Odeio Amar Você 2

Capítulo 53 - You can't run away... you wouldn't.


Cinco anos e meio depois


Céus, ela estava quase atrasada. Visualizou o relógio de parede acima da pia — sua amiga maluca o havia colocado no local mais improvável possível. 7h15min. Respirou.

Tudo bem, ela ainda poderia chegar na hora. Só precisava terminar o café da manhã, arrumar seu filho e fazê-lo comer, levá-lo até a creche e ir em direção à escola. Em quarenta e cinco minutos.

Droga, era muito pouco. Ainda mais levando-se em conta que Henry demorava uma vida para comer e parecia superentretido com seu desenho animado, o televisor no último volume na sala ao lado da cozinha.

Sophie suspirou.

— Henry Lucas Farro, pela última vez, abaixe esse volume! — gritou ela, sentindo-se um pouco menos estressada quando notou que o som que ecoava da tevê ficou mais baixo.

Desculpe, mamãe! — ela escutou o grito agudo do filho e virou-se para o fogão, dando uma última mexida nos ovos e virando o bacon. Gloriou-se mentalmente por não se queimar desta vez. Sinceramente, às vezes parecia que Sophie tinha um imã para óleo quente. Seu braço ainda ardia pela última gota que a queimara, semana passada.

Ela apagou o fogo dos ovos, deixando o bacon fritar durante mais um tempo — Henry gostava do seu bacon muito bem passado, quase queimando —, e foi até a torradeira que havia acabado de apitar. Colocou a torrada do filho em um prato de porcelana com a estampa do Mickey Mouse que Julia havia comprado numa loja de utilidades, sabe-se lá aonde, em uma de suas viagens a trabalho. Julia sabia que Henry era meio obcecado por desenhos antigos, especialmente o Mickey Mouse e sua turma, Snoopy, Bob Esponja e até mesmo o Pica-Pau. Mas ele também adorava desenhos atuais que envolviam muita computação gráfica, além de gostar de desenhos que não eram tão atuais, mas ainda assim, não deveriam fazer sucesso para uma criança de apenas cinco anos. Ele tinha uma estante inteira apenas de DVD’s de desenho animado que Julia comprava para assistir com ele.

Neste momento, Sophie conseguia reconhecer a voz de Jake, o cachorro elástico do desenho Aventure Time. Henry acordara às seis horas da manhã para não perder a maratona que passava na Cartoon Network e Sophie aproveitou para corrigir as provas que precisava, enquanto escutava as risadas contagiosas do filho e, mais uma vez, agradecia a Deus pela bênção que era tê-lo. Acabou levando mais tempo do que o que ela pensava, e agora só faltavam quarenta minutos para ela chegar ao colégio, onde dava aulas de piano, canto e teoria musical para alunos do quarto ao nono ano, o que não era um trabalho nada fácil. Além de ter que lidar com alunos que não queriam nada com a vida, vira e mexe um garoto de doze anos se “apaixonava” por ela (Julia havia dito uma vez que se estivesse com doze anos e sua professora de piano fosse tão jovem e gostosa, ela provavelmente se apaixonaria também). Lidar com pré-adolescentes era tão exaustivo que Sophie gostaria que Henry tivesse cinco anos para sempre.

Sinceramente, essa parecia a melhor fase de uma criança. Os primeiros meses foram terríveis, Sophie era muito nova e não tinha nenhuma experiência, além de ainda ter de frequentar para a faculdade de música (Camie lhe ajudara muito nesta época). Ela e Julia se reviravam ao avesso para poderem cuidar do pequeno recém-nascido, e ainda assim era tão difícil. Sophie estudava à noite e Julia trabalhava e estudava o dia inteiro, tendo que cuidar de Henry quando Sophie estava na faculdade. Quando ele fez um ano de idade, elas já não se aguentavam mais. A exaustão havia tomado conta de ambas, junto à culpa que Sophie sentia por estar criando um bebê longe de sua família.

Foi então que houve a ligação. A ligação que Sophie fez para Hayley para dizer que ficara grávida e tivera um filho.

Céus, fora um horror. Hayley esbravejou ao telefone — logo depois de se recuperar do choque inicial, que incluía a total discórdia e achar que tudo aquilo era uma simples brincadeira —, brigou, gritou, chorou. E quando perguntou sobre o pai da criança, Sophie... apenas respondeu que não sabia quem era.

Isso foi o fim. Sua mãe largou o telefone e logo Sophie ouviu a voz de Josh, que parecia muito mais calma do que a de Hayley. E realmente estava. Josh com certeza estava magoado, mas... tanto ele quanto Sophie sabiam que ele não estava em posição de brigar com ela, uma vez que ele fizera quase a mesma coisa em relação a Danna. Conversou com Joe e com Nate em seguida, ambos com as vozes mais grossas do que ela se lembrava, apesar da voz de Joe estar um pouco arrastada e mais rouca. Ambos estavam pasmos, Joe ficou chateado por Sophie não tê-lo contado. Até que Hayley reapareceu, sem parar de brigar, e Sophie encerrou a ligação com um “eu já assumi a responsabilidade! E vou criá-lo sozinha, como tenho feito ao longo desses seis meses.”.

Isso por que Sophie não podia dizer a real idade de Henry. Se dissesse que ele tinha um ano de idade, bem, não era preciso fazer muita conta para descobrir que as dadas condiziam e que, afinal, o filho de Sophie era também filho de Luke.

Foram quase duas horas com o telefone grudado a orelha, escutando o choro e a briga da família, Julia encarando-a com preocupação e lhe dando apoio moral. O pequeno Henry, tão inocente, dormia em seu quarto como um anjo, sem ter a mínima ideia do que acontecia fora dele.

Os dias seguintes, entretanto, foram muito mais tranquilos. Julia conseguiu um trabalho remunerado e Sophie passou a estagiar no mesmo lugar onde dava aulas até hoje. Quando Henry tinha dois anos de meio, Hayley, Josh, Joe, Danna e Hector foram visitá-los. Sophie comunicara Julia sobre a vinda de sua família até Londres e, sinceramente, nunca vira a amiga empalidecer tão rapidamente de forma tão brusca. Parecia que o sangue tinha fugido de seu rosto, e ambas sabiam a razão.

Mas Nate não iria visitá-las. Havia entrado no exército e estava em treinamento contínuo por dois anos, impossibilitado de visitar outro país por tanto tempo.

E acabou sendo uma das semanas mais incríveis da vida de Sophie. Não se lembrava do quanto sentia saudade de seus pais, de modo que os abraçou tão apertadamente da primeira vez que os viu que começou a chorar. Joe estava tão grande, e Sophie quase desmaiou quando Danna anunciou que o pequeno Henry teria um priminho (que, no fim, acabou sendo uma priminha). Estavam todos tão diferentes, tão mudados, e Sophie se deu conta de que havia mudado também, e muito. Mesmo que só tivesse dezenove anos, já era uma adulta desde o momento em que Henry Lucas, seu bebê tão lindo, nascera. Não parara de pintar o cabelo, mas crescera, física e emocionalmente. Não era mais uma adolescente. Era... uma mãe.

Henry fora o xodó do momento, evidentemente. Todos ficaram chocados com sua esperteza e precocidade, além de ser inegável que o bebê era mesmo a criança mais linda do mundo inteiro, sobretudo quando se sentava ao piano da mãe e começava a martelar as teclas, gargalhando gostosamente quando o som das teclas ecoava.

Ele era muito pequeno, mas já parecia carregar os genes musicais dos pais. Ou então, havia aprendido a amar música por todas as horas que Sophie passava tocando piano mesmo quando estava grávida dele, ou quando bebê ficava em seu colo, dormindo calmamente ou sorrindo enquanto ela treinava as obras que precisava para a faculdade. Isso era tão comum que até hoje, cinco anos e meio depois de seu nascimento, o garoto se sentava no colo da mãe para escutá-la tocar.

E claro que todos acharam Henry muito precoce e grandão para um garoto de dois anos de idade, sobretudo quando ele era precoce e grandão mesmo para um garoto de sua idade. Tinha dois anos e meio e quase não falava errado, além de já ter aprendido a usar o banheiro — feito este que Sophie simplesmente amou. Não havia nada pior do que ter de acordar de madrugada para trocar suas fraldas.

Ossos do ofício.

E claro, ainda havia a época em que Julia perdeu o emprego e... bem, faltou dinheiro. Foi a pior época pela qual eles passaram, e se não fosse por Tarris, Sophie e Julia não aguentariam as rédeas da situação. Não podiam parar de pagar a creche de Henry por que não tinham tempo para cuidar do garoto, e claro que elas compravam as coisas que eram úteis para a casa e os livros da faculdade antes de pagar as contas do apartamento. Infelizmente, isso deixou-as endividadas até o pescoço e Sophie conseguira limpar seu nome fazia apenas dois meses. Julia, sem fazer nada pelo período de tempo que supostamente deveria estar trabalhando, passou a escrever artigos de acordo com suas próprias ideias, vocabulário e fontes, e postá-los na internet por meio de um blog que ela mesma criara. O incrível fora que as pessoas passaram a ler o que ela fizera apenas por pura diversão e, hoje, o blog de Julia era um site noticiário formado por uma equipe, todos ex-universitários, colegas dela. O dinheiro que passaram a ganhar com propagandas e patrocínio fora o suficiente para mantê-las em um padrão pouco mais folgado de vida. Mesmo que Sophie sempre atrasasse a conta de telefone. Depois da criação do site, mesmo na faculdade, Julia passou a receber propostas de empregos de todas as editoras e jornais do país. Todos se encantaram pelo seu jeito irônico e verdadeiro de ver e mostrar as coisas ao povo. E oras, ela seria formada por Oxford! Quem não iria querê-la?

Agora, formada, Julia não estava trabalhando para ninguém senão ela mesma. Tinha um pequeno escritório no centro onde se reunia com seus colegas e projetava as notícias para aquele dia, além de andar sempre com o iPhone em mãos, atenta a toda e qualquer notícia que possa acontecer dentro da Inglaterra ou mesmo no resto do mundo.

Sophie também mal conseguia se lembrar de quando Henry completou três aninhos sem chorar. Havia contraído uma gripe inicialmente, mas... a gripe não sarou. Deu-se uma tosse que não acabava, febre, vômito, por vezes sua respiração ficava comprometida. Sophie perdeu a conta de quantas vezes ele chorava e apontava para seu peito, dizendo que “seu coração estava doendo”. Ela o levou ao hospital diversas vezes, recebendo sempre o mesmo diagnóstico: gripe. Mas a gripe de Henry não cessava, e então, em outra consulta, quando ele fez o hemograma e a radiografia, descobriu-se que o pequeno menino havia contraído pneumonia.

Ainda passando pela crise financeira, Sophie nunca havia se sentido tão angustiada em sua vida. Suas notas na faculdade caíram consideravelmente, pois ela deixava de ir as aulas para ficar com seu filho, certificar-se de que ele estava bem e sem tossir, sem febre, sem dor, sem falta de ar, comendo direito. Ele havia emagrecido tanto, e Sophie simplesmente entrava em pânico quando ele não conseguia respirar. Chorava com ele quando ele dizia que seu peito estava doendo, e chorava sozinha quando finalmente conseguia fazê-lo dormir. Henry havia se tornado uma criança complicada para comer nessa época, e isso havia se estendido até hoje.

Foi o mês mais difícil que Sophie já passara em sua vida. Não conseguia dormir, não conseguia trabalhar, não conseguia estudar. Só conseguia pensar em seu filho, doente, com aquela doença terrível. Após todo o tratamento e as visitas ao hospital, Henry finalmente sarou. Até hoje Sophie brigava com a síndica do prédio para fazer as manutenções dos ares-condicionados, e retirara-o da creche que recusou a fazê-lo. Além de garantir que Henry comesse todos as vitaminas que precisava.

Mas mesmo com todas as dificuldades, Sophie não conseguia imaginar sua vida sem seu pequeno filho. Ele havia se tornado o centro do seu mundo, e tudo o que ela fazia era para ele de alguma forma. Não havia nada no mundo que Sophie amasse mais do que Henry, o travesso, teimoso, e apaixonado por desenho animado Henry Lucas. Toda vez que ela se sentia magoada por algo que fizera no passado, só precisava olhar para seu rostinho jovial e inocente para sentir que tudo valera a pena. Só precisava ver seu sorriso e seus olhos perfeitos para se derreter. Só precisava sentir seus bracinhos em volta do seu pescoço, abraçando-a como se ela fosse a mulher mais incrível do mundo para saber que tinha feito a coisa certa.

A coisa certa fora ficar com Henry para ela.

— Cheguei, amores! — Sophie saiu de seus devaneios quando escutou a voz de Julia ecoando pela casa. Retirou o bacon do fogo, colocando as fatias sobre os pratos de porcelana.

— Bom dia — Sophie disse, levando os pratos para a mesa. — Henry, vem comer!

Peraí — ele gritou de volta, fazendo Sophie revirar os olhos e encarar a amiga a sua frente. Seu cabelo estava molhado e o único vestígio de maquiagem em seus olhos verdes era um rímel que ela com certeza havia acabado de passar. Sua bolsa parecia abarrotada e, ora, Julia não tinha nenhuma camiseta do Bon Jovi. Some isso ao fato de ela estar chegando em casa as sete e vinte da manhã e não é preciso ser um gênio para adivinhar onde ela estava.

— Sério, eu tenho que parar de esperar você chegar em casa — Sophie disse, sentando-se à mesa e dando uma garfada de seus ovos. — Você podia ligar. Não estava no escritório?

QUER LER O RESTO? Disponível em: http://oavfanfics.blogspot.com.br/2012/09/capitulo-53_23.html

Adeus, Nyah.

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Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.