente colocado Tremaine lá dentro, abandonando-a quase que completamente.

“Esse tipo de lugar não foi feito para mim”, disse Cruela quando Tremaine perguntou a ela se não ficaria na casa. A mesma alegava também que “alguém precisava ficar cuidando dos prisioneiros”, e Tremaine era muito útil assim.

Mas ela não se sentia útil.

A alegria que ela acreditava ganhar quando finalmente colocasse em prática seu plano contra Cinderella em prática não tinha vindo. Tremaine sentia-se vazia. Oca. Seu coração pesava em seu peito, como se ela houvesse estragado a vida de várias pessoas. Como de fato havia feito.

O desejo de vingança não parecia mais ter sentido. Cinderella não havia feito nada para ela. Tecnicamente, Tremaine é quem havia dado todos os motivos para sua enteada querer se vingar. A vilã aqui era ela.

O bebê começou a chorar no andar de cima, e uma lágrima correu pelo rosto de Tremaine.

Aquilo tudo não fazia sentido. Todo aquele sofrimento, toda aquela dor…

“Por quê eu me meti nisso? Por quê?”, pensou ela, a dor no seu peito piorando.

Subiu então as escadas, chegando no quarto de Alexandra. Ela estava acomodada num monte de palha que parecia ser bem desconfortável.

Tremaine mordeu os lábios, nervosa. Idéias começavam a surgir na sua cabeça. E se ela libertasse Cinderella, seu marido e sua filha? Até mesmo Will Scarlet merecia ser libertado.

Tremaine fechou os olhos.

Havia tomado uma decisão.

***

Ruby e seu grupo haviam chegado em frente ao local.

Era uma mansão imunda, apodrecendo e quase caindo aos pedaços, mas Ruby sentia o cheiro de Ella e de sua filha. Até mesmo o cheiro de Tremaine estava lá, denunciando aquele lugar.

Havia também um cheiro diferente, uma mescla de perfume francês e maldade. Ruby não sabia se “a maldade” realmente tinha cheiro, mas se tivesse, seria aquele.

—Podemos atacar? - Perguntou Leroy olhando para Ruby. A garota apenas assentiu com a cabeça.

Então o anão avançou com raiva, quebrando a porta do lugar.

Ruby sentiu seu corpo se transformar, sentiu seu corpo lentamente se encher de pêlos… De repente, ela percebeu que estava prestes a se transformar em lobo.

O ataque havia começado.

***

Tremaine ouviu um uivo vir lá de fora, e de repente, ouviu o barulho de madeira podre quebrando.

Seu coração começou a acelerar quando ela percebeu que era a porta da mansão que havia quebrado.

Então o lugar virou uma algazarra infernal.

Gritos, barulho de armas atirando, o raspar de garras no assoalho frio de madeira…

Tremaine tentou achar um lugar para se esconder. Tentou abrir as janelas, tentou se esconder debaixo das camas.

Mas era tarde demais.

Quando ela viu, estava debaixo de um grande lobo que a encarava com seus olhos frios, suas garras pressionando seu peito. Por um momento, ela pensou que teria sua cabeça arrancada pelo lobo. Mas então alguém apareceu. Um vulto negro que parecia tentar impedir que o lobo a matasse.

Tremaine fechou os olhos, e suas horas seguintes foram só escuridão.

***

Ashley estava numa maca, sua cabeça recostada num travesseiro macio.

Aquele inferno finalmente havia acabado. Há algumas horas atrás, ela, Thomas e Alexandra haviam sido salvos.

Ruby já havia lhe visitado. Tinha lhe contado um pouco do quê havia acontecido no tempo de sua prisão. Pelo visto, tinha descoberto que Rumplestilskin estava vivo, e tinha sido aprisionado pela Bruxa Má do Oeste.

Mas Ashley não se importava.

Ela estava bem, Thomas estava bem, sua filha estava bem. E segundo Ruby, Tremaine estava presa. A garota não pôde de deixar de sentir um pouco de satisfação ao saber daquilo.

Aquela mulher já havia machucado muitas pessoas. Inclusive Ashley.

—Ashley… Você já pode se encontrar com seu marido. - Disse uma enfermeira. Ashley assentiu, sorridente. Não haviam ferimentos realmente graves nela. Só faltava uma avaliação psicológica e provavelmente ela receberia alta.

Portanto, o Dr.Whale havia garantido que, quando estivesse tudo bem, Ashley poderia ir se encontrar com seu marido.

Quando ela levantou-se de sua maca, ajeitou sua roupa e saiu sorridente de seu quarto pensando que estava tudo bem, ela mal sabia o quê a esperava.

Afinal, não estava tudo bem.

***

Cruela estava na floresta de Storybrooke, perto daquele enorme poço. Ela segurava um espelho em suas mãos, e vestia vários casacos brancos de pele de lobo.

—Tem certeza disso, Cruela…? - Disse uma voz vindo do espelho. A mulher gargalhou, embora em sua risada não houvesse humor. Apenas maldade.

—É lógico que sei, meu querido. Você achou que eu tiraria as proteções da mansão por nada…? Que eu praticamente entregaria Will, Cinderella e companhia para todos de mão beijada?

Ela riu mais uma vez, porém a voz não respondeu nada.

—Eu planejo as coisas antes de executá-las. Eu sei o que estou fazendo, e sei o quê vou fazer daqui em diante…

—E Tremaine?

—Tremaine é inútil. O feitiço está perdendo o efeito nela, e o melhor que eu fiz foi entregá-la junto com a casa para as autoridades desse lugar.

A voz pareceu rir.

—Você realmente sempre consegue o quê quer, não é…?

—Mas é claro que sim… Jafar.