Olhos Errantes

A Espada de M’aiq


Zago estava confuso e cansado... sentia-se atordoado, mas tentava manter a calma e entender o que acontecera, ainda queimando em febre lembrava-se nitidamente do sonho.
Otto adentrou na barraca com um pouco de fruta nos braços.
—M’aiq o encontrou caído na areia...ocorreu algo?
O garoto olhou seu amigo assustado. Não conseguia proferir uma palavra sequer.
—...Entendo, vamos deixar assim por enquanto. Não diremos nada à Lorde Haung, ele não pode saber disso, está bem?
Zago consentiu. Otto sentou-se a seu lado mantendo a calma como sempre fazia.
—Sabe garoto, a culpa é minha, eu deveria te tratar como um soldado e não como uma criança de rua que fosse me assaltar a qualquer momento.
O menino pegou uma fruta que o ancião havia lhe trazido e a fitou seriamente, para, logo depois deixar escapar um sorriso irônico e morder um pedaço da fruta.
—Tudo bem, o senhor não foi o primeiro.
—Não, não fui... mas posso ser o último, Zago. Não te tratarei mais como criança, começando por algo que você precisa saber...
Otto estava pronto para prosseguir quando uma silhueta adentrou na cabana. Era M’aiq.
—Otto, os outros estão preocupados com o garoto, acham que foi atacado, você devia acalmá-lo.
Por um segundo os dois se encararam e Zago, desconfiado, fingiu que nada percebera.
—Ah claro! Obrigado M’aiq- virando-se para Zago, Otto lançou-se um sorriso simpático.- devo acalmar nossos companheiros... volto logo para continuarmos a conversa, está bem?
Zago assentiu.
Quando Otto deixou a barraca, M’aiq encarou Zago por alguns instantes.
—Não importa o que falem para você, garotinho... será sempre um fedelho de rua.
Zago notou naquele momento, como M’aiq era estranho, não só se vestia diferente dos outros (trajava roupas pretas e pesadas, além de alguns panos vermelhos amarrados à cintura e um cobrindo-lhe a boca)mas também possuía características diferentes, as pessoas do deserto possuíam a pele morena e o rosto um pouco tostado pelo sol, os olhos e o cabelo normalmente eram castanhos...Mas M’aiq possuía olhos num tom dourado e cabelos negros.
—Pelo menos as pessoas sabem quem eu sou, nunca ouvi falar seu nome antes.
Era quase impossível saber se M’aiq sorria devido aos panos que usava, mas naquele momento Zago sentiu que seus olhos lançavam-lhe um sorriso irônico.
—Isso é porque eu sou especial, garoto.
M’aiq deu de ombros antes de sair da barraca.
—Descanse, você irá precisar.
—x-
Passaram dois dias desde a última vez que vira Dália, Zago estava caminhando com seu grupo pelo deserto, obedecendo ordens de Haung, eles deveriam procurar pela garota no deserto e se dirigiram até uma parte do deserto onde Haung afirmava estar a flor do deserto.
Cansado, o garoto caiu de joelhos na areia quente. Uma mecha do cabelo castanho caia-lhe sobre a testa.
Otto se aproximou sorridente.
—Vamos Lá, Zago! Pensei que fosse mais enérgico que isso... é olha que o velho sou eu!
Os dois riram.
—Quem disse que eu sou enérgico?
Otto ajudou Zago a se levantar. Quando estava de pé observou que M’aiq não parara como o resto do bando, em vez disso caminhava na frente de todos.
—Ele sim é enérgico.- Disse Zago seriamente.
—Isso porque, o combustível de M’aiq é outro.
O menino fitou o ancião que permanecia sério, mas que tentava disfarçar.
Vamos, temos muito caminho pela frente.
Os dois levantaram-se e seguiram andando por mais meia hora, até que começaram a avistar algumas enormes torres de pedra.
—Chegamos!
Gritou um dos soldados da frente.
Zago correu animado, queria saber o que tanto procuravam em meio a tanta areia. Ele não sabia, mas seu mundo estava prestes a desabar.
Seu sorriso deu lugar a um semblante horrorizado, seus olhos arregalaram-se, espantado com o que viram.
—É ele... - M’aiq proferiu as palavras em um tom baixo, mas não parecia nada surpreso.
—É enorme!- Otto tentava manter a calma para não perturbar os de mais.
Mas não havia como não perturba-los.
O que viam era uma serpente, mas não uma serpente comum... Era uma serpente marinha de pedra... um colosso!
—Ele não está sozinho...- M’aiq sorriu quando viu uma silhueta.
As mãos de Zago exsudavam e tremiam.
A silhueta... Era Dália.
Ela virou-se em sua direção, estava usando a máscara de madeira e sussurrou algo que somente Zago ouvira.
O que ela disse foi... “Você”.
As árvores balançavam suavemente com o auxílio dos ventos, o grande lago onde se encontrava a serpente começou a se tumultuar.
O silêncio foi quebrado pelo som da espada de M’aiq sendo sacada.
—Finalmente terei minha vingança contra você, Flor do deserto!
Os soldados estavam confusos assim como Otto... “vingança”?
Zago observou paralisado, ele queria gritar, queria proteger Dália, mas algo o segurava... algo o impedia... algo dizia “espere”.