Oito Horas

Capítulo Único


Oito horas. 34 minutos. Provavelmente uns 22 segundos.

Mesmo depois de todo esse tempo, nenhum dos Sentinelas parecia cansado de lutar. Os X-Men haviam se escondido por muito tempo das criaturas de Bolivar Trask, pois sabiam que a chance de derrota era muito alta. Estavam todos cansados e abatidos, e não demorou muito para que os robôs – que foram criados com o singelo propósito de levar mutantes ao óbito os encontrasse no monumento Stonehenge, o conhecido marco histórico localizado em Salisbury, na Inglaterra.

Já era perto da meia noite. Quando a batalha começou, horas atrás, todos os X Men presentes se ocuparam em tirar todos os civis dali o mais rápido possível.

Mesmo abatida e exausta, Ororo Munroe se recusava a desistir. Durante todas aquelas horas que passou ali, viu muitos de seus amigos desmaiando ou perecendo, contudo, pensar que a segunda opção não era uma possibilidade a ajudava a se concentrar.

Por um instante, lembrou-se de tempos mais simples. Quando foi que decidira voltar a lutar? Teria sido aquela uma decisão estúpida?

Pensou em um antigo amor...

T’Challa estava sentado em seu trono, murmurando algo para si mesmo com um semblante de frustração.

— Problemas para dormir, meu rei? – a voz feminina fez com que o homem erguesse o olhar até a figura parada na porta do salão.

— W’Kabi esteve aqui para me atualizar sobre o constante transporte de Vibranium desde que Wakanda decidiu ajudar o resto do mundo. Eu lhe ordenei que mandasse diminuir um pouco esse fluxo, mas ele me questionou, acredita? Disse que...

— Que você não confia nos homens. – disse a mulher, se aproximando com passos suaves.

— E não confio mesmo. – ele disse com seriedade – Minha rainha, os homens americanos são imprudentes. Sabe se lá o que vão decidir construir com isso.

De repente, um grande corpo de aço metálico caiu com um baque ao seu lado, fazendo-a sair de seus devaneios.

— Colossus! – Tempestade ajoelhou-se para examiná-lo. Tentou tocar seu corpo, mas estava muito quente.

O grande homem com corpo de aço tentava falar, mas parecia ter extrema dificuldade no simples ato de emitir qualquer palavra.

— Não precisa dizer nada. Vai ficar tudo bem, eu prometo. – ela disse, tentando não soar desesperada. Viu de relance um homem magricela de pele azul por perto, e gritou – Noturno! Me ajude aqui.

Não demorou para que o rapaz chegasse. Ororo pediu para que ele levasse Colossus para algum lugar onde pudesse ser tratado, e Noturno assim o fez, se teletransportando rapidamente.

— Não vamos aguentar muito tempo! – Ciclope gritou ao longe, tentando eliminar um dos Sentinelas com seus raios de tonalidade vermelha.

Contudo, o robô fez o mesmo movimento de contra-ataque que fazia desde que havia chegado ali: Se adaptou aos poderes de Ciclope e clonou-os, passando a soltar, também pelos olhos, raios iguais e tão fortes quanto o do mutante, fazendo-o recuar.

Sentiu uma mão tocar seu ombro e, instintivamente, fez com que uma corrente elétrica de intensidade baixa percorresse rapidamente todo o seu corpo e acertasse o indivíduo, que caiu no chão após sofrer o choque.

— Era só eu... – a mulher se virou ao ver Noturno deitado no gramado com ambas as mãos no peito – Só queria dizer que já levei Colossus.

— Ah meu Deus, Kurt, me desculpe. – a mulher ajudou-o a se levantar – Eu sinto muito mesmo, pequeno...

Nimrod, um dos maiores Sentinelas, se aproximou de ambos com uma rapidez descomunal, como quem quer acabar logo com tudo aquilo.

— Está tudo bem, Ororo. Vamos! Eu vou conseguir dessa vez. - e a mulher viu o garoto azul se teletransportar para as costas de Nimrod, tentando abri-lo para encontrar alguma conexão de fios que pudesse desliga-lo.

— Kurt, pare. Nimrod é como um computador. Ele aprende mais e mais a cada batalha! – o rapaz a ignorou, prosseguindo com sua ação.

O robô se debateu por alguns segundos e, por um instante, ficou imóvel. Ororo pensou que Noturno havia tido sucesso em seu pequeno plano, mas percebeu que era cedo demais para comemorar. Repentinamente, algo implodiu no ar e o mutante simplesmente desapareceu.

— Ele sumiu. KURT SUMIU! – Ororo gritou a plenos pulmões, pedindo reforços. Contudo, todos já estavam muito ocupados tentando não morrer.

— Ele se teletransportou... Foi desintegrado... Deus abençoado, Noturno, o que houve com você? – ela balbuciava para si mesma.

Por um instante, sentiu raiva. Muita raiva. Tanta era, que não cabia dentro de si, e junto com ela o sentimento de derrota. A mulher sabia que, cedo ou tarde, eles iriam perder independente do que tentassem.

Sentia falta da tranquilidade, de uma boa e calma conversa...

— Ei. – Ororo se aproximou até conseguir tocar o rosto de T’Challa, admirando seus traços faciais agradáveis enquanto o acariciava gentilmente – Eu sei que os homens americanos não são as pessoas mais fáceis de lidar mas, você tomou a decisão certa, mesmo que tenha sido difícil. Nós podemos ajudar pessoas com toda a tecnologia que temos.

— Mas e se a usarem para outros fins, Ororo? – perguntou T’Challa, levantando-se e caminhando até a janela para contemplar a luz do luar – E se inocentes morrerem? Eu não irei me perdoar.

— Ajuda!

Ororo ouviu Spyke gritar e rapidamente tomou impulso com os pés, levantando vôo e indo até o jovem que também corria em sua direção carregando o corpo desacordado de quem ela descobriu ser Kitty Pryde ao se aproximar o bastante.

— Ela não acorda... – Spyke lamentou.

A mulher checou seu pulso com as mãos trêmulas:

— Está fraco.

— O que fazemos? – o rapaz perguntou, Ororo podia ver o terror em seus olhos negros.

— Corra, Evan.

— Do que está falando? Eu não vou abandonar a batalha. – Spyke protestou.

— Eu não estou pedindo, estou mandando! Corra e leve a garota para longe daqui.

— Mas...

— EVAN, ME ESCUTE. SE VOCÊ FICAR AQUI, VAI MORRER! FAÇA UM FAVOR, AJUDE KITTY E SE AJUDE! – os olhos de Ororo ganharam uma tonalidade anormalmente acinzentada com algo azul no meio disso... Seriam faíscas? – Eu não quero perder mais ninguém... Por favor...

— Tudo bem, não se preocupe... Vamos todos ficar bem. – e ele saiu correndo com a garota em seus braços, não deixando de gritar – Nos vemos mais tarde.

Ela pensou com tristeza: Será que chegariam a se ver novamente?

O irritante sentimento nostálgico voltou e ela teve que alterar a questão para algo que ela estivera se perguntando há muito tempo, mas nunca havia tido a coragem de responder.

Será que voltaria a ver T’Challa?

— Terá que se perdoar. Se as pessoas são más, a culpa não é sua. Você deve manter sua consciência limpa. – ela o alcançou novamente, fazendo-o se virar para que pudesse encará-la e ver sua expressão determinada – E se precisarem de um incentivo para pararem de ser más, daremos a eles um pouco da Tempestade e do Pantera Negra.

— É por isso que eu te amo, Ororo. – pela primeira vez naquela noite, T’Challa esboçou um sorriso. – Por favor, minha rainha, prometa que ficará ao meu lado para sempre.

A mulher se limitou a sorrir e a selar a promessa ao tocar seus lábios nos do rei de Wakanda, que enlaçou-a apaixonadamente com seus braços.

Quando foi que ela decidiu partir?

É claro, lembrou-se de seu dever para com as pessoas. Ela não podia ficar parada em Wakanda com seu rei, tendo do bom e do melhor, enquanto sentia que as pessoas lá fora sofriam e precisavam de sua ajuda.

Ororo Munroe não era assim.

Uma onda de fúria invadiu seu corpo e, junto com ela, uma determinação jamais vista em seus olhos. Elevando as mãos em direção aos céus, tornou-o cinzento. As nuvens pareciam se carregar e se encher da mesma fúria, o que foi de fato comprovado quando a mulher, com um urro, conjurou uma descarga elétrica de imensa intensidade vinda da atmosfera. Enquanto ela descia na direção de Nimrod como um míssil meticulosamente programado, uma pontada de esperança brotou em seu coração.

Naquele momento ela soube que os venceria, e que, no segundo em que soubesse que estavam todos seguros, voltaria aos braços de T’Challa para mais um beijo, afinal, o que eram 8 horas quando já se esperou anos?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.